PROTESTOS: De forma discreta, gente do governo comemora. Mas — santo Deus! — comemorar o quê?
PROTESTOS: De forma discreta, gente do governo comemora. Mas — santo Deus! — comemorar o quê?
O governo não abriu a boca para dizer nada sobre os protestos, exceto declarações moderadas, aqui e ali, sobre serem “parte da democracia”.
Nos bastidores, porém, há quem do lado de dentro comemore o fato de as manifestações de protestos contra o governo Dilma terem supostamente movimentado menos pessoas, a começar por São Paulo — mais de 1 milhão de manifestantes no dia 15 de março, segundo os cuidadosos cálculos da Polícia Militar feitos com tecnologia que utiliza helicópteros, e “apenas” 275 mil hoje, dia 12.
Nas redes sociais, manipuladas pelo Planalto, o que inclui os blogueiros alugados, houve mais mensagens favoráveis do que contrárias à presidente.
E daí?
Na verdade, pergunto: santo Deus! Comemorar o quê?
A pesquisa de opinião do Instituto Datafolha divulgada hoje mostra que a aprovação ao governo da presidente Dilma — como escreveu a Folha de S. Paulo — “estacionou”. Sim, “estacionou” em miseráveis 16%, ainda no patamar dos mais baixos da história, porque… NÃO PODIA CAIR MAIS. É quase impossível!
Ou seja, a avaliação do governo continua uma catástrofe — 60% de “ruim” ou “péssimo”.
Nos protestos de hoje, no conjunto, não se sabe se havia mais ou menos gente. Pode até ter havido menos, mas ocorreram manifestações em quase QUINHENTAS cidades!
A economia está estagnada, e vai piorar, com a política de austeridade levada a efeito pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para evitar que as contas públicas — irresponsavelmente administradas pela “gerentona” no mandato anterior, especialmente no ano eleitoral de 2014 — venham a explodir de vez.
A inflação, por mais que os juros subam, continua afetando os brasileiros. Há sinais assustadores que, ao longo do ano, poderá bater nos dois dígitos.
A presidente deixou de mandar no governo. Está emparedada. Virou uma rainha da Inglaterra, cercada por políticos matreiros do PMDB: o coordenador político é o vice-presidente Michel Temer, e quem manda e desmanda na pauta do Congresso e em algo mais são os presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ) — inimigo jurado e declarado do PT –, e do Senado, Renan Calheiros (AL).
O escândalo do petrolão continua sendo investigado a fundo, e a cada dia surgem mais evidências de que gente graúda do PT poderá caminhar para atrás das grades.
Finalmente, todas as pesquisas de opinião, divulgadas ou não — bem como as ruas — mostram uma rejeição brutal, formidável, colossal, contra o PT, antes o partido que tinha a preferência da maior fatia da opinião pública.
Sendo assim, pergunto: o que essa gente tem para comemorar?
(por Ricardo Setti)
Uma queda violenta
Não apenas nas ruas, mas também nas redes sociais, a movimentação em torno dos protestos foi mais modesta.
Um levantamento inédito da consultoria digital Bites revela, por exemplo, que até às 18h30 quando se consideram as expressões “manifestação”, manifestações, protesto e protestos o volume de tuítes caiu de 715 469 no dia 15 de março para 132 413 de hoje – uma queda de 81,5%.
Não só. “Impeachment” também foi menos citado. Passou de 107717 tuítes em março para 15202 hoje – uma queda de 86%. Dilma também foi mais poupada. Em março, foi citada em 44349 tuítes. Hoje em 9.665. Queda de 78,6%.
O governo e o PT, desta vez, reagiram. Conseguiram manter a hashtag#AceitaDilmaVez nos assuntos mais comentados do Twitter.
Foi uma ação bem articulada que produziu até agora 99 817 tuítes e 174 milhões de impressões. Isso significa que cada usuário do Twitter no Brasil foi impactado 7,9 vezes por essa mensagem pró-Dilma.
No campo das impressões no Twitter, a oposição se saiu melhor. As variações de protesto e manifestação impactaram, em média, 45,5 vezes cada usuário do Twitter no Brasil.
Por Lauro Jardim
12 de abril: Av. Paulista reuniu 3,5 Maracanãs lotados contra Dilma. É muita gente, sim, senhor!
O ato anti-Dilma deste domingo reuniu 275.000 pessoas na Av. Paulista, segundo a PM.
É o público equivalente ao de 3,5 Maracanãs lotados.
Pode não ser suficiente para mudar o Brasil hoje, mas é muita gente, sim, senhor, ao contrário da impressão que jornalistas e colunistas militantes querem passar.
O PT não consegue mais lotar nem meia arquibancada do estádio. A julgar pelos atos da CUT, seu público é semelhante à média do Madureira em 2015.
Com todo respeito ao Madureira, claro.
Felipe Moura Brasil
https://www.veja.com/felipemourabrasil
Reynaldo Rocha: Se há um campeonato de manifestantes, goleamos de novo
REYNALDO ROCHA
Era previsível que a manifestação deste domingo fosse menor que a de 15 de março. Era previsível. Mas que importância tem isso? Para quem festeja números menores, lembro dois fatos: 1) Dilma não governa mais, nem mesmo como um poste de Lula. Joaquim Levy determina a política econômica e se esforça para que o Brasil não seja classificado como junk nas agências de risco; 2) Michel Temer está onde nunca imaginou que estaria. Um vice-presidente, que não é demissível, tenta garantir a dita governabilidade que Dilma e o PT perderam e jamais conseguirão recuperar.
Oliver: ‘Eu repilo’
VLADY OLIVER
Desde a primeira hora após as manifestações de 15 de março, não entendi a necessidade de alguns de obrigarem as manifestações de hoje a ser maiores do que aquelas. A sociedade está profundamente arredia. Aprendeu com a guerra civil de 2013 que de nada adianta ser manipulada para este ou para aquele lado; para este ou aquele movimento organizado e para frases prontas e pensamentos sob medida.
No momento em que escrevo este comentário ainda não tenho a menor ideia do tamanho que a coisa tomará em São Paulo, mas não tenho receio de afirmar que não importa quantos irão ou deixarão de ir; importa mesmo as respostas que foram dadas aos anseios dessa mesma sociedade.