Lula radicaliza e convoca "movimentos sociais" para defender Dilma. Mas ela hesita...
Hora de radicalizar 1
Na semana passada, desde que o fantasma do impeachment voltou a rondar o governo, Lula recebeu em seu instituto e conversou com integrantes radicalizados dos movimentos sociais.
A ideia é preparar a tropa de choque para brigar pelo governo e denunciar uma suposta “quebra da institucionalidade” ao se tentar tirar Dilma do poder sem uma razão jurídica sólida.
Os encontros foram com líderes do MST ligados a José Rainha, ao movimento dos sem-teto e sindicalistas da CUT.
Nas conversas, planeja-se colocar integrantes desses movimentos nas ruas, caso o PSDB e setores do PMDB flertem com a interrupção do mandato de Dilma.
Diz um petista:
- Tem gente que mata ou morre pelo Lula. Se isso acontecer, o Brasil pode virar uma Venezuela.
Por Lauro Jardim
Hora de radicalizar 2
A propósito, tem gerado preocupação em setores moderados do PT a crescente radicalização de Lula. Nos últimos anos, o ex-presidente já vinha se cercando de conselheiros incendiários.
Até Luiz Dulci, costumeiramente um conciliador, está radicalizado.
Por Lauro Jardim
Às pressas
Dilma acaba de convocar, para as seis da tarde, uma reunião com todos os presidentes de partido e todos os líderes do Senado e da Câmara, para explicar que não houve ilegalidade nas pedaladas fiscais.
Por Lauro Jardim
Tom da convenção do PSDB aumenta adesão de petistas ao plano de reação de Lula
A propósito, o tom de Aécio Neves e de alguns tucanos ontem na convenção nacional do PSDB assustou setores moderados do PT que estavam preocupados com o radicalismo de Lula (leia mais aqui). A avaliação agora é que Lula talvez esteja com uma percepção mais precisa do cenário do que Dilma. Integrantes da corrente Mensagem ao Partido, ala do PT historicamente mais distante de Lula, por exemplo, compartilham desta opinião.
Diz um deles:
- O Lula parece estar com uma avaliação do cenário mais realista do que a Dilma. Não pode o PSDB se reunir e eles saírem dizendo que estão prontos para assumir o governo de um país que tem uma presidente eleita. Isso é golpe. O Lula está certo em começar o planejamento.
O “planejamento” tem a ver com o calendário da oposição. Setores do PSDB, do DEM e do PMDB já estão conversando com participantes do movimento Vem pra Rua, que já convoca novos atos para o dia 16 de agosto.
A data foi escolhida por um simbolismo: foi o dia da maior manifestação dos caras-pintadas em 1992 contra Fernando Collor.
Por Lauro Jardim
Sintoma de fraqueza
A propósito, o convite às pressas desagradou alguns políticos da base aliada e com ministérios em seu governo, que decidiram não viajar para Brasília para atender ao pedido de Dilma.
Não atender a uma convocação do Palácio do Planalto é mais um sintoma do quão fraco está o governo.
Nos tempos de Lula ou de FHC, por exemplo, seria inimaginável algum político não atender a um chamado do presidente, na situação que fosse.
Por Lauro Jardim
Te cuida, Levy
No Palácio do Planalto, há pelo menos um ministro muito preocupado com a velocidade do encolhimento da atividade econômica. E acha que já é hora de Joaquim Levy afrouxar um pouco as coisas.
Por Lauro Jardim
Nas asas da Odebrecht
Impressiona a quantidade de voos de Lula pagos pela Odebrecht. Além do que já saiu na imprensa aqui e ali e também no sábado no Radar (leia mais aqui), descobre-se agora mais um: em 22 de fevereiro do ano passado, Lula. a bordo de um Legacy 650, saiu de São Paulo e foi para Havana, com escala em Manaus.
Levou com ele Luiz Dulci, Blairo Maggi, seu fotógrafo, Ricardo Stuckert, Fernando Moraes, o ex-ministro Silas Rondeau, seu assessor de imprensa, José Crispiniano, Eriberto Francisco Fleitas Rayon e Pedro Sergio Almeida Prado.
A Odebrecht pagou 274 000 dólares pela viagem de ida e volta (o equivalente à época a 659 000 reais). Ou melhor, a Osel Odebrecht, com sede fiscal nas Ilhas Caymann.
Para todos, foi pedido, como de costume, “vinho francês tinto de boa qualidade”. Tim, tim.
Por Lauro Jardim
Para que tanto nervosismo?
A propósito, o Instituto Lula em nota oficial resolveu negar que o ex-presidente tenha viajado ao México em 2012 num Legacy 650 pago pela Odebrecht. A informação foi publicada pelo Radar no sábado (leia mais aqui). O Instituto disse que a informação era “inventada”.
Devem ser tantas as viagens bancadas por seus patrocinadores que Lula e o seu Instituto talvez não se lembrem de todas.
Para ajudar a memória, o tal voo ao México foi pedido pela Flex Aero Taxi Aéreo e pago pela Osel Odebrecht (Odebrecht Serviços no Exterior Limitada), que tem sede fiscal nas Ilhas Caymann. A primeira parcela do pagamento – 50% do total – foi feita no dia da viagem, em 19 de setembro.
Por Lauro Jardim
O quadro se agrava para Dilma; cresce o bochicho sobre renúncia ou impeachment, e lá vem o Cardozo dar pedaladas jurídicas
Quando, na semana passada, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, espalhou que estava pensando em deixar o governo, tirei o sarro dele neste espaço. Afirmei o óbvio: quem realmente quer se demitir não fica espalhando ruído pelos corredores; pede pra sair e pronto! Ele só queria fazer firula. Eis que, nesta segunda, na Folha, lá está o homem, de novo, a dar suas pedaladas jurídicas. Cresce o bochicho em Brasília sobre uma eventual renúncia da presidente Dilma Rousseff ou sobre seu impeachment. E o ministro da Justiça, em mais um exercício de direito criativo grita: “Golpe!”. É mesmo?
Disse ele ao jornal: “É de um profundo despudor democrático e de um incontido revanchismo eleitoral falar em impeachment da presidente como têm falado alguns parlamentares da oposição”. Como? Então vamos ver.
As contas do governo referentes a 2014 ainda não foram chanceladas pelo TCU. Vamos ver como o governo pretende operar no tribunal. Se fossem avaliadas hoje, haveria a recomendação para que o Congresso as rejeitasse. Se isso acontecer, é evidente que, à diferença do que diz o ministro, abre-se o caminho para a denúncia por crime de responsabilidade.
Segundo Cardozo, a análise das contas feita pelo TCU “não pode causar nenhuma imputação de crime de responsabilidade”. É mesmo? Vai ver a Lei 1.079 que está no arquivo do ministro é diferente daquela que você pode leraqui. A versão dele deve ter sido estornada dos Artigos 10 e 11, que caracterizam as pedaladas como crime de responsabilidade, sim.
Há mais: a oposição ofereceu uma denúncia contra Dilma à Procuradoria-Geral da República — cadê Rodrigo Janot? — em razão da lambança fiscal, acusando-a de ter transgredido o Artigo 359 do Código Penal. Não entrou em minudências agora — já expliquei isso aqui —, mas também nesse caso se abre uma vereda para a perda do mandato.
E há a investigação em curso no TSE sobre o uso de recursos irregulares na campanha de 2014. A VEJA desta semana antecipa parte do conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC. Ele entregou à força-tarefa da Lava Jato planilhas que evidenciariam que, entre outras doações, repassou ilegalmente para a campanha de Dilma R$ 7,5 milhões. Ele teria sido, digamos, convencido por Edinho Silva, então tesoureiro da campanha e hoje ministro da Comunicação Social, que lhe teria lembrado gentilmente que tinha muitas obras na Petrobras… Pessoa, a exemplo do doleiro Alberto Youssef, vai depor à Justiça Eleitoral.
Não é só isso: em seu depoimento, Youssef diz ter sido procurado por um emissário do PT no começo do ano passado para repatriar R$ 20 milhões — isto é, trazer de volta dinheiro sujo enviado para fora do país — para a campanha de Dilma. O doleiro afirmou ainda que só não fez a operação porque foi preso antes. Crime eleitoral como esse, se realmente ficar caracterizado, resulta na cassação da diplomação de Dilma. E ela cai, sim.
Todos esses são caminhos absolutamente legais, que só podem ser considerados golpistas por uma mente perturbada. Notem: se o TSE condenar Dilma e lhe cassar o diploma, isso só será feito em virtude da lei. Se o TCU recomendar a rejeição das contas de Dilma e se o Congresso acatar o parecer, trata-se apenas do triunfo da lei. Se isso resultar numa denúncia à Câmara com base na Lei 1.079, será, mais uma vez, em razão da lei. Se Janot oferecer uma denuncia contra Dilma ao STF em razão da agressão ao Código Penal — e caso ela venha a ser condenada ao fim —, mais uma vez, o que se terá é o exercício da lei.
Golpista é querer ganhar o debate no berro, fazendo de conta que inexiste um arcabouço legal no país. O discurso não cola mais. Para citar o petista Chico Buarque, o tempo passou na janela, e só as Carolinas lesas do PT não viram.
Por Reinaldo Azevedo
PSDB “avalia ser um erro do passado” não ter pedido o impechment de Lula? Quando pedirá desculpas ao país?
“O PSDB teme ser acusado de golpista, mas optou por uma postura agressiva para não repetir o que avalia ser um erro do passado. Em meio ao escândalo do mensalão, em 2005, a sigla resistiu à pressão para encampar o pedido de impeachment do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
O PSDB levou 10 anos para reconhecer o “erro” privadamente, embora FHC até hoje se defenda em público daquela imperdoável cumplicidade com o PT, no momento em que Lula estava nas cordas.
Daqui a 10 anos, com sorte, especialmente se Lula for preso, o PSDB pede as devidas desculpas ao país.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
Frases da semana
A situação no mercado financeiro é tão ruim que já tem gente casando por amor.
— Banqueiro, à coluna.
Não tem quem não esteja afetado. O taxista está, o pipoqueiro está, as cadeias industriais estão sofrendo. Está duro.
— Jorge Gerdau Johannpeter, no Estadão.
Se Dilma tivesse um gesto de estadista, pelo bem dos brasileiros neste momento, ela renunciaria. Dilma tem que entender que chegou ao fim, não dá mais.
— Ronaldo Caiado, senador pelo DEM.
Eu não tenho de prestar informações só ao PT, mas a qualquer força política que desejar explicações em relação aos meus atos.
— José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, no Estadão.
Um bom europeu não é alguém que procura um acordo a qualquer preço.
— Angela Merkel, primeira-ministra alemã, falando a membros da sua coalizão sobre o impasse grego, na Bloomberg.
A família Odebrecht é dona do Brasil.
— Auro Gorentzvaig, ex-controlador da Petroquímica Triunfo, na CPI da Petrobras, acrescentando que ‘talvez seja o caso’ de fechar o Congresso.
O problema da oposição é não ter sabido ser oposição, não ter tido coragem de ser oposição, de falar ‘nós temos outra proposta para o Brasil, e somos um partido de classe média, sim, falamos para essa classe média, sim’.
— Boris Fausto, historiador, na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).
A nossa República permanece inconclusa. O Estado é bem pessoal e é patrimônio de quem tenha poder.
— Heloisa Starling, historiadora e coautora de 'Brasil: uma biografia', na FLIP.
Acabei de descer do futuro. É um nível de desenvolvimento que eu não imaginei que houvesse.
— Dilma Rousseff, se encantando com o carro sem motorista do Google e mostrando como Brasilia está desconectada do mundo.
Por Geraldo Samor