Lula já grita ser uma vítima da Lava Jato! Errado! O país é que é vítima, há 13 anos, da mesma quadrilha (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 25/11/2015 04:17
Chefão do PT volta a usar o expediente de se dizer perseguido para ver a Operação Lava Jato continua, de forma inexplicável, a preservá-lo (EM VEJA.COM)

Ah, que graça! Luiz Inácio Lula da Silva está, consta, chateado com a prisão de seu amigão do peito José Carlos Bumlai, cujo papel nas tramoias do mensalão e do petrolão começa a ficar mais claro. Sim, está chateado, mas, como Lula é Lula, pensa, antes de mais nada, em manter a cabeça colada ao pescoço. Comentou com o seu entorno ser ele o verdadeiro alvo da Lava-Jato. É mesmo?

Infelizmente, até agora, não é o que se percebe. Muito pelo contrário. Ele está é sendo poupado. Vamos relembrar? Lula é tão vaidoso que disputa protagonismo até com bandidos.

Eu ainda estou em busca de boa explicação. Ninguém tem nenhuma. Salim Schahin diz que perdoou uma dívida do PT porque seu grupo conseguiu, com a interferência de Lula, operar um dos navios-sonda da Petrobras. Qualquer pessoa lógica infere o óbvio: foi a estatal que pagou o empréstimo contraído pelo partido.

Muito bem! Até agora, não existe nem sequer um miserável inquérito para apurar a atuação do ex-presidente num caso em que o delator admite, sem receios, a falcatrua. Pagou por isso uma multa de R$ 1,5 milhão.

Lula, segundo seus “aliados”, informa a Folha, estaria reclamando da condução “espetaculosa” da investigação e diz saber “que querem atingi-lo politicamente”. Suas críticas são direcionadas também ao juiz Sergio Moro.

Até agora, ao menos, ele deveria ser grato à Polícia Federal, ao Ministério Público e a Moro. Dilma também.

Pois é… Os homens de Lula já plantam por aí a sua frase sobre Bumlai: “Se ele fez alguma coisa, não foi com meu aval”. Ora, claro que não! Os eventos mais escabrosos acontecem em torno de Lula, beneficiam o PT e os petistas, mostram um estreito vínculo entre o partido e alguns, sem exagero, bandidos, mas “o cara” não sabia de nada. O mensalão e o petrolão beneficiavam o seu governo, à medida que mantinham unida a base, mas, ora vejam!, ele nunca sabe de nada.

Para detalhar: em 2004, o Banco Schahin emprestou R$ 12,17 milhões a Bumlai, que era apenas a fachada do negócio. O destinatário do dinheiro, segundo a apuração, foi o PT, depois de passar pela conta do frigorífico Bertin.

Essa dívida nunca foi paga. O grupo Schahin foi regiamente recompensado cinco anos depois, em 2009, quando, por interferência de Lula, segundo Salim Schahin, seu grupo fez um contrato de US$ 1,6 bilhão para a operação do navio-sonda Vitória 10.000, da Petrobras. A dívida do PT, que Bumlai fazia de conta ser sua, já estava em R$ 60 milhões.

Sandro Tordin, ex-presidente do Banco Schahin, confirmou, também em delação premiada, que houve a operação envolvendo o PT. E deu outros detalhes. Disse que o banco tinha receio de conceder empréstimo tão grande, mas ficou mais tranquilo depois que o próprio Delúbio Soares compareceu a uma reunião, deixando claro que o dinheiro era mesmo destinado ao partido. Isso em 2004. Em 2009, quem atuou para viabilizar o contrato do navio-sonda foi outro tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

Segundo Tordin, dias depois do empréstimo, José Dirceu, ainda o todo-poderoso da Casa Civil, deu um gentil telefonema, para uma conversa amena. Ele afirmou que não tocaram no assunto, mas que o sentido da ligação era claro. Bem, se é possível contestar que Dirceu tenha tido algo a ver com história, é incontestável que Delúbio participou.

Notem que essa operação em particular lembra muito claramente as traficâncias daquilo a que se chamou, então, “mensalão”. A primeira tramoia é de 2004, antes ainda que o escândalo viesse à luz, mas o “pagamento” ao grupo Schahin, por intermédio da Petrobras, só foi feito em 2009, quando aquele outro escândalo já era conhecido.

Outro escândalo? No fim das contas, é tudo a mesma coisa: trata-se de uma quadrilha, disfarçada de projeto de poder, organizada para assaltar o Estado brasileiro.

 

Um texto de Sergio Moro que poderia ser de Rui Falcão. Ou: Por que não existe um inquérito contra Lula?

Leiam este trecho:

“A fiar-se nos depoimentos, José Carlos Bumlai teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios. Não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”.

O autor dessas palavras é o juiz Sergio Moro, o implacável — e não estou sugerindo que seja molenga. Ele é visto, assim, como o homem que não se verga, certo? Deve ser verdade.

Pois bem. É uma fala de Moro, mas poderia ser de Rui Falcão, presidente do PT. Aliás, o próprio Lula já afirmou que Bumlai pode ter usado seu nome sem sua autorização.

Pode parecer incrível, mas, até agora, Lula não é investigado na Lava-Jato. É mesmo um espanto. Em depoimento, Salim Schahin confessou que o banco do seu grupo perdoou uma dívida do PT — que se especula em R$ 60 milhões — porque uma das divisões da empresa conseguiu um contrato de US$ 1,6 bilhão para operar um navio-sonda da Petrobras. Segundo ele próprio, que fez delação premiada, o negócio só se viabilizou com a interferência de Lula.

Vale dizer: o chefão petista ajudou o grupo Schahin a fazer um contrato bilionário, e a empresa perdoou a dívida do PT. Ou por outra: a Petrobras pagou a dita-cuja. Ora, acreditem: Salim pagou uma multa, no âmbito do acordo, de R$ 1,5 milhão, e Lula nem sequer é um investigado. Não há um miserável inquérito contra ele, nada!

Alguém realmente acredita que, no meio dessa lambança toda, dado o papel que tinham o PT, João Vaccari Neto e outras figuras graduadas, Lula não tivesse ciência de absolutamente nada? Acho que ninguém está esperando recibo assinado, né?

Também a Polícia Federal parece bastante compreensiva: “Em relação ao ex-presidente Lula, são citações ainda sem qualquer conteúdo de prova efetiva. É muito comum que o nome seja usado sem autorização. Pode ser esse o caso, mas tem que apurar, ver se houve realmente alguma interferência do Palácio do Planalto nesses contratos”, afirma, por exemplo, o delegado Igor Romário de Paula, que atua na Lava Jato.

Como afirmei outro dia num bate-papo para o qual fui convidado, só me ajoelho diante de um Senhor, e ele não é deste mundo.

Venham cá: esses critérios generosos da PF e de Moro — e os do Ministério Púbico Federal — empregados com Lula também valem para outros acusados? Se o PT fosse uma empresa, em vez de um partido, esses senhores todos dariam a Lula a presunção da inocência? Deram aos empresários acusados?

Não custa lembrar que a Polícia Federal se opôs ao arquivamento do inquérito que investigava o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), apesar do absurdo da coisa. Um bandido afirmou ter entregado dinheiro a alguém que se parecia com ele… Mostraram-lhe uma foto de Anastasia… O homem disse que talvez fosse! Tome inquérito!

Anastasia já ter sido investigado na Lava-Jato, e Lula não, convenham, dá conta de certo estado de coisas. O caso de Salim Schahin, então, clama aos céus.

Os canalhas dizem que não me conformo com o fato de Lula não ser investigado. É VERDADE! EU NÃO ME CONFORMO NÃO PORQUE ELE DEVERIA SÊ-LO POR DEFINIÇÃO, MAS PORQUE ELE COSTUMA APARECER NA NARRATIVA DOS CRIMINOSOS, NÃO É?, E NUNCA TEM NADA COM ISSO. Desde o mensalão, é o inocente mais onipresente da história da humanidade.

“Tá desconfiando de Moro, da PF e do MP, Reinaldo?” Se e quando desconfiar, eu falo. Estou cobrando. E estou perguntando, muito objetivamente, se todos os investigados da Lava-Jato gozam da, vamos lá, tolerância de que goza Lula. Se a resposta for não, e eu acho que é “não”, cumpre lembrar que a Justiça mal distribuída é uma das faces da impunidade.

Com Bumlai, Lula volta a exercer papel de bobo, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

 

Prisão de Bumlai tira Lula do altar de intocável, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Preso em Brasília, o primeiro-amigo Bumlai é conduzido ao avião da PF que o levou para Curitiba

A força-tarefa da Operação Lava Jato vinha mastigando pelas beiradas, há meses, a imagem sacra de Lula. A prisão do primeiro-amigo José Carlos Bumlai, efetivada nesta terça-feira, retira o ex-presidente petista, por assim dizer, do altar dos intocáveis da política. O alvo dos investigadores está impresso no nome da nova fase do processo: “Passe Livre”. Durante os dois reinados de Lula, Bumlai ficou conhecido no Planalto como a segunda pessoa com livre acesso à maçaneta do gabinete presidencial. A primeira era Marisa Letícia, a mulher de Lula.

Durante anos, Lula manteve seu prestígio escorado numa hipotética percepção de castidade presumida. Ao investigá-lo, mesmo que pelas bordas, a turma da Lava Jato como que descanoniza o personagem. Algo que as ruas já haviam feito ao recepcionar o pixuleco, aquele gigantesco boneco inflável de Lula, vestido de presidiário. Até o asfalto já pressentia que um novo fantasma atormentaria Lula. Chama-se Sérgio Moro.

O juiz da Lava Jato está para o petrolão como o ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa estava para o mensalão. Com duas diferenças: as delações proliferam e Lula, agora sem mandato, está ao alcance da primeira instância do Judiciário. A intimidade que o vincula ao amigo Bumlai é mais um desafio à integridade da tese do “eu não sabia”.

Bumlai tornou-se hóspede do PF’s Inn, em Curitiba, depois que seu nome jorrou dos lábios de dois personagens que suam o dedo em troca de benefícios judiciais. Um dos delatores, o lobista Fernando Baiano, disse ter repassado ao primeiro-amigo propina de R$ 2 milhões. Na versão do depoente, Bumlai lhe disse que o dinheiro seria usado para liquidar dívida imobiliária de uma nora de Lula.

Outro delator, o empresário Salim Schahin, disse ter perdoado um empréstimo de R$ 12 milhões que Bumlai contraíra no Banco Schahin. Pendurou o débito nas asas de um elefante depois que seu grupo empresarial amealhou, graças à intermediação de Bumlai, um contrato de R$ 1,6 bilhão na Petrobras. No depoimento do delator, Bumlai repassou o dinheiro do empréstimo fictício para o PT.

Na versão do amigo de Lula, a dívida foi contraída para a aquisição de uma fazenda. Mas o negócio micou. E Bumlai, um pecuarista de mostruário, diz que pagou a dívida cedendo embriões de gado ao credor. Seria um caso raro de instituição financeira que entrega milhões a um cliente e aceita esperma de boi como pagamento. Acrescida de juros e correção monetária, a dívida contraída por Bumlai ultrapassou a cifra de R$ 20 milhões. Para o juiz Moro, há “fraude'' na transação.

Na noite da última sexta-feira, discursando num congress da Juventude do PT, em Brasília, Lula disse: “Uma coisa que me preocupa nesse momento é a tentativa de vários setores dos meios de comunicação, de vários setores da sociedade, de induzir a sociedade brasileira a não gostar de política, de induzir a acreditar que a palavra política por si só está apodrecida”.

Conforme já comentado aqui, Lula tem razão num ponto: a política, outrora vista como a segunda profissão mais antiga do mundo, agora se parece muito com a primeira. Mas o que causa o fenômeno são os fatos, não o noticiário. A prisão de Bumlai demonstra que Lula faria um bem a si mesmo se parasse de se preocupar com o noticiário e começasse a olhar ao redor.

Bumlai não é o único foco a merecer a preocupação de Lula. Há outros. Por exemplo: a Polícia Federal investiga a suspeita de que a empreiteira OAS, enrolada no cartel que pilhou a Petrobras, bancou obras que converteram num pedaço de paraíso um sítio frequentado por Lula e pelo clã Silva. Fica na cidade de Atibaia (SP). E está registrado em nome de dois sócios de Fábio Luís da Silva, filho do morubixaba do PT.

As benfeitorias teriam sido providenciadas pelo ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, outro amigo de Lula, a essa altura um personagem já bem distante daquele político sacralizado cuja imagem parecia protegida por um teflon impermeável a tudo —exceto, talvez, ao óleo queimado do petrolão.

 

Okamotto sobre Bumlai: ‘O que é ser amigo?’, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

“Não há como negar que [José Carlos] Bumlai tinha intimidade” com Lula, disse Paulo Okamotto, espécie de faz-tudo do morubixaba do PT, sobre o mais novo presidiário da Operação Lava Jato. “Ele participava de festas, fez visitas ao instituto. Mas não sei se era amigo”, Okamotto acrescentou, antes de indagar: “O que é ser amigo na sua opinião?''

A dúvida de Okamotto é pertinente. A julgar pela quantidade de “traidores” que Lula coleciona desde o mensalão, o melhor amigo do ex-soberano é o amigo do alheio. No momento, o amigo possível e certo para Lula é o isolamento. A esse Lula pode amar e por esse pode ser amado.

– Em tempo: para aqueles que, como Okamotto, não sabem o que é um amigo, uma amiga do repórter sugere o vídeo abaixo. Não se aplica à amizade de resultados que uniu Lula e Bumlai. Mas, em tempos de Lava jato, ajuda a lavar a alma daqueles que conseguem compreender que a perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo genuíno.

 
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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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