São Bernardo e Santo André, que viram Lula nascer, dão as costas para o petista e lhe aplicariam uma surra eleitoral homérica

Publicado em 11/09/2015 10:50
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

O que Lula, o Homo naledi, disse da S&P em 2008 e o que diz agora. Ou: Petista revela o hominídeo debaixo da casaca

Reflexões sobre as avaliações da Standard & Poor’s…

Bem, não se trata de procurar coerência nas bobagens que Lula disse ao longo da vida e diz ainda. Este senhor bordou o emblema de seu pensamento já nos primeiros dias de 2003, no primeiro ano de seu primeiro mandato, quando afirmou: “A gente, quando está na oposição, faz muita bravata”. E, claro, ele olhava para si mesmo e concluía: “Ser bravateiro compensa”.

Nesta quinta, na Argentina, Lula fez questão de desqualificar a Standard & Poor’s por ter rebaixado o Brasil, relegando-o ao grau especulativo. Segundo esse gênio da raça, o rebaixamento “não significa nada”. Disse ainda “achar muito engraçado” que a Standard & Poor’s tenha tomado essa decisão e criticou as agências de classificação de risco em geral, que, segundo ele, não usam os mesmos critérios para “países quebrados da Europa”. No discurso, o ex-presidente aproveitou para criticar também a estratégia de ajustes econômicos, que, a seu juízo, provocam recessão e desemprego. Já volto a esse ponto.

Isso é hoje. Vamos ver como ele reagiu em 2008, quando a mesma S&P elevou o país à categoria de “grau de investimento”. Seguem o vídeo e a transcrição da fala:

“Eu acho que o Brasil vive… Eu dizia ao ex-presidente Collor: o Brasil vive um momento mágico. Nós acabamos de receber a notícia de que o Brasil passou a ser ‘investment grade’. Eu não sei nem falar direito a palavra, mas, se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entenda (sic), ou seja: o Brasil foi declarado um país sério”.

Viram só? Como disse um ouvinte do programa “Os Pingos nos Is”, quando Lula tira nota alta, ele se considera o melhor, o mais capaz, o mais competente. Se a nota é ruim, então a professora é que não sabe avaliar.

Já escrevi aqui e repito: em 2008, estavam dados alguns elementos estruturais que conduziriam o país à pindaíba. A política econômica já empurrava a indústria brasileira, por exemplo, para o vinagre. Que chance havia de isso ser debatido com seriedade? Quem se atrevia a tanto era chamado de “pessimista” para baixo. Alguns tontos ditos liberais (o país está cheio de liberais só de carteirinha), que se grudaram às partes pudendas do petismo, diziam que as críticas partiam dos “desenvolvimentistas”. Não! Partiam da matemática. E, ora vejam, até a S&P caiu no truque.

Agora a fala de 2008
Voltem lá à fala de 2008. Por que mesmo o Brasil havia sido declarado “sério”, nas palavras de Lula? A S&P explicou então: devia-se ao tripé “metas de inflação, rigor fiscal e câmbio flutuante”. Como já demonstrei aqui, para manter o modelo de pés de barro de Lula, foi preciso mandar inflação e rigor fiscal para a cucuia, o que iria agravar a situação da dívida.

Não havia modelo mágico nenhum. Havia apenas circunstâncias que robusteceram o erro — por exemplo, supervalorização das commodities — e que deram corda ao potencial enforcado. E ele se enforcou.

Mágica, como se sabe, é truque. A mágica só existe porque há um lapso, uma interrupção, uma ausência na relação de causa e efeito; porque não conseguimos descobrir como se passou da Situação A para a Situação B. Como não há intervenção miraculosa, já que Deus não se ocupa dessas vulgaridades, aquilo a que Lula chamava “momento mágico” era só um efeito tóxico. Passou. Eis a rebordosa.

Quanto às bravatas, dizer o quê? Quanto mais a situação se torna dramática, mais Lula revela o Homo naledi que dormitava por baixo da casaca. Em recente discurso no Paraguai, ele afirmou que, entre combater a fome e fazer uma ponte, ele preferiu combater a fome.

Se a humanidade, ao longo de sua trajetória, tivesse considerado essas duas coisas elementos excludentes ou alternativos, teria desaparecido, enterrada numa caverna.

Por Reinaldo Azevedo

PESQUISA – São Bernardo e Santo André, que viram Lula nascer, dão as costas para o petista e lhe aplicariam uma surra eleitoral homérica

O ABC é o berço político do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Foi no então Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo que ele despontou como figura nacional. Comandou a entidade, liderou greves, fundou o PT em 1980 e, 22 anos depois, venceu a primeira de duas eleições presidenciais, após ter sido derrotado três vezes seguidas. Seu partido está no poder há 13 anos — podendo chegar a 16, mas hoje pouca gente aposta nisso. Pois é… Lula teve seu patrimônio eleitoral dilapidado na região que fez dele um líder nacional.

O Instituto Paraná Pesquisas resolveu saber o que andam pensando os eleitores de São Bernardo e Santo André. As duas cidades são administradas pelo PT. Os “companheiros” certamente não vão gostar muito do resultado.

Em São Bernardo, cujo prefeito é Luiz Marinho, já em segundo mandato, foram ouvidos 648 eleitores entre os dias 5 e 8 de setembro. Em Santo André, administrada por Carlos Grana, foram entrevistadas 643, entre 3 e 6. A margem de erro é de quatro pontos para mais ou para menos. O instituto não testou cenários com os nomes dos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra para a Presidência.

São Bernardo
Em pesquisa estimulada, se a eleição fosse hoje e se fossem estes os candidatos, vejam como votariam os eleitores de São Bernardo:
Aécio Neves (PSDB) – 36,8%
Maria Silva (Rede) – 23,6%
Lula (PT) – 20,3%
Jair Bolsonaro (PP) – 4%
Eduardo Cunha (PMDB) – 2%
Ronaldo Caiado (DEM) – 0,3%
Nenhum – 6,7%
Não sabe – 6,2%

Num eventual segundo turno entre Aécio e Lula, eis os números, péssimos para o petista:
Aécio Neves (PSDB) – 57%
Lula (PT) – 26,1%
Nenhum – 9,1%
Não sabe – 7,8%

Numa disputa entre Marina e Aécio, a disputa seria mais equilibrada:
Aécio Neves (PSDB) – 47%
Marina Silva (Rede) – 36,6%
Nenhum – 8,8%
Não sabe – 7,6%

A avaliação que os moradores de São Bernardo fazem do governo federal é devastadora:
Aprovam o governo Dilma – 12,2%
Reprovam o governo Dilma – 84,6%
Não sabem/Não responderam – 3,2%

Santo André
Em Santo André, o resultado não seria muito diferente. Também nessa cidade, muito provavelmente, Marina tomaria de Lula o segundo lugar no primeiro turno, e o ex-presidente seria derrotado de forma acachapante no segundo:
Aécio Neves (PSDB) – 36,5%
Maria Silva (Rede) – 23,3%
Lula (PT) – 18,2%
Jair Bolsonaro (PP) – 4,2%
Eduardo Cunha (PMDB) – 3,9%
Ronaldo Caiado (DEM) – 1%
Nenhum – 6,7%
Não sabe – 6,2%

Num eventual segundo turno, o petista leva outra surra:
Aécio Neves (PSDB) – 58,6%
Lula (PT) – 23%
Nenhum – 10%
Não sabe – 8,4%

Numa disputa entre Marina e Aécio, a distância seria bem menor, a exemplo do que se viu em São Bernardo:
Aécio Neves (PSDB) – 48,7%
Marina Silva (Rede) – 36,6%
Nenhum – 10,4%
Não sabe – 7,4%

Os moradores de Santo André também não gostam do governo Dilma:
Aprovam o gestão – 12,1%
Reprovam a gestão – 84,4%
Não sabem/Não responderam – 2,5%

Pois é… Os petistas vivem usando a figura de Lula como uma espécie de ameaça e de fantasma a assombrar o quadro político. Certos setores da sociedade resistem a aderir à defesa do impeachment de Dilma porque temem a eventual volta do demiurgo em 2018.

Eu, como sabem, estou entre aqueles que defendem que Lula dispute, sim, a próxima eleição presidencial — caso, claro!, a Justiça permita. O povo brasileiro tem o direito de derrotá-lo uma quarta vez nas eleições presidenciais.

Por Reinaldo Azevedo

Dilma vai anunciar cortes de gastos e elevação de impostos. Na mira de um governo desordenado, o Brasil que trabalha e produz

O governo deve começar a mover os tanques nesta sexta-feira para transmitir ao adversário — o adversário, no caso, é aquilo a que Drummond chamava “a enorme realidade” — a impressão de que está fazendo alguma coisa. Foi preciso que a Standard & Poor’s rebaixasse a nota do Brasil para a presidente Dilma Rousseff tentar ao menos sair do torpor.

O governo deve fazer hoje um anúncio de corte de despesas, que passa pela diminuição de cargos comissionados — vamos ver de quantos — e a revisão de contratos de prestadores de serviços. Bem, resta a sugestão de que, no seu quinto ano de governo, Dilma anda a desperdiçar dinheiro nessas áreas… Mas vá lá. A redução do número de ministérios fica para a semana que vem.

Também se espera para hoje, mais tardar na segunda, a definição dos impostos que o governo pretende aumentar. Sim, meu amigo, mundo afora, quando alguém fala em elevar a carga tributária ou em criar taxações específicas, sempre será a economia produtiva a pagar o pato em benefício, no mais das vezes, dos improdutivos ou da sustentação da própria burocracia. Isso é um truísmo, não?

A carga tributária brasileira já está entre as mais altas do mundo: 35,7% do PIB. Países com taxação semelhante oferecem serviços públicos incomparavelmente melhores. No nosso caso, boa parte é consumida para alimentar a própria máquina que nos infelicita.

Nesta quinta, em mais uma entrevista desastrada — em que evidencia o quão pouco tem a dizer, dado o governo ao qual serve —, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, voltou a defender que, sem mais tributação, não há solução. Se ele estivesse fazendo essa declaração na Índia, com uma carga tributária de 19% do PIB, ou no Chile, pouco superior a 20%, talvez alguém o ouvisse com algum interesse. Mas aqui?

A fórmula já estaria dada. Consta que o governo quer elevar impostos que não tenham impacto na inflação e que, ora vejam!, atinjam apenas os mais ricos. Huuummm… As chamadas “PJs” — uma ampla gama de profissionais liberais que são pessoas jurídicas — estão na mira do ministro. Ele gostaria de meter sobre seus rendimentos uma facada de pelo menos 27,5%, que é a maior alíquota do Imposto de Renda dos trabalhadores regidos pela CLT.

O ministro, este curioso “liberal”, se esquece de que esses mesmos trabalhadores, por óbvio, não têm o chamado Fundo de Garantia, não oneram a Previdência e se encarregam dos custos relativos à própria saúde. Caso se eleve a alíquota de IR das “PJs” para 27,5%,  esse mecanismo não só deixa de implicar algum benefício ao trabalhador — que administra o pouco que sobra do próprio dinheiro, em vez de entregá-lo ao estado — como passa a ser desvantajoso. A sua eventual transformação em celetista só se faria à custa da redução do ganho real, já que as empresas teriam de diminuir seu salário em razão dos custos de contratação. A consequência seria a desorganização de setores do trabalho que estão entre os mais dinâmicos do país. Coisa de energúmenos!

Não é por acaso que, hoje, o mais difícil é encontrar um petista que, ao falar privadamente, aposte que Dilma chegará ao fim do mandato. Soa como escárnio e mesmo ofensa, depois de tudo, a presidente se voltar para a sociedade e pedir que esta lhe dê um pouquinho a mais de imposto. As coisas talvez soassem de outro modo se ela estivesse no último ano de mandato e se a percepção da deterioração da economia tivesse se dado aos poucos.

Mas não é assim. Ela está apenas no nono mês de uma jornada que pretendia ter 48. A realidade está sendo vivida quase como fábula. A fada, de repente, virou bruxa, e amplas camadas se dão conta de que foram enganadas outro dia mesmo. Não, senhores! Os mais furiosos hoje com Dilma nem são os que votaram em Aécio — sim, estes continuam descontentes. Os que estão realmente bravos votaram em Dilma. Os que ficaram com a oposição, convenham, não foram traídos, né?

Nesta sexta, começaremos a ver quais são as medidas do desespero; saberemos, então, que sacrifício Dilma está disposta a fazer e que sacrifício espera que nós façamos. Tenho a ligeira impressão de que ela vai tentar mesmo é jogar o peso maior nos nossos ombros, especialmente naquela parte do Brasil que trabalha e produz — e a quer fora do governo — para sustentar a máquina insaciável dos que só reivindicam e chamam o impeachment de “golpe”.

Texto publicado originalmente às 4h27

Por Reinaldo Azevedo

Dilma busca alguém para o lugar de Mercadante. Tá difícil!!!

A Folha informa que a presidente Dilma Rousseff abriu a temporada de caça a um chefe da Casa Civil, cargo atualmente (des)ocupado por Aloizio Mercadante, cuja função, já disse aqui, é um dos maiores mistérios da República. Enquanto Michel Temer era coordenador político do governo, a gente ao menos sabia o que fazia o petista: tentava impedir o outro de trabalhar a passava as horas buzinando na orelha de Dilma que Temer queria mesmo era a cadeira da governanta.

Não é correto dizer que eu defendo a saída de Mercadante faz tempo. Eu critiquei a sua nomeação, desde a primeira hora. Nada tenho de pessoal contra ele. Ele só não exibe, vamos dizer, um perfil agregador. E que se note: fiz as minhas ressalvas segundo critérios puramente técnicos, avaliando se iria ou não funcionar segundo a ótica do próprio governo. Obviamente, não funcionou. Convenham: uma das atribuições do ministro é impedir, por exemplo, que decretos desastrados como aquele que destituía os militares de funções que lhes são próprias sejam assinados por Dilma. Nem isso…

Mercadante é ambicioso e tem sobre si uma impressão muito melhor do que a de qualquer pessoa que o conheça. Outro dia li numa coluna que ele seria, calculem vocês, desde já, um pré-presidenciável do PT em 2018. Quem terá plantado tal coisa? Não sei. Como tenho o direito de chutar, chutei: Mercadante!

O desespero é grande. Dilma precisa de uma pessoa que faça a coordenação política mesmo, não de 8.397, como tem hoje. Ela deveria começar o tal enxugamento da máquina eliminando o excesso de coordenadores. Até figuras de proa da oposição frequentaram a lista de candidatos ao cargo ontem, num sinal de que as coisas estão indo de mal a pior.

Ora, para que Dilma pudesse botar na Casa Civil um representante de um partido adversário, teria de estar liderando uma espécie de governo de salvação nacional, não é? O primeiro passo seria abandonar o PT, o que não creio que fará.

Não custa lembrar que Collor ainda tentou se salvar com um tal “ministério ético”. Foi quando homens que não apareciam sobre jet-ski se esforçaram para dar uma nova cara ao governo: Jorge Bornhausen (Casa Civil), Marcílio Marques Moreira (Fazenda), Jarbas Passarinho (Justiça)… Collor se esforçou, então, para levar Fernando Henrique Cardoso para o Itamaraty. O PSDB não topou! Glória a Deus!

O PT, como é sabido, era adversário de Collor e aliado de Dilma. Não dá para saber, a esta altura, em que posição ele se comporta de modo menos adequado.

Não é a primeira vez que Dilma pensa em tirar Mercadante da Casa Civil. Na hora “h”, sempre desiste, e não é certo que o faça agora. De toda sorte, cumpre indagar: se não for ele, quem? A lógica elementar indica que deveria ser um não petista. Ao ministro caberia apenas e tão-somente cuidar do único projeto que sobrou a Dilma: tentar salvar o seu mandato.

Por Reinaldo Azevedo

Minha coluna da Folha: “Riobaldo do Adeus”

Leiam trecho:
Dilma deveria renunciar. Seria um gesto delicado com o Brasil. Todos receberíamos a decisão como um pedido de desculpas, ainda que silencioso. Não é possível que ela não perceba que já não tem como fazer parte da solução. Tornou-se só um catalisador de problemas.

A presidente precisa reler aquele seu Riobaldo de uma nota só: “O que ela [a vida] quer da gente é coragem”, tomada a frase como sinônimo de teimosia e resistência. Até porque o sentido original do texto –vá lá ver, leitor, em “Grande Sertão Veredas”– é outro. Minas lhe oferece uma saída honrosa, com Drummond: “Há uma hora em que os bares se fecham/ e todas as virtudes se negam”. Acabou.

Não é conspiração, não é golpe, não é tramoia, não é sina, não é nem mesmo fraqueza. Memórias de um ex-jagunço sentimental e sentencioso, em momentos assim, viram só mais uma pedra no meio do caminho. É a realidade, a carnadura concreta da poética do poder, para apelar um pouquinho a João Cabral, que impõe à petista o ato elegante. Dou de barato que ela fez o possível, atendendo aos ditames de sua formação intelectual e do partido em cujo altar teve de se ajoelhar.
Íntegra aqui

Por Reinaldo Azevedo

Fiesp e Firjan desembarcam: “Governo abriu mão de governar”, e “o Brasil não pode mais esperar”

Até havia pouco, o empresariado estava um tanto hesitante. Ensaiou, há coisa de três semanas, um movimento de aproximação com o governo, algo, assim, bem cuidadoso, mas que tinha um “Fica Dilma”, dito ainda que baixinho. Ou por outra: na avaliação das perdas e danos, considerava-se que a turbulência de um movimento de impeachment poderia ser pior.

Como paga, os empresários ganharam o balão de ensaio da CPMF. Tá bom! Agora é outro imposto. Pode ser o IR, a Cide, qualquer um. Uma coisa é inequívoca: o governo quer responder a seu próprio descontrole batendo a carteira da sociedade. Afinal, Dilma precisa cuidar dos 7% de popularidade que lhe restam, e o PT não quer se comprometer com corte de gastos. Sabem como é… Pode afetar sua clientela.

A perda do grau de investimento, na Standard & Poor’s, foi a gota d’água para que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estadão de São Paulo) e a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) decidissem se expressar com a dureza necessária. Numa nota-manifesto, expressam a sua “perplexidade” com a “inação do governo” diante “da deterioração crescente do quadro econômico no país”.

As entidades falam numa “sucessão de erros”, que foi “coroada pelo envio ao Congresso Nacional da peça orçamentária do próximo ano com previsão de déficit de mais de R$ 30 bilhões”. Segundo as duas federações, ao fazê-lo, “o governo abriu mão de governar”.

Trata-se de uma crítica sem dúvida dura, mas correta. Fiesp e Firjan dizem ainda que o governo revela não ter uma estratégia para enfrentar a crise, o que também parece ser evidente. As entidades respondem à determinação de elevar impostos com a seguinte observação: “É hora de implementar um rigoroso ajuste fiscal no país. Não um ajuste de mentirinha. O Brasil clama por um ajuste fiscal de verdade e baseado em cortes de despesas.”

A nota-manifesto reflete o clima de pessimismo e apreensão que hoje domina o empresariado brasileiro. E antevê um quadro dramático caso não haja uma resposta: “O tempo corre contra o país. Já se perdeu o grau de investimento. Até o final do ano, podemos ter 1,5 milhão de postos de trabalho perdidos. O atual ambiente de incerteza penaliza corporações brasileiras de todos os tamanhos. As pequenas e médias empresas estão sufocadas. Muitas lutam apenas para sobreviver. Outras fecham suas portas”. Sim, isso tudo é verdadeiro.

No post anterior, publico a íntegra do manifesto. Mas não posso aqui deixar de dar um puxão de orelha na Fiesp e na Firjan — e, por intermédio delas, no empresariado brasileiro.

Seria muito bom que um manifesto com esse teor viesse acompanhado de um “mea-culpa” — aquela coisa que Dilma não faz. O empresariado brasileiro é, em regra, governista e servil. Sei que depende do estado mais do que seria razoável numa democracia, mas, mesmo assim, é condescendente demais com o oficialismo mesmo quando se manifesta por intermédio de entidades de caráter sindical, como são as duas federações.

Como esquecer o apoio que deram à estúpida intervenção de Dilma no mercado de energia elétrica? Todos os especialistas sérios advertiram para os malefícios que dali decorreriam. As entidades empresariais olharam apenas para o próprio umbigo. Sim, amiguinhos, parte da inflação cavalar decorre da necessidade de corrigir aquela burrada.

Apoiaram — e ainda pediram mais — as políticas de subsídio e de desoneração da dupla patética Dilma-Mantega, quando restava evidente que o modelo já havia desandado e que esses expedientes só faziam cair a receita, não tinham — por óbvio — nenhuma influência nas despesas e colaboravam para estropiar ainda mais a questão fiscal.

Acho compreensível que cada empresário pense em seu próprio negócio. Quando, no entanto, entidades se manifestam — como fazem agora —, é preciso pensar no país.

Sim, a nota-manifesto está corretíssima. Agora está. Seria muito bom que o empresariado brasileiro não caísse, por intermédio de seus órgãos de representação de classe ao menos, em novas esparrelas.

Num enigma que não esconde segredo nenhum, a nota termina assim: “O Brasil não pode mais esperar”.

Claro que não!

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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