O depoimento do filho de Lula, o velho patrimonialismo e o novo (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 05/11/2015 11:51
Luís Cláudio depõe na Polícia Federal e diz que dinheiro que recebeu de escritório de lobby se deve a serviços prestados. Então vamos pensar! (em VEJA.COM)

Eu ainda não sei que diabo de serviço a LFT, empresa de marketing esportivo que pertence a Luís Cláudio Lula da Silva — filho de Luiz Inácio — prestou ao escritório de lobby Marcondes & Mautoni, que é, na verdade, uma microempresa. O fato de eu não saber, e ninguém sabe, não quer dizer que seja crime, claro! Quando, no entanto, a  empresa é investigada por compra de uma Medida Provisória que interessava ao setor automotivo — e o tal escritório atua nessa área — assinada pelo pai do dono da LFT, aí é evidente que o assunto ganha relevância.

Luís Cláudio prestou depoimento à Polícia Federal nesta quarta. Confirmou ter recebido R$ 2,4 milhões da Marcondes & Mautoni, assegurou ter prestado o serviço e negou a existência de vínculos com a MP.

Pois é… Vai saber, não é? Por alguma razão, um escritório de lobby, que atua para emplacar uma Medida Provisória, precisa dos serviços de marketing esportivo e, na hora de contratar um especialista, topa justamente com o filho daquele que assinou a MP. Acontece… Aliás, o petismo é o reino das coincidências. E, por isso mesmo, as histórias por ali nunca são convencionais.

A vida financeira de Lula, como sindicalista e membro do PT, nunca foi exatamente convencional, não é mesmo? Há muito tempo o homem é visto como um ente superior, a quem são permitidas extravagâncias. Num passado já remoto, morava de graça na casa de um compadre rico — e isso parecia normal. O mesmo compadre rico é hoje o dono do apartamento onde mora Luís Cláudio, avaliado em R$ 1,2 milhão. O imóvel foi comprado de uma offshore cujo representante no Brasil é casado com uma empresária com sólidos interesses na Prefeitura de São Bernardo.

O dono da LFT é modesto perto de Fábio Luiz, o Lulinha, seu irmão mais famoso. Também este mora num apartamento que pertence a um amigo, e a papa que come o primogênito já é mais fina: o imóvel está avaliado em R$ 6 milhões. Sorte de Lulinha ter outro amigo rico e generoso, que também é dono de um sítio que a OAS reformou para, digamos, o usufruto de Lulão, o pai de todos.

Confesso que há muito tempo o jeito Lula de ver o mundo me incomoda. Na década de 80, quando a Apeoesp, já sob o comando do PT, comandava greves de professores da rede pública — um bolsão de militância ativa do partido —, Lulinha foi estudar numa escola privada em Santo André, que os petistas chamariam de “elite”. Tinha, claro!, uma bolsa de estudos. Sei porque dava aula lá — não fui professor dele. Mas já estava claro que o “companheiro-chefe” tinha um jeito muito particular de ver o mundo.

Em certo aspecto, reconheço que não deve ser fácil ser filho de Lula, não é mesmo? Desde muito jovens, seus rebentos tiveram de conviver com um pai-celebridade, fazendo política o tempo inteiro, articulando a chegada ao poder e tal. Onde quer que estivessem, lá estavam “os filhos de Lula” e coisa e tal. Deve ser, inclusive, muito chato. Por razões que nem preciso explicar, melhor ter pais anônimos.

Parece, no entanto, que, na esfera psicológica, os rapazes até se saíram bem. Não tentaram, e não acho que vá acontecer, seguir a carreira política. Também não se tornaram — e vimos isso em outros países — notórios farristas e playboys. A vida da família é relativamente discreta no que respeita ao noticiário.

Mas, na esfera financeira, tsc, tsc, tsc. Aí parece que existe mesmo um modelo a ser seguido. E é o do pai. E, vamos convir, não é nada bom. A estreia de Lulinha no mundo dos negócios, recebendo uma dinheirama de uma telefônica na sua Gamecorp, logo no início do primeiro mandato do pai, já indicava que o clã tinha mesmo uma leitura muito particular sobre a distinção entre o público e o privado.

Vá lá. Luís Cláudio abriu uma empresa de marketing esportivo e não pode deixar de ser filho de quem é? Paciência! Se, em razão disso, conquistar alguns clientes — desde que não envolva troca de favores com dinheiro público —, melhor pra ele. Mas, com tantas empresas no país a quem oferecer seu talento, tinha de ser justamente à tal Marcondes & Mautoni, com o histórico e com as vinculações que tem?

O pior traço da renitente herança patrimonialista brasileira, sabemos todos, é a cultura do privilégio que não se sustenta no mérito, mas na fidalguia, com todas as deformações sociais e políticas que isso enseja: do “sabe com quem está falando?” à impunidade propriamente.

Lula poderia, em razão da confiança que milhões depositaram nele, ter contribuído para mudar essa escrita. Mas ele não só preservou, no ambiente público, os piores vícios do velho patrimonialismo — compondo, inclusive, com este — como se tornou usuário privado, desses vícios, tornados, tudo indica, uma herança. Para o seu próprio bem e o dos seus. E para o mal do país.

Como sempre foi.

 

Filho de Lula não convence a PF (por VERA MAGALHÃES, no RADAR)

 

Luís Cláudio: depoimento não conclusivo

O depoimento do filho de Lula à Polícia Federal não convenceu os responsáveis pela investigação.

Luís Cláudio depôs por cerca de 4 horas na quarta-feira e estava acompanhado de quatro advogados, mas, na opinião dos investigadores, não conseguiu esclarecer sobre os serviços prestados por sua empresa ao escritório de lobby que lhe pagou 2,4 milhões de reais.

 

Ai, que medinho! Lula resolveu nos ameaçar na conferência da sem-vergonhice.

 

Lula, o enfezado, resolveu ameaçar o país com cara feia…

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… e etá com inveja de Kim : onde já se viu não ser o Babalorixá um dos mais influentes?

Gente, gente! Lula resolveu nos ameaçar de novo! E está com inveja de um brasileiro com cara de japonês que tem 19 anos. O Babalorixá de Banânia não suporta a ideia de que outro brasuca, que não ele próprio, com suas ignorâncias soberbas, possa ser destaque da Time.

O Apedeuta fez o discurso de encerramento da 5ª Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional, promovida pelo Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional). Isso, por si só, já é uma sem-vergonhice.  Ele é um político. Atitudes suas e de familiares estão, quando menos, sob suspeita. Um órgão oficial entregar a um assumido pré-candidato à Presidência a fala de encerramento de um evento é uma canalhice essencial. O Ministério Público só não parte pra cima do Consea porque não quer. Sigamos.

E o que disse o folgazão, o destruidor de instituições, o candidato a verdugo do Estado de Direito? Que não é candidato, não, mas que, se aparecer um nome que ameace acabar com as conquistas petistas, ele estará na campanha “como cabo eleitoral ou como candidato”.

Já convidei aqui umas quinhentas vezes: “Venha, Lula!!!” Eu o quero em pé, agora ou mais tarde, para disputar a eleição e perder. O ex-presidente apenas repetiu o que disse ao jornalismo do nariz marrom, em entrevista mais do que encomendada “Olhem que eu posso me candidatar”.

Pois que venha. Essa ameaça de Lula só assusta os imbecis. Responderemos a suas agressões com fatos. No seu estilo bravateiro e dramático, disse:
“Nem que tenha apenas um minutos de vida, se estiver concorrendo contra nós um projeto conservador, que tenha como objetivo acabar com as coisas que fizemos neste país, pode estar certo de  que eu estarei na campanha ou como cabo eleitoral ou como candidato”.

Não sei o que ele entende por  “projeto conservador”. Na sua boca, não deve ser coisa boa. Na mente perturbada de Lula, “conservador deve ser quem fica de quatro para empreiteiros, para banqueiros, para mamadores das tetas do BNDES. Mas cobrando cachê. Nessa perspectiva apenas, “conservador” é ele próprio. Corrijo: Lula é um reacionário. Faz a história regredir.

Ele estava bravinho. E emendou:
“Não vou mais admitir que corrupto nos chame de corrupto. Todos esses que ficam nos acusando, se colocarem um dentro do outro, não chega a 10% da minha honestidade nesse país”.

Bem, vou ser fiel à sua fala. Disse não admitir que corruptos os chamem de corruptos. Como não sou, então repito: corruptos! Disse ainda o pensador:
“Vocês sabem que o momento que a presidente Dilma Rousseff tem vivido não é o melhor e os ataques, que estou sofrendo não são à toa”, disse. E avançou: “Eles estão dando de barato de que a Dilma acabou e agora vamos acabar com o Lula, porque esse tal de Lula pode voltar em 2018″.

Besteira! Eu exijo Lula candidato em 2018. Para que possa ser derrotado pelo povo brasileiro

Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua
Aí Lula se referiu ao acampamento do MBL e do Vem Rua nos gramados do Congresso:
“Na frente do Congresso Nacional, tem um acampamento da turma que que quer o impeachment. Nós temos de dizer para essa gente que eles tem o direito de querer um presidente. Mas, se eles querem ter um presidente, aprendam a exercer a democracia e ganhem a eleição como nós ganhamos. Não vamos admitir o impeachment da presidente”.

Como? “Não vamos admitir??? Se vier, vai fazer o quê? Propor a luta armada?

Lula está com inveja de Kim Kataguiri, que a revista Time apontou como um dos 30 jovens mais influentes do ano. Afinal, ele próprio entraria, houvesse uma, para a lista dos cinco ex-chefes de Estado mais enrolados com a ordem legal. De resto, o impedimento está previsto na Constituição e nas leis. Golpista é Lula.

Sem poder explicar como um de seus filhos acabou alvo da PF; sem  poder explicar as pedaladas fiscais, que não foram  dadas só em benefício dos pobres (é a menor parte), mas também para sustentar juros subsidiados a alguns ricos amigos; sem poder explicar a paralisia da economia, então Lula vem com estas ridicularias: “Olhem que eu volto!”

Se conseguir driblar a Polícia Federal, já escrevi aqui, volte mesmo! Há quem queira que a sociedade brasileira precisava de um presidente como Lula. Pois eu digo: hoje, ela precisa se livrar de alguém como Lula.

Ele ainda analisou, aí falando da imprensa: “Eles estão aproveitando uma maré conservadora para tentar jogar em cima das famílias mais pobres do país a responsabilidade de muita coisa do que eles têm culpa. O que está em disputa nesse país é a comparação de projetos”.

Sim, há um projeto que assalta os cofres e o Estado de Direito. É do PT. E há os outros. Vamos comparar.

 

Tirando o sarro da sua cara – PT manda mulher de Delúbio a um seminário contra caixa dois

A cara de pau dos petistas, acreditem!, é algo sem paralelo na história do Brasil e, sem querer ser um nativista megalômano no desastre, acho que se pode dizer o mesmo em escala mundial. Nunca, mas nunca mesmo!, cometam a sandice de achar que os companheiros já chegaram ao limite. Como diria Millôr, eles sempre darão mais um passo.

Prestem atenção, brasileiros!

Existe uma estrovenga chamada Coordenação Socialista Latino-Americana. A turma se reúne no Rio para debater políticas de combate à corrupção e mecanismos de transparência na gestão da coisa pública.

Huuummm… É! Socialistas, hoje em dia, têm mesmo se reunir para debater a ação dos ladrões.

A dita “Coordenação” agrega partidos de esquerda da América Latina, muito especialmente aqueles que se dizem de inspiração socialista — um socialismo assim, digamos, à feição PSB. De todo modo, como o nome diz, é um aglomerado de esquerdistas.

A turma não é das mais ativas. Não chega a ser um Foro de São Paulo, mas está por aí, propondo, como de hábito, soluções simples e erradas para problemas difíceis, como diria H. L. Mencken.

Para esse seminário, também foram convocados, além de partidos de esquerda, representantes de sindicatos, de movimentos sociais etc.

Mônica Valente, secretária de Relações Internacionais do PT e, ora vejam, mulher de Delúbio Soares, foi uma das oradoras da turma. Isso não é uma piada. Isso é uma informação.

Com o destemor que o casal já demonstrou ter, a mulher foi, de fato, valente. Ela combateu duramente a corrupção e, atenção!, o caixa dois nas campanhas eleitorais. Seu marido se tornou célebre por ter criado a expressão “recursos não-contabilizados” durante a CPI do mensalão. A companheira de Delúbio pregou fogo: “Os brasileiros não aceitam mais hipocrisia, covardia ou conivência”.

Oh, claro!, não vou aqui defender que uma mulher pague pelos crimes do marido e, eventualmente, o contrário. Mas, como resta evidente e sempre se soube, Mônica não é apenas a mulher de Delúbio. Ela também é uma militante, uma companheira. E, passados 10 anos da vinda à luz do mensalão, eis aí o petrolão — está claro já que as duas máquinas de roubalheira chegaram a funcionar ao mesmo tempo.

Mônica, como já escrevi, é secretária de Relações Internacionais do PT. Conhece, portanto, os meandros do partido. É claro que ao fazer essa escolha para a Secretaria de Relações Internacionais e ao enviar aquela senhora para o evento, o petismo dá uma banana aos brasileiros.

Não por acaso, a direção da legenda está estudando uma forma de desagravo a João Vaccari Neto, justamente o tesoureiro que substituiu Delúbio, o marido de Mônica.

Esse é o partido que está lutando bravamente para manter a proibição da doação de empresas privadas a campanhas, o que, obviamente, será um grande estímulo ao caixa dois. Pior: conseguiu a maioria no Supremo.

Delúbio quer rir por último. Depois da palestra de sua mulher.

 

Manifestantes jogam dólares em Cunha

Cunha e o “cunhadólar”

Manifestantes que pedem a saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara acabam de jogar notas falsas de dólares com a efígie do peemedebista durante uma entrevista coletiva que ele concedia no Salão Verde da Casa..

Cunha fez cara de paisagem e continuou falando, como se nada tivesse ocorrido.

 

Dólares na cara de Cunha — O jogo do PT com o deputado: os comandantes puxam o saco; os comandados o desmoralizam

Militante do MST jogam cédulas no rosto do parlamentar; petistas transformam presidente da Câmara em demônio, mas vão homenagear Vaccari

É, meus caros, não anda fácil entender os meandros da política brasileira. Quando algo é muito difícil de compreender ou de operar, costuma-se dizer: “Tal coisa não é para amadores”. Muito bem! Eu diria que o atual quadro nacional não é nem para amadores nem para profissionais — só é insalubre. Apesar disso, confesso, nada me surpreende. Vejo o PT operando com o caráter de sempre.

Vamos ver. Nesta quarta, José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, obedecendo a uma orientação de Lula, fez um aceno a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Casa. Disse que ele é inocente até que se prove o contrário, que ainda não foi julgado etc. Ou por outra: o PT institucional acena para Cunha porque sabe que, hoje, depende principalmente dele dar sequência ou não à denúncia contra Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Crime, diga-se, que o governo admitiu nesta quinta, deixando claro, adicionalmente, que pedalou também em 2015.

Bem, então a ordem no PT é deixar Cunha em paz, certo? Ora, é claro que não! Fora do ambiente institucional, a orientação é desmoralizar o deputado até onde for possível, e isso inclui acusá-lo até de coisas que não cometeu.

Nesta quarta, quando ele dava uma entrevista, um rapaz do Levante Popular da Juventude — que é só mais um nome-fantasia e besta do MST — jogou nele um maço de cédulas falsas de dólar. O nome do gajo é Tiago Ferreira. Ao fazê-lo, gritou: “Trouxeram sua encomenda da Suíça”.

 
 

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O MST, chefiado por João Pedro Stedile, a exemplo do MTST, comandado por Guilherme Boulos, tem lá a sua autonomia, mas obedece ao comando do petismo. Se o PT do Parlamento acena para o deputado, o das franjas, dos ditos movimentos sociais, faz dele o Belzebu. E, como resta evidente, caso se vá medir o noticiário, fica parecendo ser ele o chefe do petrolão.

Na sexta-feira, feminázis promoveram uma passeata em São Paulo, com forte presença petista, contra o PL 5609, de autoria de Cunha, acusando o texto de criar dificuldades para a realização de aborto nas hipóteses em que está excluído o crime: estupro e risco de morte da mãe. E isso é apenas uma mentira. No dia 2 de novembro, o mesmo MST, por intermédio do tal Levante, promoveu um protesto em frente à casa do deputado, deixando um rastro de pichações.

É evidente que o MST pode protestar contra quem quiser. Mas é asqueroso, no entanto, que o movimento se apresente como vanguarda do que chama “resistência ao golpe” — que é como classifica a hipótese de Dilma Rousseff ser impichada. Stedile já foi oferecer o seu apoio em palácio. Mais do que isso: Lula ameaçou botar em marcha o “exército do MST” em defesa do mandato da presidente.

Cunha disse que não se deixaria intimidar por aquilo que chamou de “militância paga”. Bem, paga é mesmo, não? E com dinheiro oficial, que é a fonte de recursos do MST.

Notem: a pegada deste texto não é informar que um sujeito jogou um maço de notas na cara de Cunha. Isso, vocês já sabem: chamo atenção para o caráter de sempre do petismo, com a sua política ambígua: no Parlamento, pisca para Cunha para ver se ele recusa a denúncia contra Dilma e para que seus aliados em CPIs e outras comissões blindem Lula e sua família; nas ruas, os petistas transformam o deputado no seu inimigo número um.

De resto, o agitprop petista, que é a turminha encarregada de mobilizar as bases da reação do partido, percebeu que, tendo Cunha como vilão, as safadezas do petrolão petista perdem importância no noticiário.

Ah, sim, para encerrar: enquanto a petezada joga dólares na cara de Cunha, a direção do partido está pensando em fazer um desagravo a João Vaccari Neto, o tesoureiro que operou para o partido junto aos bandidos que estavam na Petrobras.

Eles não têm cura.

 

CPI do BNDES: documentos sobre Lula não abrem

 

Lula: bug em documentos sobre ex-presidente

Deputados da CPI do BNDES têm reclamado que alguns documentos relacionados ao ex-presidente Lula, que chegaram à comissão por meio digital, em PDF, estão corrompidos. Por isso, não é possível visualizá-los.

 

Cunha admite elo com contas, diz jornal; justificativas apresentadas a aliados são frágeis

Existe Cunha, e existe o seu cargo; enquanto for ele o presidente da Câmara, a ele cabe a tarefa legítima de decidir sobre denúncia contra a presidente

A Folha informa na edição desta quinta-feira que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) admitiu, sim, em conversa com aliados, vínculo com as contas secretas na Suíça das quais é apontado como beneficiário e que ele vai tentar provar em sua defesa, perante seus pares, que não mentiu quando negou na CPI que tivesse contas no exterior. Como?

A diversos interlocutores, com os quais a reportagem conversou, Cunha teria dito que, com efeito, as contas não eram suas, mas de empresas. Bem, empresas das quais ele era, reitere-se, beneficiário. Não me parece que vá colar, não é?

Outra linha de defesa seria argumentar que o dinheiro movimentado no exterior — e cheguei a antever ontem aqui que pudesse ser essa uma das justificativas — nada tem a ver com os crimes do petrolão, já que teriam origem em negócios que ele teria feito nas décadas de 80 e 90, antes, portanto, dos crimes investigados no escândalo. Ele estaria reunindo material para demonstrar que é assim.

Há ainda uma terceira alegação: ele não saberia da origem de 1,3 milhão de francos suíços depositados em sua conta em 2011 pelo lobista João Augusto Henriques, preso na Operação Lava Jato. Este diz ter feito a transferência sem saber que Cunha era o titular da conta, a pedido do economista Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), que morreu em 2009. Cunha teria afirmado a aliados que só descobriu muito tempo depois o dinheiro e que era o pagamento de um empréstimo de US$ 1 milhão que ele fizera ao parlamentar meses antes de sua morte.

A serem essas as justificativas, parece-me que o deputado está, definitivamente, numa situação bastante delicada. Ainda que não se conseguisse evidenciar nenhuma conexão temporal entre os depósitos no exterior e lambanças do petrolão — e, parece, essa conexão existe —, o conjunto da obra é bem mal ajambrado.

Por mais que soe a cada dia mais evidente que diversos aparelhos de estado parecem ter se alinhado de forma muito determinada para pegar Cunha, fica difícil negar o que está lá e apagar a determinação com que o parlamentar afirmou que não tinha contas no exterior.

Cunha sabe que é o presidente da Câmara e terceira pessoa na linha sucessória, incluindo o titular da Presidência da República. Além de alguém na sua posição não poder revelar só agora essa vida financeira tão agitada, que havia passado ao largo da Receita Federal, também não pode dar essas desculpas.

Mas não misturemos as coisas, os alhos com os bugalhos. Assim como acho incompatível essa biografia financeira com a responsabilidade do cargo, distingo a responsabilidade do cargo da biografia financeira.

Enquanto ele for presidente da Câmara, a ele cabe acolher ou recusar a denúncia contra a presidente Dilma Rousseff, protocolada pela oposição.

Nesta quarta, com todas as letras, o governo admitiu ter pedalado em 2014 e em 2015. O crime de responsabilidade foi admitido. Cunha, que parece ter feito algumas coisas erradas, das quais ninguém sabia, pode agora fazer a coisa certa para todo mundo ficar sabendo.

Acolhe, Cunha!

 

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Fonte: Blog REINALDO AZEVEDO, de VEJA

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