Prisão de Delcídio é mais uma bomba no quintal de Dilma (por REINALDO AZEVEDO)
Quando fiquei sabendo da operação, no começo desta manhã (ver post das 6h47), afirmei que a crise subiria de patamar, atingindo o Congresso, o governo e até o mundo das finanças. Está aí.
Delcídio Amaral já havia sido acusado por Fernando Baiano de ter recebido propina. Ocorre que o que as conversas revelaram é um pouco mais do que isso: ele atua mesmo como membro de uma quadrilha, de uma organização criminosa, do mais refinado gangsterismo. É ele quem sugere o avião adequado para fuga de Cerveró.
“Ah, o que o governo tem com isso?” Bem, algo além de ele e a presidente serem do mesmo partido: Delcídio é nada menos do que o líder do governo no Senado. É quem fala pela Presidência da República na Casa.
Mais: qual o interesse de Delcídio em Cerveró? Entre outros que eventualmente desconhecemos, cumpre lembrar que, segundo Fernando Baiano, o senador recebeu US$ 1,5 milhão de propina na compra da refinaria de Pasadena, que foi conduzida pelo ex-diretor.
Quem era a chefe da Casa Civil à época e presidente do Conselho da Petrobras? Dilma Rousseff, esta mesma que tem Delcídio como seu líder no Senado.
Delação de Cerveró acusaria conivência de Dilma na compra de Pasadena
A Folha de S.Paulo informou agora à tarde parte do conteúdo da minuta preliminar da delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. De acordo com o jornal, Cerveró afirma que a presidente Dilma Rousseff “sabia de tudo sobre Pasadena” e que o “cobrava diretamente” sobre isso. A Folha afirma que o relato da delação foi feito por Delcídio Amaral em reunião com o advogado do ex-diretor, Edson Ribeiro, para discutir um acordo em que Cerveró livraria Delcídio e o banqueiro André Esteves. O acordo de delação de Cerveró foi assinado na última quarta-feira, e Delcídio Amaral e André Esteves foram presos após tentativa de evitar as confissões do diretor da Petrobras. A compra da refinaria nos Estados Unidos aconteceu com endosso de Dilma enquanto era presidente do Conselho Administrativo da Petrobras e, segundo o TCU, teve um superfaturamento de US$ 792 milhões.
Plano arquitetado pelo senador demonstra o que está em investigação: trata-se de um sistema criminoso que se apoderou do país
E Delcídio Amaral, hein? Com aquela cara de Vovó Mafalda, apelido que lhe pespegaram no Mato Grosso do Sul? Tsc, Tsc, Tsc… Está mais para Vovó Metralha. Ou Vovó Petralha!
Que coisa!
Eis aí mais uma evidência de que o que está sendo revelado não é um assalto episódico aos cofres púbicos. Estamos falando de um sistema, de um método, de um modelo, de um jeito de governar, que vai se espalhando, que tem raízes. Esse mal precisa ser cortado pela raiz. E é claro que a raiz tem nome: PT. E é claro que o PT tem chefe.
Se a Lava-Jato não chegar à raiz da questão, então estará fazendo mal o seu trabalho, permitindo que o monstrengo se manifeste de novo daqui a pouco, como naqueles filmes B de terror.
O que evidenciam as gravações? Para sintetizar:
– Delcídio conversa com Bernardo, filho de Nestor Cerveró, e com o advogado deste, Edson Ribeiro, sobre o plano de fuga do ex-diretor da Petrobras;
– o senador se compromete a tentar influenciar ministros do Supremo para que seja concedido um habeas corpus a Cerveró;
– uma vez concedido, seria posto em prática um plano de fuga: primeiro o Paraguai e, depois, a Espanha;
– o banqueiro André Esteves financiaria a operação, orçada em R$ 4 milhões.
Cerveró, o Nestor, havia celebrado um acordo de delação premiada, e seu filho, Bernardo, gravou a conversa em que Delcídio atua claramente como se fosse um chefe de quadrilha, organizando a fuga.
Mais: Delcídio prometeu um mensalão de R$ 50 mil para Cerveró não fazer delação. Pergunta óbvia: de onde sai o dinheiro?
O STF não precisa de autorização do Senado ou da Câmara para prender um parlamentar. Mas precisa dela para que a prisão seja mantida.
Vamos ver o que vai acontecer. A Casa vai decidir se leva a sua reputação para o esgoto, para onde já desceu a de Delcídio.
Os marginais que promoveram o petrolão continuam na ativa. Afinal, de onde Delcídio tiraria o dinheiro para pagar Cerveró?
O senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado (!!!), ofereceu uma mesada, um mensalão!, de R$ 50 mil a Nestor Cerveró para que este se calasse, para que não fizesse o acordo de delação premiada.
De onde sairia o dinheiro?
O que isso significa? Que o esquema continua vivo e operando. E é claro que está. A razão é simples. Não se chegou à raiz da questão.
O monstro que suga as energias do país e que lhe rouba o futuro continua vivo.
Se Esteves teve acesso a minuta de delação, a coisa é muito grave
“O banqueiro André Esteves está na posse de cópia de minuta de anexo do acordo de colaboração premiada ora submetido à homologação, com anotações manuscritas do próprio Nestor Cerveró. Essa informação revela a existência de perigoso canal de vazamento, cuja amplitude não se conhece: constitui genuíno mistério que um documento que estava guardado em ambiente prisional em Curitiba/PR, com incidência de sigilo, tenha chegado às mãos de um banqueiro privado em São Paulo/SP.”
O texto acima compõe a justificativa do pedido de prisão preventiva de Esteves, encaminhada por Rodrigo Janot ao STF.
E quem revela que Esteves havia conseguido o material sigiloso? O próprio Delcídio, na reunião que manteve com Bernardo Cerveró e com advogado do ex-diretor da Petrobras.
E qual seria o interesse de Esteves na questão? No seu acordo de delação, Cerveró afirmou que o banqueiro pagou propina ao senador Fernando Collor em razão da operação de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam ao Banco BTG Pactual e ao Grupo Santiago.
Alberto Yousseff já havia acusado Collor de ter recebido propina nessa operação, que envolvia a BR Distribuidora, que tinha dois diretores indicados pelo senador de Alagoas. Esteves estaria disposto a bancar a mesada e a fuga para evitar que a questão viesse à luz.
Não sei nada além do que circula por aí, mas me parece só o pagamento dessa propina será coisa pouca para Esteves se meter em operação tão perigosa. A ver.
Justiça condena Sombra, do caso Celso Daniel, por corrupção em Santo André
Também foram condenados o empresário do ramo de transportes Ronan Maria Pinto – com pena igual à de Silva – e Klinger Luiz de Oliveira Souza, ex-secretário de Transporte e de Serviços Municipais de Santo André no governo petista
Na Folha:
Ligado ao ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), assassinado em 2002, o empresário Sergio Gomes da Silva, o Sombra, foi condenado pela Justiça de Santo André a 15 anos, 6 meses e 19 dias de prisão em regime fechado por concussão (exigência de cobrança indevida) e corrupção passiva.
Ele é acusado de integrar um esquema que cobrava propina de empresários do setor de transporte durante a segunda gestão do petista morto, a partir de 1997.
Também foram condenados o empresário do ramo de transportes Ronan Maria Pinto –com pena igual à de Silva– e Klinger Luiz de Oliveira Souza, ex-secretário de Transporte e de Serviços Municipais de Santo André no governo petista. A pena dele é de 10 anos, 4 meses e 12 dias de prisão em regime fechado.
Todos poderão recorrer em liberdade, conforme a sentença da juíza Maria Lucinda da Costa, da 1ª Vara Criminal de Santo André (Grande SP).
De acordo com a denúncia, Souza e Silva exigiam pagamento mensal de donos de companhias de ônibus que atuavam no município, sob a ameaça de terem seus contratos com a prefeitura suspensos.
O empresário Pinto, ainda segundo a acusação, associou-se aos dois –um secretário municipal e um homem próximo do prefeito, com influência na gestão– com o objetivo de expandir seus negócios. Conforme a denúncia, era Pinto que fazia o contato com os outros empresários para negociar a propina.
(…)