Temer já desenha equipe de seu futuro governo caso substitua Dilma (por MONICA BERGAMO, na FOLHA)

Publicado em 08/12/2015 16:54
+ AUGUSTO NUNES, de veja.com

O vice-presidente Michel Temer já desenha a equipe de seu eventual futuro governo, caso venha a substituir a presidente Dilma Rousseff. O homem forte da economia, de acordo com os planos dele, será Henrique Meirelles.

A POSTOS
Os dois mantêm canal aberto. Segundo interlocutores do vice-presidente, Meirelles, que aceitaria a "missão" até mesmo se fosse convidado por Dilma, como chegou a ser articulado, estaria pronto a assumir o comando do Ministério da Fazenda de eventual governo Temer.

DE VOLTA
Nelson Jobim, do PMDB e também próximo de Temer, voltaria ao comando do Ministério da Justiça.

LÁ LONGE
Ao senador José Serra (PSDB-SP) seria destinada pasta forte, mas sem qualquer interferência na área econômica. O tucano, que já disse que fará "o possível para ajudar" Temer, é rejeitado pelo mercado financeiro.

AGENDA CHEIA
Temer, por linhas tortas, pode seguir o roteiro traçado por Lula para Dilma. Há alguns meses, o ex-presidente sugeriu que ela nomeasse Meirelles para a economia, Jobim para a Justiça e que mantivesse Temer "ocupado" em missões políticas. Lula e Temer, aliás, mantiveram diálogo aberto nos últimos meses, apesar de todo o estresse que cerca a relação do vice com Dilma Rousseff.

ORDEM E PROGRESSO
A nomeação de Jobim sempre foi vista por Lula, por setores do PT e do PMDB, como possibilidade de o governo exercer maior controle sobre a Polícia Federal. "Com ele, delegado não vai mandar em ministro", afirma um interlocutor de Michel Temer.

FREIO DE ARRUMAÇÃO
Há grande expectativa também sobre os rumos da Operação Lava Jato no Judiciário caso Dilma caia e Temer assuma. A imprensa se concentraria na cobertura do novo governo, diminuindo o espaço destinado às investigações. Ministros de tribunais superiores se sentiriam menos "acuados", na opinião de profissionais do direito, e se encorajariam a tomar decisões contrárias às do juiz Sergio Moro.

RESPEITO MÚTUO
É lembrada também a relação respeitosa de Temer com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, outra peça-chave da Lava Jato.

PALAVRAS
A relação entre os dois chegou a gerar mal estar entre Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Em março, o parlamentar disse a interlocutores que o vice-presidente falou pelo menos três vezes com Janot para tirar investigados da lista da Lava Jato –inclusive Eduardo Cunha– , o que nunca foi comprovado.

 

Temer está pintado para a guerra (por ELIO GASPARI, na FOLHA)

Quando Dilma Rousseff disse "confio e sempre confiei" no vice-presidente Michel Temer, pois "não tem que desconfiar dele um milímetro", sabia que essa era uma construção da realidade própria na qual é capaz de viver. Nela, doutorou-se em economia pela Universidade de Campinas, foi presa por delito de opinião e, como se sabe, o país vive o momento da "Pátria Educadora".

As pedaladas fiscais foram uma mentira contábil, o Trem-Bala e a ferrovia chinesa que uniria o Atlântico ao Pacífico foram delírios palacianos. Mesmo admitindo-se que todos os governos mentem, o perigo não está apenas nas patranhas, mas no mentiroso que acredita no que diz ou se julga livre para dizer qualquer coisa, dando por entendido que se deve acreditar nele.

Enquanto a doutora derramava sua confiança em Michel Temer, estava a caminho do Planalto uma carta do vice-presidente na qual, fugindo ao seu estilo aveludado, disse o seguinte: "Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã".

Dizer que essa é uma carta de rompimento é pouco. Temer pintou-se para a guerra e tornou-se, ao lado do deputado Eduardo Cunha, o principal estímulo ao impedimento da doutora. Já houve caso de vice-presidente (Aureliano Chaves) que, conversando com outra pessoa (o general Ivan Mendes), ameaçou meter a mão na cara do titular (João Batista Figueiredo). Carta como a de Temer é coisa que nunca se viu.

Pode-se pensar o que se queira de Temer, mas deve-se reconhecer que ele listou fielmente oito episódios em que foi maltratado pela doutora. No mais grotesco, a falta de confiança foi explicitada quando ela puxou-lhe o tapete depois de pedir-lhe que assumisse a coordenação política do governo. Vale lembrar que Temer não precisava do lugar e a manobra poderia ter dado certo, estabilizando o governo. No episódio mais ridículo, Dilma permitiu, na semana passada, que o comissariado do Planalto divulgasse uma versão falsa do teor de uma conversa que os dois tiveram. Nela, Temer teria oferecido seus préstimos para deter o processo de impedimento. Era mentira. Seria injusto atribuir todas essas situações à doutora. O bunker petista do Planalto também opera num mundo próprio.

A queixa central de Temer está na hostilidade do comissariado para com o PMDB. É esse o nó que Dilma amarrou ao próprio pescoço. Logo depois de reeleita, ela aceitou a formulação de que o governo podia se afastar do valioso aliado. Isso seria possível, assim como seria possível eleger o petista Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, derrotando Eduardo Cunha. Deu no que deu.

Desde agosto, quando Temer disse que se fazia necessário buscar "alguém" que tivesse "a capacidade de reunificar a todos", Dilma passou a desconfiar quilômetros de seu vice. Os dois dançaram uma coreografia da enganação, com Temer esclarecendo que fora mal interpretado e ela aceitando a explicação pois, mais uma vez, a culpa teria sido da imprensa.

Depois da carta de Temer, não se pode mais falar que há uma conspiração contra a permanência de Dilma Rousseff na Presidência. O processo para que a Câmara vote sua deposição segue o ritual do regimento, e o vice-presidente da República assumiu a condição de pretendente ao trono.

 
 
Direto ao Ponto (por AUGUSTO NUNES, EM VEJA.COM)

A carta que Temer tirou da manga escancara tumores que apressam o apodrecimento do desgoverno de Dilma

A carta que Michel Temer tirou da manga ─ há outras, podem apostar ─ provocou estragos de bom tamanho no Palácio do Planalto. Entre eles se destaca a exposição de três tumores que vêm apressando o apodrecimento galopante do governo Dilma Rousseff.

Primeiro: no quesito habilidade política, a presidente é uma procissão de notas zero com louvor. Quando age por conta própria, não acerta uma. Quando se move orientada por Lula, erra todas.

Segundo: o chamado “núcleo duro” do Planalto é formado por perfeitas bestas quadradas. Uma governante que tem como conselheiros um Jaques Wagner ou um Ricardo Berzoini não precisa de inimigos.

Terceiro: a seita lulopetista não celebra acordos partidários. Em vez disso, faz contratos de arrendamento ou combina casamentos de conveniência sempre subordinados a uma cláusula pétrea: “Nós mandamos, os outros obedecem”.

Somados, os três tumores avisam que não há esperança de salvação para um poste que só não é grosseiro com seu fabricante, finge que não vê as rachaduras em acelerada expansão e, antes de desmanchar-se em escombros, faz o que pode para quebrar de vez o Brasil.

Carta de Temer a Dilma tinha carimbo ‘confidencial’ (na coluna RADAR)

Temer e Dilma: cartas ao vento

A carta de Michel Temer foi recebida por Dilma Rousseff às 17h20 de segunda-feira.

E foi encaminhada com um carimbo: “confidencial”.

 

Carta de Michel Temer vale por um rompimento, por Josias de Souza (do UOL)

Michel Temer não dá boa tarde sem refletir dez vezes. Quando resolve fazer um “desabafo” é porque seu processador está sobrecarregado. Se o destampatório é despejado sobre três folhas de papel —“palavras voam, os escritos permanecem”— é sinal de que sua placa ferveu. A carta que o vice-presidente endereçou a Dilma Rousseff nesta segunda-feira é isso: a manifestação de um personagem que, com a paciência já derretida, cansou de guardar respeitoso silêncio sobre seus rancores.

“Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a
 necessidade da minha lealdade”, ralhou Temer, de saco cheio das indiretas que Dilma lhe dirige desde que o processo do impeachment foi deflagrado. “Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.” Recebeu em troca a “absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB.”

Por quatro anos, Temer foi um “vice decorativo”, acionado apenas nas “crises políticas”. Ajudar nas “formulações econômicas ou políticas do país”? Nem pensar. “Éramos meros acessórios,
secundários, subsidiários.” Por quê? “Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora
 e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB.”

Com o governo em pandarecos, cedeu ao apelo para que assumisse a coordenação política. “Quando se aprovou o ajuste,
nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos a
ssumidos no Parlamento não foram cumpridos.” Houve mais: “Sou presidente do PMDB e a senhora
 resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um
 acordo sem nenhuma comunicação ao seu vice e presidente do partido.''

Temer foi ao ponto: “Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o país terá tranquilidade 
para crescer e consolidar as conquistas sociais.
 Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no 
PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.”

O que o vice-presidente da República disse à presidente, com outras palavras, foi o seguinte: “Vai procurar a tua turma.” Temer parece já ter reencontrado a sua tribo: “Converso, sim, senhora presidente,
 com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento.
 […] Sou criticado por isso, numa visão 
equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades 
ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio
 resolveu difundir e criticar.”

“Vai procurar a tua turma” pode ter vários significados. Nas entrelinhas da carta de Temer, a expressão tem duas acepções: “Vê se não chateia” e “some da minha frente”. A carta vale por um rompimento. É como se o vice, cansado do seu papel cenográfico, desejasse substituir Dilma em vez de socorrê-la. Resta agora esclarecer que, num hipotético governo Temer, a turma do neopresidente incluirá Renans, Barbalhos, Cunhas e outros atalho$.

Abaixo, a íntegra da carta de Temer para Dilma:

São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.

Senhora Presidente,
''Verba volant, scripta manent''.
 Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes 
últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
 Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há
 muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a
 necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
 Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais 
são as funções do vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada 
daquele dispositivo constitucional.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora
 e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível
 com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
 Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança.
 E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à vice.

Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio 
político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no 
partido.

Isso tudo não gerou confiança em mim, gera desconfiança e
 menosprezo do governo.
 Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice
 decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que
 tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era 
chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir 
formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios,
 secundários, subsidiários.

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não
 renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez
 belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele
era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a
 registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.

4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o
 Ministério em razão de muitas “desfeitas'', culminando com o que o
 governo fez a ele, ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome 
com perfil técnico que ele, ministro da área, indicara para a ANAC.
 Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz
 parte de uma suposta “conspiração''.

5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a
 coordenação política, no momento em que o governo estava muito
 desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal.
 Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários.
 Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste,
 nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos
 assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 
60 reuniões de líderes e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio
com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela 
coordenação.

6. De qualquer forma, sou presidente do PMDB e a senhora
 resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um
 acordo sem nenhuma comunicação ao seu vice e presidente do partido.
 Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a
 senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o 
deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente,
 com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento.
 Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos oito votos do DEM, seis do PSB e três do PV, recordando que foi
 aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão
 equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas
 oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio
 resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião
 de duas horas com o vice Presidente Joe Biden – com quem construí
boa amizade – sem convidar-me o que gerou em seus assessores a
 pergunta: o que é que houve que numa reunião com o vice-presidente 
dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio 
da “espionagem'' americana, quando as conversas começaram a ser
 retomadas, a senhora mandava o ministro da Justiça, para conversar 
com o vice-presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado
 absoluta falta de confiança;

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores 
autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma
 conexão com o teor da conversa.

10. Até o programa “Uma Ponte para o Futuro'', 
aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para
 recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra
desleal.

11. PMDB tem ciência de que o governo busca
 promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso.
 A senhora sabe que, como presidente do PMDB, devo manter
 cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade
 partidária.

Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o país terá 
tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
 Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no
PMDB, hoje, e não terá amanhã.

Lamento, mas esta é a minha convicção.

Respeitosamente, L. TEMER

A Sua Excelência a senhora

Doutora DILMA ROUSSEFF

  1. Presidente da República do Brasil

Palácio do Planalto

Brasília, D.F.

 

Líder do PSDB: ‘Carta de Temer deixou República e Brasil em segundo plano’ (Josias de Souza)

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), hoje um dos políticos mais próximos do presidenciável Aécio Neves, considerou surpreendente a carta endereçada pelo vice-presidente Michel Temer à presidente Dilma Rousseff. A despeito de o texto soar como um rompimento, o que poderia agradar à oposição, a surpresa do líder tucano foi negativa:

“A carta surpreende pela ausência de críticas à grave situação que o governo do PT levou o país. Choca pelo excesso de reclamações de caráter pessoal e partidário. A carta deixa a República e o Brasil em segundo plano, frustrados, com tantas queixas e lamúrias dos políticos distantes do sofrimento do povo na vida real.”.

 

O desembarque do PMDB (por Sérgio Praça, de Veja.com)

Estudos mostram que fragmentação partidária torna o PMDB ainda mais importante, e sua saída do governo Dilma é o pior baque do ano para a presidente

Os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Henrique Alves (Turismo), ambos do PMDB, já deixaram seus cargos (no caso de Alves, está prestes a fazer isso). Faltam outros – como os ministros da Saúde e Ciência e Tecnologia, nomeados recentemente –, mas é provável que eles cedam e também saiam. É possível que não saiam? Claro. Mas correriam o risco de ver o impeachment aprovado e se tornarem mortos-vivos em um governo Temer.

Segundo Vera Magalhães, do “Radar”, deputados já brincam que o PMDB pode escolher entre ter 7 ou 31 ministérios. É um partido estranho: grande demais para ignorar e difícil demais de gerenciar, conforme o ótimo trabalho dos cientistas políticos Carlos Pereira, Frederico Bertholini, Helloana Medeiros com o economista Samuel Pessôa.

De acordo com o texto, há uma correlação positiva entre fragmentação partidária e a existência de partidos que representam o legislador mediano, como o PMDB. Há outros no mundo…o Partido Justicialista, da Argentina, é o segundo mais peemedebista no ranking apresentado no paper, mas mesmo assim está longe de ser um PMDB!

Pois não há – no mundo! -, uma Câmara dos Deputados tão fragmentada quanto a nossa, de acordo com o cientista político George Avelino. Daí a centralidade do PMDB para o governo. É muito, mas muito mais importante do que podemos imaginar.

Agora o governo está colhendo o ônus de ter, neste segundo mandato, tentado governar à revelia do PMDB (atuando para atrair deputados para o PSD de Kassab, por exemplo). Estratégia que deu errado desde o início e depois não conseguiu ser revertida, por causa da demora e inabilidade da presidente para negociar ministérios.

“Ah, mas o PMDB é chantagista e fisiologista!” Bom, “fisiológico” é quem banca campanhas com dinheiro ilegalmente desviado de empresas estatais, como o PT fez nos últimos anos.

 

Oliver: Carta aos brasileiros

por VLADY OLIVER

É extremamente grave o fato da mamulenga, na ânsia de mostrar o verdadeiro caráter de seu vice, Michel Temer, tenha revelado ao Brasil o conteúdo de uma missiva particular por ele escrita. É um tiro que sai pela culatra. Mais um. Pelo conteúdo, podemos inferir mais um pouco da estranha língua falada nos interiores dos palácios onde se governa por aqui. Por ela sabemos quem é quem e podemos comparar a “liturgia” de governo de ambos.

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Reynaldo Rocha: A carta de Temer foi um soco no estômago da presidente

por REYNALDO ROCHA

“Menino, não mexe com quem está quieto”. É um dos conselhos de avós que um dia todos escutamos. Dilma e seus assessores desastrados avaliaram que o melhor a fazer era mexer com Michel Temer. Que estava quieto como vice-presidente, cargo que se notabiliza não por ter poder, mas pela expectativa da poder. Vice só entra em campo se o titular está machucado. Ou tomou cartão vermelho.» Clique para continuar lendo

A carta do vice, por BERNARDO MELLO FRANCO (na FOLHA)

BRASÍLIA - Além de alimentar a fábrica de piadas da internet, a carta de Michel Temer a Dilma Rousseff mostrou o nível rasteiro em que se discute o futuro da República. Das 883 palavras do documento, nenhuma trata dos problemas graves que o país enfrenta. Na maior parte do texto, o vice-presidente se limita a remoer mágoas pessoais e reivindicar cargos perdidos por aliados.

Temer se queixa de que Dilma o trata como "vice decorativo". Reclama que perdeu o "protagonismo" do passado. Diz que é visto com "menosprezo" pelos petistas. Em um trecho especialmente infeliz, protesta por não ter sido convidado para uma reunião com o americano Joe Biden.

"É um desabafo que deveria ter feito há muito tempo", dramatiza o vice. As redes sociais não perdoaram o tom lacrimoso da carta. Temer virou alvo de montagens cômicas e chegou a ser rebatizado de "Mimimichel".

Apesar de ter assustado o Planalto, o vice perdeu pontos no Congresso. "Se ele era um vice decorativo, por que desejou manter a aliança em 2014?", questionou o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani.

No Senado, peemedebistas reclamaram que o vice só demonstrou preocupação com os empregos de amigos do peito, como Eliseu Padilha e Moreira Franco. A oposição também bateu duro. "A carta foi uma demonstração de fisiologismo puro", atacou o tucano Cássio Cunha Lima.

As lamúrias de Temer não combinam com a imagem de estadista que ele tenta projetar. Suas queixas soam pequenas demais para quem busca se credenciar como um líder maduro e capaz de tirar o país da crise.

Temer tropeçou na própria vaidade, mas sua carta serviu para ressaltar um grave defeito de Dilma. Em quase cinco anos na Presidência, ela manteve o mau costume de destratar aliados e desprezou a tarefa de cultivar amizades no Congresso. Esse comportamento arrogante, relatado até por políticos que dizem gostar dela, pode cobrar um preço alto na votação do impeachment.

 

Carta infeliz, editorial da FOLHA

Nos tangos, boleros e outros gêneros românticos de antigamente, alguns artistas adotavam a prática de, a dada altura, interromper o canto e passar à simples declamação da letra a meia-voz, reiterando seu recado em tom de confidência.

Enquanto a orquestra desenrola os compassos incertos do impeachment, é como se a carta enviada pelo vice Michel Temer (PMDB) à presidente Dilma Rousseff (PT) correspondesse, no seu tom supostamente magoado e pessoal, a essa modalidade de canastrice cancioneira.

Não que não sejam cerebrais os seus motivos, e verdadeiras as suas queixas. Com certeza, por inabilidade, arrogância e preconceito, o Palácio do Planalto desperdiçou as oportunidades de outorgar a Michel Temer o papel de articulação política de que tanto se carece num momento de gravíssima crise.

Apontando esse distanciamento numa carta que dificilmente alguém com sua experiência teria escrito sem saber que vazaria, Temer articula uma versão para justificar o que constitui seu notório interesse político neste momento.

Como beneficiário imediato de um eventual afastamento de Dilma, o vice-presidente se vê na contingência de não poder explicitar excessiva avidez pelo cargo que tem diante dos olhos.

A mera expectativa de ascensão, porém, tende a unificar o PMDB em torno de Temer. Seus passos no caminho de um rompimento, aliás já encetados com a saída do aliado Eliseu Padilha da Secretaria de Aviação Civil, tornaram-se praticamente sem volta.

O cálculo não é de estranhar, quando tem origem num político profissional de reconhecida habilidade. O hábito das conversações de bastidor e das confidências ao pé de ouvido terá cobrado, entretanto, seu preço na tática adotada pelo melífluo peemedebista.

Se se tratava de acenar com a possibilidade de exercer uma liderança política nacional –conciliadora ou disruptiva, pouco importa– na atual crise, o vice-presidente sem dúvida se apequenou.

Sua carta adota um tom choroso, incluindo reclamações risíveis, como a de não ter sido convidado a participar de um encontro com o vice-presidente dos EUA, Joe Biden.

Fica-se com a impressão de que o apreço pelo protocolo palaciano, pelo beija-mão e pelos cargos de segundo escalão supera, no espírito de Temer, a devida consideração das emergências nacionais.

O característico do mau ator não é a mentira, a falsidade. É o fato de comover-se consigo mesmo, sentimentalizar as próprias convicções e atitudes. Michel Temer escreveu uma carta dolorida, magoada, até sincera. Mas o país poderia ter sido poupado dessa página constrangedora de correio sentimental.

 

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Fonte: Blogs de veja.com (+ UOL)

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