Reinaldo Azevedo: "Ser atacado pelo PT e por outros chulés da esquerda é hoje uma dádiva. Eu sei disso. Eduardo Cunha também."

Publicado em 16/06/2015 05:25
em veja. com + Folha

Ser atacado pelo PT e por outros chulés da esquerda é hoje uma dádiva. Eu sei disso. Eduardo Cunha também. Continuem, zumbis! (por Reinaldo Azevedo)

Cunha publica em seu perfil no Twitter foto ao lado de representantes de movimentos que se opõem ao governo

Deixem que lhes conte aqui uma pequena história. Lula, como vocês sabem, resolveu me atacar no Congresso do PT. Narrei o fato aqui na madrugada de ontem e publiquei o trecho da gravação. Muito bem: entre as milhares de visitas ao blog nesta segunda, nada menos de 62.107 pessoas chegaram à minha página por intermédio desse post, não da homepage. Começo a redigir este texto às 2h05 desta terça. O contador disparou à 0h. Nestes 125 minutos, o post foi acessado diretamente 1.245 vezes, praticamente 10 por minuto, em plena madrugada. Lula me atacou, e eu saí ganhando. E é sempre assim.

Querem outro exemplo interessante. Antes do programa “Os Pingos nos Is”, na Jovem Pan AM e FM, há o “Radiotividade”, em AM. Como eu mesmo faço blague da minha disposição de opinar sobre (quase) qualquer assunto, brinquei com Madeleine Lacsko e Thiago Uberreich, que comandam o programa: “No Dia dos Namorados, quero dar conselhos sentimentais”. Mais do que uma graça e uma ironia, era uma autoironia. Acabei não conseguindo realizar o intento porque a cidade colapsou, e não consegui chegar a tempo.

Os blogueiros sujos fizeram um tal escarcéu com isso, e a Al Qaeda eletrônica petralha fez tal barulho, que o que deveria ter sido um brincadeira discreta, quase de consumo interno, virou um “caso”. E os pedidos de conselho dispararam. Síntese: Lula bate em mim, eu cresço; os petralhas batem em mim, eu cresço; os petistas falam mal, eu cresço. Essa gente ainda não percebeu que tê-la “do outro lado” está começando a ser quase uma garantia de sucesso.

Mutatis mutandis, mudando o que deve ser mudado, é o que acontece com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Goste-se ou não de suas ideias, é inteligente, operoso e está sempre dois lances ao menos adiante dos adversários. Isso bastaria para recomendar prudência — e parece que as sucessivas derrotas que aplicou ao governo e ao PT não ensinaram nada aos companheiros. Petistas puxaram um coro anti-Cunha em seu congresso; transformaram-no no bode expiatório de todos os insucessos em curso. Ora, Cunha não poderia arranjar adversários melhores nos tempos que correm.Escrevi a respeito ontem. Volto ao tema.

Nesta segunda, o presidente da Câmara esteve em São Paulo e se encontrou com 20 representantes de 17 movimentos de oposição ao governo Dilma. Entre eles estavam o Movimento Brasil Livre, que promoveu no mês passado uma marcha a Brasília em favor do impeachment, o Acorda Brasil e o Revoltados Online. Disse Cunha: “Eles me convidaram. Eu os recebi em Brasília e falei que debateria a pauta com eles e foi isso. Eles têm uma série de pautas, muitas que estão em andamento na Casa. Debati com eles como debateria com outros. Não me cabe fazer juízo de valor dos movimentos”.

Ao chegar à Câmara nesta segunda, ele voltou a se referir às vaias que recebeu no congresso do PT: “O partido sempre insiste em buscar agressões. Ali teve pessoas que defenderam a manutenção da aliança com o PMDB, mas me atacando. Então, mostra que é um ataque continuado”. Ele voltou a falar sobre as próximas eleições presidenciais: “É óbvio que ninguém vai discutir 2018 agora, mas o que eu antecipei é a falta de vontade que eu vejo no meu partido de continuar com essa aliança. Agora, agressão ninguém vai aceitar. Eu não vou aceitar que o PMDB continue sendo agredido todo o tempo pelo PT. Se o PT quer ou queria votar

 

BENJAMIN STEINBRUCH

Crença

Investir é o caminho, mas há um entrave, os juros; a recessão se aprofunda, e o país aumenta a taxa básica

A economia e o cidadão brasileiro sofrem no momento com uma saraivada de maldades. O governo corta gastos, inclusive de investimentos, aumenta impostos e tarifas, reduz incentivos fiscais, eleva sem parar a taxa básica de juros e reduz os créditos do BNDES, os únicos acessíveis a taxas civilizadas.

Nenhuma economia pode resistir por muito tempo a uma sequência de medidas desse porte. O desemprego cresce mês a mês, e a indústria já está em recessão há muito tempo. Em abril, considerando a variação anual, houve queda nacional de 7,6% na produção, atingin- do 13 dos 15 locais pesquisados pelo IBGE. E os números são assustadores: -20% no Amazonas, -15% no Ceará, -13% na Bahia, -11% em São Paulo.

Não há como sair dessa situação e voltar a crescer sem retomar os investimentos, sejam eles públicos, privados, nacionais ou estrangeiros.

O empresário não investe para amanhã. Pensa no longo prazo. Se a demanda está fraca no momento, isso não quer dizer que o enorme mercado brasileiro acabou. Está aí, como sempre esteve, e tem tudo para voltar a crescer. É como um bolo: só precisa de fermento, que são os investimentos.

Ajuste fiscal é bom e necessário, mas não enche barriga. O que ocorreu na semana passada foi um exemplo positivo. O governo lançou um novo pacote de concessões, com previsões de investimentos de R$ 198 bilhões no longo prazo. Foi, na prática, o primeiro gesto pós-ajuste.

O caminho é esse, mas há ainda um entrave à frente: os juros. A recessão se aprofunda, e o Brasil continua aumentando sua taxa básica, hoje no nível absurdo de 13,75% ao ano. Trata-se de uma dose exagerada e desnecessária de aperto monetário.

O eminente economista Yoshiaki Nakano disse o seguinte, em artigo no "Valor" da semana passada: "Se o ajuste fiscal for feito com forte corte de despesas correntes, as expectativas se revertem, a confiança é recomposta e pressões inflacionárias podem ficar contidas. E, com política monetária de juros baixos, tanto o consumo como o investimento reagem rapidamente".

É isso. Destaco mais dois ensinamentos do professor Nakano. O primeiro é sobre a natureza do ajuste fiscal: quando ele se dá pelo aumento de impostos, em geral, redunda em fracasso.

O segundo é sobre o impacto social das políticas públicas de ajuste: quando o governo decide contrair significativamente seus gastos, é racional articular as políticas monetária e fiscal para minimizar os custos para a sociedade.

Não pode a autoridade monetária, na busca de credibilidade, impor tamanho sacrifício a todos os setores da economia. O Tesouro gasta R$ 30 bilhões por ano a cada ponto percentual de aumento na taxa de juros. As empresas sofrem com a queda da demanda, a falta de credito e seu alto custo. E os cidadãos ficam assustados com o avanço do desemprego.

Há um ano, mais ou menos, escrevi aqui que o Brasil pode ser um país como os outros, financeiramente civilizado, que controla os gastos públicos correntes, privilegia investimentos do governo e oferece crédito ao setor produtivo e às pessoas físicas sem cobrar taxas escorchantes de juros.

Continuo com essa crença.

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Fonte: Veja.com + Folha de S. Paulo

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