Dilma reúne a tropa. Saldo: 1) a renúncia compõe, sim, seu cardápio de saídas; 2) o governo não sabe a diferença entre democraci
Dilma reúne a tropa. Saldo: 1) a renúncia compõe, sim, seu cardápio de saídas; 2) o governo não sabe a diferença entre democracia e golpe
A presidente Dilma Rousseff reuniu na noite deste domingo, no Palácio da Alvorada, 13 ministros; Michel Temer, o vice-presidente e coordenador político, e dois líderes do governo no Congresso. O objetivo do encontro? Bem, os presentes imaginaram que a governanta iria anunciar alguma medida concreta para deixar claro que está no comando. Huuummm… Sabem o que ela fez? Marcou novas reuniões.
Já escrevi, acho eu, uma dezena de textos apontando que um dos seus problemas é não ter agenda nenhuma — nem para dialogar com a base nem para estabelecer pontes de governabilidade com a oposição. Mas trato disso daqui a pouco. O ponto que mais chamou a minha atenção foi outro e diz respeito ao impeachment e à renúncia.
Edinho Silva, ministro da Comunicação Social, foi o encarregado de falar com a imprensa sobre o resultado do encontro. Referindo-se à determinação de Dilma de permanecer no cargo, afirmou: “A presidente foi eleita para cumprir quatro anos de mandato, e o Brasil é exemplo de democracia para o mundo. Não podemos brincar com a democracia, não podemos brincar com as instituições. A presidente vai cumprir seu mandato e está otimista com a capacidade de a economia responder a esse momento de dificuldade num curto espaço de tempo”.
Mais adiante, indagado sobre os protestos do dia 16, que cobram o impeachment, Edinho disse que o Planalto os vê como “um evento natural”. Segundo ele, “um governo inspirado na democracia lida com normalidade [com as manifestações]”. Ah, bom! Dilma e sua turma precisam decidir se cobrar que ela seja impichada é coisa própria da democracia ou é tentativa de golpe. Não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Os que compareceram à reunião esperava que a presidente anunciasse, por exemplo, um enxugamento do governo. Mas nada! Não houve um só aceno desse sentido. Estuda-se a redução das pastas das atuais 39 para algo entre 24 e 29. O problema é que isso pode significar ainda mais dificuldades com a base aliada. Na conversa, a presidente incitou os ministros a falar com os parlamentares para tentar evitar a tal pauta-bomba e aproveitou para anunciar que vai se reunir com os respectivos presidentes dos nove partidos que oficialmente compõem a sua base de apoio.
O “diálogo” inaugurado por Dilma prossegue nesta segunda. Ela recebe para jantar no Alvorada as principais lideranças de partidos governistas no Senado, capitaneadas por Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa. Há algum tempo já, o governo vem apostando em usar o senador para tentar isolar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que preside a Câmara.
A reunião serviu também para anunciar que Dilma e Temer vivem uma relação harmoniosa. Ele mesmo voltou a fazer uma defesa candente da governabilidade, reiterando seu papel de conciliador, mas não de candidato a ocupar o lugar de Dilma. Bem, caso ela seja impichada ou renuncie, isso não depende da vontade dele, mas das leis.
Renúncia
Deixando claro que a renúncia é, sim, um tema que passou a habitar as paredes de vidro do Palácio da Alvorada, José Guimarães (PT-CE), o líder do governo na Câmara, revelou, como de hábito, o que lhe cabia guardar. “A presidente vai liderar um amplo diálogo com as bancadas, com os partidos, com os empresários, com os movimentos sociais. Vai percorrer o país e não há chance de renunciar”, afirmou esse grande, habilidoso e espetacular estrategista. Dito de outra maneira: a renúncia compõe o cardápio de saídas.
Meus caros, não faz sentido reunir 13 ministros, o vice-presidente e lideranças no Congresso para nada. Dilma expõe o vazio da agenda, a exemplo do que fez com os governadores. Assim, o saldo do encontro é este:
– o governo ora diz que cobrar o impeachment é parte da legalidade democrática, ora diz que é golpe;
– Dilma discute, sim, a renúncia. E, por enquanto, segundo Guimarães e Edinho, ela a descarta.
Mas sabem como são as coisas… A realidade da política é dinâmica. A esperança permanece no fundo da caixa.
Por Reinaldo Azevedo
Dilma decide cair nos braços da esquerda para tentar enfrentar as ruas no dia 16. É de uma tolice espantosa!
Sempre procuro, neste blog, na Folha ou na Jovem Pan, distinguir as minhas paixões e convicções — absolutamente legítimas, como a de toda gente — da análise, vamos dizer, técnica. Sempre fui um duro crítico das decisões do petismo, mas, não raro, reconhecia que elas faziam sentido do ponto de vista lá deles. Sou mais preciso: irritava-me a frequência com que eles faziam uma leitura procedente da realidade, embora as suas escolhas fossem, a meu ver, no mais das vezes, ruins para o país e para a democracia. Pois é…
Que, mesmo dotado de perspicácia política, o PT conduziu o país a uma crise econômica e ética inédita, eis um fato. Mas há uma novidade nestes tempos em relação àquele partido que permaneceu 22 anos na oposição e que governou com razoável desenvoltura por oito anos: os petistas passaram por um processo de emburrecimento que deveria ser matéria de curiosidade científica. Nunca antes na história “destepaiz” uma legenda que está no poder cometeu tantos e tão severos erros. E não está disposto a parar.
Neste domingo, Dilma conduziu uma reunião no Alvorada. Estavam presentes o vice-presidente Michel Temer, 13 ministros e dois líderes governistas no Congresso. O discurso mais inflamado, consta, saiu da boca do desgrenhado Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência. Conclamou Dilma a se colar aos ditos movimentos sociais como forma de enfrentar as manifestações em favor do seu impeachment, que certamente vão tingir de verde e amarelo as ruas do Brasil no dia 16 de agosto.
Expressava ali uma decisão que já está tomada. Pois é… Nesta terça, dia 11, a presidente vai receber lideranças da chamada “Marcha das Margaridas”, ditas trabalhadoras rurais e congêneres, que se manifestam em todo o país, mas com mais ênfase em Brasília. Embora, oficialmente, seja uma inciativa de uma miríade de grupos sindicais, o comando é mesmo do MST.
Na quinta, a governanta deve se encontrar com representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, aí sem disfarce, e com pelegos da UNE — aqueles rapazes e moças já avançados em anos que aparelham uma entidade estudantil em proveito do PCdoB. A esmagadora maioria dos universitários brasileiros não saberia hoje a diferença entre um diretor da entidade e uma coxa de galinha.
Muito bem! O que Dilma vai conseguir com esses encontros senão turbinar os protestos do dia 16 de agosto? Notem: não estou aqui a defender que a presidente assista inerme, sem se mexer, aos crescentes movimentos que pedem que ela deixe, na forma da lei, o cargo. A questão é saber qual deve ser o modo de resistência. Medir forças nas ruas, a esta altura, é o mais estúpido deles — até porque o efeito comparativo, por mais que os pelegos se esforcem, vai atuar contra o governo.
Todos sabemos que as esquerdas que estão sendo incitadas a comparecer às ruas, embora extremamente minoritárias, não são exatamente pacíficas, como pacíficos são os que pediram a saída de Dilma em março. O máximo de agressão que produziram aos ouvidos dos autoritários foi cantar o Hino Nacional; o auge da ofensa moral aos ditos “progressistas” foi desfraldar a Bandeira do Brasil e flâmulas outras nas cores verde e amarelo, para tristeza do vermelho internacionalista da empulhação, da violência e da morte.
O que esperam esses irresponsáveis? Que gente decente, que trabalha, que luta para ganhar o pão de cada dia, que se esforça para ter um futuro e para dar um amanhã melhor às suas crianças, vá se intimidar com brucutus que hoje atuam em defesa de seus aparelhos de poder, de seus privilégios, do leite de pata que é fornecido pelo estado brasileiro para financiar seus movimentos de militantes sem povo? Isso não vai acontecer.
“Ah, mas não podem se manifestar os que defendem a permanência de Dilma?” Ora, claro que sim! O ano tem 365 dias, não é? O governo vive faz tempo a sua miséria moral, ética e administrativa. Por que, então, tais manifestações não foram convocadas antes, descoladas do movimento de protesto e não como uma reação que busca se antecipar à ação, o que rima, e é, com provocação? Além de não intimidar ninguém, reitero, essas patacoadas vão contribuir para lotar as ruas no dia 16 de agosto. Já vimos isso antes.
Há mais. Há algo de supinamente estúpido em se reunir com aliados, EM NOME DO DIÁLOGO, para organizar protestos a favor. Ora, o diálogo, em política, só faz sentido quando é com a divergência. Ainda que os grupos pró-impeachment não aceitassem, eles é que deveriam ser convidados a se encontrar com Dilma. O que o MST e a UNE vão fazer no Palácio? Buscar mais um dinheirinho? Todos sabemos que as duas entidades recebem farto financiamento público. O governo nunca busca dialogar com gente que não pode ser comprada, é isso?
De resto, meus caros, quando Dilma chama UNE e MST para um papinho e participa da Marcha das Margaridas, em vez de demonstrar que não está isolada, isso só evidencia o tamanho do seu isolamento. Aliás, na quinta, a presidente poderia aproveitar e chamar a direção da Fiesp. Depois, todos soltariam uma nota em conjunto em defesa do, bem, sei lá do quê. Do socialismo talvez…
O PT perdeu definitivamente o eixo. Eu é que não vou lamentar. Eu aplaudo suas estultices.
Texto publicado originalmente às 4h09
Por Reinaldo Azevedo
Eis Frei Betto: fazia algum tempo que ele não dizia porcarias na imprensa… Mas o cozinheiro da escatologia da libertação reapareceu
Frei Betto, o petista que não ousa dizer seu nome, afirma em entrevista à Folha neste domingo que, “no íntimo”, teme que Dilma renuncie. É uma das milhares de diferenças que tenho com ele. Eu temo, e não é no íntimo, que ela NÃO renuncie.
Depois de falar uma porção de bobagem sobre economia — a religião agradece quando ele trata de outros assuntos… —, o grande pensador diz esta maravilha:
“Embora eu ache a Lava Jato extremamente positiva –era preciso vir uma apuração da corrupção no Brasil séria como tem sido feita–, tem coisas que me desagradam. O partido mais envolvido é o PP. Mas parece, na opinião pública, que é só o PT. Segundo: por que é que vazam todos os conteúdos em relação ao PT e por que é que vazam exclusivamente para a revista “Veja”? É chamar a gente de idiota. Ou seja: há uma operação política por trás de abuso desse processo. Que é um processo sério de apuração da corrupção.”
Na cabeça do perturbado, o partido que manda no Brasil é o PP… Nem a própria VEJA reivindicaria para si o feito de ser o único veículo a divulgar informações inéditas sobre a Lava-Jato. Até porque, obviamente, seria mentira. É que Frei Betto não diz o que realmente pensa: ele gostaria é que a VEJA e os demais veículos fossem proibidos de divulgar tais informações. Afinal, este senhor é aquele religioso que consegue ver Deus nos irmãos Castro… Imprensa boa é o “Granma”, que os cubanos, coitados, usam como papel higiênico — um fim nobre para o tipo de jornalismo defendido pelo santarrão do pau oco.
Como não é um homem que fique facilmente corado, o dito frei diz o seguinte sobre o mensalão e o PT. Vejam que coragem:
“Eu nunca disse se houve ou se não houve mensalão. Estou esperando o PT se posicionar. E fico indignado pelo fato de o partido não se posicionar. E não se posicionar diante de uma figura tão importante do partido como ele [Dirceu]. Então não tenho meios de julgamento. Que eu sei que há corrupção na política, sei. Mas não tenho provas.”
Dá para entender por que este senhor, historicamente, sapateou sobre milhares de cadáveres em Cuba, não?
Para encerrar
Sempre que esse cozinheiro da escatologia da libertação aparece na imprensa, eu me lembro do seus bebês-diabos. Sim, Frei Betto inventou uma oração em que Santa Teresa de Ávila dá uma transadinha com Che Guevara, o Porco Fedorento. Depois do “Bebê de Rosemary”, eis “Os bebês de Frei Betto”. Não foram gestados no seu ventre sem pecados, naturalmente, mas na sua cabeça nada imaculada. Peguem o terço na mão e leiam o que segue:
“Ano de nova qualidade de vida. De menos ansiedade e mais profundidade. Aceitar a proposta de Jesus a Nicodemos: nascer de novo. Mergulho em si, abrir espaço à presença do Inefável. Braços e corações abertos também ao semelhante. Recriar-se e apropriar-se da realidade circundante, livre da pasteurização que nos massifica na mediocridade bovina de quem rumina hábitos mesquinhos, como se a vida fosse uma janela da qual contemplamos, noite após noite, a realidade desfilar nos ilusórios devaneios de uma telenovela.
Feliz homem novo. Feliz mulher nova. Como filhos das núpcias de Teresa de Ávila com Ernesto Che Guevara.”
Que nojo!
Eis o pensador que alguns insistem em levar a sério.
Por Reinaldo Azevedo
Vamos parar de fantasia! Quem está no desgoverno do Brasil é Dilma, não Eduardo Cunha! Ou: Resta a esperança no fundo da caixa…
Já li os jornais de domingo, sites noticiosos, colunistas e coisa e tal… A gente fica com a impressão de que todos os problemas da presidente Dilma Rousseff se resolverão amanhã caso Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, seja sequestrado por ETs. A crise acaba, o Brasil encontra o seu rumo, os petistas, inclusive os das redações, voltarão a sorrir.
Acho que o próprio deputado, ao se barbear toda manhã, precisa refazer o roteiro em sua cabeça, encarando-se, reflexivo: “Por que é mesmo que eu tenho tanto poder?”. É evidente que alguns ditos analistas políticos estão deixando que o ódio e o preconceito tomem o lugar da razão.
Poucos se dão conta de que Cunha hoje, como no poema “À Espera dos Bárbaros”, de Constantino Kafávis (já o citei aqui), é, para Dilma, uma espécie de solução. Quando a presidente precisa justificar a própria incompetência, aponta o dedo contra o seu inimigo de estimação. Na Câmara, o líder do governo é José Guimarães (CE), e o do PT é Sibá Machado (AC). E os petistas e seus acólitos se voltam contra o peemedebista? Ora… Quem fez tais escolhas esperava qual resultado?
É evidente que a dupla patética não pode responder pela rotina de desastres no Congresso, muito especialmente na Câmara. Eles também já são sintomas da esclerose petista. Se ao Planalto e ao partido pareceu que são esses os líderes do momento, a gente consegue ter noção de como anda o resto.
Não é só isso. Vejam a coordenação política de Dilma — não estou me referindo à do condomínio governamental, que está a cargo de Michel Temer, que vai fazendo o possível. Falo dos ditos homens fortes da presidente na interlocução política. Um é Aloizio Mercadante, da Casa Civil. Ganha um bilhete pra Pasárgada quem conseguir dizer que diabos, exatamente, ele faz e que área do governo está afeita à sua pasta. Quem são seus interlocutores? Líderes do Parlamento? Os demais ministros? Representantes da oposição? Qual é a agenda do homem? E é Cunha quem toma pancada?
Há ainda, o que é do balacobaco, Jaques Wagner. Dilma tem 39 ministérios, mas o titular da Defesa se comporta como um de seus porta-vozes. É bem verdade que os comandantes militares devem erguer as mãos para o Céu. Melhor Wagner sem fazer nada, ciscando na área política, do que tentando fazer alguma coisa nas Forças Armadas… E Cunha é que deve apanhar?
Fiquem calmos. Ainda existe o espantoso Miguel Rossetto, cujas ideias costumam ser ainda mais confusas do que seu cabelo e mais perturbadas do que seu olhar. Sua função principal, consta, é fazer a interlocução com os movimentos sociais — só os de extrema esquerda, é claro! As demais vozes da sociedade, especialmente aquelas críticas ao governo, são cotidianamente hostilizadas por esse gênio político. E Cunha é que vai para o paredão?
Ora, ainda que a tal pauta-bomba nascesse da vontade imperial do presidente da Câmara — mentem os jornalistas e colunistas que afirmam isso ao leitor; não se trata de matéria de opinião, mas de matéria de fato —, o seu efeito desestabilizador, no presente, é nulo. Se todas aquelas maluquices forem mesmo aprovadas, a explosão só virá bem mais tarde. Sim, é preciso impedir as porra-louquices, mas não são elas que paralisam o governo.
De resto, como ignorar que o PT — sim, o PT!!! — votou em massa em favor de propostas que concedem reajustes salariais pornográficos a categorias já privilegiadas de servidores? Os petistas Paulo Paim (RS) e Lindbergh Farias (RJ) resolveram ser os porta-vozes do movimento contra o ajuste fiscal no Senado. E os companheiros resolvem hostilizar… Cunha?
Os colunistas que enveredam por aí deveriam ter algum pudor — a boa e velha vergonha na cara — e expor a seus leitores os instrumentos de que dispõe o presidente da Câmara, então, para exercer essa força tão avassaladora, encabrestando 513 deputados e mandando para as cordas a máquina pantagruélica do governo federal! Que tipo de benefício Cunha poderia oferecer que o governo não pudesse bancar, multiplicando por dez, por cem, por mil? Se falta honestidade intelectual a essa gente, que não falte ao menos um pouco de senso de ridículo.
Mais ainda: Cunha foi colhido pelo lado escuro da Operação Lava Jato — sim, ele existe — e hoje está na berlinda em razão do depoimento de Julio Camargo, o delator que será premiado pela “verdade” que disse e também pelo seu contrário. Afinal, ou antes ou depois, esse senhor mentiu. Antes e depois, homem acostumado a comprar pessoas por somas fabulosas, ele deve ter tido milhões de motivos para fazê-lo. De toda sorte, Cunha teve subtraído parte substancial de seu poder — ou, ao menos, da perspectiva de poder que representava. E assim será enquanto estiver sob investigação. Respondam-me: é um homem nessas condições que consegue paralisar o governo?
Não! A verdade é bem mais simples, e a realidade, muito mais complexa.
A verdade é que Dilma não tem agenda nenhuma a negociar nem com governistas nem com oposicionistas. Ocupa-se hoje de tentar minorar os efeitos dos desastres que ela própria e Lula produziram na economia. E, por óbvio, não se trata de uma tarefa trivial. Os problemas começaram a desabar sobre a sua cabeça já em meados de 2012, antes mesmo que completasse metade do seu primeiro mandato. Para cada problema complexo e de difícil solução, ela e Guido Mantega ofereceram uma resposta simples e errada.
As eleições chegaram quando a economia já caminhava para o abismo, e aí foi preciso que a candidata Dilma contasse mentiras espetaculares sobre o passado, o presente e o futuro e que demonizasse as respostas que ela própria teria de dar — E ELA SABIA DISSO — para conseguir aquela estreita margem de votos que lhe garantiu a vitória.
Somem-se a isso os descalabros revelados pela Operação Lava Jato, e então se entende por que 71% acham o governo ruim ou péssimo e por que 66% querem Dilma fora da cadeira presidencial, segundo o Datafolha. Volto a perguntar: o que tem Cunha a ver com isso? Note-se à margem: ele só não é um aliado do governo porque a governanta achou, contra todas as evidências, que conseguiria eleger o presidente da Câmara…
Essa gritaria contra Cunha traduz sabem o quê? Arrogância de gente acuada. Em vez de o governo tentar uma interlocução com o Congresso, quer silenciá-lo no berro. Não! Eu não gosto dos absurdos que andam votando por lá e tenho descido o porrete nas maluquices. Mas é uma estupidez e uma mentira atribuir a um deputado a responsabilidade pelos desatinos.
Quem está no desgoverno do país é Dilma, não Eduardo Cunha. Ademais, se ELE renunciasse amanhã, o país ficaria na mesma. Se ELA renunciasse, ao menos a esperança poderia sair do fundo da caixa…
Texto publicado originalmente às 7h53
Por Reinaldo Azevedo
Dilma tem de parar de confundir a Constituição e as leis com o DOI-CODI! Ou: Presidente está abatida e deveria abreviar o seu e o nosso sofrimentos
Nesta sexta, militantes petistas foram “abraçar” o Instituto Lula, que teria sido alvo de um “atentado”. Apenas 400 militantes apareceram por lá, embora a convocação tenha sido feita com antecedência e a anunciada presença de Lula. Nem os companheiros levaram o troço muito a sério. Até a eles ocorre que, se alguém quer mesmo praticar um atentado político, não joga uma bomba caseira como aquela. Se joga e se o faz naquelas condições, talvez esteja tentando simular um atentado, entendem? Com que propósito? A lógica responde. Mas sigamos.
O país vivendo em transe, e eis que Lula e seus seguidores se apegam à lógica do “bunker” — também do “bunker” mental. Seria só patético se três ministros não houvessem passado por lá para beijar a mão do Poderoso Chefão do Partido — e três ministros, note-se, que são da cota pessoal de Dilma Rousseff: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Jaques Wagner (Defesa). Os 403 de Lula se juntaram no dia seguinte a um panelaço que varreu o país, em protesto contra o programa do PT no horário político.
O país numa crise gigantesca, e o PT volta a se comportar como grupelho.
Não está melhor, por óbvio, a presidente Dilma Rousseff. Ao participar de um evento do “Minha Casa Minha Vida” em Boa Vista, Roraima, visivelmente abatida, com sinais explícitos de que anda tendo péssimas noites de sono, vociferou em favor da legitimidade do seu governo e anunciou o imperativo das urnas, como se as mesmas leis que a elegeram também não previssem o roteiro da deposição.
E, para não variar, Dilma voltou a apelar a seu passado de membro de grupos que ela chamaria “guerrilheiros”, mas que, sabe-se, eram mesmo terroristas. A atuação lhe rendeu prisão e tortura, num tempo que foi inaugurado com a Constituição sendo rasgada e que foi mantido com arremedos e remendos de legalidade ditatorial.
Em que aquela experiência, por mais traumática e dolorosa que tenha sido, pode instruir a Dilma de agora? A resposta, infelizmente pra ela, é esta: NADA DE POSITIVO PODE TRAZER. Ela não é mais, que se saiba, a militante que queria dar um golpe comunista no país; da mesma sorte, não está sendo perseguida por gente torta em razão de suas ideias tortas. Ao contrário: a presidente da República é chamada a dar uma resposta à legalidade democrática.
Chega a ser desagradável ter de lembrar a Dilma que o fato de um terrorista ou guerrilheiro ter resistido às piores condições do cárcere não o torna inimputável nem o prepara, de modo especial, para enfrentar os rigores das leis democráticas. DILMA NÃO TEM MAIS RESPOSTA NENHUMA A DAR À DITADURA. ELA TEM DE PRESTAR CONTAS É À DEMOCRACIA.
Não obstante, a presidente de apega de um modo que me parece monomaníaco àquele passado, que ela vê, certamente com autocomplacência, como se ele fosse a evidência de sua têmpera de ferro, pronta a enfrentar as maiores adversidades. Ademais, é evidente que ela tenta estabelecer uma paralelo entre a tortura que sofreu e as exigências legais às quais têm de responder. Mais ainda: os 71% que acham seu governo ruim ou péssimo e os 66% que querem seu impeachment não são seus torturados. São apenas brasileiros inconformados expressando a sua contrariedade, muitos deles, dados os números, certamente sufragaram o nome de Dilma há menos de 10 meses.
Sim, é visível que a presidente está sofrendo — o padecimento está estampado em seu rosto de modo inédito. Mas o Brasil não tem o que fazer com o seu sofrimento; ele de nada nos serve. Muito pelo contrário: só empresta uma dramaticidade que mais nos afasta do que nos aproxima de uma resposta. Lula pode voltar lá para o seu cafofo autorreferente e se juntar a seus fanáticos. Dilma não pode. As reminiscências da “guerrilheira” só a farão encontrar os inimigos e os amigos errados.
A crise é, sim, gigantesca. Só não caiam na conversa de que alguma grave ameaça política paira sobre o país — a menos que os vermelhos estejam pensando em fazer coisas feias. Qualquer que seja o desdobramento — impeachment, cassação da chapa ou renúncia —, há uma legalidade sólida que o abriga. Vamos ser claros? A única alternativa que desafia a lei é a permanência de Dilma.
Pense bem, presidente! Mas pense com os olhos em 2015 e no futuro. A ex-presidiária só atrapalha. Não convém confundir a Constituição com o DOI-CODI.
Por Reinaldo Azevedo
Os 400 de Lula e a República de Banânia. No lançamento do meu livro, reuni o triplo…
Um dia depois de ter ido ao ar o programa do PT que ameaça o país com o abismo, o golpe e o caos caso Dilma deixe a Presidência — é a isso, creio, que chamam lá de “crise política” —, “petistas e representantes de movimentos sociais”, escrevem os sites noticiosos, organizaram em frente ao Instituto Lula um “protesto contra a intolerância”.
É mesmo? Contra a intolerância de quem? Seria contra a determinação com que petistas perseguem seus adversários nas redes sociais, agredindo-os verbalmente, trolando-os, mosletando-os, a exemplo do que fazia até outro dia — faz ainda? — o ator José de Abreu? Quem chama um notório “hater” para conduzir seu programa de TV não pode falar em “tolerância”.
O pretexto do encontro foi protestar contra a bomba caseira jogada há dias na calçada do Instituto Lula, ato criminoso, sim, cuja natureza não se conhece. Os intolerantes do petismo, no entanto, a começar da presidente da República, resolveram associar o episódio ao antipetismo que está nas ruas e em toda parte.
Atenção! É tão legítimo ser antipetista como é legítimo ser antitucano — ou isso não existe aos montes por aí? Quando militantes e simpatizantes do PSDB eram, e são ainda, tachados de “coxinhas” e de “reaças”, vocês viram alguém gritar “preconceito”? Será que o tal “preconceito” só existe quando o alvo do protesto são os companheiros?
Ah, esse debate conheço bem. Ao longo dos oito anos de mandato de FHC, eu o vi ser ironizado muitas vezes porque intelectual, porque sociólogo, porque professor da Sorbonne, porque… inteligente! Características inequivocamente positivas foram transformadas por Lula e pelo PT em máculas.
E nada disso parecia preconceito. Quando Lula foi eleito, fiz uma caricatura de seu notório anti-intelectualismo e passei a chamá-lo de “Apedeuta”. Foi uma grita geral. Seria “preconceito” de minha parte. Outro dia, alguém me mandou um pensamento — mau pensamento — de um humorista, segundo o qual é sempre lícito fazer piada tendo como alvo o opressor, mas nunca o oprimido. Talvez ele pense o mesmo sobre a ironia.
É claro que é uma tolice monumental e expressão de ideologia rasteira. Quando menos porque os conceitos de “oprimido” e “opressor” já embutem juízo de valor. Num país com uma população universitária ainda tão pequena, ironizar a escolaridade formal corresponde, acho eu, a fazer o jogo do opressor. Mas sei não ser esse um juízo universal. Fosse você tentar convencer a população de Dresden de que os Aliados eram os libertadores, não os opressores… Não iria colar. A melhor regra para o humor é uma só: ter graça; a melhor regra para a ironia é uma só: descontruir o estabelecido. E fim de papo. Mas volto ao ponto.
Os petistas, no poder há 13 anos, jamais desistiram de exercer o poder da vítima. É muito comum que o sujeito saia por aí gritando “sou oprimido” para que, então, possa ser agressivo, alegando apenas autodefesa.
Mas voltemos o dia
Mas voltemos ao dia. É impressionante que todos nós escrevamos, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que os movimentos sociais também estavam lá, junto com os petistas. E sabem por que estavam? Porque eles não se distinguem do partido, e isso não deveria ser considerado algo normal. Porque, definitivamente, não é. Assim como o partido aparelha o estado, aparelha também a sociedade.
E as ambições de verticalização do PT não reconhecem fronteiras. Antes do ato propriamente, estiveram no Instituto Lula os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa) e Edinho Silva (Comunicação Social). É evidente que isso é o fim da picada. As autoridades da República estavam lá, se vergando ao poder daquele que se quer ainda o condestável da República. Tenham paciência!
De resto, tenho a dizer: vai mal o PT! Uma convocação como a que foi feita, com a presença de Lula, para abraçar o tal instituto, recebe 400 pessoas apenas? No lançamento do meu mais recente livro, “Objeções de um Rottweiler Amororo” (Editora Três Estrelas), reuni 1.200 na Livraria Cultura. Não quero competir com Lula, claro! É que, no congresso do PT, ele me chamou de “blogueiro falastrão”.
O ex-presidente falastrão, definitivamente, não vive um bom momento.
Por Reinaldo Azevedo
Valentina de Botas: O panelaço: algumas notas
Apocalipse agora
O PT fez um programa pago com os impostos de todos os brasileiros para ameaçar 71% deles. Nada mal para quem se acanalha ainda mais quando está apavorado e a súcia, rebaixando a história da política brasileira à sarjeta, avisou que ou pagamos quietinhos a conta cada vez mais alta ou virá o apocalipse. Ora, pagaremos a conta de qualquer jeito, já estamos pagando, e ela será tanto mais alta quanto mais tempo o PT continuar no governo. Comparsas na cadeia e outros a caminho, o partido arruinado e sem futuro, o governo se desfazendo pela base: ei, PT, o apocalipse é agora e é teu.
Juízo, oposição
O PT se dissolve e Rui Falcão, alucinado, delirante, patético, sabe que precisa fazer alguma coisa, mas o que será, João Santana? O marqueteiro também não sabe, prova o programa sórdido e sem nexo do PT. Juízo, oposição? O PT, na oposição, votou contra tudo que poderia favorecer o país, da Constituição à Lei de Responsabilidade Fiscal, passando pelo Real. Bradou o “fora Sarney”, “fora Collor” e “fora FHC”. Afinal, como chegar ao poder com essa gente de direita jogando o jogo burguês da democracia? O passado dessa organização criminosa prova que ela não presta nem para ser oposição, pois faz do projeto dela de chegar ao poder e nele permanecer o crivo do mundo. O PT tem de ser banido do cenário da política brasileira porque não cumpre o básico do jogo democrático: não joga, só trapaceia. Ah, mas ele representa o pensamento de certa faixa do eleitorado, diria alguém com o juízo de quem vê representantes em ladrões. O PT não é pensamento, é lixo. Ah, mas quanto ódio, diria alguém com o juízo de Rui Falcão. Sim, e nojo também; mas um ódio sereno, estanque, lógico: com juízo.
Dilma aguenta pressões
A gerentíssima não aguentou as pressões de um empreendimento complexo como uma loja de R$1,99: faliu a birosca. Mas Dilma suporta a pressão no governo, afinal a coisa fica mansa com cartão corporativo, um país inteiro pagando as contas dela e dos comparsas, a pressão é distribuída entre nós que trabalhamos quatro meses para bancar o leviatã oligofrênico com um governo vigarista dentro. E em troca, temos…
Panelas cheias
Cheias de indignação. O PT acabou.
(por VALENTINA DE BOTAS)
‘Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu’, afirma Dilma
Na VEJA.com:
Presidente mais impopular da história, Dilma Rousseff fez nesta sexta-feira mais um esforço para implementar a agenda positiva e tentar afastar a crise política – mas o fantasma do impeachment assombrou o discurso da petista. Dilma afirmou, em cerimônia de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida em Boa Vista (RR), que “aguenta pressão, que aguenta ameaças”, que já passou por momentos muito mais difíceis do que os atuais e que a democracia tem que ser respeitada. “Voto é a fonte da minha legitimidade e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu”, afirmou. “Podem ter certeza que, além de respeitar, eu honrarei o voto que me deram”, completou.
Lembrando que já viveu na época da ditadura, Dilma disse que o Brasil hoje é uma democracia que respeita a eleição direta pelo voto popular. “E eu respeito a democracia, sei o que é viver numa ditadura”, afirmou. Ao dizer que aguenta ameaças, Dilma contou que já sofreu esse tipo de pressão contra a própria vida.
Em movimento contrário ao adotado pelo PT – inclusive no programa do partido exibido na noite desta quinta -, a presidente reconheceu a crise política e garantiu que trabalhará “incansavelmente” para assegurar a estabilidade política do país e disse que é preciso ter respeito entre os três Poderes. “Me dedicarei com grande empenho a isso”, disse. “Me dedicarei dia e noite, hora por hora, para garantir que o país saia o mais rápido possível das suas dificuldades”, completou. Ao reconhecer que o Brasil passa por dificuldades e que ainda há muito a ser feito, Dilma disse que “somos hoje país mais forte, mais robusto”.
MCMV 3 – Dilma aproveitou a cerimônia de entrega de 747 unidades do programa Minha Casa, Minha Vida em Boa Vista (RR) para reafirmar ” a boa notícia” de que lançará a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida no dia 10 de setembro. “Vamos lançar no dia 10 de setembro. Três dias depois do dia da pátria”, disse. Essa é, porém, a quinta vez que a presidente coloca uma data para tirar a terceira fase do programa do papel.
Durante o evento, Dilma destacou a importância de investimentos do governo no Estado e afirmou que considera “um grande desafio” tornar Roraima “um símbolo” na região Norte. A presidente destacou que é preciso aproveitar características naturais do Estado como a luminosidade para investir em energia solar. “Aqui (nas unidades do MCMV) tem esse aquecimento. E a vantagem é pagar menos tarifa de energia elétrica”, afirmou.
Por Reinaldo Azevedo
Seja como for, presidente, não será no berro!
A presidente Dilma Rousseff precisa esquecer a ditadura porque a ditadura já esqueceu Dilma Rousseff. Não tivesse esquecido, ela não ocuparia o cargo que ocupa.
Diz ela que ninguém vai lhe tirar a legitimidade. É? Não existe uma legitimidade na democracia que se confronte com a legalidade ou que a exclua. O contrário, vá lá, pode até ser possível como especulação teórica.
Digamos que nada houvesse contra Dilma no terreno legal, ainda que 100% dos brasileiros a quisessem fora do governo. A legitimidade já teria ido para o vinagre, convenham. Mas restaria hígido o seu mandato.
Não é o caso.
Legitimidade não se mantém no berro. É preciso que seja reconhecida. Ninguém é legítimo numa determinada demanda se não é reconhecido como tal por aqueles que estarão submetidos às consequências dessa legitimidade.
Já a legalidade diz respeito àquilo que vai nos códigos. Maiorias de ocasião não fazem as leis, certo? Nem minorias barulhentas.
Seja com for, presidente, não será no berro.
Por Reinaldo Azevedo
Temer fora da coordenação? Só se for para assumir a Presidência
Não sei se Michel Temer, vice-presidente e coordenador político do governo, realmente deixou Dilma à vontade para lhe tomar de volta o cargo, mas, sinceramente, não creio. Isso, sim, seria dar aquele empurrãozinho na presidente, já à beira do abismo.
Se, hoje, existe algum núcleo em torno do qual pode se estruturar um governo na hipótese de Dilma ficar — a pior para o Brasil —, todos sabem que Temer é o nome. Um processo de impeachment que possa colher apenas a presidente trará o vice como o substituto constitucional. Se o TSE impugnar a chapa, bem, aí teremos eleições. Simples, não?
Desde quando Dilma escolheu Temer para a coordenação política, sabia-se que essa seria uma demissão impossível, a não ser com o rompimento formal do PMDB com o governo.
Por um bom tempo, creio, Temer só deixará a coordenação se for para assumir a… Presidência.
Por Reinaldo Azevedo
Os 400 de Lula e a República de Banânia. No lançamento do meu livro, reuni o triplo…
Um dia depois de ter ido ao ar o programa do PT que ameaça o país com o abismo, o golpe e o caos caso Dilma deixe a Presidência — é a isso, creio, que chamam lá de “crise política” —, “petistas e representantes de movimentos sociais”, escrevem os sites noticiosos, organizaram em frente ao Instituto Lula um “protesto contra a intolerância”.
É mesmo? Contra a intolerância de quem? Seria contra a determinação com que petistas perseguem seus adversários nas redes sociais, agredindo-os verbalmente, trolando-os, mosletando-os, a exemplo do que fazia até outro dia — faz ainda? — o ator José de Abreu? Quem chama um notório “hater” para conduzir seu programa de TV não pode falar em “tolerância”.
O pretexto do encontro foi protestar contra a bomba caseira jogada há dias na calçada do Instituto Lula, ato criminoso, sim, cuja natureza não se conhece. Os intolerantes do petismo, no entanto, a começar da presidente da República, resolveram associar o episódio ao antipetismo que está nas ruas e em toda parte.
Atenção! É tão legítimo ser antipetista como é legítimo ser antitucano — ou isso não existe aos montes por aí? Quando militantes e simpatizantes do PSDB eram, e são ainda, tachados de “coxinhas” e de “reaças”, vocês viram alguém gritar “preconceito”? Será que o tal “preconceito” só existe quando o alvo do protesto são os companheiros?
Ah, esse debate conheço bem. Ao longo dos oito anos de mandato de FHC, eu o vi ser ironizado muitas vezes porque intelectual, porque sociólogo, porque professor da Sorbonne, porque… inteligente! Características inequivocamente positivas foram transformadas por Lula e pelo PT em máculas.
E nada disso parecia preconceito. Quando Lula foi eleito, fiz uma caricatura de seu notório anti-intelectualismo e passei a chamá-lo de “Apedeuta”. Foi uma grita geral. Seria “preconceito” de minha parte. Outro dia, alguém me mandou um pensamento — mau pensamento — de um humorista, segundo o qual é sempre lícito fazer piada tendo como alvo o opressor, mas nunca o oprimido. Talvez ele pense o mesmo sobre a ironia.
É claro que é uma tolice monumental e expressão de ideologia rasteira. Quando menos porque os conceitos de “oprimido” e “opressor” já embutem juízo de valor. Num país com uma população universitária ainda tão pequena, ironizar a escolaridade formal corresponde, acho eu, a fazer o jogo do opressor. Mas sei não ser esse um juízo universal. Fosse você tentar convencer a população de Dresden de que os Aliados eram os libertadores, não os opressores… Não iria colar. A melhor regra para o humor é uma só: ter graça; a melhor regra para a ironia é uma só: descontruir o estabelecido. E fim de papo. Mas volto ao ponto.
Os petistas, no poder há 13 anos, jamais desistiram de exercer o poder da vítima. É muito comum que o sujeito saia por aí gritando “sou oprimido” para que, então, possa ser agressivo, alegando apenas autodefesa.
Mas voltemos o dia
Mas voltemos ao dia. É impressionante que todos nós escrevamos, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que os movimentos sociais também estavam lá, junto com os petistas. E sabem por que estavam? Porque eles não se distinguem do partido, e isso não deveria ser considerado algo normal. Porque, definitivamente, não é. Assim como o partido aparelha o estado, aparelha também a sociedade.
E as ambições de verticalização do PT não reconhecem fronteiras. Antes do ato propriamente, estiveram no Instituto Lula os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa) e Edinho Silva (Comunicação Social). É evidente que isso é o fim da picada. As autoridades da República estavam lá, se vergando ao poder daquele que se quer ainda o condestável da República. Tenham paciência!
De resto, tenho a dizer: vai mal o PT! Uma convocação como a que foi feita, com a presença de Lula, para abraçar o tal instituto, recebe 400 pessoas apenas? No lançamento do meu mais recente livro, “Objeções de um Rottweiler Amororo” (Editora Três Estrelas), reuni 1.200 na Livraria Cultura. Não quero competir com Lula, claro! É que, no congresso do PT, ele me chamou de “blogueiro falastrão”.
O ex-presidente falastrão, definitivamente, não vive um bom momento.
Por Reinaldo Azevedo
A missa negra celebrada para salvar o moribundo apressou a extrema-unção
O dia e a hora da encenação, o elenco bisonho, o roteiro mambembe, o mestre-de-cerimônias repulsivo, a arrogância dos parteiros da obra – tinha tudo para dar errado o programa partidário de 10 minutos exibido pelo PT na noite desta quinta-feira. E deu. Mas o que se viu superou as previsões mais catastróficas do mais radical antipetista.
As agressões ao Brasil indignado começaram com a entrada em cena de José de Abreu. Cicerone do passeio pelo lixão do PT, o rei de lixão de novela puxou o desfile de ameaças e insinuações belicosas. “O caminho do pessimismo nos leva a lugares bem sombrios e o alçapão mais perigoso é o que nos lança no conflito, com final sempre trágico para todos”.
Um porta-voz do bloco da barba abriu o cortejo de figurantes escalados para recitar cretinices sobre coisas que ignoram. “Durante seis anos, os governos do PT conseguiram retardar a chegada da crise econômica no (sic) Brasil”, mentiu. “Hoje o país vive problemas passageiros em (sic) economia”, mentiu a representante da elite branca. “E tem gente tentando se aproveitar disso para criar uma crise política”, mentiu o terceiro destaque do grupo de jovens robotizados.
O espetáculo do cinismo estava quase na metade quando irrompeu o bordão ilustrado por imagens de políticos oposicionistas: “Não se deixe enganar por aqueles que só pensam em si mesmos”. E então chegou a vez da trinca de protagonistas. Cada vez mais parecido com um agente funerário que furta o relógio do defunto, Rui Falcão invadiu a tela para repetir a tapeação do momento.
“Tem gente dizendo que só existe crise no Brasil, mas as manchetes provam que há crise em toda a parte”, mentiu o presidente do PT, amparado por dois recortes de jornal. O primeiro noticiava um soluço na bolsa de valores da China, cujo PIB vai crescer além de 6% neste ano. O segundo tratava do agravamento da crise da Grécia, uma espécie de Brasil da Europa.
Além de gregos e brasileiros, só estão aflitos com crises os russos e os venezuelanos. O resto do mundo está muito melhor que o paraíso tropical castigado pela alta da inflação, pela ampliação do desemprego e pela paralisia nos investimentos, fora o resto. Nada disso foi mencionado no programa, que também contornou cuidadosamente a corrupção de dimensões amazônicas, a segunda prisão de José Dirceu ou a destruição da Petrobras.
“Eu sei que a crise já chegou na nossa casa”, fingiu condoer-se Lula já na primeira linha do palavrório. (Não na dele: o chefão de tudo não sabe o que é problema financeiro desde que virou gigolô de empreiteira). Mas tudo vai melhorar, prometeu o mágico de picadeiro que não para de pensar “naqueles que mais precisam”. (O tempo que sobra é consumido na proteção a parentes e amigos multimilionários, como o filhote Lulinha ou os quadrilheiros do Petrolão).
A Ópera dos Malandros foi encerrada por Dilma Rousseff: “Quem pensa que nos falta (sic) ideias está muito enganado”, gabou-se a recordista de impopularidade sem apresentar uma única ideia. Ao som da lira do delírio, os idiotas no poder despediram-se dos espectadores zombando dos 71% de brasileiros exaustos de ladroagem e incompetência. Em vez de pedir desculpas ao país que presta, o exército brancaleônico preferiu chamar para a briga a imensidão de descontentes.
O maior panelaço da história do Brasil foi o ensaio geral para o resposta dos afrontados, que virá em 16 de agosto. A missa negra celebrada para salvar o governo moribundo apressou a extrema-unção. A data do enterro será determinada pelo povo nas ruas.
(por Augusto Nunes)
Lula deixou governo com popularidade em alta, mas hoje lamenta não poder ir a restaurante “nem em São Bernardo”
Num encontro no mês passado com senadores em Brasília, Lula desabafou, desolado, sobre o clima de ódio contra o PT.
Relatou que deixou a Presidência com uma aprovação nas alturas, mas que hoje não tem mais condições de ir com a mulher a nenhum restaurante do país – “nem em São Bernardo”, ressaltou.
Por Lauro Jardim
Tati Bernardi começa a se curar do petismo. Mas ainda falta
“Mas de uns dois anos pra cá, minha família fez como a Marta: me abandonou, pegou horror ao partido.”
Tati ficou “sozinha nessa”.
“Perdi uma quantidade enorme de amigos (que nunca fiz) quando comemorei a reeleição da Dilma. Tudo bem que fui meio sem noção e escrevi ‘Chupa Itaim’ e ‘pega no meu pau Vila Nova Conceição’ no Facebook. Muitos outros, esses sim importantes, me deram apenas ‘hide’ e avisaram por inbox: ‘Quando você se curar dessa doença maligna chamada ignorância política, voltamos a falar’.”
Tati então reconhece:
“Não se ‘cura’ com facilidade algo que se aprendeu a amar na infância.”
Essa é a frase terapêutica de seu texto, embora ela narre sua dificuldade em abandonar a ‘doença maligna’:
“Sigo me agarrando aos poucos amigos que acreditam. Lendo os poucos articulistas que acreditam. Pedindo a um amigo que trabalha com o Haddad que me coloque em contato com ele, pra que eu possa conversar mais, entender mais, e não perder a fé. Mas a cada dia, um bom combatente entrega os pontos. Ligo para um colega escritor intelectual de esquerda e ele me aconselha: ‘Não escreve sobre isso não, tá feia a coisa, eu não acredito mais’.”
Vem então o final apoteótico que justifica o título:
“Está cada dia mais difícil responder ‘mas tanto foi feito pelos pobres’ a cada 765 motivos para deixar de ser petista.
Zé Dirceu armou o maior esquema de propina da história e mesmo depois de ser pego, armou de novo! Mas tanto foi feito pelos pobres!
Os discursos da Dilma nunca falam com clareza sobre pedaladas fiscais e Petrolão! Mas tanto foi feito pelos pobres!
Daí tento ‘mas nunca em um governo se colocou tanto bandido na cadeia! É a democracia!’. Mas Dilma foi uma péssima gestora, olha como está o dólar, a inflação, o desemprego, os cortes na educação, na saúde, na grana dos aposentados!
Mas nunca em um governo se colocou tanto bandido… Mas os bandidos estavam mancomunados com o PT ou, em grande parte, ERAM do PT.
Mas nunca em… É… Veja bem… Que tristeza tudo isso.”
Tudo isso é mesmo uma tristeza.
Mas, individualmente, a maior delas é a fé cega com que se abraça uma causa por pura contaminação do ambiente familiar - a ponto de só ameaçar deixá-la depois que os pais já se desiludiram.
Tati é uma escritora: não lhe faltaram os meios de estudar o petismo para além daquilo que ouvia em casa ou era compartilhado por intelectuais com o pensamento semelhante ao de seus pais, a cujos textos ela ainda recorre como quem se agarra às últimas ilusões de sua infância.
Nada do que está acontecendo hoje é uma surpresa para quem estudou a obra de autores conservadores estrangeiros e nacionais ou simplesmente críticos do PT, embora militantes petistas incuráveis como Luis Fernando Verissimo ainda legitimem moralmente os atos de José Dirceu e esquerdistas como Zuenir Ventura lamentem como desvio o que sempre lhe foi um projeto criminoso de poder.
Eu reconheço o esforço moral e psicológico necessário para se curar do provincianismo mental estimulado pela esquerda e organizei um livro exatamente sobre isso, chamado O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
Mas o esforço aparente de pessoas confrontadas pelos fatos, como Tati, será em vão se não trocarem a pergunta “Como continuar petista?” pelas questões:
“Por que eu me deixei enganar por tanto tempo?” e “O que eu posso fazer para recuperar mais depressa o tempo perdido?”.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil