Chicaneiros já começaram a atuar na CPI do BNDES para que não se investigue nada

Publicado em 11/08/2015 18:48
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

Chicaneiros já começaram a atuar na CPI do BNDES para que não se investigue nada. Ou: Dirigentes do banco na gestão FHC foram inocentados; Justiça deu pito nos autores da ação

Os chicaneiros já começaram a atuar na CPI do BNDES para que não se investigue nada. José Rocha (PR-BA) quer chamar a depor também os presidentes do banco na gestão FHC. É conversa de quem não quer investigar nada, de quem pretende jogar zerda no ventilador para que todos fujam da sala e fique tudo como está.

“Ah, não quer investigar o período tucano, né? Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES *1995-1998), é seu amigo e foi dono de uma revista na qual você trabalhou”. Duas coisas são verdadeiras: é meu amigo e foi dono de uma revista na qual eu trabalhei. Eu não escondo meu passado. Eu me orgulho dele. Fizemos uma das melhores revistas que circularam no país em qualquer tempo. A outra afirmação é falsa. Tucanos também podem ser investigados.

Aliás, o PT teve 13 anos para fazer uma CPI do BNDES do período FHC, não é mesmo?  Sempre com uma maioria avassaladora de joelhos. Se havia o que investigar, por que os companheiros não o fizeram?

Vamos ver. O PT moveu uma ação da Justiça contra Mendonça de Barros e outros dirigentes do banco à época, acusando-os de ter privilegiado empresas no processo de privatização. Os autores da ação eram os agora ministros de Dilma Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini… Depois de 10 anos, no dia 5 de março de 2009, saiu a sentença.

O juiz Moacir Ferreira Ramos, da 17ª Vara Federal de Brasília, absolveu Mendonça de Barros e outros integrantes do primeiro escalão do governo FHC. Foram dez anos de luta na Justiça, ao longo dos quais não se apresentou uma única prova ou evidência de incorreção. Ao contrário: entendeu o juiz que as autoridades atuaram, então, para valorizar o bem público. E ainda deu um puxão de orelha nos petistas que moveram a ação. Escreveu ele: “Ora, se havia a preocupação com a apuração destes fatos, por que esses nobres políticos não interferiram junto ao governo atual, ao qual têm dado suporte, para que fosse feita, a fundo, a investigação dessas denúncias – sérias, enfatize-se – que apontaram na representação?”.

Acompanhei, sim, de perto o sofrimento de Luiz Carlos e de sua família. Em 2009, quando saiu a sentença, eu o entrevistei para este blog. Segue um trecho:

Blog – Na sua opinião, a imprensa deu o devido destaque à sentença que absolveu o senhor e os outros acusados no processo de privatização da Telebras?
LCMB – Nas televisões, praticamente não se tocou no assunto. Nos jornais, leia você mesmo, o noticiário foi bastante discreto. Considerando que fomos tratados como bandidos por alguns meses, é evidente que há uma clamorosa desproporção entre o que se noticiou antes e o que se noticia agora. Mas sou realista e sei que essa é a dinâmica da imprensa nas sociedades modernas de massa. De qualquer forma a decisão judicial foi divulgada pelo menos junto à elite política e econômica do país. Já é alguma coisa…

Blog – Como foram esses dez anos?
LCMB –
 Me afastei da vida pública, mas não do debate público, como você bem sabe. No período, criei o site e a revista Primeira Leitura, voltei a ser articulista de jornal… Vivo e tentando participar do debate. Não permiti que os meus detratores contaminassem as minhas perspectivas de futuro. Mas é claro que é uma situação muito dura. Acredito que bandidos verdadeiros não se importem quando lhes atribuem isso ou aquilo. Em linguagem de mercado, eu diria que a acusação já está no preço de suas malfeitorias. Um bandido pode até esperar ser descoberto. Ele não liga. O que ele quer é impunidade. Quem age dentro da lei, quem é decente, aí essa pessoa não está preparada, não. Vivi dias terríveis. Mas disse a mim mesmo que não me deixaria abater. Agora terminou..

(…)
Blog – E o lado político da armação?
LCMB -
 No caso dos petistas, a exploração foi de natureza ideológica mesmo. E nem vou dizer que o partido fosse, ou seja, contra a privatização. O PT é contra o sucesso do adversário. Só isso. Usaram as fitas para espalhar duas mentiras: a de que teríamos beneficiado Daniel Dantas e a de que teríamos vendido a Telebrás a “preço de banana”. Ora, o que chamaram de tentativa de manipulação do leilão foi justamente o esforço para elevar o valor de venda, uma obrigação nossa, obrigação explicitada e confirmada, aliás, no parecer muito claro do procurador federal junto ao Tribunal de Contas. A sentença final do juiz Moacir Ferreira Ramos assume esse dado e cria uma jurisprudência para o processo de venda de bens públicos.

Todos os números comprovam que a Telebrás foi vendida por um valor que estava bem acima daquilo que o mercado indicava. O valor das ações em Bolsa logo depois evidenciou isso. Até hoje não recuperaram o valor original de venda. Quanto às diferenças entre um monopólio público e um mercado baseado na concorrência privada com supervisão de uma agência pública – a Anatel – os resultados falam por si.

Retomo
Mendonça de Barros e outros dirigentes do BNDES daquele período têm um atestado da Justiça e outro do TCU de que, além de não terem cometido ilegalidades, aturaram em defesa do bem público.

Mais: essa outra investigação não está contida no requerimento da CPI que foi aprovado. A íntegra está aquiDestaco trecho:
“Requeremos a Vossa Excelência, nos termos do § 3º do art. 58 da Constituição Federal e dos arts. 35, 36 e 37 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, composta por 31 membros e igual número de suplentes, para investigar, no prazo de até 120 dias, prorrogável por sessenta dias, supostas irregularidades envolvendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, ocorridas entre os anos de 2003 e 2015, relacionadas à concessão de empréstimos e financiamentos listados abaixo”.

Se há gente querendo uma CPI do BNDES daquelas gestões passadas, que apresente, então, um novo requerimento, ora essa!

Reitero: esse negócio de fugir do escopo da CPI e tentar convocar presidentes do banco na gestão FHC é só um truque para transformar a investigação numa guerrinha partidária. Quem age assim está querendo inflar o verbo dos ignorantes que saíram por aí gritando “privataria” sem uma única evidência de irregularidade.

À diferença de petistas no mensalão e no petrolão, os dirigentes no BNDES na gestão FHC foram inocentados pela Justiça.

Por Reinaldo Azevedo

CPI do BNDES vai ouvir Luciano Coutinho no dia 20

Por Laryssa Borges, na VEJA.com.


Criada para apurar irregularidades do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na concessão de empréstimos entre os anos de 2003 e 2015, anos que abarcam os governos de Lula e Dilma Rousseff, a recém-criada CPI do BNDES aprovou nesta terça-feira, em votação simbólica, o convite para que o atual presidente da instituição de fomento, Luciano Coutinho, seja ouvido no próximo dia 20 de agosto. Ele será a primeira autoridade a ser questionada pelo grupo de investigação.

A despeito de abrir os trabalhos com o depoimento do atual presidente do banco, o relator da CPI, deputado José Rocha (PR-BA), defendeu oitivas também de dirigentes da instituição de fomento que ocupavam cargos de controle no governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda que a gestão tucana não esteja no foco de abrangência das investigações, o relator propôs que fossem colhidos depoimentos do primeiro e do último presidente do BNDES no governo tucano e convidados a prestar esclarecimentos os ex-presidentes Luiz Carlos Mendonça de Barros, que ocupou a chefia da instituição entre 1995 e 1998, e Eliazar Carvalho, presidente entre 2002 e janeiro de 2003.

A oitiva de Mendonça de Barros constava do plano original de trabalho da CPI, mas foi retirada após protestos de parlamentares. Com isso, será necessário apresentar requerimentos específicos para ouvir as autoridades do governo tucano e nenhuma delas está obrigada a comparecer à CPI.

“Vejo uma certa politização nesse interesse em se investigar períodos anteriores ao objeto da CPI. Paira uma dúvida se isso não é querer trazer o Fernando Henrique à baila”, disse a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). “Ouvir pessoas não há problema nenhum, mas acho que devemos tomar cuidado com os princípios constitucionais do escopo da investigação”, completou o deputado Mendes Thame (PSDB-SP). “Não podemos repetir a guerra entre PT e PSDB. O PT quer trazer o PSDB à baila e o PSDB luta por não vir a essa prestação de contas. Haveremos de enfrentar a todo momento esta questão. Não me parece adequado traçar uma linha como um tratado de Tordesilhas [separando os períodos de investigação]“, criticou o deputado Édio Lopes (PMDB-RR). Em protesto, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) disse que abandonará a CPI.

Pelo plano de trabalho apresentado pelo relator da CPI, também deverão prestar depoimentos ao longo dos trabalhos os ex-presidentes do BNDES Demian Fiocca, Guido Mantega e Carlos Lessa, o vice-presidente Wagner Bittencourt, que foi ministro da Secretaria de Aviação Civil no governo Dilma, diretores da instituição e ministro do Desenvolvimento Armando Monteiro (PTB).

Por Reinaldo Azevedo

Governo anuncia um pacote já velho para o setor elétrico e tenta impressionar com uns tais R$ 186 bilhões

Na VEJA.com:
O governo federal anunciou nesta terça-feira um pacote de investimentos de 186 bilhões de reais no setor de energia elétrica. O valor se refere a empreendimentos já planejados e anunciados anteriormente, sendo 81 bilhões de reais gastos até 2018 e 105 bilhões de reais a partir de 2019. Do total, serão 116 bilhões de reais para geração e 70 bilhões de reais para transmissão de energia.

Esses investimentos representam um implemento de geração de 25.000 megawatts (MW) a 31.500 MW, além de 37.600 quilômetros em novas linhas de transmissão. Os investimentos fazem parte do Programa de Investimento em Energia Elétrica (PIEE), lançado nesta terça-feira, pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga.

O programa é um combinado dos investimentos já anunciados pelo setor elétrico para os próximos anos. Segundo o ministro, o PIEE tem o objetivo de mostrar que o planejamento de longo prazo do setor elétrico é “vitorioso” e terá continuidade. “Estamos conseguindo superar os desafios que a natureza e as circunstâncias colocaram à nossa frente”, completou em referência à crise hídrica e energética.

De acordo com vídeo institucional apresentado no início da cerimônia, o objetivo do programa é manter a matriz energética limpa e a custos declinantes, para que os custos da eletricidade 2018 cheguem a patamares compatíveis com o mercado internacional. Braga destacou um dos desafios do programa é ter mais fontes renováveis de energia na matriz brasileira. “Vamos avançar para promover a competitividade necessária para nossos produtos”, afirmou.

Entre as hidrelétricas a serem contratadas até 2018, o governo voltou a citar a Usina de São Luiz do Tapajós, com capacidade de 8.040 MW, que ano após ano não consegue entrar nos leilões do setor devido às dificuldades de obtenção de licenciamento ambiental. Outra usina listada na região Norte, no mesmo rio, é a usina de Jatobá, com capacidade de 2.328 MW. Já a região Sul, conta com cinco usinas pequenas: Ercilândia (87 MW), Foz do Piquiri (93 MW), Paranhos (67 MW), Telêmaco Borba (118 MW) e Apertados (139 MW).

Por Reinaldo Azevedo

Por que ser tão modesta sobre o que não vai acontecer, governanta?

O governo requentou, vejam abaixo, um pacote de investimentos para o setor elétrico. É uma pena a gente não ter no país uma LRE — Lei de Responsabilidade Ética. Por ela, um governante ficaria proibido de comentar qualquer ação além do fim do seu mandato.

“Ah, mas seria o fim do planejamento!” Calma! O governo tornaria pública a proposta, sim; a imprensa noticiaria, comentaria, analisaria, esmiuçaria… Mas o governante propriamente só poderia pronunciar cifras que seriam investidas até o fim de sua gestão.

Vejam o caso do setor elétrico: O pacote de investimentos é de R$ 186 bilhões. O previsto até o fim do mandato de Dilma corresponde a R$ 80 bilhões; os outros R$ 105 bilhões devem ser investidor A PARTIR de 2019, já no futuro mandato.

É bem verdade que Dilma pode não ficar nem para NÃO VER os R$ 80 bilhões. Mas convenham: governar assim é fácil. Já que se fala de um tal “a partir de 2019”, Dilma poderia logo prometer um R$ 500 bilhões… Por que ser tão modesta sobre o que não vai acontecer, governanta?

Por Reinaldo Azevedo

 

A indústria sem energia

Sinal da crise na indústria

O consumo de energia na indústria brasileira caiu 4,2% quando se compara o primeiro semestre de 2015 com 2014. Em São Paulo, motor do país,  a queda foi maior: 6,6% no mesmo período.

Em resumo, tal queda é a soma explosiva da crise econômica com o tarifaço.

Por Lauro Jardim

Te cuida, Petrobras

Alavancagem da Petrobras disparou no último ano

O balanço do segundo trimestre da Petrobras, divulgado pela estatal na semana passada, trouxe, em meio a tantos números horrorosos, um dado que é especialmente desastroso – a alavancagem, ou seja, a relação entre o endividamento líquido e o patrimônio líquido.

Está em 51%. Caiu marginalmente em relação aos 52% do primeiro trimestre. Mas é bem superior aos 40% de um ano atrás. Nunca é tarde para repetir o que consta do balanço do primeiro trimestre de 2011 da própria Petrobras (o primeiro na era Dilma):

- O nível de alavancagem foi reduzido para o ‘patamar confortável de 17%’, abaixo do limite máximo estabelecido pela Companhia (35%).

Por Lauro Jardim

 

Te cuida, Petrobras

Alavancagem da Petrobras disparou no último ano

O balanço do segundo trimestre da Petrobras, divulgado pela estatal na semana passada, trouxe, em meio a tantos números horrorosos, um dado que é especialmente desastroso – a alavancagem, ou seja, a relação entre o endividamento líquido e o patrimônio líquido.

Está em 51%. Caiu marginalmente em relação aos 52% do primeiro trimestre. Mas é bem superior aos 40% de um ano atrás. Nunca é tarde para repetir o que consta do balanço do primeiro trimestre de 2011 da própria Petrobras (o primeiro na era Dilma):

- O nível de alavancagem foi reduzido para o ‘patamar confortável de 17%’, abaixo do limite máximo estabelecido pela Companhia (35%).

Por Lauro Jardim

 

A farsa em frangalhos: o guerreiro do povo brasileiro era só um caçador de pixuleco

PRESO NA OPERAÇÃO PIXULECO, informa a mais recente anotação no prontuário de José Dirceu de Oliveira e Silva, mineiro de Passa Quatro, 69 anos, advogado com especialização em corrupção ativa e formação de quadrilha. A palavra que batizou a 17ª etapa da Lava Jato, usada pelo gatuno João Vaccari Neto como sinônimo de propina, é vulgar na forma e abjeta no conteúdo ─ e rima com José Dirceu. Pixuleco é um nome perfeito para a operação policial que consumou a morte política do general sem soldados ─ e implodiu uma farsa que durou meio século.

Como pôde durar tanto um compulsivo colecionador de fiascos? Já em 1968, quando entrou em cena fantasiado de líder estudantil, nosso Guevara de galinheiro namorou uma jovem chamada Heloísa Helena sem saber que convivia dia e noite com “Maçã Dourada”, espiã a serviço da ditadura militar. Se quisesse prendê-lo, a polícia nem precisaria arrombar a porta do apartamento onde o casal dormia: a namorada faria a gentileza de abri-la. No mesmo ano, a usina de ideias de jerico resolveu que o congresso clandestino da UNE marcado para outubro, com mais de mil participantes, seria realizado em Ibiúna, com menos de 10.000 moradores.

Intrigado com o tamanho da encomenda ─ 1.200 pães por manhã ─ o padeiro que nunca fora além de 300 por dia procurou o delegado, que ligou para a Polícia Militar, que prendeu todo mundo. Libertado 11 meses depois pelo grupo de sequestradores do embaixador americano Charles Elbrick, declarou-se pronto para recomeçar a guerra contra a ditadura e ficou empunhando taças de vinho em Paris até que lhe ocorreu a ideia de trocar a Rive Gauche por um cursinho de guerrilha em Cuba que, por falta de verba para balas de verdade, usava apenas balas de festim para adestrar os futuros soldados da selva.

O combatente diplomado submeteu-se a uma cirurgia para que o nariz ficasse adunco, voltou ao Brasil na primeira metade dos anos 70, percebeu que a coisa andava feia assim que cruzou a fronteira e, em vez de mandar chumbo no campo, sacou da mala a documentação que o identificava como Carlos Henrique Gouveia de Mello, comerciante de gado, e se mandou para Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná. Logo se engraçou com a dona da melhor butique da cidade, adiou por tempo indeterminado a derrubada do governo e se entrincheirou na máquina registradora do Magazine do Homem.

Em 1979, a decretação da anistia animou o forasteiro conhecido no bar da esquina como “Pedro Caroço” a contar quem era à mãe do filho de cinco anos e avisar que precisava voltar à cidade grande. Afilou o nariz com outra cirurgia e reapareceu em São Paulo ansioso por recuperar o tempo perdido. A gula e a pressa aceleraram a expansão da cinzenta folha corrida. Deputado estadual e federal pelo PT paulista, rejeitou todas as propostas de todos os governos. Presidente do partido, instalou Delúbio Soares na tesouraria. Com o triunfo de Lula em 2002, o pecador trapalhão foi agir em Brasília.

Capitão do time de Lula, mandou e desmandou até a descoberta de que promovera a Assessor para Assuntos Parlamentares o extorsionário Waldomiro Diniz, com quem havia dividido um apartamento. Era só mais um no ministério quando, em 2005, o Brasil ficou sabendo que o chefe da Casa Civil também chefiava a quadrilha do mensalão. Despejado do emprego em junho, prometeu mobilizar deus e o mundo, além dos “movimentos sociais”, para preservar o mandato em perigo. Em dezembro, conseguiu ser cassado por uma Câmara que inocenta até a bancada do PCC.

Sem gabinete no Planalto ou no Congresso, sem rendimentos regulares e sem profissão definida, escapou do rebaixamento à classe média ao descobrir o mundo maravilhoso dos consultores vigaristas. Com a cumplicidade dos afilhados que espalhara pela administração federal, em poucos meses José Dirceu já se tornara um próspero facilitador de negociatas engendradas por capitalistas selvagens. Em 2012, o julgamento do mensalão ressuscitou o perseguido político. Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, entrou no presídio com o punho erguido.

Ao sair da Papuda para cumprir em casa o restante da pena, era um sessentão com boa saúde. Ao voltar à cadeia por se ter metido nas bandalheiras do Petrolão, é uma versão avelhantada de si próprio. Desfrutou por poucos meses do poder que perseguiu desde o berçário. Desfrutou por poucos anos da fortuna que passou a perseguir depois da queda. O casarão em Vinhedo é uma das muitas evidências tangíveis de que José Dirceu é hoje um milionário. Para quê? Para nada. De nada vale a posse de mansões para quem é forçado a dormir na gaiola.

Uma tropa comandada por um guerrilheiro de festim só consegue matar de riso, repete a coluna há seis anos. As dúvidas que assaltaram muitos leitores foram dissolvidas pela implosão do embuste. O guerreiro do povo brasileiro era apenas um caçador de pixulecos.

 
 
 

Marco Antonio Villa: Não há mais governo

Publicado no Globo

MARCO ANTONIO VILLA

O projeto criminoso de poder está com os dias contados. Deixa como legado escândalos e mais escândalos de corrupção, uma estrutura de Estado minada pela presença de milhares de funcionários-militantes, obras super-faturadas (e inacabadas) e um país paralisado. Sem esquecer que produziram a mais grave crise econômica do último quarto de século.

Ao longo de 12 anos, conseguiram organizar um aparato de proteção nunca visto na nossa história. Quiseram transformar as mais altas Cortes de justiça em braços do partido. Os meios de comunicação de massa foram sufocados pela propaganda oficial. Os bancos e as empresas estatais foram convertidos em correias de transmissão dos marginas do poder, como bem definiu, em um dos votos da Ação Penal 470, o ministro Celso de Mello. Não houve nenhum setor da sociedade sem que a presença do projeto criminoso de poder estivesse presente. Pelo medo, poder e omissão de muitos (empresários, jornalistas, políticos, intelectuais, entre outros), conseguiram impor a ferro e fogo sua política.

Deve ser recordado que, ao terminar seu segundo mandato, Lula era avaliado positivamente pela ampla maioria dos brasileiros. Diziam que seria candidato a secretário-geral da ONU ou a presidência do Banco Mundial. Tudo graças a sua sensibilidade social, aos êxitos econômicos e à preocupação com os mais pobres. Hoje, sabemos que no mesmo período o petrolão alcançou seu ápice e bilhões de reais foram roubados do Tesouro, no maior desvio de recursos públicos da história da humanidade. Os que denunciavam a pilhagem do Estado eram considerados enragés. Não foi nada fácil remar contra a corrente e enfrentar a violência governamental e de seus asseclas. Como em outros momentos da nossa história, já está chegando o dia de o passado ser reescrito. Muitos dos que se locupletaram vão se travestir em adversários ferrenhos do lulismo. Haja hipocrisia.

Vivemos a crise mais profunda dos últimos 60 anos. Em 1954, tudo acabou sendo resolvido em menos de três semanas, entre o atentado da Rua Tonelero (5 de agosto) e o suicídio de Getúlio Vargas (24 de agosto). No ano seguinte, em novembro, o país teve três presidentes, mas a crise foi logo solucionada. Em 1961, a renúncia de Jânio Quadros — que quase arrastou o Brasil a uma guerra civil — foi solucionada em duas semanas, com a posse de João Goulart, a 7 de setembro. Três anos depois, o mesmo se repetiu, e a 11 de abril, com a eleição de Castelo Branco pelo Congresso Nacional, foi resolvido o impasse político. Em 1992, o momento de crise mais profunda ficou restrito a três meses, entre julho a setembro, quando a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment do presidente Fernando Collor.

A crise atual é mais complexa — e mais longa. No tempo poderia ter uma data: a vitória de Eduardo Cunha, a 1º de fevereiro. A candidatura Arlindo Chinaglia empurrou Cunha para os braços da oposição — até então muito fragilizada, mesmo após o excelente resultado obtido no segundo turno por Aécio Neves. As revelações diárias sobre a extensão do petrolão ampliaram a crise, pois estabeleceu conexão entre o escândalo, as lideranças históricas do partido e o financiamento eleitoral, inclusive da campanha presidencial de 2014, em que propina virou doação legal.

As novas delações premiadas vão complicar ainda mais o cenário. Prováveis acusados estão, preventivamente, buscando mecanismos para garantir o foro privilegiado, temendo serem presos. E a instalação das CPIs do BNDES e dos fundos de pensão vão ter de devassar as relações do projeto criminoso de poder com a burguesia petista, aquela do capital alheio, do nosso capital, entenda-se.

O aprofundamento da crise econômica — com dados que tinham sido escondidos pelo governo, especialmente durante a última campanha eleitoral —, a divisão da base política congressual — inclusive de partidos que tem presença no governo, como a PDT e PTB —, as sucessivas derrotas em votações no Congresso relacionadas ao ajuste fiscal, a impopularidade recorde de Dilma, o desespero do PT, e o esfarelamento da liderança de Lula sinalizam claramente que não há mais governo. O que é bom e ruim. Ruim, pois este projeto de poder fará de tudo para permanecer saqueando o Estado; bom, porque os brasileiros romperam o feitiço de mais de uma década e, finalmente, entenderam o mal representado pelo lulismo.

Na última quinta-feira, era esperado que o PT reconhecesse os erros e apontasse para alguma proposta de negociação, de diálogo com a oposição. E mais, que buscasse apoio dos 71% de brasileiros que consideram o governo ruim ou péssimo. Não o fez. Satanizou a oposição. Associou 1964 a 2015. Tachou a oposição de golpista. Ironizou os protestos. Conservou a política do conflito, do nós contra eles. Isso quando estão isolados e sem nenhuma perspectiva, mesmo a curto prazo, de que poderão reconstruir sua base política.

A gravidade do momento e o autismo governamental obrigaram as oposições a se mexer. A necessidade de encontrar uma rápida saída constitucional para a crise é evidente. A sociedade civil pressiona. As manifestações do próximo dia 16 vão elevar a temperatura política. Quanto mais tempo permanecer o impasse, pior para o Brasil. Se 2015 já está perdido, corremos o sério risco de perdermos 2016 e 2017.

É inegável que Lula e o PT já estão de mudança para o museu da história brasileira. Mais precisamente para a ala dos horrores — que é vasta. Será necessário reservar um espaço considerável. Afinal, nunca na nossa história um projeto político foi tão nefasto como o do lulismo.

Dilma nega crise elétrica: ainda tem energia para mentir

Dilma Rousseff anunciou um pacote de 186 bilhões de reaisem investimentos no setor elétrico.

Detalhe: 105 bilhões são para depois de 2018, porque nem o governo nem a iniciativa privada têm esse dinheiro agora.

Mas que importa? Dilma sapiens faz mais um teatro para iludir o povo, fingindo trabalhar para reduzir a conta que aumentou.

Comento o discurso da petista.

Dilma Rousseff:

“Não temos nenhuma crise no setor elétrico, de maneira alguma”.

Realidade:

A conta de luz subiu quase 30% neste ano devido à falta de capacidade de geração e transmissão de energia.

Dilma Rousseff:

O país passa por um “período momentâneo de dificuldades”.

Realidade:

O país sofre as consequências do desgoverno corrupto e mentiroso de Dilma Rousseff – e o “período momentâneo”, em dilmês castiço, é um momento prolongado sabe-se lá por quanto tempo.

Dilma Rousseff:

“Nós construímos termelétricas. Se não tivéssemos construído termoelétricas, teríamos tido um brutal racionamento.”

Realidade:

As termelétricas começaram a ser construídas em 2000, após o período de racionamento no governo Fernando Henrique Cardoso.

Dilma Rousseff:

“Não tivemos racionamento porque quando falta água, a gente liga as térmicas. Nesse sábado passado começamos a desligar as termelétricas. Isso vai produzir uma progressiva diminuição da bandeira vermelha, e, portanto, uma redução no preço da energia”.

Realidade:

Em 2012, Dilma prometeu que a conta de luz ficaria 18% mais barata para todos. Em 2015, ela continua prometendo.

Dilma Rousseff:

“Agora, todo mundo sabe de uma coisa: entre faltar energia e ter energia é melhor pagar um pouco mais para ter energia, porque o preço da falta de energia é imenso em emprego, em renda, em dificuldade da empresa.”

Realidade:

O PT finge combater o desemprego para encobrir seus crimes, erros e fracassos, como este blog afirma há tempos.

O único emprego que Dilma quer manter é o dela.

Dilma Rousseff:

“Garantir que haja energia de qualidade, mais limpa, segura e mais barata para o país é fundamental pra todos nós.”

Realidade:

É fundamental para todos nós não cair nos embustes de Dilma Rousseff, que parece fazer ao povo a famigerada pergunta de Groucho Marx:

“Você prefere acreditar em mim ou em seus próprios olhos?”

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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