Quem tem mais poder: Dilma, Levy, o Congresso ou o mercado?

Publicado em 25/03/2015 17:52

Ajuste fiscal sobe no telhado. Ou: Quem tem mais poder: Dilma, Levy, o Congresso ou o mercado?

A agência de risco Standard & Poor’s decidiu manter o grau de investimento do Brasil nesta terça. Os investidores comemoraram, mas por pouco tempo. Afinal, a decisão da S&P teve como justificativa a aposta na capacidade de Joaquim Levy de mudar os rumos da política econômica. Mas não é tão simples assim. As coisas não dependem somente dele. Há uma disputa de forças em jogo, e não ficou claro ainda quem detém mais poder.

O PT, por exemplo, partido da presidente Dilma, encontra-se dividido em relação ao ajuste fiscal. O senador Paulo Paim, aquele que tem tanto projeto populista que não caberia no PIB, já ameaça sair do partido. Alguns querem dar um voto de confiança à Dilma, mas a verdade é que não é natural para petistas aceitar o sacrifício imposto pelo populismo; seu natural é o próprio populismo, como se a vida se resumisse a um eterno palanque eleitoral.

Logo, a presidente não goza do sólido apoio nem mesmo de seu partido. Fora isso, há evidentes dúvidas sobre o real comprometimento da presidente com o ajuste. Todos sabem que ela engole Levy muito a contragosto e por extrema necessidade, não por convicção. Se trouxe um fiscalista ortodoxo de Chicago para a Fazenda, por outro lado resolveu manter Alexandre Tombini no Banco Central e Luciano Coutinho no BNDES.

São sinais contraditórios, e os investidores não sabem até quando Dilma consegue preservar a nova personagem, até porque a sombra do estelionato eleitoral paira sobre sua cabeça e lhe retira qualquer credibilidade. Dilma é uma presidente com míseros 7,5% de aprovação, o que a torna uma espécie de “pato manco” logo no começo do novo mandato, sem força para negociar com o Congresso, algo que nunca soube fazer (quando era forte simplesmente impunha sua vontade).

Isso nos remete ao poder do próprio Congresso, cada vez mais forte. É uma guinada rumo ao parlamentarismo de facto, sob um governo presidencialista. Fosse um regime parlamentarista mesmo, Dilma teria simplesmente caído. Não sendo, ela fica lá, tentando “governar”, lutando sem muita convicção pelo necessário ajuste fiscal. Mas os deputados e senadores não seguem mais sua agenda. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara e uma espécie de Frank Underwood tupiniquim, passou a dar cada vez mais as cartas.

Isso ficou muito claro com algumas derrotas importantes que o governo sofreu, a começar pela de ontem, em voto relâmpago, quando o Congresso aprovou medida que obriga o governo a cumprir a renegociação das dívidas com estados e municípios. Comentei aqui que essa confusão toda é resultado do populismo da própria presidente, que aprovou a mudança de indexador quando era candidata, permitindo o maior endividamento dos estados e municípios e rasgando a Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora é hora da fatura.

Até o prefeito Fernando Haddad, do PT, está contra a presidente. Disse que antes de ser de um partido, é o representante de um município e precisa zelar pelos seus interesses. Dilma parece um tanto acuada, isolada, perdendo a cada dia qualquer capacidade de governar. Se em condições normais de temperatura e pressão ela já não apresentava os “requisitos mínimos necessários” para ocupar o cargo, como disse de forma elegante Bolivar Lamounier em uma entrevista na GloboNews, agora, então, sua falta de habilidade e inteligência política será fatal.

Esse cabo de guerra entre diferentes grupos complica ainda mais o ajuste fiscal. Vale notar que boa parte do ajuste de Levy se dá via aumento de impostos, e isso encontra ainda mais resistência no Congresso e, principalmente, na sociedade, que não aguenta mais pagar a conta das trapalhadas do governo. O caminho do corte de gastos públicos, por outro lado, tem a reação dos políticos, como agora no caso da renegociação das dívidas municipais e estaduais.

Somente um líder forte, habilidoso e com clara convicção na premente necessidade do ajuste, teria condições de negociar com o Congresso e extrair dele reformas desejáveis. Faria isso com o apoio de uma base aliada por trás, e também da sociedade. E contaria com a credibilidade dos investidores. Talvez Aécio Neves fosse esse líder. Mas Aécio foi derrotado nas urnas eletrônicas. Em seu lugar temos Dilma, reeleita graças ao estelionato eleitoral e ao uso da máquina estatal de forma desavergonhada.

Já sai nesse segundo mandato sem um pingo de credibilidade, sem apoio da sociedade, revoltada com suas mentiras, e sem o apoio sequer de seu partido, pois historicamente sempre lutou contra qualquer tipo de responsabilidade fiscal. No mais, foi a criadora do problema todo, com sua ideologia equivocada, com seu populismo demagógico, com sua visível incompetência. Como esperar que seu próprio governo faça os ajustes agora? Dilma não tem condições de governar e deveria pedir para sair, renunciar em prol do Brasil.

Dificilmente terá tal dignidade. Então o jeito é ficar nessa disputa de forças em que cada hora alguém consegue puxar mais a corda para seu lado, sem que o país saia realmente do lugar. A S&P manteve o grau de investimento com base numa promessa de um ministro, mas logo depois ficou claro que ele não tem esse poder todo, que precisa “baixar a bola”, pois há um Congresso um tanto hostil à frente. O ajuste fiscal subiu no telhado.

Mas a força mais poderosa de todas, cuja punição aos descaminhos irresponsáveis nunca falha, aguarda sua vez. Os mercados punem, como aprendeu Eike Batista the hard way. Ou Dilma, o PT, Levy e o Congresso se entendem de alguma forma para aprovarem um ajuste fiscal decente que recoloque nossa economia nos eixos, ou a punição dos investidores será implacável, severa, cruel, não por maldade ou insensibilidade (como “pensam” as esquerdas), mas porque o dinheiro não atura tanto desaforo assim.

Rodrigo Constantino

“Eles quebraram o país”

Renan: irritado

Renan Calheiros estava com a corda toda numa reunião na presidência do Senado hoje de manhã.

Tendo como plateia alguns senadores, discutia o adiamento para a semana que vem a votação do projeto de renegociação das dívidas de estados e municípios e a ida de Joaquim Levy para uma reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado na terça-feira, quando explodiu:

- O país quebrou. Eles quebraram o país. É preciso que o governo apresente um plano econômico com começo, meio e fim. Um plano que faça cortes na máquina do governo e não um que aumente impostos. Agora, o Levy tem um fim de semana para elaborar esse plano e nos mostrar.

Por Lauro Jardim
 

“Abro mão do PT”

Paim: possível saída do PT

Paulo Paim foi chamado na segunda-feira por Lula a São Paulo para conversar sobre sua oposição às MPs 664 e 665, parte do ajuste fiscal, e sobre sua possível saída do PT (leia maisaqui).

Lula perguntou se ele realmente sairia do PT por conta disso. Respondeu Paim:

- Abro mão do PT, mas não abro mão das minhas causas. Vou votar contra as MPs.

Por Lauro Jardim

Maçãs podres

Contaminadas

O governo proibiu hoje a importação de maçãs, peras e marmelos da Argentina. Motivo: essas frutas estão contaminadas com a praga cydia pomonella, uma lagarta que ataca principalmente os frutos da maçã.

Há quase dez anos, o Brasil combate a praga em acordos com a Argentina. O objetivo desses convênios era a erradicação da praga até 2012. Deu errado.

Quase a totalidade das peras vendidas no Btrasil  são importadas da Argentina.

Por Lauro Jardim

 

Traumann na Petrobras? Não

Traumann não vai para a Petrobras

Thomas Traumann acaba de deixar o governo Dilma Rousseff. Mas, ao contrário do que parecia certo até outro dia, não vai para a Petrobras substituir Wilson Santarosa.

Houve, de fato, uma conversa Aldemir Bendine e Traumann sobre sua transferência para a estatal, mas o presidente da Petrobras tem outra carta na manga. E será alguém de fora da Petrobras.

Roberto Messias, secretário-executivo da Secom, fica interino no lugar de Traumann.

Para sucedê-lo de fato, surgem alguns nomes. Entre eles, Américo Martins, que desde o mês passado dirige a EBC, e o deputado Alessandro Molon.

Por Lauro Jardim

Economia

A miséria de Graça

Sem motivos para sorrir

Graça Foster – lembram-se dela ? – tem vivido à base de antidepressivos e ansiolíticos. Tem, também, tentado manter contato frequente pelo telefone com funcionários da Petrobras.

Por Lauro Jardim

 

Saúde

Quem é o mocinho e quem é o bandido nesta história?

No dia 12 de março, um grupo de homens armados entrou num depósito de medicamentos no bairro do Jabaquara, em São Paulo. Os homens renderam o segurança e levaram centenas de caixas de remédios para Aids e hepatite C, além de antialérgicos, colírios e antivirais.

Não eram remédios comuns, e sim produtos importados, caríssimos e difíceis de encontrar. Alguns deles, que custam mais de 20 mil dólares, já estavam pagos pelos pacientes que os utilizariam e logo seriam entregues a médicos e clínicas especializadas.

Os homens também levaram computadores e documentos que consideraram ter algum valor. Também exigiram que o estabelecimento quitasse dívidas que teria contraído com a organização da qual eles fazem parte, apesar do dono do estabelecimento não concordar com a dívida.

O estranho é que, depois de levarem as caixas de medicamentos, os homens não tentaram fugir nem se esconderam. Pelo contrário: anunciaram o feito pela internet. Lançaram até mesmo uma nota à imprensa, que dizia assim:

Operação Addison combate comércio ilegal de medicamentos

A Polícia Federal e a Receita Federal colocaram em curso, nessa quinta-feira (12), esquema para combater o comércio e a importação irregular de medicamentos. Uma pessoa foi presa e, assim como os demais investigados, poderá responder pelo crime de importar medicamento sem o devido registro.

Durante a investigação, Polícia e Receita descobriram uma empresa que realizava compras no exterior sem autorização necessária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e sem o devido recolhimento de tributos. No depósito da empresa, localizado no Jabaquara, zona sul de São Paulo, um homem foi preso em flagrante.

De acordo com a Receita Federal, entre os remédios importados irregularmente estão drogas utilizadas para o tratamento de doenças como Aids e hepatite C, além de antialérgicos, colírios, antivirais e hormônios.

Ah, sim, é bom dizer que aqueles homens armados não se consideram criminosos – na verdade são agentes do estado brasileiro. Combateram o que a Receita Federal entende como um crime: fornecer remédios a pessoas com doenças graves que, por causa da burocracia da demora da Anvisa ou dos impostos de importação sobre medicamentos, não teriam uma forma mais simples de obtê-los.

Difícil decidir quem é mocinho e quem é bandido nesta história.

(por LEANDRO NARLOCH, DE VEJA.COM @lnarloch)

 

NOBLAT: Congresso aproveita a fraqueza do governo Dilma para impor sua agenda

Vista noturna da sede do Congresso Nacional, em Brasília: sob a cúpula à esquerda fica o plenário do Senado, e sob a cúpula invertida à direita, o plenário da Câmara dos Deputados. Dilma enfraquece, o Congresso toma a inciativa  (Foto: O Globo)

Por Ricardo Noblat, publicado em seu blog em O Globo

O governo da presidente Dilma Rousseff enfraquece à medida em que o tempo passa – e aparentemente passa ligeiro, embora o governo sequer tenha completado três meses de vida.

Dilma defendeu outro dia a criação de 39 ministérios. Antes de Lula assumir seu primeiro mandato, eram 20.

Ontem, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, voltou a defender a redução para 20 do número de ministérios. Em breve, um projeto nesse sentido será votado no Congresso.

Não passa pela cabeça de Dilma extinguir uma parcela dos cargos em comissão – aqueles ocupados sem a necessidade de concurso público. O Congresso planeja extinguir uma parcela deles.

Dilma repetiu que o ajuste fiscal, para pôr em dia as contas públicas desarranjadas para que ela se reelegesse, não será mudado.

Renan retrucou dizendo que do jeito que está, o ajuste não será aprovado pela Congresso. Se a sociedade não quer, o Congresso também não quer.

No meio da tarde de ontem, Dilma anunciou que não será possível renegociar o índice de correção das dívidas estaduais e municipais. À noite, por 389 contra duas abstenções, a Câmara dos Deputados aprovou o que Dilma negou que fosse possível.

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, chamou o governo de “agiota”.

Ninguém defendeu o governo.

(PARA TERMINAR DE LER, CLICAR AQUI)

 

VÍDEO — Vejam o que encontrei nos arquivos: já nas eleições de 1989, Lula queria “regular” a mídia

“Não existe no mundo alguém que tem o poderio que tem a Rede Globo no Brasil”.

“É uma provocação ao Estado, é uma provocação às instituições”.

Esses exageros apocalípticos são alguns dos comentários feitos por Lula sobre (e contra) a Rede Globo de Televisão a 8 de agosto de 1989, no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, parte da série de entrevistas com os presidenciáveis daquele ano.

Foi em resposta a uma pergunta que eu lhe fiz a respeito das declarações do então candidato Leonel Brizola, do PDT, em relação ao que chamava, impropriamente, de “monopólio da Globo”, contra o qual — dizia Brizola — ele tomaria providências no primeiro dia de governo, se eleito.

Ou seja, Lula, já naquele tempo — confiram no vídeo –, queria “regular a mídia”, palavrório bonito para significar o controle bolivariano sobre a imprensa independente, tal como passou a defender o setor mais radical do PT depois que o partido chegou ao poder, hoje capitaneado pelo comissário Ricardo Berzoini, “ministro das Comunicações”.

Na época desta entrevista, eu era diretor regional do Jornal do Brasilem São Paulo. E o apresentador do Roda Viva, tal como hoje, era Augusto Nunes.

Houve problemas de áudio quando eu me dirigia a Lula, como vocês constatarão.

(por RICARDO SETTI, DE VEJA)

 

Quanto tempo leva para se comprar oito produtos básicos em Caracas?

Em países capitalistas, todos tomam como certo o sucesso na busca pelos produtos básicos em um supermercado, o “templo do consumismo”. Na verdade, há ali produto para todo tipo de bolso e preferência, muito além do básico. Mas não é assim em um país socialista. No socialismo, a regra é a escassez generalizada, as prateleiras vazias, as filas e o racionamento, o mercado negro. Foi assim em todo experimento socialista, seja do século XX, seja do século XXI.

Um jornalista da BBC tentou comprar oito itens básicos em Caracas. Vejam o resultado:

Ele perdeu a manhã inteira rodando pela cidade, perdendo incrível tempo em filas, e no final conseguiu apenas três dos oito itens! Eis a realidade do socialismo, do bolivarianismo, do chavismo. Eis o resultado inexorável do controle estatal da economia. Restam aos esquerdistas arrumar bodes expiatórios, os de sempre, como o “imperialismo ianque” e a “ganância capitalista”.

Nada disso altera um fato, porém: os “intelectuais” e artistas da esquerda caviar adoram odiar o capitalismo – bem de perto – e adorar o socialismo – sempre bem de longe. Encarar horas e horas para conseguir três itens básicos, isso eles não querem, não é mesmo? Socialismo no dos outros é refresco…

Rodrigo Constantino

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Fonte: Blogs de veja.com

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