Lula e PT transferem para Levy culpas de Dilma... E destino de Eduardo Cunha fica nas mãos do PT

Publicado em 11/11/2015 20:43
por JOsias de Souza (do UOL) + EL PAÍS

Lula e PT transferem para Levy culpas de Dilma, por Josias de Souza (do UOL)

A maior empulhação que Lula e o PT podem cometer contra a plateia no momento é atribuir a Joaquim Levy a responsabilidade pelo mau estado da economia. Ninguém vira presidente com um dígito de aprovação antes de completar um ano de governo por acaso. Quem produziu a ruína econômica não foi o ministro da Fazenda. Foi Dilma Rousseff. Meteu-se na enrascada no seu primeiro mandato, ao fundar uma nova matriz econômica, voluntarista e intervencionista. Encalacrou-se de vez em 2014, quando pedalou o Orçamento para se manter no poder.

Reeleita, deu um cavalo de pau e mudou o rumo de sua prosa. Sem aviso prévio, foi do paraíso dos videoclipes do João Santana para o inferno da vida real. Perdeu a credibilidade. Que é igual à virgindade. Não dá segunda safra. Foi contra esse pano de fundo que Levy trocou a diretoria do Bradesco pela Esplanada dos Ministérios. Disseram-lhe que teria carta branca e votos no Congresso. Não teve nenhuma das duas coisas.

Levy enxergou o focinho do desastre ao flagrar-se com um olho na erosão das contas e outro nos colegas Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante. Em pelo menos uma ocasião, disse a Dilma que poderia ir embora, presenteando-a com sua ausência. Ouviu apelos para que ficasse. Súbito, Lula, passou a pregar sua saída. E Dilma parou de fingir que não ouve.

O petismo imagina que, sem Levy, todos os problemas do governo acabarão. Engano. Ainda que Henrique Meirelles –ou um assemelhado dele— tope assumir a Fazenda, o problema continuará despachando no gabinete principal do Palácio do Planalto.

Em resumo, a situação atual da economia, é a seguinte: uma parte do mercado está nervosa porque Dilma diz que Levy fica, mas sabe que é mentira e que o Lula emplacará um substituto a qualquer momento. A outra parte está nervosa porque Dilma diz que Levy fica e sabe que ele fica mesmo, porque Lula ainda não convenceu o Meirelles a assumir. E Dilma está nervosa porque não sabe se diz que Lula voltou a presidir sem a sua autorização ou se autoriza Lula a presidir e não diz. E vice-versa.

 

Destino de Eduardo Cunha fica nas mãos do PT

Aliados de Eduardo Cunha que se dedicam a contar votos no Conselho de Ética da Câmara concluíram que ele amarrou seu destino aos humores do PT. Há no colegiado 21 deputados. Hoje, apenas nove se dispõem a votar a favor de Cunha. Outros 12 tendem a aprovar a continuidade do processo de cassação do deputado. Entre esses 12 há quatro deputados do PT. Se migrassem para o outro lado, o placar se inverteria. Em vez de 12 a 9 contra Cunha, seria de 13 a 8 a favor do arquivamento do pedido de cassação do mandato formulado por PSOL e Rede.

Convertido em interlocutor preferencial de Lula e poupado de críticas por autoridades do governo Dilma, Cunha distanciou-se da tese do impeachment. Em reação, os oposicionistas PSDB, DEM e PPS, donos de quatro votos no Conselho de Ética, articulam-se para votar em bloco contra o ex-aliado. Daí a avaliação feita pelos integrantes do grupo de Cunha de que ele seria, hoje, um refém do quarteto que representa o PT no colegiado. Tomados pelo que dizem em privado, os petistas terão de ser convencidos. Hoje, torcem o nariz para Cunha.

De acordo com o levantamento dos aliados de Cunha, se o Conselho de Ética tivesse que decidir hoje, votariam pelo arquivamento do processo os seguintes deputados: 1) Paulinho da Força (SD), 2) Washington Reis (PMDB), 3) Mauro Lopes (PMDB), 4) Arnaldo Faria de Sá (PTB), 5) Erivelto Santana (PSC), 6) Cacá Leão (PP), 7) Ricardo Barros (PP), 8) Vinícius Gurgel (PR), e 9) Wellington Roberto (PR).

Votariam a favor do prosseguimento das investigações que podem levar à cassação do mandato de Cunha: 1) Júlio Delgado (PSB), 2) Sandro Alex (PPS), 3) Betinho Gomes (PSDB), 4) Nelson Marchezan Júnior (PSDB), 5)Paulo Azi (DEM), 6) Fausto Pinato (PRB), 7) José Carlos Araújo (PSD), 8) Sérgio Brito (PSD), 9) Léo de Brito (PT), 10) Marcos Rogério (PT), 11) Valmir Prascidelli (PT), e 12) Zé Geraldo (PT).

Diante do cenário adverso, Eduardo Cunha opera para adiar a deliberação do Conselho de Ética para 2016. Trabalha com a perspectiva de empurrar o problema com a barriga pelo menos até abril.

 

PSDB descobre que Cunha é mesmo um Cunha

Todo mundo comete erros, é humano. Mas escolher o Eduardo Cunha como seu erro, depositar sua estratégia política nas mãos de Eduardo Cunha, permanecer obstinadamente ao lado de Eduardo Cunha durante meses, só mesmo uma oposição liderada pelo PSDB.

Em nota oficial divulgada nesta quatra-feira (11), o PSDB sinalizou ter descoberto que Eduardo Cunha é mesmo um grandissíssimo Eduardo Cunha. Pede o afastamento do personagem da presidência da Câmara. “Agora de forma ainda mais veemente” do que na nota divulgada no mês passado, que não valeu.

O PSDB parece ter notado, com irreparável atraso, que o mal de negociar politicamente com um vendedor de carne enlatada para a África é o pessoal que passa não distinguir quem é quem. O tucanato precisará de muito mais do que uma nota oficial para apagar a tatuagem de Eduardo Cunha que gravou na testa.

 

Enquanto o PT frita Joaquim Levy, multidão faz fila por emprego no Brasil de Dilma Rousseff

(por FELIPE MOURA BRASIL, de VEJA.COM)

 

Um vídeo obtido por este blog mostra a enormidade da fila de pessoas em busca de emprego nesta terça-feira, na 2ª Semana do Trabalho, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.

Três grandes tendas oferecem oportunidade de cadastro e oficinas de orientação para 6,6 mil vagas em empresas como TIM, Drogaria São Paulo, Makro e Habib’s.

“A fila dá a volta no Anhangabaú inteiro, como um grande ‘U'”, diz o autor do vídeo.

 

De um ano para cá, mais de dois milhões de brasileiros ficaram sem trabalho – e, quando os especialistas em mercado falam sobre os próximos meses e também 2016, falam em aumento da taxa de desemprego.

A fritura de Joaquim Levy como bode expiatório voltou a esquentar.

Os petistas já começam a culpá-lo pelo provável fracasso nas eleições municipais de 2016.

Segundo a Folha, o Planalto cobra do ministro um plano para reerguer economia no ano que vem.

Segundo o Valor, “avança no governo o processo de substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com a consequente mudança das diretrizes da política econômica”.

“A sucessão deverá ocorrer em janeiro, conforme fontes da coordenação política e da direção do PT, mas pode ser antecipada para dezembro, caso a crise se agrave”.

Caberia ao ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o único que topa qualquer parada, “implantar o modelo de política econômica defendido abertamente por Lula, que implica a retomada do crédito com aumento do consumo interno e a liberação de empréstimos internacionais para os Estados”.

Um líder do PT declarou:

“Para conter o impeachment de vez, precisamos reverter o quadro de deterioração econômica. Se a crise econômica agravar-se, Dilma vai cair não pelo Congresso, mas pelo clamor das ruas”.

Quanto à suposta oposição, “é mais ou menos consensual no PSDB que a presidente Dilma Rousseff não chega ao fim do mandato. Se não for por impeachment, será por pura exaustão”.

A única chance de Dilma, segundo petistas e tucanos, seria “nomear Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda”.

Se a oposição continuar apática, Lula assumirá o governo, enquanto Dilma entra na fila do Habib’s.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

A TÁTICA DO MEDO, por CARLOS PAGNI (no EL PAÍS)

Lá (na Argentina) como cá (no Brasil) os populistas tentam amedrontar suas populações...

No próximo dia 22 os argentinos vão eleger seu presidente, pela primeira vez, em um segundo turno. Este sistema é atraente, especialmente em sociedades que acreditam estar carregando um demônio em seu seio. O segundo turno induz à formação de uma maioria interessada em impedir que esse demônio chegue ao poder. Esses eleitores, diria Borges, não estão unidos pelo amor, mas pelo espanto.

Se tal demônio não existe, é preciso criá-lo. A mobilização de uma corrente triunfadora exige a construção de um consenso negativo sobre o adversário. É o que está fazendo o kirchnerista Daniel Scioli. Ele explica que se seu adversário Mauricio Macri ganhar, os beneficiários dos 12 anos de políticas distributivas irão perder o que foi conquistado. Para simplificar: a mensagem de Scioli é “eu ou a fome”.

Esta estratégia está inspirada na desenvolvida por Dilma Rousseff, há um ano, para conseguir a reeleição. Rousseff se apresentou como a heroína da justiça social, identificando seus concorrentes,Marina Silva e Aécio Neves, como uma regressão ao “ajuste neoliberal”, que significaria a perda das vantagens alcançadas. O argumento chegou a um extremo em um anúncio no qual o ex-presidente Lula advertia: “Você se lembra de que quando governavam os que querem governar agora você não tinha carro? Sabe por quê? Porque eles não querem que você tenha. Então, se eles ganharem, vão tirar o seu carro.” Muito sutil.

Para que a receita de Rousseff produza o mesmo resultado na Argentina, Scioli deve superar alguns desafios. Um tem a ver com sua situação eleitoral. Enquanto ela tinha conseguido no primeiro turno 41,61% dos votos, Aécio Neves ficou com 33,53%. Para vencer, ela precisava de menos de nove pontos. Por outro lado, seu adversário devia conquistar mais de 16. As expectativas sempre favoreceram Rousseff.

Por outro lado, Scioli, que achava que ia conseguir 42%, obteve 37,08. E Macri, que achavam que ia ficar com 30%, chegou a 34,15. Consequentemente, ambos devem fazer um esforço semelhante para alcançar a maioria. Além disso, a surpresa pelo resultado inverteu o sentido das apostas. De acordo com a consultoria Isonomía, no dia anterior ao primeiro turno 65% dos eleitores acreditava que o próximo presidente seria Scioli. Hoje, 55% acreditam que será Macri.

A outra dificuldade de Scioli para imitar Rousseff é a credibilidade de sua ameaça. Quando ela alertava para o risco de perder o que foi alcançado, o Brasil tinha uma taxa de desemprego de 6%, inflação de 6%, reservas monetárias equivalentes a 15% do PIB e taxa de câmbio estável. Ao contrário, Daniel Scioli levanta o mesmo alarme com um desemprego de 11%, inflação de 25%, as reservas equivalentes a 1,4% do PIB e um mercado de câmbio paralelo cuja diferença chega a 70% em relação ao oficial.

Scioli chega um pouco tarde ao tentar criar alarme com a perda de benefícios que a economia argentina não oferece há muito tempo. A atividade está estagnada há três anos. Com um agravante: ele deve seduzir especialmente os eleitores de Sergio Massa, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, conquistando 21,39% da eleição. Muitos são peronistas, mas estão desencantados. Já perderam o que tinham ganhado e culpam o governo por essa deterioração.

Seria um erro, no entanto, reduzir a proposta “eu ou fome” apenas a uma tática eleitoral. Essa abordagem baseia-se em uma concepção hegemônica da vida pública. Os projetos populistas  consideram-se a personificação do interesse nacional. O outro não é uma alternativa eleitoral. É o inimigo do povo. O medo do outro excede a função proselitista. É uma condição de todo experimento autoritário.

Outra vez o chavismo é um espelho que exagera. Nicolás Maduro advertiu que, se perder as eleições legislativas de 6 de dezembro, “a Venezuela entraria em uma das etapas mais obscuras de sua vida”. Disse que passaria a governar “com o povo”, o que significa que aqueles que votarem contra ele não pertencem ao povo.

A crise do populismo na América Latina é agravada pela crescente incongruência entre a situação socioeconômica em declínio e o poema épico de seus líderes. No Brasil, essa divisão ficou exposta. Assim que reassumiu, Dilma realizou o ajuste que dizia ser o projeto de seus rivais. A mensagem foi implacável. Foi como se dissesse àqueles que votaram nela: “Agora sou eu quem vai tirar seus carros”.

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Fonte: Blog Josias de Souza (+ EL PAÍS)

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