"O problema de Dilma não é a crise. É não ser mais levada a sério"... (por CARLOS BRICKMANN)

Publicado em 11/08/2015 09:58
+ LAURO JARDIM (de veja.com)

Dilma em ambiente esterilizado

Visitas à prova de vaias

Dilma Rousseff está seguindo à risca ao menos um conselho dado publicamente por Lula dezenas de vezes: que ela deveria ir para a rua, sair do palácio. (Dizer “correr para os braços do povo”, nas circunstâncias atuais,  soaria irônico). Na sexta-feira passada, Dilma foi a Roraima. Ontem, ao Maranhão. Na quinta-feira, irá a Juazeiro, na Bahia.

São visitas milimetricamente controladas pela Presidência da República. Nada pode dar errado. Nada de vaias. Até agora, reconheça-se, tem dado certo. Dilma tem conseguido discursar sem ser perturbada neste ambiente esterilizado.

O.k., a intenção é mostrar que a presidente não está acuada. Que pode sair às ruas. O Palácio do Planalto monta o circo para que tudo aparente calma e Dilma apareça no Jornal Nacional e nos sites bem na foto, discursando a uma plateia atenta.

Mas será que, de fato, este tipo de roteiro controlado tem algum efeito?

A julgar pelas pesquisas do Ibope, Datafolha e até por institutos governistas, não.

A crise está à vista de todos, a inflação está subindo, a economia parando e o Congresso é francamente hostil ao governo. Nenhuma aparição pública tem o efeito de anular o que os brasileiros sentem e vivem no dia a dia.

Por Lauro Jardim

 

– Via Aroeira.

“Crise é para os fracos” e outras cinco notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN

Inflação em alta, PIB em baixa, desemprego em alta, popularidade da presidente em baixa, som das panelas em alta, vozes do governo em baixa ─ vozes que não se manifestaram nem para defender o companheiro de partido que sempre adularam, neste momento em que é recolhido à prisão. A coisa está tão séria que Aloizio Mercadante, em geral coerente em sua arrogância, comportou-se com modéstia no Congresso, dizendo que o PSDB age de modo elegante, e admitiu até que o Plano Real conteve a inflação ─ justo ele, que liderou a oposição do PT ao Real e garantiu que aquilo não ia dar certo. Tão grave que Michel Temer, sempre cauteloso, disse que alguém tem de unir de novo o país ─ alguém cujo nome, claro, comece com M, de Michel Miguel Elias Temer Lulia.

Mas a crise não é o maior problema de Dilma. O maior problema é que ela deixou de ter importância política. Convocou 80 parlamentares para um churrasco noturno ─ algo inusitado no horário ─ e lhes fez uma série de exortações. Dali os parlamentares saíram direto para um jantar normal, com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para rir dos pedidos de Dilma e combinar as próximas derrotas que lhe imporiam. Combinaram e executaram: multiplicaram o salário de várias carreiras jurídicas, com 95,3% dos votos (até de petistas), arrombando o ajuste fiscal. No dia seguinte abriram caminho para examinar as contas de Dilma. Se as rejeitarem, fica a seu critério colocar o impeachment em votação.

O problema de Dilma não é a crise. É não ser mais levada a sério.

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Aos poucos, os tucanos vão aprendendo finalmente o que é o PT

Samuel Pessôa. Fonte: Época

Primeiro fato: o PSDB é um partido social-democrata, portanto, de centro-esquerda. Segundo fato: o PSDB, por inúmeros motivos, sempre deu muita trela para o PT, sempre foi condescendente demais com os petistas, achando que, só por serem ambos de esquerda, haveria a possibilidade de um debate civilizado em prol do país. Essa ingenuidade está, aos poucos e finalmente, dissipando-se. Os tucanos estão, depois de muito tempo, acordando para o que é o PT. Querem um exemplo?

O economista Samuel Pessôa, que sempre escreveu textos técnicos e com profundo respeito aos adversários ideológicos, jogou a toalha e reconheceu que não é possível dialogar com petistas. Ele chegava a rebater com argumentos as baboseiras de Andre Singer na Folha, o que, para mim, sempre foi um espanto. Será que não percebia que o lado de lá está blindado contra argumentos, que dispensa a razão, que é cínico, desonesto e fanático? Agora abriu os olhos:

Filiado ao PSDB, o economista Samuel Pessoa costumava fazer elogios públicos a programas dos governos do PT. Era uma voz a favor da distensão política e tentava abrir espaços de interlocução com economistas heterodoxos, com linha de pensamento diferente da dele. Samuel mudou. Um dos autores do estudo que diz que o problema da solvência das contas públicas do país só será resolvido com reformas estruturais, ele se tornou um cético quanto à possibilidade de um pacto nacional para enfrentar essa agenda. “Sou o efeito de uma campanha eleitoral sórdida e suja”, diz ele.

O problema de ser “moderado” demais é que você acaba dando corda para os radicais, que passam a ser vistos e aceitos como interlocutores razoáveis. Sempre foi meu problema com muitos tucanos e jornalistas simpáticos ao PSDB. Eles acham que nós, liberais e conservadores, somos os verdadeiros radicais, e pensavam que era possível manter um debate amistoso e construtivo com a ala retrógrada da esquerda.

Hoje estão vendo que não é possível, e que o debate certo, numa democracia que se pretende avançada, deve ser travado entre eles, a esquerda social-democrata mais moderna, e nós, liberais e conservadores da direita democrática. O PT não tem espaço nessa equação, assim como certos grupos radicais de direita, que desprezam o processo democrático republicano, também não.

Já disse e repito: o ideal é a disputa política e o debate intelectual ocorrerem entre a social-democracia, o liberalismo e o conservadorismo. O problema é que, no Brasil, o PSDB social-democrata já é visto como parte da direita (absurdo), enquanto os xiitas e desonestos do PT são tratados como moderados. Passou da hora de a esquerda decente (sim, ela existe) acordar e parar de fazer tantas concessões aos revolucionários e golpistas do PT.

Rodrigo Constantino

 

Um caso que dá referência circular e um nó górdio na cabeça dos esquerdistas

Vincent Uzomah, professor que foi esfaqueado em Bradford (The Guardian/Reprodução)

A esquerda “progressista” defende sempre as “minorias”, certo? Também inclui nesse grupo, por algum motivo obscuro, os bandidos, especialmente os jovens, vistos como “vítimas da sociedade”. Mas essas bandeiras podem gerar uma tremenda confusão na cabeça de um esquerdista típico, pois são muitas vezes contraditórias.

A feminista, por exemplo, deve elogiar os homens brancos ocidentais, que tratam as mulheres com respeito, ou os muçulmanos, outra “minoria” que não tem muito apreço pelo feminismo? Os homossexuais devem defender os países capitalistas liberais, onde gozam de ampla liberdade, ou as “minorias” africanas, que costumam vetar por lei o homossexualismo?

E como esses podemos pensar em vários outros casos. Mas um episódio ocorrido na Inglaterra é particularmente cruel com os “progressistas”. Ele, sozinho, é capaz de expor toda a hipocrisia da esquerda. Um adolescente esfaqueou uma pessoa. Até aqui, os “progressistas” estão na linha do “vítima da sociedade” e pregando que o ECA seja adotado na Inglaterra, para os ingleses aprenderem como se trata uma pobre criança de 14 anos que meteu a faca na vítima por falta de escola e oportunidade.

Mas aí começam os problemas. O garoto era aluno e a vítima foi seu professor. Já cai por terra a primeira grande ladainha da esquerda. Mas tem mais: o professor era negro, e o aluno teria cometido o crime por motivos racistas. E agora, José? Professor, da “elite opressora”, negro, e marginal, o “pobre sem oportunidades”, um estudante racista. Ainda querem aplicar o bondoso ECA?

Outro problema para os “progressistas”, claro, é a arma do crime: uma faca de cozinha. Esqueça o desarmamento, a desculpa de que “armas matam”, em vez de pessoas. O moleque usou uma faca de cozinha para ferir com risco de morte seu professor. A esquerda nada tem a dizer sobre isso, a menos que queira defender o desarmamento das facas…

Mas calma, leitor, que a confusão mental da esquerda continua: o professor, negro, também é cristão, e decidiu perdoar o delinquente racista. Direito dele, como cristão, algo que a esquerda “tolerante” não aceita, pois no fundo só quer perdoar bandidos das “minorias”, não os que atacam as “minorias”: esses merecem a morte, de preferência pela guilhotina em praça pública que é para dar o exemplo.

Só que, para fechar com chave de ouro, o professor, negro e cristão, reconheceu que seu perdão pessoal era uma coisa, mas a lei era outra, bem diferente, e que era importante o cumprimento da lei para passar a outros jovens de perfis similares “uma forte mensagem” que a violência é inaceitável. Ou seja, o homem pede a punição da lei para não incentivar novos crimes.

E agora, Maria? O que tirar disso tudo? O professor é da “elite golpista opressora” ou membro das “minorias oprimidas”? O estudante adolescente racista é “vítima da sociedade” ou um “marginal doente que merece a forca”? Já vejo a cabecinha oca de muito esquerdista dando aquela mensagem das planilhas de Excel: “referência circular”. Como desatar esse nó górdio, meus caros “progressistas”?

PS: O adolescente passará seis anos em regime fechado em um centro de recuperação de menores e os outros cinco sob vigilância em regime aberto. Lembrando que a vítima sequer foi fatal. Alguém ainda fica espantado com a criminalidade no Brasil, praticada de forma escancarada e ousada, pela certeza da impunidade? Será que os “progressistas” brasileiros acham que temos muito a ensinar aos “otários” ingleses sobre como tratar marginais?

Rodrigo Constantino

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