Se acusações de Delcídio forem comprovadas, Lula e Dilma podem parar na cadeia (REINALDO AZEVEDO)
A presidente Dilma Rousseff chegou ao fim da linha. Acabou. O melhor que ela pode fazer agora, já afirmei isso aqui tantas vezes, é renunciar ao mandato, o que ensejaria também que a máquina petista, cada vez mais embrenhada no crime, fosse apeada do estado brasileiro.
Mas ela ainda vai resistir. Se o fizer, será deposta pelas leis. Quanto mais tempo isso demorar, pior para o Brasil.
A delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) é devastadora. Não deixa pedra sobre pedra. Todos sabem que ele não era um qualquer.
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Antes de cair em desgraça, era o líder do governo no Senado e homem escalado para fazer os altos diálogos da República. Parlamentar bem quisto por todos, transitava bem também entre oposicionistas e era talvez o petista mais cordato com a imprensa.
Acontece que o civilizado Dr. Jekyll, para citar o clássico de Stevenson, também tinha em si um Mr. Hyde, o ser que se metia, para citar o petista Chico Buarque, em tenebrosas transações. Ele conhecia os porões do PT.
Se agiu também em benefício pessoal — e tudo indica que sim —, isso o dirá a continuidade das investigações. Mas, ele assegura, atuou em benefício da máquina criminosa em que se transformou o PT.
O que é novo do que vem à luz da delação de Delcídio? Agora não há mais dúvida: Lula sempre esteve no comando. Não havia ser racional que desconfiasse de tal evidência desde que veio à luz o mensalão. Mas nunca uma figura graduada do partido havia dito isso antes com todas as letras.
Que sítio o quê! Que pedalinho o quê! Que barquinho de lata o quê! Que tríplex fubango o quê! Isso tudo não passava de distrações para Lula. A máquina que ele sempre comandou e manipulou é estupidamente maior e mais poderosa.
Mas as coisas não param em Lula. Também Dilma tinha consciência de parte da engenharia criminosa que chegou ao poder, evidencia Delcídio. Mais do que isso: ela tentou obstruir a Justiça, ele confessa. Associada essa acusação às lambanças de Pasadena, os crimes de responsabilidade de Dilma não se limitariam às questões fiscais. E, se tudo for comprovado, também ela pode ir para a cadeia. Junto com Lula.
Disse aqui tantas vezes: “Saia daí, Dilma, enquanto a sua honra é atingida apenas pelas lambanças da pedalada. Você sabe que pode vir coisa pior”. Mas sabem como é… Ela quis ficar. Quanto mais tempo demorar para deixar a Presidência, mais desmoralizada será.
Agora acabou. Agora a casa caiu. Agora não resta mais pedra sobre pedra.
A presidente tentou ainda reagir, falando em nome da presunção de inocência, na necessidade das provas etc. e tal. Isso tudo diz respeito, vamos dizer, ao aspecto penal dos crimes que estão sendo denunciados.
A Presidência da República é um cargo político. Dilma sabe que o cronômetro da deposição foi disparado e que ninguém pode pará-lo. É questão de tempo. Que seja pouco tempo.
Governo, inclusive Dilma, se ocupa mais de criticar o vazamento do que de negar seu conteúdo
O governo reagiu como barata tonta ao vazamento do conteúdo da possível delação do senador Delcídio do Amaral (PT-SP). A reação inicial foi tentar negar a existência de qualquer acusação. Depois o tom mudou. O Planalto passou, então, a operar com um dado: a informação existe, o vazamento é criminoso, isso não é bom para a democracia e tal.
Leiam a nota divulgada pela presidente Dilma:
“Todas as ações de meu governo têm se pautado pelo compromisso com o fortalecimento das instituições de Estado, pelo respeito aos direitos individuais, o combate à corrupção e a defesa dos princípios que regem o Estado Democrático de Direito. Nós cumprimos rigorosamente o que estipula a nossa Constituição.
Em meu governo, a lei é o instrumento, o respeito ao cidadão é a norma e a Constituição é, pois, o guia fundamental de nossa atuação.
Por isso, à luz de nossa lei maior defendemos o cumprimento estrito do devido processo legal. Os vazamentos apócrifos, seletivos e ilegais devem ser repudiados e ter sua origem rigorosamente apurada, já que ferem a lei, a justiça e a verdade.
Se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade. No entanto, repito, é necessária a autorização do Poder Judiciário.
Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política. Esses expedientes não contribuem para a estabilidade do País.”
Observem que a nota se ocupa pouco, ou nada, de contestar o conteúdo ou de atacar Delcídio. O tom mudou em relação ao destempero de José Eduardo Cardozo, agora advogado geral da União. Ele partiu pra cima de Delcídio, desqualificando o senador em entrevista. Estava nervoso, apoplético, descompensado. Fofocas que circulavam na rede o colocavam na periferia involuntária do vazamento.
Como setores amplos do PT já não o têm em alta conta, parece que ele se viu obrigado a abusar da veemência para passar credibilidade. No fim das contas, conseguiu apenas ser um homem irritado.
Cardozo, afirmou que o senador petista “não tem credibilidade” e “não tem primado por dizer a verdade”. Classificou ainda as acusações como “retaliação” e “conjunto de mentiras”. Disse ele: “Há forte possibilidade de ser retaliação, até porque isso foi anunciado previamente. Se o governo não fizesse nada, ele retaliaria. Independente de tudo o que foi dito, o senador Delcídio lamentavelmente não tem credibilidade pra fazer nenhuma afirmação”.
Como se nota, enquanto alguns governistas dizem que a delação nem sequer existiu, Cardozo parte do pressuposto de que ela existe, sim, mas que seu conteúdo é falso. Pergunta-se mais: se Delcídio estava chantageando o governo, por que não se tornou, então, pública tal chantagem?
Quem também admitiu a existência da delação foi o ministro Jaques Wagner, da Casa Civil. Saiu em defesa de Dilma e afirmou que a delação do senador não tem muita consistência, havendo nela “muita poeira e pouca materialidade”. Segundo ele, a presidente ficou “preocupada” e “indignada”. Disse ser “intolerável” e um “crime gravíssimo” a divulgação de uma delação premiada antes dela ser homologada pela Justiça.
Como se nota, depois do primeiro impacto, o governo baixou a bola. Deixou de negar que o documento exista e preferiu criticar a suposta conspiração que resultou no seu vazamento.
AS ACUSAÇÕES 1 – Dilma teria tentando obstruir a Justiça
Sei que a síntese das acusações já está em toda parte, mas é bom que fique registrada aqui também. As mais de 400 páginas que concentram as acusações de Delcídio do Amaral, a que a IstoÉ teve acesso, demolem assim o governo:
1: “Dilma interferiu na Lava Jato”
Segundo Delcídio, a presidente tentou por três vezes interferir na Lava Jato com a ajuda do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
A primeira tentativa ocorreu numa reunião entre Dilma, Cardozo e o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, numa escala da presidente em Portugal para supostamente falar sobre o reajuste de verbas do Poder Judiciário. O tema verdadeiro teria sido a Lava Jato, mas Lewandowski teria se negado a colaborar.
Na segunda vez, também sem sucesso, Cardozo tentou indicar para uma das vagas no STJ o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Nelson Schaefer. A manobra tentaria agradar ao ministro Newton Trisotto, catarinense, também do STJ, para que este votasse pela libertação de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo. Trisotto também teria declinado.
Na terceira investida contra a operação, Dilma nomeou o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça. Delcídio contou que esteve com Dilma no Palácio da Alvorada para falar sobre o assunto. Ela lhe teria pedido que, na condição de líder do governo, “conversasse com o Navarro, a fim de que este confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”.
Dado: em recente julgamento dos habeas corpus no STJ, Navarro, na condição de relator, votou favoravelmente à soltura dos dois executivos. Entretanto, obteve um revés de 4 a 1.
De todas as acusações contra Dilma, essa é, sem dúvida, a Mais grave. É um caso, vamos dizer, clássico de obstrução da Justiça. Dá cana!
AS ACUSAÇÕES 2 – Dilma e Cerveró: tudo a ver
Se a tentativa de obstruir a Justiça é a mais grave acusação contra a Dilma, isso não quer dizer que as outras não seja igualmente pesadas. Todas elas caracterizando crime de responsabilidade.
2: Dilma sabia de tudo no escândalo de Pasadena
A versão da presidente era de que ela e os conselheiros do colegiado não tinham conhecimento de cláusulas desfavoráveis à Petrobras. Delcídio desmente essa versão. Nesse caso, endossa o que Nestor Cerveró já afirmou em outras ocasiões.
3: Dilma queria Cerveró na Petrobras
O senador relatou que, diferentemente do que disse a presidente, a indicação de Nestor Cerveró para a Diretoria Financeira da BR Distribuidora contou efetivamente com a participação da agora presidente. Ela teria, inclusive, telefonado duas vezes para Delcídio para tratar do tema.
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4: CPI dos Bingos protegeu Dilma
A comissão estava próxima de descobrir uma operação de caixa dois na campanha de Dilma em 2010 feita pelo doleiro Adir Assad. Sabendo disso, o governo mobilizou sua base aliada para barrar a investigação e encerrar imediatamente os trabalhos da CPI, que terminou até sem relatório final.
Eles estão descontrolados!!! Ordem do Planalto é desqualificar Delcídio... Que coisa! Ele era o líder do governo no Senado até ser preso
A delação de Delcídio caiu como uma bomba em Brasília. Logo depois da cerimônia que deu posse aos novos ministros da Justiça, da Advocacia-Geral e da Controladoria-Geral da União, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião de emergência para discutir o depoimento do petista. A ordem inicial no Planalto é descredenciar Delcídio, sustentar que ele falou mentiras “em outras ocasiões” e que, portanto, “não tem credibilidade” para dar informações.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, por sua vez, disse a interlocutores que não pretende se manifestar sobre o assunto. Reunida em São Paulo, a cúpula do partido definiu apenas que vai desqualificar o teor das acusações, alegando que o senador está magoado com o partido.
As legendas da base aliada adotaram uma estratégia em relação ao depoimento de Delcídio: desqualificar o senador. O vice-líder do governo, o deputado Silvio Costa, do PT do B de Pernambuco, por exemplo, disse duvidar que a presidente Dilma tenha feito qualquer tipo de acordo para interferir na Lava Jato e questionou se Delcídio fez mesmo a delação.
Wadih Damous (PT-RJ), por sua vez, chamou as informações de “mentirosas” e “levianas”. Para ele, a matéria da IstoÉ é “panfleto de convocação para a manifestação fascista e golpista do dia 13 de março”.
Fascista e golpista? Que coisa! Petista agora começou a ter raiva do povo!
A seu modo, Celso de Mello sugere renúncia a Dilma
Para quem sabe ler, um pingo é letra. Celso de Mello, decano do Supremo, sugeriu à presidente Dilma que renuncie. Querem ver? Indagado sobre a delação de Delcídio, afirmou que “nem mesmo os mais altos escalões da República estão imunes à investigação”. Segundo o ministro, as instituições estão fortalecidas para enfrentar as consequências de uma delação. O ministro disse também que a nova delação traz uma preocupação “quanto à paz social” e afirmou esperar que “quem cometeu desvio de conduta pague por isso”.
Paz social? O experiente Celso de Mello está aconselhando Dilma a cair fora enquanto é tempo.
No Sem Edição, Marco Antonio Villa e Augusto Nunes comentam as revelações de Delcídio: a lama subiu a rampa do Planalto
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