Mercado já prevê inflação acima do dobro do centro da meta: 9,12%. Que beleza, hein, Dilma? (por REINALDO AZEVEDO)
Mercado já prevê inflação acima do dobro do centro da meta: 9,12%. Que beleza, hein, Dilma?
O mercado financeiro voltou nesta segunda-feira a aumentar a estimativa da inflação para 2015, desta vez de 9,04% para 9,12%. Esta é a 13ª semana consecutiva em que a projeção é ajustada para cima. Com isso, consolida-se a perspectiva de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassará a barreira dos 9% neste ano, muito acima do teto da meta, de 6,5%, e mais longe ainda do centro dela, de 4,5%.
As informações constam do boletim Focus, que é divulgado semanalmente pelo Banco Central e é produzido a partir das estimativas de mais de cem instituições financeiras.
Para o próximo ano, o mercado, no entanto, voltou a apostar em uma ligeira redução da taxa de inflação de 5,45% para 5,44%. Uma das razões que fundamentaram essa expectativa é a projeção de aumento na taxa básica de juros (a Selic) de 12,06% para 12,25% em 2016. Para este ano, a previsão da Selic permaneceu em 14,50% como estava na semana passada.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), os analistas mantiveram a perspectiva de queda de 1,50%. Se ela for concretizada, será o pior desempenho da economia brasileira desde 1990, quando foi verificada retração de 4,35%.
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA subiu 0,79% em junho, atingindo a casa dos 6,17% no primeiro semestre – o maior porcentual em doze anos. Segundo o instituto, o preço da conta de luz e dos alimentos foram os grandes responsáveis pela escalada da inflação.
Por Reinaldo Azevedo
Acusar de “golpe” a eventual deposição de Dilma, segundo a lei, é conversa de criminosos e de defensores voluntários ou involuntários do crime. Ou: Elio Gaspari mistura alhos com bugalhos e oferece bugalho como se alho fosse
Não tem jeito. Os esquerdistas são os primeiros a admitir, na prática, que suas teses são íntimas do crime. Ou, dito de outro modo, que a realização de seus objetivos não dispensa a ação criminosa. Ou expresso ainda de maneira diversa: que o mal praticado em nome dos seus princípios virtudes são, e não defeitos. Não fosse assim, essa conversa asquerosa, indecorosa mesmo, sobre se é golpista ou não pregar a deposição de Dilma não seria nem sequer esboçada, absurda que é por sua própria natureza.
E, neste ponto, paro para tratar de um erro severo cometido por um jornalista que de esquerda nunca foi, o que evidencia que o equívoco não é monopólio de camaradas e companheiros. Uma colega me censurou numa conversa amistosa na sexta: “Você não deveria divergir de outros jornalistas em seus textos; basta que você exponha o seu ponto de vista. Os leitores e ouvintes farão seu próprio juízo”. Era uma advertência de quem tem afeto por mim, não o contrário. Quando divirjo deste ou daquele, nem sempre desperto simpatias.
Entendo as razões dessa minha amiga, mas não concordo. Jornalistas também podem e devem ser nominados, especialmente quando se trata de uma divergência respeitosa. Vamos lá. Em sua coluna publicada na Folha e no Globo neste domingo, Elio Gaspari elenca 10 momentos de crise na história do Brasil e convida o leitor a opinar se houve ou não ação golpista: 1969, 1968, 1964, 1961, 1955, 1945, 1937, 1930, 1891 e 1889. As datas aparecem na mesma sequência de sua coluna.
Não vou entrar em detalhes porque este post não teria fim. Se eu tivesse de votar, diria, sem pestanejar, que o desfecho de todos esses casos foi golpista. A propósito: quem inventou o “golpe do bem” de 1889, 1930, 1945 ou 1955 foi a historiografia marxista. Eu, por exemplo, não reconheço essa categoria. Mas avanço.
É sintomático que Gaspari não tenha incluído em sua lista de datas o ano de 1992, que marca a deposição de Fernando Collor de Mello, a única situação que guarda similaridade com a atual. Por que não se especula se, naquele caso, houve ou não, afinal de contas, um golpe parlamentar?
Se Gaspari quer que a história possa, de algum modo, ser instrutiva e se acha que as comparações podem iluminar o presente, então é preciso comparar alho com alho, bugalho com bugalho. Misturar alhos e bugalhos só obscurece a inteligência. A exemplo do que se vê agora, em 1992, amplos setores da sociedade repudiavam um governo que, ao lado dos desastres que perpetrava na economia e na administração, via-se cercado de casos de corrupção. Mais: evidenciou-se que a sua legitimidade estava ferida porque o próprio processo que o elegeu deitava raízes na corrupção e no malfeito.
O que 2015 tem a ver com cada uma das dez datas elencadas por Gaspari além de nada? Eu o desafio a demonstrar por que vivemos uma realidade tão distinta de 1992. E, parece-me, ele não saberia me dizer onde está a diferença, a menos que aderisse, e agora volto para o ponto inicial do meu texto, à tese de que os crimes, quando cometidos por esquerdistas, são naturalmente virtuosos.
O partido
É nauseante que petistas e afins venham agora defender o mandato de Dilma em nome das urnas, como se uma eleição conferisse ao governante o direito de agredir as instituições que conferem legalidade e legitimidade a seu mandato. Urna não é tribunal de absolvição, não. Ao contrário: a mesma lei que elege também aponta os caminhos da deposição. E Dilma pode, sim, ser deposta segundo o arcabouço legal. Golpe seria rasgá-lo para mantê-la no cargo.
Onde estavam, em 1992, as vozes que hoje gritam “golpe!” quando se fala no impeachment de Dilma? E ainda bem que não se manifestaram então, porque estariam mesmo erradas. Aquele presidente perdeu a legitimidade à medida que ficou claro que a sua corte havia se enterrado na ilegalidade para elegê-lo e para consolidar o seu poder.
Ou alguém tentará me convencer de que era inaceitável acusar a deposição de Collor de “golpe!” porque ele era só um representante do conservadorismo rastaquera, que nem expressão partidária tinha, mas que é, sim, correto tachar de golpe a eventual deposição de Dilma porque, afinal, ela é de esquerda e pertence ao PT? Então os crimes que legitimaram a cassação do mandato de Collor não podem legitimar a cassação do mandato de Dilma?
É preciso ter memória e vergonha na cara, não é? Uma, eu tenho, porque Deus me deu; a outra é uma escolha. Vocês querem ler a íntegra da denúncia oferecida contra Collor à Câmara? Está aqui. Não pensem que aquela peça apresentava alguma “prova” incontestável contra o então presidente. Nada disso! O que lá se lê é um juízo político. Querem um exemplo? Pois não!
“O impeachment não é uma pena ordinária contra criminosos comuns. É a sanção extrema contra o abuso e a perversão do poder político. Por isso mesmo, pela condição eminente do cargo do denunciado e pela gravidade excepcional dos delitos ora imputados, o processo de impeachment deita raízes nas grandes exigências da ética política e da moral pública, à luz das quais hão ser interpretadas as normas do direito positivo”.
A petição dizia mais — e peço que vocês avaliem se ela serve para Dilma:
“Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a consciência ética popular. O governante eleito que se assenhoreia do poder em seu próprio interesse, ou no de seus amigos e familiares, não pratica apenas atos de corrupção pessoal, de apropriação indébita ou desvio da coisa pública: mais do que isso, ele escarnece e vilipendia a soberania popular”.
E o que lhes parece isto aqui?
“É por essa razão que a melhor tradição política ocidental atribui competência, para o juízo de pronúncia dos acusados de crime de responsabilidade, precisamente ao órgão de representação popular. Representar o povo significa, nos processos de impeachment, interpretar e exprimir o sentido ético dominante, diante dos atos de abuso ou traição da confiança nacional. A suprema prevaricação que podem cometer os representantes do povo, em processos de crime de responsabilidade, consiste em atuar sob pressão de influências espúrias ou para a satisfação de interesses pessoais ou partidários.”
Já sugeri uma vez e o faço de novo. Se e quando as oposições apresentarem uma denúncia contra Dilma à Câmara, sugiro que se copiem exatamente esses termos, que pareceram tão corretos às esquerdas de então e aos colunistas oficialistas que hoje insistem em apontar “golpe” onde há apenas o exercício cristalino da lei.
E a Gaspari sobra uma dica final: é preciso tomar cuidado com a comparação. Pode acontecer de ela não só deixar de iluminar o presente como ainda servir para obscurecer o passado.
Texto publicado originalmente às 3h57
Por Reinaldo Azevedo
Faltam dois dias para o fim da votação na enquete que elegerá a pior entre as piores discurseiras de Dilma em 2015
Na próxima quarta-feira, 15 de julho, será encerrada a votação na enquete que elegerá o pior entre cinco piores palavrórios despejados por Dilma Rousseff em 2015. O vencedor receberá o Troféu Mulher Sapiens. Por enquanto, a disputa é liderada com folga por Saudação à Mandioca.
Os leitores-eleitores que ainda não votaram podem rever os vídeos aqui reproduzidos e apontar seu preferido na enquete abaixo. Ao teclado, amigos!
A cor da bandeira mexicana
Galáxia Rio de Janeiro
Tudo em casa
Conquista do Fogo
Saudação à mandioca
Qual destes cinco discursos de Dilma merece o Troféu Mulher Sapiens?
- A cor da bandeira mexicana
- Galáxia Rio de Janeiro
- Tudo em casa
- Conquista do Fogo
- Saudação à mandioca
Delicadeza & elegância
“Eu não vou pagar pela m**** dos outros. Isso é uma agenda nacional, Cardozo, e você f***u a minha viagem”.
Dilma Rousseff, durante um chilique na biblioteca do Palácio da Alvorada, ao repreender o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por não ter impedido que revelações do empreiteiro Ricardo Pessoa fossem divulgadas antes da viagem aos Estados Unidos, deixando os brasileiros em dúvida sobre quem é pior: uma presidente que diz essas coisas a um ministro da Justiça ou um ministro da Justiça que ouve essas coisas sem pedir demissão imediatamente.
Na corda bamba
“Agora, a rede, eu acho que ela tem um lado lúdico, sabe? Porque isso que as crianças gostam tanto no pavilhão. Porque, quando você está lá em cima… Eu não posso ficar aqui brincando, não é? Então… Mas você percebe direitinho como é que dá para brincar, porque se você inclinar para um lado e, imediatamente, virar para o outro, você fica balançando mesmo, você consegue equilibrar”.
Dilma Rousseff, internada por Celso Arnaldo ao comentar sua caminhada pela rede elástica instalada no pavilhão do Brasil na Expo Milano, em analogia perfeita de seu governo, ao descobrir que balançar significa ir de um lado para outro, mas deixando no ar um enigma: como uma presidente que se expressa desse jeito ainda não caiu?
Dilma, ópera-bufa
“O Othello é uma peça romântica, pelo menos a do Rossini, é de ciúme entre um homem e uma mulher, é isso que é o Othello. O Othello é uma… é uma tragédia, ou um drama romântico, dependendo, há uma discussão se o Rossini faz drama ou faz a tragédia, eu acho que ele faz drama. Mas é muito… foi muito interessante”.
Dilma Rousseff, internada por Celso Arnaldo na saída do Teatro Alla Scala de Milão, comentando a versão de Rossini para o Othello de Shakespeare, feliz por descobrir que ela trata do ciúme entre um homem e uma mulher, mas ainda sem saber se assistiu a uma peça, um drama, uma tragédia ou simplesmente uma ópera.
Pedalada no calendário
“Aguarde que os outros também vão ter seus efeitos mais pronunciados”.
Dilma Rousseff, comunicando ao mundo que a crise econômica de 2008 está começando em 2015.
Subida à estratosfera
“Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou”.
Dilma Rousseff, na entrevista à Folha, ao confirmar que o fracasso lhe subiu à cabeça, garantindo que, ao contrário do PIB, seu índice de popularidade não vai ficar abaixo de zero.
Discutir impeachment é “ansiedade golpista”? Somos todos golpistas!
Em entrevista ao jornal Valor, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o mais longevo no cargo desde a redemocratização (o que diz muito sobre o Brasil de hoje, uma vez que ele é entusiasta do Foro de São Paulo, que reúne inclusive ditaduras comunistas como Cuba e grupos terroristas de esquerda), chamou de “ansiedade golpista” o debate sobre impeachment neste momento, e sem dar nome direto aos bois, insinuou quem seria um desses grandes “golpistas”:
Por coincidência, hoje é dia da coluna de Aécio Neves na Folha, e o senador tratou exatamente desse assunto. Rebateu com muita propriedade a acusação patética que o PT faz aos que simplesmente cobram o funcionamento das nossas instituições democráticas de estado. Para o PT, o ataque sempre foi a única defesa, já que os petistas sabem que é indefensável o histórico do partido nos últimos anos com argumentos e fatos. Resta se vitimizar e chamar de golpista todos os outros. Mas, como apontou Aécio, não cola mais. O povo já percebeu o engodo. Diz o tucano:
A velha cantilena usada de forma estridente pelo governo petista sempre que se sente acuado já não surte efeito. Mais uma vez, o grito de guerra de um hipotético complô contra o partido está em curso. A estratégia tem uso recorrente. Em momentos distintos, já foi usada para atacar a mídia, as elites intelectuais, os protestos de rua e por aí afora.
Nesse raciocínio, tudo o que contraria os interesses do PT é golpe. No atual contexto, a imprensa divulga os escândalos do petrolão? Trata-se da imprensa golpista. O TCU analisa as contas do governo Dilma? Para o PT é golpe. O TSE investiga se houve recursos de propina na campanha da presidente? Golpe de inconformados, dizem os petistas. A Polícia Federal e o Ministério Público cumprem com independência suas funções? Golpe, dizem eles. Milhões de pessoas ocupam as ruas com críticas ao governo? Trata-se de golpistas de direita, analisa o partido. Ninguém escapa, somos todos golpistas –menos os iluminados do PT.
Para eles, os outros são sempre os culpados de todos os males. Os outros tramam dia e noite para tirar o PT do poder. Não cola mais. Os brasileiros não aceitam mais o engodo.
Como bons alunos de Goebbels, os petistas insistem na repetição da mentira como estratégia para fugir da realidade, para não ter que enfrentar os fatos. O que o partido teme é a lei, o livre funcionamento das instituições republicanas. Por isso a “operação abafa” em curso, por isso Lula tem saído em campo para tentar costurar acordos que impeçam o avanço das investigações. Golpistas, os outros? Nada disso. Como lembra Aécio, os golpistas são os próprios petistas:
Existe, sim, um grande golpe em curso –mas ele vem do andar de cima. Um golpe contra os brasileiros que deram ao governo um voto de confiança e que, em troca, receberam um bilhete de entrada para um país em queda livre, com desemprego nas alturas, redução de benefícios trabalhistas, inflação beirando a casa de dois dígitos em algumas capitais, tarifas públicas em aumento crescente.
E isso fala apenas do estelionato eleitoral, deixando de lado inúmeras outras coisas. O PT, acuado e desesperado, tenta a velha tática de sempre, que é cuspir nos adversários e bancar a vítima. Mas, como mostra a mísera aprovação da presidente Dilma, parece que o povo brasileiro acordou e não cai mais nessa. Os brasileiros sabem que não é golpe defender as leis; que golpe é se julgar acima delas, como fazem os petistas!
Rodrigo Constantino
As novelas de esquerdistas da Globo: Silvio de Abreu conta de onde vieram, como já fizeram Boni, Dias Gomes e outros
Hoje, quando Walcyr Carrasco faz propaganda de livro que exalta Che Guevara em “Amor à vida”, Ricardo Linhares faz um comercial pró-aborto em “Saramandaia”, Manoel Carloschama “mais da metade dos brasileiros” de “machistas” e “da idade das pedras” por conta de pesquisa errada do IPEA sobre estupro, ou Lícia Manzo e Daniel Adjafre discutem o incesto em “Sete vidas”, sem falar em polêmicas sobre “beijos gays”, convém lembrar a tradição ideológica da casa em matéria de dramaturgia.
Transcrevo abaixo o trecho do programa com Silvio de Abreu (aos 17min20seg deste vídeo) e relembro em seguida o vídeo em que José Bonifácio Sobrinho, o Boni, relatou o mesmo: que a maior parte dos criadores da Globo eram comunistas e as novelas serviram como “válvula de escape” à censura durante a ditadura militar.
Acrescento também trechos de uma entrevista da neta de Dias Gomes e Janete Clair, e de uma edição do Roda Viva com o próprio Dias Gomes, em que ele, tentando salvar o vírus como todo esquerdista, defende a tese de que o socialismo real foi um “projeto deformado em sua essência”, não a concretização exata do projeto mesmo, conforme exaustivamente demonstrado em O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
1)
Renata Ricci, atriz (da plateia): Eu cresci ouvindo dizer que a telenovela brasileira é considerada a melhor do mundo. Então a primeira pergunta é se você acredita nessa premissa.
Sílvio de Abreu: Acredito.
Renata Ricci: E a segunda é o que é que você acha que é a diferença principal da nossa maneira de se fazer telenovela, dramaturgicamente falando, na questão da atuação e da direção, para as outras, que são feitas… sei lá, a soap opera americana e as outras.
Silvio de Abreu: É, a soap opera americana é feita para um público de donas de casa, que passa na hora do almoço, e a produção dela é muito precária, as cenas são só cenas de interior e as histórias são sempre só histórias românticas. A novela mexicana, por exemplo, que é um sucesso no mundo todo, é uma novela que é sempre feita dentro da mesma fórmula, e elas não fogem dessa fórmula.
2)
Esther: Ô Boni, você sempre falou, defendeu muito o jornalismo, né, você está agora reforçando isso…
Boni: Minha paixão na televisão é o jornalismo.
Esther: É o jornalismo. Interessante que a censura também visava mais o jornalismo.
Boni: Perfeito.
Esther: O doutor Roberto [Marinho] também estava interessado mais no jornalismo. Será que as novelas se beneficiaram de uma certa liberdade que a falta de expectativa em relação a elas…?
Boni [interrompendo]: Eles não percebiam exatamente o poder que a novela tinha. Tanto que “O Bem-amado” começa com uma música que era do Vinícius, que dizia: “Nós estamos sentados sobre um barril de pólvora.” E ninguém reclamava disso, o tempo todo (…). Mas eles reclamavam quando um sujeito chamava “Ei, coroné!”, aí eles diziam assim: corta esse “coroné” aí. (Risos)
Esther: Eu tenho a impressão que o jornal era tão controlado que essa integração nacional se deu de uma maneira muito diferente da que os militares imaginavam e tudo…
Boni: Sua observação é perfeita.
Esther: …porque havia mais vida nas novelas.
Boni: Existia até um termo que foi criado pelo Dias Gomes, que ele dizia assim… Quando a gente mandava uma sinopse para a censura, dizíamos: “Vamos pentear a sinopse”, que é para que eles não percebessem como é que era a figura do bicho. Então dava-se uma penteadinha, suavizava-se tudo e depois fazia-se o que se tinha que fazer mesmo. Então a novela foi um escape. Diria que ela não foi a coisa mais importante, mas ela foi uma válvula de escape naquele momento em que nós estávamos sob uma censura bastante dura.
Marília Gabriela: Você teve algum embate direto com a censura?
Boni: Ah, tive vários. Nós tivemos vários sobre questões do jornalismo e sobre questões de conteúdo. Primeiro que os censores de conteúdo eram censores contratados, quer dizer, eram censores profissionais de carreira, então diferentes de censores militares que não entendiam do que fazer, nem como falar sobre aquele assunto, mas nessas duas categorias existiam pessoas extremamente inteligentes e extremamente despreparadas, então às vezes você tinha embates em que você era ameaçado de ser recolhido, porque você estava sendo muito agressivo na defesa dos seus interesses.
Esther: Ô Boni, entre essas várias opiniões que você consultava e que faziam a televisão, tinham vários comunistas… declarados, né… O Dias era um exemplo de uma pessoa que até o fim se classificava assim, se associava… Como é que era isso? Como é que isso aconteceu? Isso é uma das…
Boni: Não, essa questão, nós nunca… Nossos funcionários, nossos criadores, a maior parte deles eram socialistas ou comunistas, mas o próprio doutor Roberto nunca se importou com isso. Sabe da história lá da redação, da invasão, quando eles queriam convencer o doutor Roberto que ele estava cercado de comunistas na redação e que eles queriam entrar para prender os comunistas. O doutor Roberto disse assim: “Aqui ninguém entra. Nos meus comunistas, mando eu.” (Risos)
3)
Renata Dias Gomes, neta de Dias Gomes e Janete Clair, em entrevista de 28/07/2011:
“Eu acho que as emissoras não estão interessadas em ideologia e política, no caso das novelas. Mas tanto é que meu avô fazia novelas politizadas dentro da Globo no auge da ditadura. Meu avô era comunista e trabalhava na Globo! A maior prova, pra mim, de que as emissoras são comerciais e não ideológicas é isso. O meu avô fez O Bem Amado no auge da ditadura, dentro da TV Globo. Meu avô nunca foi mandado embora do país. Você acha que se ele não fosse contratado da Globo não teria sido preso, torturado e exilado? É lógico que teria sido, como todo mundo foi! Ele ficou aqui por dois motivos: primeiro, a minha avó era a esposa dele e se ele fosse embora ela iria junto, e ela era a maior audiência da Globo. E segundo, que ele também fazia novelas de sucesso. Tem aquela frase famosa do Roberto Marinho que diz ‘Dos meus comunistas cuido eu’. Ele pegou o meu avô, Mário Lago, Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso. Os comunistas todos trabalhavam dentro da TV Globo naquela época.
Então o importante é você contar uma boa história, a questão é a audiência, não a ideologia.”
4)
Roda Viva com Dias Gomes, em 12 de junho de 1995:
Dias Gomes: Eu nunca fui de participar de grupos. Você focalizou ainda há pouco a minha trajetória no teatro brasileiro. Quantos grupos teatrais que influíram decisivamente no teatro brasileiro eu vi se formarem ao meu lado e eu nunca participei de nenhum. Estava-se organizando os comediantes, que tanta influência tiveram na renovação do espetáculo com o [Zbigniew Marian] Ziembinski [(1908-1978), pintor, fotógrafo, ator e diretor polonês bastante polêmico, que se dizia o "criador do teatro brasileiro"] e tal. Eu estava estreando no momento em que os comediantes estavam estreando também, e eu não participei dos comediantes. Nos anos 1960: Teatro de Arena, Oficina depois o grupo Opinião. Todos eles eram formados não só de amigos meus como de pessoas que pensavam parecidos comigo. Havia até uma influência esquerdista em todos eles, e eu nunca participei de nenhum também. Eu nunca fui… eu sempre tive um caminho meio solitário. Então a Academia é um grupo fechado de 40 pessoas, entre as quais eu tenho amigos, tenho pessoas que prezo, que admiro, mas eu não tenho muita vocação para esse convívio, eu sou um socialista insociável. [risos]
Matinas Suzuki: Você ainda é de esquerda?
Dias Gomes: Sou.
Matinas Suzuki: O que significa ser de esquerda hoje?
Dias Gomes: É uma bobagem esse negócio de pensar que não existe mais esquerda e direita. Então nós estaríamos em uma sociedade igualitária e justa, se não existe mais esquerda e direita. Porque enquanto houver pobres e ricos, opressores e oprimidos haverá esquerda e direita. Haverá aqueles que querem mudar tudo e aqueles que querem mudar só algumas coisas para que tudo continue como está, que é o conservador. Então sempre haverá esquerda e direita.
Rita Buzzar: Qual a sua utopia possível dentro de um horizonte?
Dias Gomes: Toda minha juventude, e maturidade até, eu alimentei, como toda a minha geração, a utopia de uma sociedade igualitária, uma sociedade socialista. Infelizmente a tentativa, o projeto dessa sociedade, na União Soviética, nos países do leste europeu, foi um projeto deformado em sua essência, que excluía uma coisa essencial ao socialismo que é a liberdade. E no momento em que você exclui a liberdade, você não está mais realmente em um projeto socialista.
(…)
Dias Gomes: Eu e Janete éramos pessoas muito diferentes, talvez por isso nos déssemos tão bem. O nosso casamento durou 33 anos, mas nós tínhamos visões de mundo muito diferentes. Janete era católica, eu sempre fui ateu, eu fui marxista, tive formação marxista e tudo. E ela tinha também um estilo de realismo romântico, e eu sempre fui um realista empedernido. (…)
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil