NA URNA É MAIS GOSTOSO... (O PT de Lula conta com o impeachment da presidente para sobreviver)
Mauro Pereira: Na urna é mais gostoso
(publicado no blog de Augusto Nunes, de veja.com)
O Brasil vive hoje um dos mais conturbados períodos de sua história política, e o início desses dias de insanidade deu-se em 1.º de janeiro de 2003, com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reeleição em 2006, apesar do mar de lama que cobria sua administração desde a eclosão do escândalo do Mensalão, deu-lhe a certeza de que ele e os seus eram intocáveis e o fez acreditar na bajulação patética de Martha Suplicy elevando-o à condição de deus. Traído pelo ego descomunal, também acreditou que era o detentor do poder absoluto e definitivo.
Logo descobriu que divindades iguais a ele pululavam pelo mercado da prostituição política e estavam abertas à negociação pelo melhor preço oferecido. Talvez tenha sido a partir desse episódio que decidiu enfraquecer a ex-senadora petista, hoje no PMDB. Percebeu, então, que para se eternizar no poder seria necessário fazer algumas concessões, mesmo que isso custasse a derrocada ética, moral e ideológica do Partido dos Trabalhadores. Sem qualquer escrúpulo de consciência, mandou às favas a história partidária e a reputação pessoal.
Deixou de ser presidente de todos os brasileiros para se comportar como mero chefe político. Nos palanques da discórdia, pregou a cizânia, se necessária, para garantir a vitória dos seus candidatos. Em 2010, à custa do comprometimento da estabilidade econômica do país, que mostraria todo o seu potencial de destruição em 2015, ergueu seu primeiro poste elegendo Dilma Rousseff. A consumação do desvario se deu na campanha que a reelegeu, tocada a muita grana e pouca ética.
Convencido de que pairava acima dos rigores da lei, vulgarizou a política, tripudiou sobre a verdade, ridicularizou os Poderes constituídos, corrompeu. E corrompeu-se. Humilhou-se ante Paulo Maluf e redimiu-se sob Gilberto Kassab. Em 2012 credenciou mais um poste para espargir a luz que ilumina a saga purificadora dos “comunistas do século 21”. Nesse novo modelo de sociedade, até mesmo Maluf sentir-se-ia à vontade para recorrer ao seu passado dedicado à causa marxista e se proclamar o farol predestinado.
Tão inexorável como a desfaçatez dessa horda comunista de direita representada por luminares do regime militar e comandada por Lula, também se consolida a certeza de que Gilberto Kassab foi, e continua sendo, a maior revelação dos socialistas novéis. Kátia Abreu surpreendeu, mas não chegou nem perto do desempenho formidável do ex-prefeito de São Paulo.
Aluno dedicado, na eleição para prefeito da capital paulista de 2012 superou às expectativas dos seus mestres e aplicou com êxito os ensinamentos inseridos na cartilha formulada por Marighella.
Ainda que me deixe levar pela repulsa às administrações petistas e ceda à indignação quanto a atuação de políticos e lideranças ligadas ao poder, não acredito que o legítimo processo de impeachment em andamento na Câmara dos Deputados e, menos ainda, que a ação homologada pelo PSDB junto à justiça eleitoral exigindo a cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff, ambos com a aprovação da maioria dos brasileiros, prosperem rumo a um desfecho favorável.
Melhor assim. O PT conta com o impeachment da presidente. Os resultados das recentes eleições em dois dos três mais importantes países que comandam a farsa apelidada de bolivarianismo, vulgar mistificação criada para ludibriar incautos — emblemático na Argentina e desmoralizante na Venezuela —, agravados pelos baixíssimos índices de aprovação de Dilma, indicam o fim do assistencialismo populista que assola a América Latina e reforçam a certeza das lideranças estreladas de que sofrerão uma derrota acachapante nas eleições de 2018.
Esse resultado inviabilizaria qualquer tentativa de desqualificar a vitória da oposição e os desdobramentos desse revés poderiam significar, se não o desaparecimento do partido, pelo menos seu completo esfacelamento, enquanto num ambiente de impeachment se sentiriam legitimados para buscar na implantação do caos – através da atuação de seus cães de guerra -, a redenção do partido e, acima de tudo, a blindagem de seu chefe, procurando evitar ou postergar o máximo possível a hora em que terá de dar bom dia ao japonês da Federal.
Sem contar que a derrota, no voto, do PT e de seus lacaios, além de prolongar o martírio da alma petista no purgatório da história, nos redimiria do sofrimento que foi sobreviver cada segundo desses anos todos no inferno criado por Lula cujo cenário de desolação possivelmente nem Dante, em seus melhores dias de inspiração, ousou imaginar.
Tudo leva a crer que a presidente Dilma Rousseff não se entregará à imolação pacificamente e se vencer o braço de ferro, não com a oposição, mas com setores do seu partido, é quase certo que seu insepulto cadáver político se dedicará à tarefa de assombrar Lula e seus devotos até o último dia do seu mandato. Ao longo desse interminável calvário, provamos que não nos deixamos intimidar nem pela patética divindade lulista nem, menos ainda, pela verve pérfida das kátias e dos kassabs dissimulados.
Se não forem barrados antes pelo Congresso Nacional ou pelo TSE, que venham, então, os cavaleiros do apocalipse. Entrincheirados na brasilidade que nos resta, e não é pouca, estaremos prontos para derrotá-los em 2018 com a mesma arma com que hoje ousam nos ameaçar. O voto!
Além do mais, na urna é mais gostoso!
(por MAURO PEREIRA)
Sponholz dispensa palavras
Oliver: O paulista e a Paulista
por VLADY OLIVER
Vivi com minha família dois meses numa sociedade que presta, dois anos atrás, trabalhando nos Estados Unidos. Pouco tempo, posso afirmar. Mas tempo suficiente para constatar que aquela sociedade é igualzinha à nossa; as pessoas acordam, tomam café, beijam os filhos que vão para a escola e seguem para o trabalho. Não se discute política, que é assunto para políticos e afins.
O “povinho bumba de lá” é absolutamente semelhante ao “povinho bumba de cá” e nisso estamos absolutamente na mesma sintonia. O que nos difere – e volto a insistir neste ponto até furar o couro do meu bumbo democrático – é que lá existe OPOSIÇÃO. Simples assim. Existe o contraponto, o discurso alternativo, o outro ponto de vista, o outro caminho e tudo o que esta dualidade permite permitir, num intencional pleonasmo.
Se alguém comete um crime por lá, é legítimo, previsível, cívico e democrático que a outra parte denuncie o que está vendo. Essa é a essência da democracia e não existe nenhuma outra; a eterna fiscalização e vigilância, numa responsabilidade compartilhada entre políticos. A sociedade nem precisa estar vigilante. É opcional.
Sinto informar aos ignorantes de plantão, mas “o povo nas ruas” não é segurança de nada, em termos de representatividade corporativa. Tivemos por aqui uma ditadura assumida de direita, que acabou polarizando todo o discurso de resistência na esquerda. Essa mesma esquerda que hoje chegou ao poder, disposta a nos fazer pagar uma conta que não fizemos.
Todos alegam uma “suposta” – eu adoro essa palavra – “dívida social”, que é a senha para meterem a mão em nossos bolsos por uma “causa” que só enriquece mesmo os seus apaniguados e cercanias. O aparelhamento dos meios é visível. Por outro lado, o discurso de oposição é uma piada de mau gosto.
Corporativos até a medula, insistem em afirmar que o problema é pontual – este ou aquele político “traíram” os ideais da esquerda, como se esta não fosse a origem de toda a falência administrativa que estamos vivendo. Vou insistir nessa tecla: este governo precisa ser defenestrado de lá, mas esta oposição TAMBÉM.
Graças a ela, figuras como Kim Katiguiri, Rogério Chequer e tudo o que eles começam a representar – uma representatividade não submissa à ideologia – são assassinados no nascedouro por uma imprensa esquerdatizada, que não permite vermos o caminho das pedras, tentando sufocar o que é legítimo e o que é uma porta de saída para a nossa combalida representatividade avariada e cúmplice do que aí está.
Os esquerdocratas não vêem saídas porque não querem ver saídas que não sejam pela esquerda. Preferem que o país se dane, desde que não percam a pompa e a circunstância. Preferem governar o ingovernável. Preferem conviver pacífica e cordatamente com ladrões que enfiam o erário na cueca. É claro que essa sintonia e essa cumplicidade desemboca mesmo na crise que vamos vivendo; ela, antes de tudo é uma crise moral, mas não do “povo” e sim de seus representantes.
Notem que aqui mesmo é mais aceitável chamarmos a sociedade de ignorante – e parte dela é mesmo – do que nossos representantes de ignorantes e cúmplices de tudo o que aí está. Se eu me insurjo contra este ou aquele texto que só bóia na superfície, sem atacar o problema em sua real natureza, sou logo rotulado de “conspiracionista”, “vidente”, “ultradireitista” e outras mazelas características de quem não quer que o verdadeiro discurso oposicionista prolifere.
É nojento. Quando essa praga acabar, duvido que essa imprensa e essa oposição que aí está tenham um lugar ao sol, meus caros. Todo vampiro derrete com a luz do dia.
Lula usou o São Francisco para inventar a obra que vira ruína sem ter existido
Graças à prisão de quatro executivos de empresas que andaram pescando quilos de dinheiro às margens do São Francisco, a milagrosa transposição das águas acaba de transferir-se do cartório onde jaz o Brasil Maravilha para o noticiário político-policial. Agonizante desde os trabalhos de parto, o que deveria ser a obra do século é hoje o mais recente esqueleto do acervo acumulado pelo escândalo do milênio. A extravagância fluvial nem precisou ser inaugurada para transformar-se num portentoso símbolo da Era da Mediocridade. E numa prova de que, num momento infeliz da nossa história, o povo brasileiro desempenhou aplicadamente o papel de otário.
Em 2004, estacionado no Ceará, o palanque ambulante jurou que até 2006 seria materializado um dos grandes sonhos de Dom Pedro II (ou “Predo”, na pronúncia do Pedro III de botequim). “Muitas vezes a coisa pública foi tratada no Brasil como se fosse uma coisa de amigos, um clube de amigos, e não uma coisa pública de verdade”, ensinou Lula durante a discurseira ufanista. Como o gênio da raça descobrira que a coisa pública deve ser tratada como coisa pública, sobravam as verbas que sempre faltaram. “Dinheiro não vai faltar”, gabou-se o maior dos governantes desde Tomé de Souza.
Na campanha presidencial de 2006, o aspirante a um segundo mandato não pronunciou uma única e escassa palavra sobre a multiplicação das águas que continuavam onde sempre estiveram. A vitória nas urnas refrescou-lhe a a memória. Sem apresentar justificativas para os dois anos de atravo, avisou que ainda faltavam quatro para que o sertão virasse mar. “Em 2010, um nordestino pobre vai fazer o que nem um imperador conseguiu”, recomeçou a lengalenga. O vídeo abaixo mostra os capítulos seguintes da farsa.
Em 2010, o padrinho avisou que a transposição seria inaugurada pela afilhada dali a dois anos. Em 2012, Dilma prometeu concluir em dezembro “a primeira fase” da proeza invisível a olho nu. O resto teria de esperar até 2014. Convidado a explicar-se durante a campanha pela reeleição, o poste fabricado por Lula descobriu que a coisa era complicada demais para ser feita tão em pouco tempo. “Houve uma subestimação da obra”, escapuliu a doutora em nada que subestima obras e a inteligência da plateia.
Em 2015, Lula ressuscitou a tapeação ao som da lira do delírio. De novo, repetiu que os brasileiros ficarão grávidos de orgulho patriótico quando puderem contemplar o colosso “que nem Dom Pedro II conseguiu realizar”. A nova etapa da Operação Lava Jato, apropriadamente batizada de Operação Vidas Secas, já apurou ladroagens que somam pelo menos R$ 200 milhões, embolsados por banqueiros amigos e empreiteiros de estimação do chefe supremo. Ainda é cedo para calcular com precisão o produto do roubo.
Também não tem preço o assombro parido por Lula às margens do São Francisco. O fundador do império do embuste inventou uma espécie de obra que enriquece meio mundo antes de virar ruína sem ter existido.
(por Augusto Nunes)
Obra do PT ficou menor que sua promiscuidade, por Josias de Souza, do UOL)
Noutros tempos, a política feita sob o lema despudorado do 'rouba mas faz' reivindicava a imunidade preventiva para um sistema de conveniências em que o suposto proveito substituía a ética. Hoje, depois de 13 anos de poder petista, já não há nem uma coisa nem outra. A roubalheira fulminou a ética. E a ruína econômica fez sumir a noção de proveito. É contra esse pano de fundo que o governo Dilma se despedaça, espalhando estilhaços na direção de Lula e do PT.
A conversão da rotina em escândalo e a troca da responsabilidade fiscal pelo malabarismo econômico dissolvem o petismo. Apenas 31% dos brasileiros acham que sua vida melhorou nos 13 anos de PT no poder federal, informa o Datafolha. A maioria (68%) avalia que a coisa piorou (26%) ou ficou na mesma (42%). E só 24% veem o desempenho do PT no Planalto como ótimo ou bom. Para 35%, o partido merece as menções ruim ou péssimo. Outros 40% consideram que a legenda foi regular.
O PT paga a conta da longevidade de um poder promíscuo. Lula passou a temer o que o futuro dirá dele quando puder se pronunciar sem o cheiro de enxofre que exala da conjuntura. A combinação de três crises —ética, política e econômica— compromete um título que o morubixaba do PT imaginava estar no papo. O título de presidente da redenção social. Ao vender como realidade a ficção do talento gerencial de Dilma, Lula fez da história das administrações petistas uma ponte ligando o sucesso ao “por outro lado''. Com um abismo no meio.
Na era petista, todos os estratos sociais prosperaram. A renda dos 10% mais pobres subiu 129% acima da inflação. A dos 10% mais ricos aumentou 32%. Por outro lado, o país amarga uma recessão que já compromete esses ganhos. Neste ano da graça de 2015, o PIB deve murchar quase 4%.
O Brasil usufruiu como poucos do chamado ciclo das commodities. Por outro lado, o país se absteve de fazer reformas estruturais. Pior: serviu-se da manobra das pedaladas fiscais para maquiar gastos incompatíveis com a receita. A gastança reelegeu Dilma. Por outro lado, madame mentiu tanto na campanha que, reempossada, sua credibilidade virou suco.
Potencializadas pelo Bolsa Família e pela Previdência, as despesas na área social cresceram de 6,5% para 9,3% como proporção do PIB. Por outro lado, a inflação de dois dígitos e o desemprego crescente infelicitam sobretudo os brasileiros mais pobres, roendo-lhes os ganhos.
A Polícia Federal foi equipada e o Ministério Público prestigiado. Por outro lado, os cofres públicos foram assaltados como nunca antes na história desse país. O pré-sal como que ressuscitou o lema do ‘petróleo é nosso’. Por outro lado, a rapina desvendada pela Operação Lava Jato revelou o porquê.
Em 13 anos, o PT protagonizou o caso mais dramático de flexibilização das fronteiras ideológicas. A legenda e seu líder-mor deslizaram quase sem sentir para o outro lado. De repente, acordou de mãos dadas com gente do porte de Sarney, Renan, Cunha e Collor.
Lula aniquilou o que parecia ser o seu principal capital político: a presunção da superioridade moral. Hoje, é intimado sem constrnagimentos pela Procuradoria e pela Polícia Federal. Vê os sigilos bancário e fiscal do filho quebrados. Teme que o amigo Bumlai e o ex-líder Delcídio se tornem delatores. É representado nas ruas pelo Pixuleco, um boneco inflável com traje de presidiário.
O PT integrou-se gostosamente à baixeza comum a todos os partidos. Revelou-se capaz de ceder a todas as abjeções políticas. Um fantasma passou a assombrar as noites dos petistas. Trata-se da assombração do próprio PT quando se fazia de casto e imaculado. A alma penada ronda-lhes os sonhos, brandindo faixas com bordões inconvenientes: “Fora Sarney'', “Fora Collor'', “Fora FHC”.
Hoje, o PT —ou o que restou dele— é uma prova material de que, com o passar do tempo, qualquer organização política pode atingir a perfeição da ineficiência impudente. O PT já não pode invocar em seu favor nem mesmo o velho bordão do rouba mas faz. Depois de tanto tempo no poder, o PT dedica-se a desfazer o que foi feito.
Há seis dias, num encontro com movimentos sociais, Lula pediu uma trégua a militantes que cobravam a demissão do ministro Joaquim Levy (Fazenda). Comparou o Brasil a uma locomotiva fora dos trilhos. “É como se estivéssemos num trem descarrilado. Agora, não temos que ficar brigando pelo vagão que a gente vai. A gente precisa colocar o trem outra vez nos trilhos.” Ninguém abriu o bico. Natural. Como discutir com um especialista?
(por JOSIAS DE SOUZA, UOL)