Bresser-Pereira achava que dólar a R$ 2,70 era caminho para país crescer (por RODRIGO CONSTANTINO)
Bresser-Pereira achava que dólar a R$ 2,70 era caminho para país crescer
Ninguém sério leva mais a sério certos economistas. É que seu histórico de erros beira os 100%. O único problema é que esse histórico ainda não chegou aos jornalistas de economia, que insistem em entrevistar os mesmos dinossauros de sempre sobre sua visão para o futuro, como se o passado não existisse. Há um grande silêncio sobre seus erros constantes e absurdos. Não há nenhum tipo de cobrança por parte da imprensa em relação aos seus prognósticos anteriores. Isso é conivência ideológica, cumplicidade.
Alguns nomes vêm à mente, como Maria de Conceição Tavares, Belluzzo, Delfim Netto e Bresser-Pereira. Esse último chegou a escrever artigos no maior jornal do Brasil defendendo o modelo argentino e tecendo elogios até mesmo para a Venezuela, mergulhada hoje em situação de calamidade total. Mas podem esperar: já já alguma matéria de jornal ou entrevista na TV vai citar a opinião do “especialista”, como se ela importasse.
Vejam o que Bresser-Pereira dizia, por exemplo, sobre a taxa de câmbio: que se o dólar atingisse o patamar de R$ 2,70, nossa economia poderia crescer 5% ao ano. Disse isso em 2012:
Já expliquei aqui o absurdo dessa visão desenvolvimentista, de que basta mexer no sintoma, desvalorizar artificialmente a taxa de câmbio, para o país entrar numa trajetória de crescimento sustentável. Pura falácia econômica. E agora isso fica mais claro para todos. O dólar passou de R$ 3,50 hoje! Aqueles R$ 2,70 almejados por Bresser-Pereira ficaram num passado distante, numa época em que o Brasil ainda não tinha afundado. Os sonhos do economista foram realizados. Mas isso é o pesadelo do país!
Em vez de crescer 5% de forma sustentável, estamos numa baita recessão e o PIB deve cair mais de 2% esse ano, mesmo com uma inflação de quase 10%. Caos total, desgraça como resultado justamente do desenvolvimentismo, da “nova matriz macroeconômica”. Mas como a burrice tem, no Brasil, um passado glorioso e um futuro promissor, como dizia Roberto Campos, os jornalistas vão continuar ouvindo os mesmos “especialistas” de sempre, e eles vão continuar dando suas mesmas receitas furadas. Se ao menos o dólar for para R$ 4,70…
Rodrigo Constantino
Desvalorização da moeda ajuda o país: mais um mito desenvolvimentista que cairá (novamente)
Os desenvolvimentistas são aqueles que acham que podem manipular sintomas à vontade como solução para a doença, ou seja, são como “médicos” que acreditam que basta quebrar o termômetro para curar a febre do doente. Por isso costumam defender atrocidades como o governo marretar artificialmente a taxa de juros para baixo, ou então mexer na moeda para incentivar nossas exportações. Essa, aliás, tem sido a desculpa de muitos deles para a nossa crise: defenderam a “nova matriz macroeconômica” da Dilma, deu tudo errado, claro, e agora alegam que o câmbio estava valorizado demais. Eis o problema!
Vão quebrar a cara, uma vez mais. Cuidado com aquilo que desejam, diz o ditado, tão ignorado por esses economistas. Em primeiro lugar, vale lembrar que o então ministro Guido Mantega, para manter seu histórico de 100% de erro, avisou que iria quebrar a cara quem apostasse na alta do dólar. Isso era outubro de 2014, e a moeda americana valia algo como R$ 2,40. Bons tempos! Já eu, na mesma época, avisei que a vitória de Dilma iria levar o dólar para cima de R$ 3, e que era bom levar logo o filho para a Disney. Ficou claro quem estava certo.
Mas agora que o câmbio disparou de vez, batendo quase nos R$ 3,50 e, segundo analistas, podendo ir logo para R$ 3,70, vamos poder julgar o prognóstico dos desenvolvimentistas que pediam uma desvalorização como instrumento de ajuda à economia. Eles acham que basta manipular o preço da moeda para o país ganhar “competitividade”, ignorando que não se muda os problemas estruturais num passe de mágica.
O Brasil não vai sair da crise graças à desvalorização do real. Isso vai ajudar alguns setores exportadores, claro, mas por outro lado vai gerar mais inflação (insumos importados) e punir a classe média. O que resolveria nossa crise são reformas liberais estruturais, que reduzissem o Custo Brasil de fato e, com isso, aumentassem nossa produtividade. Mas esse caminho dá muito trabalho e reduz o poder do governo de intervir na economia, tudo que os desenvolvimentistas mais abominam. Eles preferem atacar sintomas, nunca as causas.
O dólar deve mesmo chegar aos R$ 3,70 ainda esse ano. Mas isso não vai resolver nada. Mais uma falácia desenvolvimentista será exposta. O problema é que essa turma da Unicamp nunca aprende…
Rodrigo Constantino
Único pacto aceitável é por novo Plano Real na política fiscal, e com o PT fora do poder!
Michel Temer fala em unir o país, em um pacto pelo Brasil. Aloizio Mercadante vai na mesma linha, e pede um pacto pelo país, incluindo a oposição. Mas eis o único pacto aceitável no momento: uma união em prol do combate aos problemas estruturais de déficit fiscal, visando o longo prazo; e a saída do PT do poder, como única medida aceitável no curto prazo. Com o PT não tem mais conversa, não tem “pacto”. Mas é verdade que nossos problemas não se resumem “apenas” ao PT.
Os economistas Samuel Pessôa, Marcos Lisboa e Mansueto Almeida escreveram um paper que já ficou famoso sobre o “ajuste inevitável”. O jornalista Guilherme Fiuza disse, em sua coluna no GLOBO, que os petistas não poderiam contar com ajuda melhor, ironicamente vinda de economistas ligados, histórica e ideologicamente, aos tucanos. Afinal, o argumento deles é de que nossos problemas vêm de antes do PT, são estruturais, e que o PT os agravou com a “nova matriz macroeconômica”.
Eles responderam em novo artigo no GLOBO, rindo da acusação de serem petistas empedernidos (não são). Mas será que Fiuza não tem um ponto razoável? O que penso dessa “disputa”? Sem querer parecer um tucano, coisa que não sou, diria que ambos os lados têm razão. Fiuza está certo em pontuar que é música para os ouvidos golpistas do PT que nossos problemas vêm de antes, que não foram criados pelo partido. Mas os economistas não mentem quando dizem que há, sim, vários problemas estruturais, desde a Constituição, e que precisamos de um novo “pacto fiscal”.
É o tema do artigo de Paulo Rabello de Castro hoje no GLOBO também, outro economista sério. Para Paulo, precisamos urgentemente de um Plano Real na área fiscal, pois nosso “manicômio tributário” está inviabilizando o país. Na mesma linha do que foi defendido pelo editorial do GLOBO nessa quarta. Nossa carga tributária saiu de 25% para 35% do PIB, e o governo só faz aumentar gastos. O gasto não financeiro do governo federal saltou, de 1991 a 2014, de 11% a 20% do PIB. Rabello de Castro resume o que precisamos:
Um plano para atacar a essência do desequilíbrio orçamentário deve conter, no caso brasileiro, três componentes básicos: um programa emergencial, de impacto imediato, para limitar despesas correntes por uma regra estabelecida em lei; um programa estrutural, que reformará o funcionamento da máquina pública de alto a baixo, produzindo economias de quase R$ 300 bilhões, embora de modo gradual; e um programa financeiro, de modo a rever a composição e o custo de rolagem da dívida pública, que hoje produz um gasto estéril superior a 7% do PIB, em completo desalinho com a experiência de outros países, inclusive os muito endividados. Esse programa de três vetores de ação se complementará com a realocação e eventual desmobilização de ativos estatais, cujos recursos extraordinários, daí advindos, lastrearão o futuro fundo do INSS dos trabalhadores, numa ampla reforma trabalhista e previdenciária.
A forma de dar razão tanto a Fiuza como aos três especialistas em contas públicas é dividir os horizontes analisados. Sim, o Brasil tem problemas fiscais que não vão desaparecer se o PT sair do poder. Supondo que os tucanos assumam o governo, reformas estruturais de viés liberal serão necessárias, mesmo com um partido de esquerda no poder. Os gastos do governo não cabem no PIB. A Previdência Social precisa ser reformada para ontem. O Brasil precisa, sim, de um novo “pacto social” que redefina o papel do estado na economia, reduzindo drasticamente seu escopo.
Dito isso, claro que o PT pirou, e muito, a situação. A crise severa que estamos vivendo hoje tem todas as impressões digitais do governo petista. Intervencionismo nos setores importantes, suspensão dos leilões de concessão por motivos ideológicos, Mercosul como camisa de força ideológica também, roubalheira, preços represados, aumento extra de gastos de forma irresponsável, aumento de crédito público, BNDES fazendo seleção dos “campões nacionais”, “nova matriz macroeconômica”, Banco Central subserviente ao Planalto etc.
Ou seja, não fosse o PT, o Brasil não estaria nessa grave crise de hoje. Isso é fato, e precisa ser dito, repetido, com megafone e tudo. Fiuza tem esse ponto. Os três economistas, talvez por falta de tato político, prestam um desserviço ao país quando atenuam a responsabilidade do PT no estrago todo. Se não fosse o PT, porém, o Brasil ainda teria problemas sérios que deveriam ser sanados, sob risco de implodir à frente. Ou seja, para resumir: o PT encurtou muito o tempo de encontro nosso com a dura realidade.
Por isso minha conclusão: no curto prazo, o Brasil precisa de um pacto, mais político do que econômico, que envolve tirar o PT do poder, pois com esse partido não há chance de mudarmos de verdade na direção correta. No longo prazo, precisamos de um novo pacto social e econômico, com cores liberais, que reduza o escopo do estado na economia, retome o processo de privatizações, reforme a Previdência, as leis trabalhistas, a carga tributária etc. Um pacto liberal, já que o liberalismo, responsável pela criação de riqueza no mundo todo, nunca nos deu o ar de sua graça!
Rodrigo Constantino
Irmão de Dirceu diz que ele recebeu doações das empreiteiras doações, e não propinas (por Josias de Souza, do UOL)
Irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva prestou depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (6). Disse que, depois que foi condenado e preso no caso do mensalão, Dirceu recebeu de empreiteiras envolvidas na Lava Jato “doações”, não propinas. Roberto Podval, advogado do ex-chefão da Casa Civil de Lula, explicou que seu cliente “passava por necessidades”. Não é um personagem “dinheirista”, mas precisa sobreviver.
Operação Lava Jato da PF206 fotos
204 / 206De acordo com os dados colecionados pela força-tarefa da Lava Jato, a consultoria de Dirceu amealhou entre 2009 e 2014 R$ 29,3 milhões. Desse total, pelo menos R$ 8,6 milhões vieram de empreiteiras fisgadas na Lava Jato. Empresas como a OAS e a UTC continuaram borrifando verbas na caixa registradora do escritório de Dirceu mesmo depois que ele foi condenado e preso, em novembro de 2013.
O inusitado chamou a atenção dos investigadores e do juiz da Lava jato, Sérgio Moro. Na ordem de prisão que expediu contra Dirceu, o magistrado anotou: “…Não é crível que José Dirceu, condenado por corrupção pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, fosse procurado para prestar serviços de consultoria e intermediação de negócios após 17/12/2012 e inclusive após a sua prisão.”
Moro acrescentou: “Em realidade, parece pouco crível que [Dirceu] fosse procurado até mesmo antes, pelo menos a partir do início do julgamento da Ação Penal 470 pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em meados de 2012.
Para Moro, esse tipo de pagamento indica que o objetivo não era o de remunerar uma consultoria ou a intermediação de negócios reais. Buscavam-se “acertos de propinas pendentes por contratos das empreiteiras com a Petrobrás, como admitiu, expressamente, Milton Pascowitch em relação aos contratos da Engevix”, anotou o juiz, referindo-se a um dos delatores cujos depoimentos devolveram Dirceu à prisão.
O doutor Podval, que acompanhou o depoimento do irmão de Dirceu, disse que a JD Consultoria teve os contratos rescindidos depois da prisão de Dirceu. Nessa versão, o irmão Luiz Eduardo não tinha dinheiro “nem para fechar” o escritório.
O advogado repisou: “Ele não pediu propina, ele pediu ajuda. Ele estava em uma situação financeira ruim e pediu ajuda para pessoas com quem já tinha trabalhado. Por isso que houve recebimento quando o Zé [Dirceu] não trabalhava.”
Para Podval, Dirceu e o irmão não fizeram nada ilegal. Ele diz que, excetuando-se os casos em que o dinheiro entrou na forma de “doação”, a JD prestou serviços efetivos de consultoria.
Vale a pena ouvir o advogado: “Vocês podem fazer a crítica que quiser, mas o Zé não é dinheirista. Você vê um delator devolvendo R$ 249 milhões, e o Zé está com o irmão pedindo dinheiro para sobreviver. Aí ele é o chefe da quadrilha? Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Se o chefe da quadrilha precisa pedir dinheiro e o subalterno está devolvendo R$ 249 milhões, esse mundo está maluco.”
Dirceu deve ser inquirido pelos federais na semana que vem. A hipótese de tornar-se um delator, disse Podval, é nula. Ele “morre na cadeia antes de fazer uma delação premiada”. O doutor enalteceu seu cliente: “É só conhecer o Zé. Ele não é um homem que busca enriquecer, ele não é um homem que admite, por sua estrutura e história, fazer uma delação.”
Graças à linha de defesa adotada pelo irmão de Dirceu, o Brasil ficou sabendo da existência de um ser fantástico, jamais visto: o empreiteiro generoso. Uma alma benemérita. Do tipo que doa dinheiro para presidiário. Por pura e casta benemerência.