A fala mais estúpida de Dilma em cinco anos: presidente desqualifica delatores lembrando que ela não contou nada nem sob tortura
A fala mais estúpida de Dilma em cinco anos: presidente desqualifica delatores lembrando que ela não contou nada nem sob tortura. O que ela acabou dizendo? O óbvio!
A presidente Dilma Rousseff está tomando algum remédio? Está ainda sob os efeitos daquela droga, ou, sei lá, daquela entidade, que a fez saudar a mandioca e que a levou a concluir que só nos tornamos “homo sapiens” — e “mulheres sapiens”, para aderir à sua particular taxonomia — depois que fizemos uma bola com folha de bananeira?
Por que pergunto isso? Dilma está em Nova York e decidiu falar sobre a delação de Ricardo Pessoa, dono da UTC, que confessou ter feito doações ilegais ao PT e ter repassado R$ 7,5 milhões à campanha presidencial do partido porque se sentiu pressionado por Edinho Silva. A presidente avançou num terreno perigosíssimo de dois modos distintos, mas que se combinam.
Sobre as doações, afirmou:
“Não tenho esse tipo de prática [receber doações ilegais]. Não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou sobre minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro, porque não houve. Segundo, porque, se insinuam, alguns têm interesses políticos”.
Trata-se de um daqueles raciocínios de Dilma que flertam com o perigo e que atropelam a lógica. Pela lei, a candidata é, sim, responsável pelas contas de campanha. Mas todos sabem que isso sempre fica a cargo de terceiros no partido. Quem disputa eleição não se ocupa desses detalhes. Dilma ainda teria esse acostamento para reparar danos. Mas ela é quem é: a partir da declaração de hoje, assume inteira responsabilidade política pelas doações. Logo, se ficar evidenciado que houve dinheiro ilegal, foi com a sua anuência. É ela quem está dizendo.
Quanto à lógica, como é mesmo, presidente? “Se insinuam que há dinheiro ilegal, alguns têm interesse político”? Bem, tudo sempre tem interesse político, né? A existência do dito-cujo exclui a ilegalidade.
Mas Dilma ainda não havia produzido o seu pior. Resolveu sair-se com esta:
“Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos.”
A fala é de uma estupidez inigualável, talvez a pior produzida por ela. A conversa sobre mandioca e bola de folha de bananeira integra apenas o besteirol nacional. Essa outra não. Vamos ver, pela ordem:
1 – Dilma compara situações incomparáveis; no tempo a que ela se refere, havia uma ditadura no Brasil; hoje, vivemos sob um regime democrático;
2 – consta que ela foi torturada; por mais que se queira, hoje, associar determinadas pressões a tortura, trata-se de mera figura de linguagem;
3 – Dilma exalta a sua capacidade de resistência e disse que mentiu mesmo sob tortura, o que gerou certa confusão, com a qual ela soube lucrar;
4 – como não concluir que ela está sugerindo que ou Ricardo Pessoa (e o mesmo vale para os demais delatores) deveria ter ficado de boca fechada ou deveria ter mentido?;
5 – querem avançar nas implicações da comparação? O Brasil era, sim, uma ditadura, mas Dilma, era, sim, membro de um grupo terrorista. O estado brasileiro era criminoso, mas o grupo a que ela pertencia também era. Se ela faz a associação entre os dois períodos, está admitindo que os crimes de agora existiram, sim, mas que os delatores deveriam ficar calados;
6 – eu não tenho receio nenhum de dizer que um delator não é o meu exemplo de ser humano, mas não sou diretamente interessado no que ele tem a dizer; Dilma sim;
7 – ao afirmar o que afirmou, Dilma não está se referindo apenas a Pessoa, mas a todas as delações. Na prática, desqualifica toda a operação que, a despeito de erros e descaminhos, traz à luz boa parte da bandalheira do petismo.
Dilma está tentando jogar areia nos olhos da nação. O que tem a ver as agruras que sofreu com esse momento da história brasileira? Sobra sempre a suspeita de que, em razão de seu passado supostamente heroico, deveríamos agora condescender com a bandalheira.
O país foi assaltado por uma quadrilha. Uma quadrilha que passou a operar no centro do poder. E a presidente pretende sair desse imbróglio desqualificando toda a investigação e ainda posando de heroína.
Dilma falando sobre mandioca e bola de folha de bananeira é uma poeta.
Por Reinaldo Azevedo
Cabe a eles?
Dilma confundiu seus interlocutores agora há pouco em Nova York, ao responder sobre o futuro de Aloizio Mercadante e de Edinho Silva em seu governo. Disse Dilma:
- Cabe a eles decidir o que fazer.
Ora, se Dilma havia acabado de dizer que não respeita delator, a pergunta sobre Mercadante e Edinho seria uma ótima oportunidade para defendê-los e afastar qualquer dúvida sobre a permanência de ambos no Palácio do Planalto.
Não foi o que a resposta deu a entender.
Por Lauro Jardim
O nome da crise é o “Custo PT”. Enquanto essa gente estiver por aí, o país não sai da lama
O conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, da UTC, que veio a público na edição de VEJA desta semana, é de estarrecer. O que se viu ali é a expressão da privatização não de estatais, com regras transparentes, mas do estado brasileiro. O PT se organizou, e já escrevi isso aqui tantas vezes, para ser uma espécie de gerente do capitalismo nacional. O partido, que sempre foi autoritário, posando de socialista, se juntou a um setor do empresariado, que sempre foi autoritário, posando de capitalista, e, juntos, promoveram o aggiornamento do patrimonialismo. Luiz Inácio Lula da Silva já é o maior coronel da história do Brasil. E isso, é óbvio, nada tem a ver com suas raízes nordestinas. Até porque ele é um coronel urbano.
O que a Operação Lava Jato, nos seus aspectos virtuosos — e há muitos aspectos viciosos também —, revela? Um partido que operou e opera com extrema intimidade com os potentados nacionais. Atenção! Estão sendo desvendadas as relações do partido com as empreiteiras — um setor que nunca gozou de boa reputação na imprensa porque constituiu, sem trocadilho, um dos pilares do regime militar, com a sua conhecida propensão para o concreto armado. A má fama, justa ou injusta, vem de lá.
E se fôssemos desvendar as outras intimidades? Será que as relações do PT com o setor financeiro sempre foram as mais republicanas? E com algumas expressões da agroindústria? E com alguns eleitos da área industrial propriamente?
A verdade é que, sob as vestes de um partido socialista e igualitário, o PT se aproveitou para tomar de assalto não apenas o estado, mas também o capital privado. Lula percebeu a fragilidade teórica dos nossos empresários. Lula percebeu que, com raras exceções, eles se deixam conduzir por um pragmatismo bronco e viam e continuam a ver o estado como extensão de seus interesses. Então o PT olhou para esses senhores e disse: “O estado financiador de grandezas é o caminho, e nós somos o pedágio”. E o empresariado topou pagar. Notem que todo o grande capital brasileiro estava “petista” até anteontem.
Nota à margem: é por isso que o PT odeia tanto a classe média — o que já foi vocalizado por Marilena Chaui e sua vassoura teórica. Lula não se conformava que os banqueiros gostassem tanto dele, que os empreiteiros gostassem tanto dele, que muitos empresários do setor industrial e agroindustrial gostassem tanto dele, mas não as camadas médias. Daí o ódio que petistas no geral têm ao Estado de São Paulo.
A origem
De onde vem isso? É claro que o PT assustava parte do empresariado brasileiro. Sabem como é… As pessoas levavam Lula a sério, embora ele próprio não se levasse — o que, felizmente, descobri quando tinha 16 anos. Contei aqui: já fui de esquerda, sim! Lulista, nunca! Sempre foi uma fraude como convicção. É um falastrão que contou com circunstâncias favoráveis, dono, isto sim, de notável inteligência para entender o jogo político. Ainda bem que é preguiçoso. Tivesse se instruído também, teria sido um perigo maior. Adiante.
O PT teve de assinar a tal “Carta ao Povo Brasileiro” em 2002, na qual se comprometia com os fundamentos da economia de mercado. Funcionou como um primeiro chamariz para empresariado. Aos poucos, setores do capital perceberam que Lula queria apenas ter a sua máquina no controle — e a muitos isso pareceu positivo, desde que pudessem fazer negócios. Um empresário realmente liberal tem, sim, por objetivo o lucro e a expansão dos seus negócios, mas segundo valores. Um empresário sem valores se contenta com o lucro e não vê mal nenhum em contar com um ente de razão como sócio — no caso, o PT.
O que é que a delação de Ricardo Pessoa revela senão isto? O PT se tornou um parceiro dos empresários, e, juntos, se apropriaram do estado. Não é que essa comunhão não renda benefício nenhum ao país. De tudo, como diria o poeta, sempre fica um pouco, também para os pobres. Aos trancos e muitos barrancos, o país avançou em alguns indicadores. Posso apostar que há muita gente que achava a tal parceria muito “natural”. Mas atenção: dentro das regras e sem roubalheira, teríamos avançado muito mais.
A conversão do PT à economia de mercado, em suma, tinha um preço. E amplos setores do empresariado brasileiro decidiram pagar apenas porque parecia positivo para os negócios. E tudo teria ido muito bem — porque, afinal, não há mal nenhum em que um governo mantenha uma interlocução com o capital — se essa parceria não tivesse se dado à custa da degradação institucional, da ilegalidade, do compadrio e da mais descarada e aloprada corrupção.
Não existe mais crise mundial. A crise é brasileira. E o nome da crise é o “Custo PT”. Enquanto essa gente estiver no poder, o país está condenado ao atraso. E ponto.
Por Reinaldo Azevedo
Deixem Mantega e demais petistas de lado nos restaurantes!
No post anterior, escrevo que os petistas, nos restaurantes, não conseguem ir além do couvert sem que haja uma minirrevolta no salão. Já tratei do assunto e volto a ele. Nesse fim de semana, o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) voltou a ser hostilizado. Está acontecendo isso com todo figurão petista.
Dá para entender o fenômeno? É claro que dá. Os petistas são os grandes responsáveis por esse clima. Há dias, o prefeito Fernando Haddad classificou seus críticos de “coxinha”. Lula, o boquirroto, segue firme com o discurso vigarista do “nós” contra “eles”. As resoluções do PT tacham de golpistas os críticos do governo. A companheirada agora decidiu criar uma Frente de Esquerda para combater a suposta “onda conservadora” no país — a expressão já chegou à imprensa.
Ou por outra: o PT investe no acirramento dos ânimos, em vez de fazer o contrário.
Embora eu seja um dos alvos preferenciais dos petralhas, vou insistir aqui num ponto de vista: deixem Guido Mantega e os demais petistas de lado em restaurantes, hospitais etc. Esse acirramento de ânimos não conduz a nada de bom, e, definitivamente, não é uma trilha que se deva seguir.
Sei, como veem, a origem disso tudo e avalio que os petistas são os primeiros a tratar seus adversários como párias. Se tivessem conseguido seu intento, é bem possível que estivessem indo muito além de hostilizar adversários em locais públicos: talvez eles os estivessem mandando para a cadeia. Então é preciso lembrar que nós rejeitamos o modo que eles têm de fazer as coisas.
Quebraram o país? Quebraram. Levaram a Petrobras à lona? Levaram. Trataram o dinheiro público como se fosse assunto privado? Trataram. Aderiram a práticas de corrupção em proporções inéditas? Aderiram. Atrasaram em pelo menos duas décadas o desenvolvimento do Brasil? Sim.
Então como reagir? Do ponto de vista político, não votando mais neles. Do ponto de vista legal, levando-os a responder por seus crimes. A execração pública é dispensável.
Por Reinaldo Azevedo
Na FOLHA: Odebrecht: acusações e desespero (por Frederico Vasconcelos)
Em nota, procuradores da Lava Jato rebatem críticas de advogada, que atribui “sanha punitiva” a Sergio Moro.
Os procuradores da República que atuam na Lava Jato divulgaram nota à imprensa neste domingo (28) em que manifestam apoio ao juiz Sergio Moro e rebatem afirmações atribuídas à advogada da Odebrecht, Dora Cavalcante, publicadas na véspera no jornal “O Globo“.
Em entrevista concedida ao repórter Germano Oliveira, sob o título “Juiz mostra uma sanha punitiva”, o jornal revelou que a advogada “critica métodos da Operação Lava-Jato e estuda denunciar Sergio Moro por ‘violação aos direitos humanos'”.
Para os procuradores, “a afirmativa de que pretende recorrer a uma Corte Internacional para a garantia do direito de seus clientes sugere, fortemente, que os dez Delegados, os nove Procuradores, o Juiz Federal, a Corte de primeira instância, os Desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e os Ministros do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal estão mancomunados para violar direitos humanos dos seus clientes, o que é de uma total irresponsabilidade, senão desespero”.
Em maio, a ideia de desespero havia sido mencionada em entrevista que a advogada concedeu ao repórter Mario Cesar Carvalho, da Folha. Na ocasião, ela atribuiu as acusações de delatores contra a Odebrecht a um “possível grito de desesperado ou uma armação maior” para atingir de forma intencional a empreiteira.
Na entrevista a “O Globo“, a advogada Dora Cavalcante afirma que o juiz Sergio Moro “chega a afirmar que, tendo em vista que a empresa ousou fazer um comunicado oficial, esclarecendo pontos que julgou relevantes para seus clientes, funcionários, parceiros comerciais e seus amigos, em razão de esclarecer e prestar contas, os seus integrantes têm que seguir na cadeia. É um movimento de censura da palavra, que mostra uma sanha punitiva”.
Em nota divulgada na imprensa neste domingo, a Odebrecht “expressa sua indignação com as ordens de prisão de cinco de seus executivos” e considera uma “afronta ao Estado de Direito” a “presunção do conhecimento de fatos supostamente ilegais pela alta administração das companhias como medida suficiente para justificar o encarceramento de pessoas”.
No comunicado, a empreiteira afirma que pratica código de conduta (compliance) e que continuará colaborando com as autoridades, “convictos que a verdade virá à tona e que a justiça prevalecerá, pois acreditamos que os fatos ocorridos decorrem de equívocos de informação e interpretação”.
Na nota deste domingo, os membros da força-tarefa do MPF afirmam que “a insistência da Odebrecht, bem como de seus advogados, em negar a realidade, a ausência de apuração dos fatos na empresa e a falta de aplicação pela empresa de qualquer sanção àqueles que praticaram os crimes apenas confirma as demais evidências de que a corrupção era determinada e praticada na cúpula da empresa”.
Segundo os procuradores, “o argumento de que prisões foram usadas para obter colaborações não tem qualquer base na realidade, pois mais de dois terços das colaborações foram feitas com réus soltos, fato que a advogada que atua no feito não deve desconhecer”.
Lula vai a Brasília brincar de presidente. A decadência do mito custa caro ao Brasil
A presidente Dilma Rousseff está nos EUA, e Lula vai a Brasília nesta segunda para discutir com os petistas a crise política. Ou por outra: enquanto a titular viaja, ele se dirige ao centro do poder para se comportar como uma espécie de presidente informal da República. Finge não ser ele próprio parte da crise. Aliás, em certa medida, é um dos seus protagonistas. Neste fim de semana, reportagem da Folha informou que o ex-presidente estimulou José Múcio Monteiro, ministro do TCU, a cobrar Dilma pelas pedaladas fiscais. Vale dizer: comporta-se como sabotador.
O Babalorixá de Banânia vai se encontrar com as bancadas do partido na Câmara e no Senado. Na pauta, uma reação à Operação Lava Jato e as relações do PT com o PMDB. Mas qual reação? Na sexta passada, ele e Rui Falcão, presidente da legenda, se encontraram. O resultado foi uma resolução da Executiva Nacional que se insere entre as mais alopradas da história.
O encontro estava marcado antes de vir a público parte da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC e ex-amigo pessoal de… Lula! O homem confessou ter doado R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma do ano passado depois de se sentir ameaçado por Edinho Silva e afirmou ter doado R$ 250 mil, por fora, para a campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo em 2010. Edinho e Mercadante estão entre os ministros considerados fortes de Dilma.
É evidente que é um despropósito Lula viajar a Brasília quando Dilma está fora do país. Evidencia, sim, que os dois estão distantes, mas também dá conta da bagunça institucional que o PT promove no país. Por mais que se queira dizer que ele pode cuidar dos interesses do partido, enquanto ela se atém às questões nacionais, todos sabem que não é assim que as coisas funcionam na prática.
De resto, cumpre indagar: quais são as orientações que Lula tem dado ultimamente ao petismo? Elas têm concorrido para facilitar ou para dificultar a vida da presidente Dilma? A resposta, como sabemos, é óbvia. O chefão petista ajudou a mobilizar o partido contra o ajuste fiscal e praticamente forçou a presidente a enterrar o fator previdenciário, uma conta que fatalmente será paga pelos brasileiros.
Lula vai conversar com os petistas como se ele fosse um elemento capaz de solucionar a crise, o que é falso. As suas intervenções têm servido, ao contrário, para potencializar os problemas e para reforçar a imagem de uma presidente fraca, incapaz de governar o país e de dar uma resposta eficiente à crise política.
A decadência do mito Lula está custando caro ao Brasil.
Por Reinaldo Azevedo
Os ganhos pornográficos da família Brahma
Em outubro de 2005, VEJA revelou que o irmão mais velho do ex-presidente Lula, Genival Inácio da Silva, conhecido como Vavá, atuava como lobista em órgãos do governo federal. Dois anos depois, Vavá teve a casa vasculhada por agentes da Polícia Federal durante a Operação Xeque-Mate – e foi indiciado por “tráfico de influência no Executivo” e “exploração de prestígio no Judiciário”.
Agora, a IstoÉ informa:
“Investigações em curso indicam que um empresário português ligado a Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula, foi beneficiado com dinheiro da Fundação Postalis, a previdência dos funcionários dos Correios. Mais de R$ 200 milhões foram usados para a compra de cédulas de crédito imobiliário. Uma dessas CCIs foi emitida pela Riviera Empreendimentos, de Emidio Mendes. Vavá atuou como lobista de Mendes no primeiro mandato de Lula, inclusive na busca de negócios com a Petrobras”.
Eu já havia mostrado aqui a fome de dinheiro de Lulinha e de um sobrinho de Lula, Taiguara; eaqui, a do outro filho do “Brahma”, Marcos Lula. Todos eles, de uma forma ou de outra, faturaram após a chegada do patriarca ao poder.
“A economia das mercês, um modelo no qual o Estado distribuía privilégios e concessões a partir de acordos pactuados entre o rei, o poder local e os seus súditos, é a versão medieval do capitalismo de compadrio, capitalismo de Estado ou capitalismo de laços, que teve aqui uma terra fértil e gentil, pátria amada, Brasil.
Já perdi a conta de quantas vezes ouvi histórias pouco edificantes sobre a necessidade de prestar submissão voluntária a pessoas investidas em determinado cargo ou função no governo para obter algum ganho, um contrato, uma licitação, uma promoção, uma transferência.
E se o detentor do poder político for um familiar, tanto melhor. É possível construir uma carreira meteórica com ganhos volumosos, diria até mesmo pornográficos.”
Com o Brahma no poder, de fato, a pornografia público-privada atingiu o ápice no Brasil.
Perto de pelo menos quatro de seus parentes, Caminha era apenas um amador.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
O pezinho tucano nos escândalos petistas
A campanha de Dilma Rousseff pagou R$ 22,9 milhões à VTPB Serviços Gráficos, registrada em uma sala de 30 metros quadrados.
O dinheiro daria para imprimir 368 milhões de santinhos do ‘tipo cartão’ – modelo descrito nas notas fiscais anexadas à prestação de contas petista -, sendo que o número corresponde a duas vezes e meia o total de eleitores habilitados no país.
Mas quem havia dado uns trocados para a VTPB também? Os tucanos, claro.
A campanha presidencial de Aécio Neves pagou R$ 577 mil; a do senador José Serra, R$ 521 mil. Total: 1.098.000 reais. Mais de 20 vezes menos que o PT.
Aécio alegou que os produtos solicitados foram efetivamente entregues pela gráfica, cujo dono alegou que contava com a estrutura de gráficas parceiras para produzir e entregar o material.
É mais verossímil, de fato, que o material referente a 1,098 milhão tenha sido entregue do que o referente a 22,9 milhões de reais.
Agora estourou a delação premiada de Ricardo Pessoa.
O dono da UTC pagou R$ 31,7 milhões aos petistas, sendo 7,5 milhões para a campanha de Dilma de 2014 e 2,4 milhões para a de Lula em 2006.
Mas quem havia embolsado uns trocados da UTC também? Um tucano, claro.
Aloysio Nunes recebeu da empreiteira R$ 200 mil. Ou seja: 158 vezes menos que o PT.
O senador alega que, “como a imensa maioria dos brasileiros, não tinha conhecimento das relações promíscuas entre a UTC e a Petrobras” e que a doação foi legal e declarada à Justiça Eleitoral.
É mais verossímil, de fato, que um tucano não tivesse conhecimento do esquema na estatal sob o governo do PT do que que os próprios petistas não tivessem.
Você pode não acreditar em Aécio Neves e Aloysio Nunes. Você pode ter horror do PSDB.
Você pode acreditar que eles são, de uma forma ou de outra, cúmplices do PT, como eu denuncio muitas vezes. E que só dizem, também, que todos têm de ser investigados, da boca para fora.
Mas não dá para igualar tucanos e petistas em matéria de roubalheira, sem demonstrar a mais absoluta falta de senso das proporções.
Na hipótese mais benevolente, o PT rouba entre 20 e 158 vezes mais.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
Lula, Cunha e Aécio: juntinhos para derrubar Dilma e melar a Lava Jato?
Desesperado com a Lava Jato, Lula vai a Brasília orientar deputados e senadores do PT a blindá-lo, além de reunir-se com dirigentes do suposto partido.
Como o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró está pensando, segundo a coluna Radar, em fazer uma delação premiada, o pânico após as denúncias de Ricardo Pessoa aumenta ainda mais.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro (ver aqui eaqui), Cerveró havia dito:
“Não, eu não sou indicação política do PMDB. Eu assumi o cargo de diretor atendendo a um convite do presidente Lula e da ministra Dilma, de Minas e Energia”; “eu tinha uma atividade dentro da Petrobras mais próxima ao Partido dos Trabalhadores”.
Para se salvar, Lula não descarta a opção de derrubar Dilma Rousseff.
No fim de semana, a Folha noticiou que ele estimulou pessoalmente o responsável pela análise das contas do governo no Tribunal de Contas da União a contestar as chamadas “pedaladas fiscais”.
Embora seu Instituto negue, Lula teria dito ao ministro José Múcio Monteiro, de quem é próximo, achar razoável que o órgão pedisse explicações sobre as manobras e que isso “daria um susto” na presidente.
Eduardo Cunha
Morrendo de medo da Lava Jato, Eduardo Cunha adota a mesma linha de ataque do PT, em entrevista à Folha de S. Paulo:
“Joaquim Barbosa não decretou nenhuma prisão preventiva. O que significa que ele respeitou o princípio constitucional da presunção da inocência, o que me parece que não está sendo respeitado hoje”.
Para melar a Lava Jato, Cunha tem um plano exótico de conchavo nacional:
“A grande evolução que se deve ter é que temos que discutir o parlamentarismo no Brasil, e rápido. Um debate para valer e votar”.
Caso não funcione, o impeachment com base nas pedaladas fiscais é a solução:
“Se o TCU reprovar as contas do mandato anterior, não quer dizer nada. Se há práticas neste mandato condizentes com improbidade, é outra história”.
Aécio Neves
Com o rabo preso do senador tucano Aloysio Nunes na Lava Jato, após denúncia de Ricardo Pessoa, Aécio Neves pede “cautela” em entrevista ao Estadão e também prefere mirar nas contas de Dilma:
“Continuo tendo a cautela de sempre nessa questão. Vou continuar esperando que as coisas caminhem. Um momento extremamente importante para todo esse processo será o julgamento do Tribunal de Contas”.
Em seguida, adota a mesma linha de defesa dos tesoureiros petistas, ainda que descolando Aloysio da organização criminosa:
“Não se pode misturar um apoio legítimo, declarado na Justiça Eleitoral, com o assalto comandado pelo PT”.
Quadro geral
Em maior ou menor grau, todos temem Sérgio Moro.
E a julgar pelas semelhanças nas declarações, PT, PMDB e PSDB poderão usar a rejeição das contas de Dilma no TCU para forçar sua renúncia com a abertura do processo de impeachment, fechando ao mesmo tempo um conchavo para melar a Lava Jato em seguida.
Contamos com Sérgio Moro e a pressão das ruas para melar essa possibilidade.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
Armínio e Sinara previram o desastre econômico. O PT crucificou os dois por dizerem a verdade aos brasileiros
O tempo mostrou que Armínio Fraga e Sinara Polycarpo fizeram as previsões certas durante o período eleitoral de 2014, quando o PT crucificou os dois por dizerem a verdade aos brasileiros, já que o petismo depende da crença popular em sua propaganda enganosa.
1) Dias atrás, o site Infomoney relembrou que há um ano, em carta enviada aos clientes do Santander, a superintendente de investimentos do banco alertava sobre os riscos de um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff:
“O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes”, disse Sinara.
Lula reagiu furiosamente na ocasião, pedindo a cabeça da funcionária: “Essa moça não entende porra nenhuma de Brasil e de governo Dilma. Manter uma mulher dessa num cargo de chefia, sinceramente… Pode mandar ela embora e dar o bônus dela para mim”.
(No blog de José Dirceu, o “porra nenhuma” de Lula virou “nada”, como zombei aqui.)
Resultado: o Santander demitiu Sinara por pressão de Lula, mas, desde a reeleição, o dólar subiu 23%, a taxa de juros saltou de 11% para 13,75% e o Ibovespa chegou a cair 15 mil pontos.
Pior: Dilma continua empregada.
2) Já a Folha deste domingo traz uma entrevista com o economista Armínio Fraga, principal assessor econômico do então candidato Aécio Neves (PSDB-MG):
Na campanha eleitoral, você foi criticado por dizer que o país entraria em recessão, e hoje isso se concretizou. Como você se sente?
Aquilo foi um grande teatro, um show de mentiras. O Aécio e o Fernando Henrique falaram isso o tempo todo. O custo é este: temos um país morrendo de medo.
Com medo de quê?
De tudo: recessão, desemprego, inflação. Não sou político, vivo de administrar o dinheiro dos meus clientes. Se for pessimista, estou acabado, mas tenho que ser realista. A situação não está boa.
As empresas estão demitindo. A situação vai piorar?
Infelizmente, acredito que não chegamos ao fundo do poço. Espero estar errado, mas analiticamente não estamos nem perto disso.
Como costumo dizer aqui no blog:
O fundo do poço é o céu do PT.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
Os que falam e os que trabalham
Foi um final de semana estressante.
Quem foi dormir bem tarde na sexta-feira ainda pegou a notícia de que o Ministro da Fazenda Joaquim Levy tinha sofrido uma embolia pulmonar e teve que ser atendido num hospital de Brasilia.
Em que pese o ministro ter tido alta por volta de uma da manhã do sábado, a notícia ilustrou — com cores vívidas — a extrema vulnerabilidade da economia brasileira.
Todo mundo sabe que Levy é o fiador final do risco brasileiro; é só por causa dele que a República ainda não perdeu o grau de investimento.
E ainda que ele não esteja nem perto de entregar a meta fiscal prometida para este ano, o reconhecimento de que ele está fazendo o possível — dentro de uma limitação política indescritível — é o que mantem os mercados e a economia funcionando com uma dose mínima de Prozac.
Se o ministro tivesse que se afastar do cargo, o País enfrentaria outra onda de volatilidade nos mercados e mais incerteza. Afinal, quem, a essa altura do campeonato, com a própria continuidade do Governo ameaçada pelas contínuas revelação da Lava-Jato, quem aceitaria a missão de substtuir Levy neste cenário nuclear? Quem com a sua credibilidade?
Matematicamente, Levy é o cara que ainda separa um dólar a 3 reais de um dólar a 4.
Depois de dormir preocupado com Levy, o Brasil acordou sábado assustado com a Grécia. A decisão do primeiro-ministro Alexis Tsipras de convocar um referendo para que os gregos decidam aceitar ou não os termos negociados com a Uniao Europeia — sem que houvesse acordo algum ainda, note-se — exasperou os ministros da finanças da UE, que decidiram dizer ‘não’ ao pedido de renovação do crédito grego, que vence no fim do mês.
No domingo, no clímax de uma crise que se arrasta há cinco anos, a Grécia decretou controle de capitais e um feriado bancário de seis dias a partir de segunda-feira.
Todo mundo sabe que é fácil fechar os bancos, o difícil é saber como eles reabrem.
Uma aposentada de 67 anos disse ao The Wall Street Journal: “Quero que Tsipras me diga como eu vou conseguir atravessar a semana com 10 euros na minha bolsa quando o aluguel está vindo aí… As coisas nunca foram tão ruins quanto agora.”
Em vários caixas eletrônicos de Atenas, o cartaz já dizia: “LEFTA TELOS” – “sem dinheiro,” na língua de Platão.
Quando Tsipras foi eleito, em janeiro, notamos aqui que ele poderia tirar a Grécia do euro. Não estamos lá ainda, mas com meio caminho andado.
“Hoje foi derrotada a Grécia das elites, dos oligarcas e dos anti-democratas. Hoje venceu a Grécia que trabalha,” disse ele em seu discurso de vitória, que seis meses já transformaram numa vitória de Pirro.
Infelizmente, a retórica política faz o eleitor se sentir melhor mas não gera riqueza nem paga as contas, e “a Grécia que trabalha” foi dormir hoje ainda mais incerta sobre seu futuro.
Ao mesmo tempo em que os relatos e fotos de Atenas mostravam uma situação cada vez mais dramática, começou a circular no Brasil a foto do Ministro Levy, deitado na cadeira de um avião da American Airlines rumo aos EUA, pouco mais de 24 horas depois de ter tido uma embolia.
Apesar de toda a desconfiança do mercado em relação ao Governo, a disposição de Levy — uns dirão, temeridade — de colocar em risco sua saúde para cumprir uma agenda que interessa ao País foi saudada assim por um gestor de recursos, que mandou o seguinte email à coluna:
“Monstro. Puta exemplo de força de vontade. Mega importante ele ter ido aos EUA.”
Num mundo em constante desmoronamento institucional, às vezes o que salva são pequenos gestos assim.
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Abaixo, para relaxar depois de um fim de semana impossível, o humor da crise, no Twitter:
Por Geraldo Samor
Grécia: o Maranhão da Europa
Ainda para ajudar o leitor a compreender como chegamos até aqui, com o governo socialista grego decretando feriado bancário e controle de capitais e, com isso, colocando a Grédia a um passo de sair do euro com consequências imprevisíveis, segue um texto que escrevi há alguns anos sobre a trajetória do país e como a negligência de muitos ajudou a criar a bolha que inevitavelmente iria estourar um dia.
O Maranhão da Europa
A situação atual na Grécia, todos já conhecem. O que nem todos sabem é o passado grego, especialmente antes de o país ingressar no clube do euro. Este artigo tem exatamente esta intenção, qual seja, a de resgatar alguns dados sobre a Grécia e questionar como foi possível permitirem a adesão do país na moeda comum européia. A principal fonte será o livro “Bust: Greece, The Euro, And The Sovereign Debt Crisis”, de Matthew Lynn, experiente colunista de finanças da Bloomberg.
O euro foi uma criação da elite européia com objetivos claramente políticos. A maior integração permitiria a paz, tão escassa naquela região. O que seus idealizadores não anteciparam é que a moeda teria de ser defendida com gás lacrimogêneo nas ruas de Atenas. Segundo Lynn, a arrogância e a pretensão dominaram uma geração de políticos e líderes que forçaram demais a barra na direção da união monetária e política na Europa. Países culturalmente muito diversos selariam um casamento sem cláusula de divórcio. A Grécia irresponsável seria o “cavalo de Tróia” no grupo, um legítimo presente de grego que iria catalisar a crise atual.
A idéia de criar uma moeda comum na Europa não é nova. O escritor Victor Hugo chegou a aventar esta possibilidade, Napoleão Bonaparte chegou a propor este caminho, e o filósofo John Stuart Mill também advogou neste sentido. Após a queda do regime de Bretton Woods, onde as moedas eram atreladas ao dólar, países europeus tentaram replicar a idéia entre eles, com o Snake. Suas moedas poderiam oscilar contra outras, mas não muito entre si. Não funcionou direito. Apenas a Alemanha, com sua ortodoxia e disciplina, permaneceu no sistema até 1979. Em seguida veio o EMS (European Monetary System), seguindo basicamente a mesma idéia, de forma mais restrita. Também fracassou. Em vez de tais experimentos servirem como alertas, a lição extraída pelos burocratas e líderes europeus foi a de que era preciso tentar de maneira ainda mais firme uma integração monetária. Nascia o euro.
Os alemães, especialmente os membros do rigoroso Bundesbank, seu banco central, fizeram diversos alertas sobre os riscos do modelo. Mas, como se tratava de um projeto político, a idéia foi adiante mesmo assim. As pressões do Bundesbank ao menos serviram para a aceitação de normas rígidas para os países membros. Disciplina fiscal, controle da inflação e estabilidade econômica com endividamento contido seriam metas necessárias para participar do clube. O problema é que não existiam mecanismos concretos para punir os irresponsáveis. Muitos países, mesmo na época da criação do euro, flexibilizaram alguns conceitos para atingir as metas. Ainda assim, a Grécia não foi capaz de conquistar a aprovação. Foi barrada na festa.
Não foi por falta de vontade. O governo grego tentou convencer seus companheiros em Bruxelas a deixarem o país participar do euro logo na largada. Mas as contas eram feias demais. O então ministro das Finanças alemão, Theo Waigel, foi enfático ao negar as demandas gregas, alegando que um país pequeno, semi-agrário, pobre como a Grécia não estava em condições de fazer muitas exigências para nações industriais poderosas como França e Alemanha. O ministro ainda levantou a possibilidade de a Grécia jamais entrar no euro. Uma ducha de água fria para os gregos. Mas eles não desistiriam tão facilmente assim.
Na Grécia, o berço da democracia ocidental nos tempos de Péricles, o poder tem sido dividido entre duas famílias influentes desde 1940. As famílias Karamanlis e Papandreou tratam o pequeno país como um feudo particular. George Papandreou, avô do atual primeiro-ministro, ocupou o poder três vezes, a primeira começando em 1944 e a última terminando em 1965. O pai do atual primeiro-ministro, Andreas Papandreou, dominou a política grega durante os anos 1970 e 1980, chegando perto de um regime como o modelo soviético socialista. A família Papandreou, portanto, esteve no poder desde 1940, com alguns períodos de ausência. Estes foram ocupados pela família Karamanlis. É uma espécie de modelo medieval de troca de poder entre as duas famílias.
Dionísio, o Antigo, tirano de Siracusa que nasceu por volta de 430 a.C., governou a cidade com mão-de-ferro e, após incorrer em vastas dívidas para financiar suas extravagâncias e campanhas militares, assim como os espetáculos para o povo, ficou sem dinheiro. Como solução, Dionísio obrigou todos a entregar seus recursos ao governo, sob pena de morte para quem se negasse. De posse de todas as moedas de dracma, ele simplesmente estampou em cada uma um novo valor, duas vezes maior, e usou as novas moedas para pagar suas dívidas. Simples assim. A Grécia moderna não iria se sair muito melhor. Desde 1800 até depois da Segunda Guerra Mundial, a Grécia esteve quase sempre em situação de “default”. Como mostram Rogoff e Reinhart em seu livro “Desta vez é diferente”, a Grécia possui um histórico de calote pior que qualquer vizinho europeu, e até mesmo pior que os países latino-americanos, à exceção de Equador e Honduras.
A Grécia, por sua posição geográfica estratégica, sempre foi palco de interesses na Guerra Fria. O país possui um poderoso partido comunista, o KKE, que seguia uma linha de obediência a Moscou. Após a guerra, a Grécia viveu anos de guerra civil entre comunistas e forças leais à democracia ou monarquia. O que ficaria desta época seria um legado de rancor, conspiração e violência no país, acostumado às greves gerais e badernas dos comunistas. Em 1967, um grupo de coronéis tomaria o poder por meio de um golpe, instalando uma junta militar que governaria até 1974. Em 1973, a inflação bateu 30% ao ano, e a economia estava em ruínas, o que levou à deposição da junta. A família Karamanlis assumiria o poder e iria nacionalizar boa parte da economia, incluindo os bancos.
Em 1981, com a democracia restaurada, Andreas Papandreou foi eleito primeiro-ministro. A Grécia iria flertar com o socialismo total. Economista que estudou em Harvard, Papandreou rejeitava o modelo capitalista de livre mercado como meio para um futuro mais próspero. A Grécia se voltava com mais força para a esquerda em uma época em que a Inglaterra de Thatcher e os Estados Unidos de Reagan seguiam na direção oposta. Os salários foram aumentados de forma artificial, os sindicatos foram fortalecidos, e os bancos estatais foram usados para estimular indústrias que não eram competitivas. Em 1980 o governo controlava 30% do PIB, mas em 1990 esta parcela já era de 45%. A inflação saía de controle novamente, chegando a 25%. O dracma seria desvalorizado em 15%. A União Europeia ajudaria o país com um empréstimo de emergência. Conforme nota Lynn, a Grécia descobria um padrão: um novo governo entra, embarca em um programa de gastos extravagantes, a economia desaba, o governo anuncia um pacote de austeridade e recebe um resgate da União Europeia.
O dracma é uma das moedas mais antigas do mundo. Foi reintroduzido na Grécia em 1832, após o estabelecimento do estado moderno. Em 1944, um segundo dracma foi emitido, após a devastação nazista. Em 1954, mais uma emissão substituía a moeda antiga e fracassada. Em 1994, o dracma sofreria ataque especulativo dos mercados, por conta de suas finanças fora de controle. A dívida pública estava em 110% do PIB na época. A taxa de juros chegou a 500% para segurar a moeda. Metas de austeridade foram anunciadas, mas não foram cumpridas. Em 1997, o dracma sofreu novo ataque, e os juros chegaram a 150%. De 1995 até 2004, os gastos do governo ficaram na faixa dos 50% do PIB, com um déficit fiscal entre 6% e 15%. A dívida pública em 2004 já estava acima de 100% do PIB novamente.
De qualquer ângulo analisado, a economia grega não tinha condição alguma de competir em pé de igualdade com as demais economias do norte, assumindo uma moeda única. O turismo era um dos principais setores da economia, faltando competitividade nos demais setores. Vários alemães sabiam disso e ficaram contra a entrada da Grécia no euro, que fora criado como um time de atletas preparados, e não um clube de recreação. Antes era preciso fazer o dever de casa, para somente depois ter o privilégio de fazer parte do seleto grupo. Mas a visão ortodoxa alemã seria a perdedora, e mesmo no lançamento do euro, em 1999, países como Itália, Espanha e Portugal foram aceitos, sem plenas condições para tanto. A Grécia foi barrada no baile neste primeiro momento.
Mas, após verdadeiras “mágicas” que, de uma hora para outra, tornaram suas contas públicas mais saudáveis, a Grécia foi finalmente aceita em 2001. Um feriado nacional foi decretado logo depois. A Grécia fazia parte agora do clube dos países ricos, sem ter passado pelos necessários ajustes econômicos. Se Milton Friedman dizia que não existe almoço grátis, tal alerta não chegou aos gregos. A Grécia descobriu que poderia, como um alquimista, transformar chumbo em ouro. O país, de repente, era capaz de tomar empréstimos de bilhões de euros a um custo infinitamente menor. Na verdade, o “spread” em relação a rica Alemanha chegou a ridículos 50 pontos percentuais por ano. Era a convergência por magia, pela simples adoção da moeda comum.
Esta idéia fantástica iria conquistar muitos políticos, especialmente os de esquerda, que adoram sonhar com uma revolução mágica, que de uma só vez cria o paraíso terrestre. Este sonho permitiu que os gregos – e muitos outros – ignorassem a dura realidade, evitando perguntas incômodas. Um país sem competitividade, acostumado a viver além de suas posses, sem estabilidade econômica e política, passaria de um dia para o outro a adotar uma postura fiscal ortodoxa. Alguns argumentam, não sem razão, que o euro ao menos impõe reformas de austeridade que nenhum partido liberal seria capaz de realizar na Grécia. Mas devemos perguntar: a que custo? As revoltas violentas tomam as ruas de Atenas uma vez mais. Será que seu destino desta vez será diferente? Será que a simples adoção de uma moeda comum pode transformar o Maranhão europeu em uma Suíça, da noite para o dia?
Para isso acontecer, além de inúmeros outros obstáculos, seria preciso que os próprios gregos aceitassem um grau de ingerência alemã muito maior em sua política. Afinal, são os alemães que podem acabar sendo obrigados a pagar a conta da farra das cigarras gregas. A Grécia conta com o poder da chantagem, pois um “default” poderia ser catastrófico para a moeda comum, que não possui uma estratégia de saída. Outros países, incluindo a Itália, seriam contaminados pelo contágio bancário. E a Grécia sempre soube usar a chantagem como arma para obter resgates. Mas até quando os disciplinados alemães vão tolerar esta situação? Se o preço for maior controle alemão nas contas públicas gregas, será que os gregos aceitariam? Não custa lembrar que a Grécia sofreu barbaramente sob o regime nazista, com cerca de 300 mil pessoas morrendo de fome em Atenas durante o inverno de 1941 e 1942.
Como espero ter deixado claro acima, o casamento entre alemão e grego sob um regime monetário comum sem cláusula de saída é um empreendimento mais que ousado; é irresponsável. A Grécia semi-agrária, indisciplinada e sob o controle da mesma família há décadas não vai se transformar em um país estável e decente de uma hora para a outra. Os pacotes de resgate para salvar a Grécia estão destinados a um fundo perdido, pois as promessas de austeridade não passam disso: promessas, que não serão cumpridas. Fica então a pergunta-chave no ar: até quando os alemães vão sustentar o Maranhão da Europa para salvar o projeto do euro?
Rodrigo Constantino
Greg, a esquerda caviar e o monopólio da virtude
Sei que muitos leitores acham que dou trela demais para o “humorista” Gregorio Duvivier, aquele que se esforça muito para ser um novo Chico Buarque da vida, ícone da nossa esquerda festiva. Mas me sinto como Darwin observando as tartarugas em Galápagos, e por isso insisto no penoso ofício de ler aquela coluna na Folha toda segunda-feira. Gosto de saber o que essa gente diz por aí, pois é importante verificar a estratégia da esquerda caviar. Ela ainda seduz alguns incautos.
No texto de hoje, Greg usou e abusou das principais táticas pérfidas dos esquerdistas. Atacou a “elite”, da qual assume fazer parte (dessa forma tentando se mostrar mais “consciente” e “descolado” do que seus pares), recorrendo a caricaturas absurdas do passado. Por exemplo: a elite teria sido contra o fim da escravidão. O “humorista” só ignora que foram liberais, não socialistas como ele, que lutaram pela abolição. Gente como Joaquim Nabuco no Brasil, ou os quacres religiosos na Inglaterra.
Em seguida, ele associa a elite a Collor, ignorando que a alternativa era Lula, mas um Lula ainda pior do que o atual, se isso for possível. Um barbudo raivoso que falava em calote da dívida externa e confisco de propriedade dos “ricos”. Como seria o Brasil hoje se em 1989 tivesse dado PT? Se mesmo hoje o partido está conseguindo destruir o Brasil, o que teria feito naquela época? Seríamos a Venezuela já. Mas Greg ridiculariza o risco, ainda hoje, como se falar das Farc ou do Foro de São Paulo e sua ligação com o PT fosse pura paranoia da elite.
A mesma tática é usada para falar de 1964. Em primeiro lugar, não foi a elite que clamou pela intervenção militar, mas a classe média (Greg faz constante confusão entre ambos, ignorando que ele é da elite festiva, enquanto muito trabalhador de classe média, longe do conforto que ele tem na vida, defende valores conservadores e liberais, não socialistas). Ao fazer isso, ignora o contexto e, novamente, ridiculariza o “fantasma comunista”, que era bem real na época da Guerra Fria.
Por fim, vem o velho truque da esquerda: monopolizar as virtudes, os fins nobres. Greg dá a entender que é a pobreza a causa da criminalidade (bandeira típica da esquerda), e que o caminho para reduzir ambos é distribuir recursos, de preferência pela coerção estatal, mas pode ser por filantropia também:
Você sabe que lá fora você pode abrir seu laptop na praça, pode deixar a porta aberta, a bicicleta sem cadeado. Mas lá fora, não esqueça, é você quem limpa a sua privada. Você já relacionou as duas coisas?
Nos países em que você lava a própria privada, ninguém mata por uma bicicleta. Nos países em que uma parte da população vive para lavar a privada de outra parte da população, a parte que tem sua privada lavada por outrem não pode abrir o laptop no metrô (quem disse isso foi o Daniel Duclos).
Não adianta intervenção militar, não adianta blindar todos os carros, não adianta reduzir a maioridade penal (SPOILER: isso nunca adiantou em lugar nenhum do mundo).
Sabe por que os milionários americanos doam tanto dinheiro? Não é por empatia pelos mais pobres. Tampouco tem a ver só com isenção fiscal. Doam porque sabem que, quanto mais gente rica no mundo, mais gente consumindo e menos gente esfaqueando por bens de consumo.
Um pobre menos pobre rende mais dinheiro para você e mais tranquilidade nos passeios de bicicleta. A gente quer o seu (o nosso) bem. É melhor ser a elite de um país rico do que a de um país pobre.
Curioso mencionar os países ricos e depois a maioridade penal: SPOiLER: todos possuem uma idade penal menor! O Brasil tem uma das legislações mais brandas, tratando marginais de 17 anos como crianças (à exceção da hora do voto). Isso o Greg não diz. Assim como não diz que é possível abrir o laptop na praça pública ou no metrô pois não há impunidade. Pobreza há, bem menos, é verdade, mas há. O que não há nos países desenvolvidos é a impunidade que a esquerda do Greg ajuda a fomentar com seu discurso sensacionalista que transforma bandido em “vítima da sociedade”.
Mas chega a ser hilário ver o Greg colocando a carroça na frente dos bois e trocando causa e efeito. Ou seja, há pouca pobreza nesses países porque os ricos lavam suas privadas, e não o contrário: os ricos lavam as privadas porque há pouca pobreza, logo, custa muito caro ter empregada doméstica. Talvez Greg “pense” que a solução é decretar aumento de salário e benefícios para as domésticas, em vez de entender que, nesses países ricos, há menos “conquistas trabalhistas”. Como já escrevi aqui, desse ser terrível ser uma faxineira desamparada nos Estados Unidos…
Greg conclui com uma frase verdadeira: é melhor ser a elite de um país rico do que a de um país pobre. Isso é óbvio. É melhor ser pobre de um país rico do que pobre de um país pobre. Também é melhor ser classe média de um país rico do que de um país pobre. O óbvio ululante: é melhor ser um país rico do que um país pobre! A questão toda é saber como o país pode ficar mais rico. A resposta, segundo todas as experiências históricas e a boa teoria, é o capitalismo liberal. Para Greg, a resposta está em distribuir a riqueza dos ricos, pelo visto. Ou seja, ele “pensa” que riqueza é um jogo de soma zero, algo estático.
Só não dá para entender, então, porque ele mesmo não começa fazendo sua parte. Já que ele é da elite, como admite, e da ala rica da elite, ao contrário de muitos trabalhadores da classe média que ele condena pelo conservadorismo, por que ele não pratica filantropia e não reduz as desigualdades dando parte de sua fortuna para os mais pobres? Não é essa a saída para o problema da criminalidade, segundo o próprio? Então o que ele está esperando exatamente? Aliás, os capitalistas ricos dos EUA fazem isso: por que os socialistas ricos do Brasil não podem fazer o mesmo?
A menos que tudo não passe de um discursinho hipócrita para a própria elite culpada que lê a Folha e compra seus livros. Seria isso? Ó, céus! Seria Greg uma espécie de Chico Buarque mesmo, que defende Cuba de Paris, que prega mais igualdade e socialismo de sua cobertura no Leblon, que aplaude até os invasores do MST de seu campo particular para peladas no Recreio? Como é doce a vida hipócrita da esquerda caviar, não é mesmo? E como é divertido o meu ofício darwinista de dissecar a espécie à luz do dia. E meus leitores ainda querem me tirar esse prazer!
Rodrigo Constantino