“Baixe a bola, ministro”, diz o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy

Publicado em 25/03/2015 09:37
por Lauro Jardim, de VEJA

“Baixe a bola, ministro”, diz Paes a Levy

Levy: tensão com Paes

Esquentou – e muito – o clima na segunda-feira à noite entre Eduardo Paes e Joaquim Levy, em um jantar na casa de Michel Temer. Os dois discutiam o endividamento da cidade do Rio de Janeiro com a União, quando Levy subiu o tom de voz. Paes respondeu, com o dedo em riste, de acordo com o relato de um dos presentes:
 
- O senhor baixe a bola, ministro. Não fale nesse tom comigo porque nem voto o senhor tem. O meu cargo foi mais difícil de conseguir do que o seu.
Levy abaixou a cabeça, e deixou o jantar menos de meia hora depois sem ceder nos pontos que Paes queria.

 

Por Lauro Jardim

 

 

PMDB critica ajuste e obriga Dilma a renegociar dívidas

Câmara aprova projeto que dá 30 dias para nova lei sobre dívidas vigorar

Presidente diz não ser possível abrir mão de valores que deixarão de ser arrecadados de Estados e municípios

DE BRASÍLIADO RIO

Principal aliado do governo Dilma Rousseff, o PMDB subiu nesta terça (24) o tom das críticas aos pontos estratégicos da política econômica ao ameaçar mudar o ajuste fiscal e obrigar o governo a renegociar, em 30 dias, com juros mais baixos, as dívidas de Estados e municípios.

Em um momento de fragilidade, com reprovação que só não supera a de Fernando Collor no pré-impeachment, Dilma já admite ceder em parte às pressões de aliados, mas os peemedebistas defendem mudanças mais profundas.

Em evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que o ajuste proposto pela petista não será aprovado nos moldes como foi apresentados pelo governo "porque é recusado pelo conjunto da sociedade".

Com o objetivo de reequilibrar as contas, o ajuste pretende economizar R$ 67 bilhões esse ano, mas é atacado por centrais sindicais, aliados e empresários ao reduzir benefícios trabalhistas e previdenciários e aumentar impostos do setor privado.

"Se aplaudimos recentemente o Mais Médicos [programa do governo na saúde], está na hora do programa 'Menos Ministérios', 20 no máximo", afirmou Renan.

O PMDB adotou a bandeira apesar de ser um partido que historicamente pressiona para aumentar sua fatia de ministérios e cargos.

Renan também defendeu a manutenção do programa de desoneração da folha de pagamento, que beneficia 59 setores da economia, e que o governo propôs alterar.

Em outra frente, em acerto entre Renan e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Câmara aprovou na noite desta terça projeto dando prazo de 30 dias para a Fazenda colocar em vigor a lei que permite a Estados e municípios renegociarem dívidas com a União. O texto segue para o Senado.

A lei abate parte da dívida e dá folga para Estados e prefeituras, como a do Rio de Janeiro e a de São Paulo, contraírem novos empréstimos.

Em 2015, o custo desta renegociação pode superar R$ 1 bilhão. Em um período de um ano, R$ 3 bilhões, sendo metade referente à dívida da Prefeitura de São Paulo.

A equipe econômica pretendia engavetar a regulamentação da lei, mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), entrou na Justiça e conseguiu liminar (decisão provisória) que permite aplicar a nova lei imediatamente. O governo vai recorrer.

"Estamos fazendo um imenso esforço fiscal. Achamos importantíssimo tratar a questão da dívida dos Estados, mas não podemos fazer essa despesa", reagiu Dilma.

Reservadamente, a presidente afirmou ter se sentido traída por Paes, que vem sendo cogitado como futuro candidato do PMDB à Presidência da República em 2018.

Segundo interlocutores, a petista reclamou que tem atendido vários pleitos dele e, mesmo assim, Paes "puxou a fila dos prefeitos" contra ela.

Paes afirmou que tenta desde novembro uma solução para o impasse com o governo federal, sem sucesso.

"O tempo de agiotagem [do governo federal] acabou e acabou por uma iniciativa da própria presidente. Minha relação é de aliança, mas também há uma relação institucional", disse.

O comando do Congresso também decidiu criar uma "pauta expressa" com projetos que serão analisados na Câmara e no Senado em caráter de urgência e em resposta às manifestações populares contrárias ao governo.

Para aliviar um pouco o tom dos ataques, o PMDB fez um gesto de boa vontade nesta terça-feira e fechou com Dilma um acordo para evitar que o Congresso aprovasse uma medida que estende a todos os aposentados o aumento real do salário mínimo. 

 

REINALDO AZEVEDO (DE VEJA) COMENTA:
Câmara aplica nova derrota acachapante a Dilma e dá 30 dias para o governo regulamentar lei que já foi sancionada pela presidente. Ou: Essa gestão ainda será dissecada em laboratório

Atenção, leitor! O assunto parece um tanto árido, mas é um excelente emblema destes dias.

Pois é… Às vezes, ter memória pode ser um pouco exasperante. Mas útil. Sobretudo se ela é posta a serviço do leitor. Nesta terça, a Câmara dos Deputados aplicou uma nova derrota ao governo Dilma — ou, para ser mais exato, à presidente Dilma Rousseff em pessoa, o que revela o grau de desarticulação política do governo. A que me refiro? Contra a orientação do Planalto, a Casa aprovou um projeto que dá ao governo um prazo de 30 dias para regulamentar e executar a lei que alivia a dívida de Estados e municípios. O texto foi aprovado por 389 votos a favor e apenas duas abstenções e segue para o Senado. Agora vem a memória.

Sabem o que é o verdadeiramente fabuloso? O PLC (Projeto de Lei Complementar) 99/2013, que muda o indexador e diminui retroativamente a dívida de Estados e municípios é, originalmente, de inciativa do Executivo. Sim, leitor, a chefe do Executivo é a presidente Dilma. O relator da proposta na Câmara foi o então líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), hoje presidente da Casa.

Depois de sólido entendimento celebrado com o governo, ficou estabelecido que a indexação da dívida seja feita pelo IPCA ou pela taxa Selic (o que for menor) mais 4% ao ano, não pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) mais juros de 6%, 7,5% ou 9% ao ano (a depender do caso), como se faz desde 1997, quando as dívidas foram renegociadas pelo governo federal. A proposta só foi aprovada pelo Senado em novembro do ano passado e sancionada pela presidente. Faz, portanto, quatro meses.

A correção retroativa, explique-se, foi introduzida no texto pelos parlamentares, mas Dilma poderia ter vetado. Por que não o fez? Ao contrário até: acenou com a sua aprovação durante a campanha eleitoral porque, sabem como é…, para obter votos, pode-se prometer qualquer coisa.

O alívio para Estados e municípios é gigantesco. Um passivo de R$ 55 bilhões se reduz a R$ 9 bilhões. Quando a cidade de São Paulo renegociou a dívida, ela era de R$ 11 bilhões. Já se pagaram R$ 25 bilhões, mas o saldo é de R$ 62 bilhões. Com o novo indexador, cai para R$ 26 bilhões. Com a nova regra, a cidade do Rio zera o seu estoque, que despenca de R$ 6,2 bilhões para R$ 29 milhões, valor depositado em juízo. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) recorreu à Justiça e obteve liminar para fazer o pagamento segundo as novas regras.

Antes que continue, uma observação: embora criticado por muitos, defendi, sim, a renegociação e a redução da dívida — ainda que o prefeito Fernando Haddad, cuja gestão desprezo, possa ser um dos beneficiados. Na verdade, eu faço essa defesa desde 2010, como vocês podem ler aqui. A razão é simples: se o mecanismo criado 1997 era seguro em face das circunstâncias de então, a sua manutenção é um verdadeiro escândalo. Ora, o Tesouro corrige a dívida desses entes a taxas que já chegaram a 14% no caso dos municípios e a 12,5% no dos Estados, mas empresta dinheiro a apaniguados, por exemplo, por intermédio do BNDES, com juros na casa de 4% a 5%. Faz sentido? Trata-se de uma receita segura para quebrar os endividados.

Trapalhada
Pois bem… Aquilo que a Dilma de novembro de 2014 sancionou, a Dilma de março de 2015 já não podia garantir. Numa resposta ao prefeito do Rio, que recorreu à Justiça, a presidente cometeu a sandice de sair a falar contra a lei que ela própria sancionou. Disse: “Nós estamos fazendo um imenso esforço fiscal. Nós achamos importantíssimo tratar a questão da dívida dos Estados. Agora, não podemos fazer essa despesa. Não temos condições de fazer essa despesa. Obviamente, assim que melhorar, a primeira coisa a melhorar, nós teremos todo o interesse em resolver esse problema. Agora, o governo federal não pode dizer para vocês, porque seria uma forma absolutamente inconsequente da nossa parte, que nós temos espaço fiscal para resolver este problema. Estamos dentro da lei tentando resolver essa questão, em acordo com os Estados. Até porque isso é problema momentâneo”.

E seus coordenadores políticos, liderados por Aloizio Mercadante, saíram a campo para tentar impedir a aprovação do projeto na Câmara. A receita para a derrota era certa. E foi o que aconteceu. À tarde, numa palestra para empresários, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, já havia dito que o ajuste fiscal, da forma como está, não passa no Congresso.

O governo Dilma, definitivamente, ainda será matéria de curiosidade científica; ainda será dissecado num laboratório, com a mesma curiosidade com que um entomologista escarafuncha um inseto. Por que diabos a presidente da República defende um ponto de vista que, com certeza absoluta, será esmagado no Congresso, com os votos até de petistas, como aconteceu?

Se Dilma tivesse um coordenador político, eu faria a ele essa pergunta. Mas ela tem nove. Aí eu fico com preguiça. Eduardo Cunha ganhou mais uma. Mas essa, convenham, era fácil demais. Daqui a pouco, tomar o pirulito de uma criança será tarefa mais complexa.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ajuste, uma ova! Deputados insistem na suruba fiscal

Até recentemente, o Governo Federal era o grande organizador da suruba com o dinheiro público.

Alucinado, ele encomendava a bebida, contratava empréstimos indecorosos e cheirava o pó de arroz da maquiagem fiscal na frente de todo mundo. Na lista de convidados, setores privilegiados da economia, prefeitos e governadores.

Foi com esse espírito libertino que, ainda em 2013, o Executivo mandou para o Congresso uma lei que aplicaria um índice ‘mais manso’ para corrigir a dívida de Estados e municípios com a União — e, com isso, aliviaria as dívidas (e as vidas) de prefeitos e governadores.

O texto foi aprovado pela Câmara, passou no Senado em novembro de 2014 e foi sancionado pela Presidente naquele mesmo mês.

Só que, de lá para cá, os Estados e municípios continuaram devendo as calças, porque o Planalto — agora em rehab — não regulamentou a lei.

(Eu suspeito que tenha sido culpa da ‘grave crise internacional’, mas não tenho certeza. Só sei que essa aí anda por trás de tudo ultimamente.)

Ontem, a Presidente explicou — aliás, humildemente — a verdadeira situação: “Nós estamos fazendo um imenso esforço fiscal. Achamos importantíssimo tratar da questão da dívida dos Estados. Agora não temos condições de fazer essa despesa. Obviamente, assim que melhorar, teremos todo o interesse em resolver esse problema.”

Mas quem tem fome (de obras e votos) tem pressa. Assim, a Câmara ontem à noite aprovou com 389 votos uma lei que dá 30 dias à União para assinar os aditivos contratuais com os novos índices. Se isto não for feito, os novos índices entram em vigor do mesmo jeito.

O PT votou a favor porque acredita em almoço grátis, sempre acreditou. O PMDB, porque é viciado — cracolândia style — num gasto público. O PSDB, porque deve ter achado que ficaria ridículo ser mais realista que o rei, ficando contra a medida só para ajudar um esforço fiscal que nem é do Armínio.

Agora vamos às explicações de cada um.

Eduardo Cunha disse que a demora do Planalto em regulamentar a lei era uma “interferência do Poder Executivo no Poder Legislativo”. (Frank agora só tem esse discurso, e o usa para qualquer finalidade e ocasião. Não cola, ainda mais depois que todo mundo viu o Planalto ficar de quatro perante o Congresso, e não o contrário.)

Renan Calheiros se refugiou num eufemismo evasivo: para ele, o adiamento na regulamentação da lei representa um “desajuste”.

Pode me chamar de cético, mas, provavelmente, nenhum dos dois está pensando nas instituições nem no País, e sim numa agenda menor, como ajudar seus próprios Estados e correligionários. O filho de Renan governa Alagoas, e Cunha tem toda a sua base no Rio, cujas finanças já não estavam uma Brastemp depois de Sérgio Cabral, e que agora, com o petróleo a preço de tubaína, se estrepou de vez.

Cada um dá o voto de confiança que quiser — e a quem escolher — e a Standard & Poor’s deu o seu para a equipe econômica e as instituições brasileiras. Foi como entregar a virgindade ao tarado da rua, porque esta Câmara que está aí está se lixando para ajuste fiscal. Continua cobrando pedágios, dando chiliques, vivendo na bolha.

Claro, está todo mundo “no seu papel” – só não vamos fingir que dinheiro brota do chão.

Hoje vai ser um bom dia para o dólar e os juros retomarem suas trajetórias de antes da S&P — aparentemente, inexoráveis.

Por Geraldo Samor

 

Dilma assina MP sem reajuste do mínimo para aposentados e pensionistas

Medida mantém política de valorização do salário mínimo, mas sem emenda que garantia correção a aposentados e pensionistas – o que elevaria os gastos do governo em um momento de corte de gastos

Temendo uma derrota no Congresso, a presidente Dilma Rousseff decidiu editar nesta terça-feira uma medida provisória para garantir a aprovação da política de valorização do salário mínimo antes de 1º de maio, quando se comemora o Dia do Trabalhador. Com a popularidade em queda livre, a presidente fez um apelo para que os parlamentares aceitassem a proposta via canetada presidencial.

Ao editar a medida provisória, Dilma garante que o texto possa imediatamente entrar em vigor e supera a queda de braço travada no Congresso em torno da proposta. No último dia 10, o texto-principal de projeto de mesmo teor do editado pela presidente foi aprovado, mas faltava a análise de uma emenda que elevaria os gastos do governo em um momento de corte de gastos: a que estenderia a correção aos benefícios de aposentados e pensionistas - medida proposta pela oposição que foi descartada na MP editada nesta tarde.

Em entrevista nesta manhã, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) afirmou que a extensão dos critérios adotados com o mínimo é inconstitucional e destacou que cada ponto percentual de aumento no reajuste dos aposentados teria um impacto fiscal de 2 bilhões de reais nas contas da Previdência.

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Embora tenha adotado uma posição dura contra o governo desde que assumiu a presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) cedeu à pressão e decidiu retirar de ofício as emendas ao projeto, dando lugar à medida provisória. "Eu pautei um projeto de salário mínimo, não de previdência. As emendas estavam contaminando o objetivo da proposta. Nós não queremos que seja uma coisa por emenda ou aproveitando da oportunidade possa contribuir para ser esse o discurso para acabar com o ajuste fiscal", disse Cunha.

Depois do envio da MP, a única forma de estender o reajuste a aposentados ou pensionistas é por meio de uma nova emenda - que a oposição já se articula para apresentar.

A decisão do chefe da Câmara foi alvo de críticas de deputados da oposição. "Ao retirar o projeto da política de salário mínimo, ele retira aquilo que já foi discutido amplamente e que já foi votado. Estou vendo um acordão com o governo. O presidente nos pegou de surpresa. É um conluio a quatro mãos, desfazendo uma decisão do parlamento e dando aval a uma medida provisória do governo que não altera em nada ao que já foi feito na Casa", disse o líder do PPS, Rubens Bueno (PR). "A partir de agora muda a nossa relação pela palavra quebrada pelo presidente da Casa", continuou.

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Na avaliação do líder do DEM, Mendonça Filho (PE), "o governo editou uma medida provisória porque sentiu o cheiro da derrota ao reajuste dos aposentados". "Não tem como ficar satisfeito [com a decisão de Eduardo Cunha]. Minha aposta é a do Parlamento autônomo. Eu fico muito incomodado com essa lógica de que a gente vira correia de transmissão do Planalto. O governo passou por cima de um projeto editando uma medida provisória", disse. E ironizou a aproximação de Cunha com o Planalto: "Espero que esse seja um amor passageiro".

Uma nova política de valorização de salário mínimo é necessária porque a regra atual vale somente até o fim deste ano. A lei em vigor determina que o mecanismo de atualização do salário mínimo seja calculado com a correção da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior, mais a variação do PIB de dois anos anteriores. A MP valerá somente a partir de 2016.

 

Essa Bebel não aprende nada, mesmo! Mais uma vez, sindicato que é mero esbirro do PT tenta punir os estudantes pobres

Ah, a Apeoesp, o sindicato dos professores da rede estadual de ensino de São Paulo, está de volta. E, como sempre, fazendo o esforço máximo para, em decorrência da greve, prejudicar o maior número possível de alunos pobres. Há uma semana, a entidade decretou uma paralisação cobrando, imaginem vocês!, reajuste de 75%, o que é, obviamente, um delírio. A independência dessa turma se mede pela data em que decidiu realizar a sua assembleia: 13 de março! No mesmo local e hora em que o PT e a CUT — de que a Apeoesp serve de esbirro — organizavam uma manifestação de apoio a Dilma.

A Apeoesp fala em uma adesão de 60%, o que é, evidentemente, uma cascata.  O governo diz que o índice de falta dos professores tem sido de 2,5%, que é considerado, infelizmente, normal. Os membros da categoria estão entre os que mais faltam ao trabalho. Mas nem vou entrar nisso agora.

É evidente que aquele que entra numa negociação salarial cobrando 75% de reajuste está investindo na greve, não na negociação. À Folha, o secretário de Educação do Estado, Herman Voorwald, afirmou ter apresentado ao sindicato a intenção de, a partir do mês que vem, elaborar um plano de reajustes para os próximos quatro anos, com base no desempenho econômico e na arrecadação do Estado. ‘Todos tinham concordado. Fui surpreendido pela deflagração da greve.’ A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, nega.

Maria Isabel nega, é? Essa moça é complicada. Em março de 2010, já de olho na campanha presidencial, Bebel tentou deflagrar uma greve em São Paulo. Num dos discursos, afirmou: “Esse senhor [José Serra, então governador] não vai ser presidente do Brasil. Estamos aqui para quebrar a espinha dorsal desse partido e desse governador”. Depois disso, foi se encontrar com a candidata Dilma. A greve de 2010 terminou com Bebel debaixo de uma chuva de ovos.

Os petistas — e Bebel é um deles — não entenderam mesmo nada! Ainda não se deram conta de que a população já está com o saco cheio de ser usada como massa de manobra da luta política e de um partido. É claro que me refiro ao PT, ao qual Bebel é filiada. Aliás, ela já teve a chance de se submeter ao escrutínio popular: obteve 100 votos como candidata a vereadora da cidade de Águas de São Pedro, o segundo menor município do país, com cerca de 3 mil habitantes. Vencer a eleição na Apeoesp, ancorada no PT, tem sido mais fácil.

Os professores, mais uma vez, estão dizendo “não” à manipulação política de um sindicato que é mera franja de um partido. E a população de São Paulo constata, de novo!, o mal que lhe faz uma legenda que não tem compromisso com a educação, embora a sua filiada mais famosa do momento queira liderar a “Pátria Educadora”.

Por Reinaldo Azevedo

 

NA FOLHA: Presidente do PT cita queda de Allende para pedir apoio da sigla ao governo 

É coisa nossa O presidente do PT, Rui Falcão, citou a queda de Salvador Allende no Chile, em 1973, para pedir na noite de segunda-feira apoio do partido a Dilma Rousseff. “Como diziam os chilenos pré-queda do Allende: ‘É um governo de merda, mas é o meu governo'”, discursou. Em seguida, emendou: “[O governo] não é de merda, mas é o nosso governo, e temos de defendê-lo”. Na reunião, com cerca de 150 pessoas, o PT decidiu apoiar ato da CUT no dia 31 em defesa da democracia e da Petrobras.

Contexto Em 1973, meses antes do golpe do general Augusto Pinochet no Chile, um cartaz ficou famoso numa passeata pró-Allende com os dizeres: “Este é um governo de merda. Mas é o meu governo, merda!”

Saia-justa O prefeito de Bragança Paulista, Fernão Dias, fez o discurso mais duro da reunião. Disse que apoiou os condenados no mensalão, mas que “não dá mais para defender José Dirceu” depois que sua consultoria recebeu R$ 29,3 milhões em oito anos.

Catarse Outras 28 pessoas se inscreveram para falar e a sessão virou uma grande plenária. Muita gente não conseguiu entrar no auditório superlotado em São Paulo. (NO PAINEL).

 

VINICIUS TORRES FREIRE

A malhação de Dilma

Apesar de dizer que não quer botar fogo no circo econômico, PMDB morde e assopra ajuste fiscal

"QUE FASE." Quando o governo acerta uma no cravo, martela duas na ferradura e leva três na canela. Na segunda-feira, teve a satisfação triste e diminuta de saber que não levou ponto negativo em sua nota de crédito, dada por uma dessas agências de avaliação de risco de calote. Alegrias pobres duram pouco.

Ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), disse a líderes empresariais da indústria que Dilma Rousseff vai comer o pão que ela própria amassou antes de ver o pacote de corte de gastos do governo aprovado no Congresso. Foi aplaudido.

Calheiros e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) têm dito em público e a algumas lideranças empresariais maiores que não vão colocar fogo no circo, não vão derrubar o corte de gastos, o "ajuste fiscal". Mas a cada dois ou três dias demonstram também que vão triturar politicamente o governo. Ameaçaram, mas enfim recuaram, deixar correr projeto de lei que reajusta todos os benefícios do INSS pelo valor do salário mínimo. Querem fazer valer logo, regulamentar, a lei que reduz a dívida de Estados e municípios com a União, mais um talho nas receitas federais.

Ontem, Calheiros cantou alto a ária preferida de empresários e aliás de quase todo o mundo. Isto é, o governo tem de cortar "seus gastos", não aumentar impostos, como pretende fazer no caso da contribuição patronal para o INSS, medida que deixou o empresariado em geral fulo. Mas o governo vai cortar onde?

Reduzir o número de ministérios rende apenas um troco. Melhorar as contas do governo ora implica reduzir benefícios sociais, investimento "em obras" ou fechar partes do governo (isso: fechar).

No entanto, centrais sindicais e movimentos sociais malham e querem queimar o PT como Judas, para nem falar dos parlamentares que ameaçam debandar, todos por causa de cortes sociais. Para piorar, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi ontem a público negar que o governo vá maneirar no talho social a fim de agradar a Lula, ao PT, a agregados e a simpatizantes.

Logo, vai sobrar ainda mais para os investimentos. A recessão deve, assim, piorar. Obras vão parar ou ficar sem pagamento, como já acontece, o que vai causar mais raiva entre empresas e trabalhadores. Em um ano, a construção civil já demitiu uns 8% de sua força de trabalho, quase 280 mil pessoas na rua.

Suponha-se que Calheiros e Cunha não queiram tocar fogo no circo econômico (sabem que reduzir o ministério não rende nada em termos fiscais). Pode ser então que estejam emparedando o governo, ganhando mais território, talvez até reduzir Dilma Rousseff a presidente do Vaticano ou de San Marino. Tendo ficado com mais poder ou, quem sabe, tendo empurrado a presidente no precipício, farão o que da massa falida, talvez caótica?

Até cortar gasto a machadadas está difícil, pois há muita despesa protegida por lei, crescente, e a receita do governo não cresce. O decerto lunático Orçamento federal prevê um AUMENTO real de uns 9% na receita, mas no primeiro bimestre do ano a receita CAIU 3% em termos reais.

Enfim, esta é a malhação de Dilma com pauladas econômicas. Há CPIs, polícia, procuradores, Justiça. Ninguém ainda se arrisca a dar sentido a esta crise.

vinit@uol.com.br

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte: Blogs de veja + Folha

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