S&P mantém grau de investimento por acreditar em mudança de Dilma. Ou: Agência de risco aposta em estelionato eleitoral

Publicado em 24/03/2015 14:57
por Rodrigo Constantino, de veja.com

A Standard & Poor’s decidiu manter o grau de investimento do Brasil, confirmando nosso rating com perspectiva estável. Os investidores comemoram, pois havia o risco nada desprezível de um rebaixamento, o que levaria a uma fuga de capitais do país, já que muitos gestores internacionais só podem investir em países com grau de investimento. Os motivos apresentados pela S&P deixam claro que a agência acreditou nas promessas do ministro Joaquim Levy:

Segundo a agência, a perspectiva estável reflete a expectativa de que a politicamente difícil correção de rumo em curso continuará angariando apoio da presidente Dilma Rousseff, e, finalmente, do Congresso, e gradualmente irá restaurar a credibilidade política e abrir caminho para perspectivas de um crescimento mais forte nos próximos anos.

“Em uma reversão da política de seu primeiro mandato, a presidente encarregou sua equipe econômica de desenvolver um ajuste acentuado nas diferentes políticas – não só fiscal – para restaurar a credibilidade perdida e fortalecer os perfis fiscal e econômico do Brasil que agora estão mais fracos”, disse a agência, acrescentando que o rebaixamento da nota brasileira no ano passado já incorporava um cenário mais difícil este ano.

“O rebaixamento do Brasil em 2014 incorporou nossas expectativas por crescimento e trajetórias fiscais mais fracas do que em anos recentes, com o governo tendo menos espaço para manobras em meio a choques econômicos. Ele também incorporou a expectativa de que uma segunda administração de Rousseff seria marcada por um histórico contínuo de políticas mistas e inconsistentes”, disse a S&P, em nota.

A justificativa não deixa margem a dúvidas: Levy conseguiu convencer os analistas da S&P de que Dilma realmente mudou, ou seja, de que ele agora possui o poder nas mãos e que a presidente vai endossar suas medidas. A reversão da política econômica é o único motivo para que a agência de risco dê tempo ao país, na expectativa de que as coisas irão melhorar à frente.

Em outras palavras: a S&P dá o benefício da dúvida ao Brasil por acreditar no estelionato eleitoral de Dilma, por achar que a presidente, apesar de todo o discurso contrário, realmente acordou e resolveu mudar, abandonando sua visão desenvolvimentista do primeiro mandato.

Dilma, incapaz de reconhecer seus erros e suas mentiras de campanha, prefere repetir que a crise é fruto da conjuntura internacional e que precisa fazer apenas alguns ajustes no rumo da economia, mas ninguém mais acredita nisso. A agência de risco não liga para mentiras de campanha ou para desculpas esfarrapadas, e sim para as medidas concretas tomadas daqui para frente.

Se estas seguirem realmente a linha de Levy, e não de Mantega e Dilma, então há alguma esperança. É com base nessa crença que a S&P resolveu preservar nossa nota de investimento. Claro que ainda há muitas incertezas, que o próprio PT pode ser uma oposição às mudanças do governo, que a presidente Dilma, por não parecer efetivamente convencida da necessidade urgente de mudanças radicais, ainda pode criar dificuldades ou mesmo demitir o ministro.

Seria catastrófico para a economia, e o Brasil certamente seria rebaixado. Ou seja, se Dilma seguisse sua trajetória do primeiro mandato e seu discurso de campanha, se o governo adotasse aquilo que os próprios petistas pedem e que os economistas ligados à Unicamp desejam, então o Brasil já teria sido rebaixado e o dólar estaria acima de R$ 3,50. Como Levy está no leme, o país ganhou tempo. A S&P decidiu apostar no estelionato eleitoral, e o dólar voltou a se enfraquecer um pouco, retornando para o patamar mais civilizado de R$ 3,10:

Dólar em reais. Fonte: Bloomberg

Até quando isso vai durar? Até Dilma demonstrar que realmente entendeu a quantidade de besteira que fez no primeiro mandato. Até Dilma demonstrar que é Levy, não ela, quem dá as cartas agora. Até Dilma demonstrar que não vai mais escutar conselheiros como Belluzzo e companhia. Até Dilma demonstrar que está blindada até contra a pressão do seu PT, que adoraria a volta do populismo. Até quando Dilma demonstrar que não liga para seu estelionato eleitoral. Até quando?

Rodrigo Constantino

 

 

“Baixe a bola, ministro”, diz Paes a Levy

Levy: tensão com Paes

Esquentou – e muito – o clima na segunda-feira à noite entre Eduardo Paes e Joaquim Levy, em um jantar na casa de Michel Temer. Os dois discutiam o endividamento da cidade do Rio de Janeiro com a União, quando Levy subiu o tom de voz. Paes respondeu, com o dedo em riste, de acordo com o relato de um dos presentes:
- O senhor baixe a bola, ministro. Não fale nesse tom comigo porque nem voto o senhor tem. O meu cargo foi mais difícil de conseguir do que o seu.
Levy abaixou a cabeça, e deixou o jantar menos de meia hora depois sem ceder nos pontos que Paes queria.

 

Por Lauro Jardim

 

Efeito bumerangue: populismo de Dilma candidata volta para assombrar Dilma presidente. Ou: Prefeitos traídos: Paes processa governo

O aliado Eduardo Paes já entrou na Justiça contra o governo federal, e até o petista Fernando Haddad pode seguir. Fonte: GLOBO

De olho no apoio dos prefeitos e também na gastança maior dos municípios, especialmente aqueles governados por aliados, a presidente Dilma, agindo (sempre) como candidata, aceitou mudar o indexador da dívida dos municípios com o governo federal, o que representaria, na prática, a sua expansão da capacidade de gastos, furando o teto da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A medida foi justamente a morte da LRF, como assinalei na época:

O prefeito de São Paulo, caso alguém não lembre, é o petista Fernando Haddad, e o governador do Rio Grande do Sul, caso falhe a memória, é o petista Tarso Genro. Esses são os dois maiores beneficiados com esse projeto de lei indecente e irresponsável. O PT não brinca em serviço. Faz o diabo para vencer as eleições e se perpetuar no poder.

O economista Fabio Giambiagi chamou a manobra de “pá de cal” na Lei de Responsabilidade Fiscal. Está certo. O fato de o projeto de lei, caso aprovado, retroagir até 1996 com o novo indexador é algo simplesmente inacreditável, feito sob medida para ajudar a prefeitura paulista a gastar e se endividar mais do que poderia. É um acinte.

O efeito prático é transferir dívida dos entes federativos para a União, de forma a liberar espaço para mais endividamento municipal e estadual. Aquele último pilar que sustentava o tripé macroeconômico vai ruir como se fosse de areia.

O governo já vem sacrificando o superávit fiscal com seus malabarismos contábeis, e agora mais essa. O preço que o país vai pagar pelos absurdos praticados durante a gestão petista será gigantesco, e a fatura terá de ser digerida por muitos e muitos anos. É o que acontece quando populistas são alçados ao poder…

Pois bem: após tantas medidas populistas, o governo praticamente quebrou. Sob o risco de o país perder seu “grau de investimento”, o que foi possível postergar ao menos no caso da S&P, Dilma convocou Joaquim Levy para assumir a Fazenda e apresentar suas mãos de tesoura. O ministro gosta de um aumento de imposto também, e como gosta! Mas é verdade que vem tentando reduzir gastos do governo. Dilma até endossou o bordão “gastar menos com Brasília e mais com o Brasil”.

Nesse clima, a equipe econômica de Dilma vem adiando a aplicação da regra nova válida desde novembro do ano passado, quando a presidente sancionou a lei sobre as dívidas dos municípios com a União. Em nome do ajuste fiscal, Dilma vai cavando um pouco mais sua cova política, por despertar a fúria dos prefeitos, inclusive de seus aliados. Eduardo Paes, do Rio, entrou até na Justiça contra o governo, para fazer valer a nova lei:

A prefeitura do Rio foi a primeira a reagir. Entrou na Justiça para tentar obrigar o governo federal a cumprir a lei sancionada no ano passado. Com a mudança no cálculo, a dívida do município, que é de R$ 6 bilhões, poderia ser quitada em pouco tempo. Para tentar convencer a presidente, o prefeito Eduardo Paes, aliado da petista, embarcou ontem à noite para Brasília.

Antes de recorrer ao Judiciário, Paes questionou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre a validade da lei e obteve como resposta que a União precisava de mais tempo para mudar os contratos. Como o prazo pedido pelo ministro estourou na semana passada, Paes entrou com a ação.

Na negociação das dívidas, Dilma está numa encruzilhada. Ao mesmo tempo em que sofre a pressão de prefeituras e governos asfixiados, é vigiada de perto pelo mercado financeiro. A mudança no cálculo é vista por analistas como uma atitude perdulária em tempos de crise financeira e, segundo eles, pode comprometer as notas do Brasil dadas pelas agência de risco.

[...] A situação mais embaraçosa para o governo é com a Prefeitura de São Paulo, administrada pelo petista Fernando Haddad. A dívida, de R$ 62 bilhões, é praticamente impagável nos atuais termos e impede que o município contraia novos empréstimos. A mudança no cálculo foi prometida por Dilma a Haddad mais de uma vez e afeta diretamente o desenvolvimento da cidade — maior vitrine petista no país.

É possível que Haddad faça coro ao prefeito carioca e também entre na Justiça contra a União. Seria o caso de um “fogo amigo”, mostrando que Dilma fica cada vez mais isolada e acuada. Não que ela esteja errada agora, ao tentar resgatar minimamente as contas públicas, o superávit primário do governo federal, a própria Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas o custo disso, não só político como econômico, deve-se ao populismo de antes. O governo aceitou seguir por esse caminho irresponsável sob o ministério de Guido Mantega e com base na pressão de gente como Haddad e Tarso Genro.

Ou seja, o próprio PT deu o tiro no pé, e Dilma puxou o gatilho. Agora chegou a fatura. Não dá mais para fingir que a LRF não existe e que os governos podem gastar como se não devessem à União, como se suas dívidas com o governo federal pudessem ser eternamente expandidas. A conta não fecha. Municípios terão de cortar investimentos, reduzir gastos, adaptar-se. Seus representantes terão elevado custo político, e tentarão descontar na presidente. Ela merece. Foi ela quem produziu essa situação. O mal deveria ter sido cortado pela raiz, mas a tentação da candidata era muito grande. A presidente pagará o pato…

Rodrigo Constantino

 

Governo desorganizou setor de ensino

Estudantes dormem na fila para se inscrever no Fies

Todo mundo coloca, com razão, as esperanças no futuro do país na educação. O problema não está nisso, mas na forma que alguns defendem para implementar esse avanço educacional. Como já escreviaqui, educação por si só não é uma panaceia, e jogar mais recursos públicos num modelo fracassado de nada vai adiantar.

O governo petista usou o crédito estudantil como a grande alavanca para ter mais gente matriculada. Durante algum tempo, isso pareceu uma medida sensata. O governo divulgava os índices com estardalhaço. Muitos alunos novos matriculados, isso parecia perfeito. O diabo estava nos detalhes: o crédito subsidiado saiu de controle, alunos sem qualificação alguma foram matriculados, e os empresários do setor soltavam fogos de artifício achando que a farra duraria para sempre.

Ledo engano. Geraldo Samor, colunista de Mercado da Veja.com, escreveu um texto mostrando que a Pátria, em vez de educadora, é enroladora sob o PT. O setor está todo desorganizado, ninguém sabe o que vai acontecer, e alunos perdem suas matrículas, entrando em desespero. O governo culpou a iniciativa privada pela confusão que criou. O Fies era um “sucesso” temporário; com o tempo as falhas vieram à tona. A bolha estourou:

Kroton. Fonte: Bloomberg

Grupo Estácio. Fonte: Bloomberg

Entre um terço e metade dos alunos das principais empresas de ensino com ações em bolsa usa o Fies. Os empréstimos do governo para tal fim saíram de pouco mais de R$ 1 bilhão para mais de R$ 20 bilhões. Alguém acha que o critério foi econômico, levando-se em conta a capacidade de pagamento no futuro? Alguém acha que o critério foi técnico, levando-se em conta a qualidade dos alunos matriculados?

Claro que não. O critério foi o de sempre quando populistas se apropriam do estado: político-eleitoral. Ou seja, o governo petista foi liberando verbas de olho nas eleições. Enquanto isso, as empresas celebravam e os alunos também, mas faltavam pilares sólidos para sustentar o programa. Qual a solução?

Parece repetitivo e ideológico, mas não é: o mercado! O PT desconfia demais do funcionamento do livre mercado, ou seja, das trocas voluntárias. Acha que o dirigismo estatal é sempre o caminho, como se políticos e burocratas fossem clarividentes e abnegados. Não são nem uma coisa, nem outra. E costumam atrapalhar mais do que ajudar.

Uma reportagem de hoje no Valor mostra como o mercado de crédito estudantil privado está ressurgindo agora que o Fies está com problemas. Antes, era impossível para a iniciativa privada competir no mercado, pois o governo afastava a concorrência com seus subsídios. É o mesmo que ocorre no caso do BNDES para empréstimos de longo prazo para infraestrutura.

Aqueles que repetem que é preciso a mão estatal pois a iniciativa privada não vem ignoram que ela não vem porque o governo se intromete de forma desleal. Agora que o governo está sendo obrigado a recuar, após deixar claro que foi incompetente e populista na concessão de empréstimos, os bancos privados podem finalmente avaliar caso a caso e conceder empréstimos para aqueles alunos que realmente apresentam as qualificações adequadas.

Educação é algo importante demais para ficar sob o controle do governo!

Rodrigo Constantino

 

Pátria enroladora: Governo dá ‘lição de caos’ no FIES

Talvez por não terem mais tanto a perder — já que suas ações mergulharam entre 30% e 60%depois que o Governo mudou abruptamente as regras do FIES — as empresas de educação listadas em Bolsa tem sido mais honestas com os investidores, pelo menos a portas fechadas.

Em conversas com múltiplos gestores, algumas empresas têm dito o seguinte:

1) O site do FIES continua espalhando confusão. Até duas semanas atrás, os alunos iam ao site do FIES para renovar suas matrículas e recebiam a seguinte mensagem: “Você conseguiu sua renovação, agora vá até sua faculdade para confirmar.” Só que, para as escolas, o Ministério dizia outra coisa. “Para muitos alunos, o sistema respondia que aquele aluno não estava aprovado, seja por causa de preço ou de qualquer outra coisa. Quem tinha que dar a notícia da não-aprovação ao aluno era a faculdade, que ficava numa saia justa.”

Mas a pior situação é a do aluno, que fica vítima do jogo de empurra. Uma faculdade disse que chegou a ter mil pessoas dormindo na fila para renovar a matrícula.

Na segunda e terça da semana passada, o sistema passou a liberar matrículas — mais ou menos. O site passou a dizer que a matrícula havia sido aprovada, mas ainda estava “sujeita a cancelamento.” Slogan do momento: Brasil, Pátria Enroladora.

2) As empresas não sabem se conseguirão repassar os aumentos. Como parte das mudanças de regras do FIES, o Governo limitou os aumentos de mensalidades no ano letivo 2015 em 6,4% (a inflação oficial do ano passado). Como resultado dessa política, o Ministério está bloqueando automaticamente as matrículas de novos alunos em cursos que tiveram mais de 6,4% de aumento. Mas, quanto aos alunos já existentes, o Ministério tem aprovado as matrículas em alguns casos, mas acrescentando que aquela aprovação pode ser revista mais adiante.

Para cursos com reajustes maiores, as escolas pensam em incluir no FIES o aumento de 6,4%, e cobrar o que exceder este limite diretamente dos alunos.

“Cada empresa vai avaliar se acha isso adequado ou não,” diz um investidor que teve conversas com o setor. “Como atualmente os alunos pagam 50 reais por trimestre, não é necessariamente fácil fazê-los pagar algum valor todo mês, principalmente num cenário de inflação maior e desemprego em alta.”

3) O Ministério está olhando os contratos com lupa. Cada vez que os alunos se matriculam para um novo período, as empresas têm que fazer um aditamento ao contrato. Este é um documento oficial que valida a continuidade do aluno no curso. Mas muitas faculdades menores, não listadas na Bolsa, não cumprem esse processo. Até o ano passado, o Governo repassava os recursos do FIES normalmente para estas escolas, mas agora, a coisa mudou. “Para as empresas que não fizeram aditamento, o Ministério está dizendo que os contratos são inválidos,” disse o executivo de uma empresa.

Qualquer pessoa séria é a favor do cumprimento de contratos e de todas as formalidades técnicas — mas, de novo, como fica o aluno?

4) A relação entre as empresas e o Ministério está péssima. Em sua breve gestão, Cid Gomes nunca atendeu as empresas diretamente para discutir as mudanças drásticas no FIES, publicadas no apagar das luzes de 2014. Para piorar, há muito ruído na interlocução entre as empresas e o secretário-executivo do ministério, agora ministro interino.

Mas, para as empresas, já ficou claro que as mudanças no programa não são má vontade do Ministério, e sim uma parte do ajuste fiscal. “O Levy chegou lá e disse, ‘tem que cortar isso, pronto e acabou’, e o que houve foi desorganização do Ministério em como operacionalizar o corte.”

É evidente que em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Mas neste caso, o mínimo que se poderia esperar do Ministério era mais organização e um tratamento digno aos alunos.

E, quanto às empresas, em vez de contarem as verdades apenas aos investidores, elas deveriam se organizar e vir a público explicar à sociedade a bagunça em que se meteram.

Por Geraldo Samor

 

Educação ou panaceia?

“Criar pessoas com elevada qualificação em países onde a atividade mais rentável é pressionar o governo por favores não é uma fórmula de sucesso.” (William Easterly)

Poucos pontos são tão consensuais como o caráter milagroso atribuído à educação para o crescimento econômico e prosperidade de um país. Mas será que tal senso comum encontra respaldo nos fatos? O economista William Easterly, que atuou por anos no Banco Mundial, tenta responder essa questão em um capítulo do seu livro O Espetáculo do Crescimento, cuja premissa base é que os indivíduos reagem a incentivos. No mínimo, o autor consegue forçar uma saudável reflexão.

Através de vários estudos estatísticos, Easterly conclui que a resposta do crescimento econômico à expansão educacional dramática nas últimas décadas tem sido bastante desapontadora. A causa do suposto fracasso das medidas governamentais em prol da educação é, segundo o autor, o fato de que os indivíduos respondem aos incentivos, e se estes não estiverem presentes para um investimento no futuro, expandir a educação terá baixo valor. Em resumo, investir em certas habilidades onde não existe tecnologia disponível para seu uso não irá garantir crescimento econômico.

Como exemplo, Easterly cita os avanços no capital humano de determinados países africanos, ainda que largando de uma base baixa, que não foram correspondidos por elevado crescimento econômico. Em contrapartida, o Japão, que não experimentou um crescimento expressivo no seu capital humano, viveu uma forte aceleração econômica. Estatisticamente, não há correlação entre crescimento nos anos de escolaridade e aumento da renda per capita. Alguns estudos apontam, de fato, que um investimento no ensino básico pode surtir um efeito positivo no crescimento econômico, por determinado período. Mas isso está longe de ser a garantia de sucesso de uma nação a longo prazo, em termos de prosperidade. A conclusão é que a educação parece mais uma fórmula mágica que falhou na entrega das expectativas.

Na verdade, não é tão complicado entender a lógica disso. Quando o ambiente é hostil ao empreendedorismo, quando os incentivos para o investimento no futuro não estão presentes, e quando falta uma competição calcada no livre mercado, o indivíduo mais educado ou irá migrar para um país mais favorável ou irá ceder aos encantos da “amizade com o rei”. No primeiro caso falamos do conhecido brain drain, onde vários indivíduos de bom intelecto partem para países mais livres e com maiores oportunidades de emprego. Basta lembrar da quantidade de cubanos, brasileiros e indianos com bom preparo que migraram para os Estados Unidos. No segundo caso, temos vários exemplos de que, quando o governo não cria as oportunidades devidas para a geração de riqueza, o ensino perde valor, dado que as atividades valorizadas são apenas as ligadas à redistribuição de riqueza. Passar em um concurso público ou obter um favor político e ser um burocrata compensa mais que disputar como engenheiro uma vaga no setor privado.

A grande falácia dos que depositam fé messiânica na educação imposta e financiada pelo Estado é que ignoram os incentivos individuais, partindo da premissa estranha de que os próprios indivíduos vão escolher algo pior para si. Ninguém mais que o próprio pai vai querer o melhor para seu filho. Como acreditar que políticos distantes, em busca de votos, vão realmente querer o melhor para o indivíduo em si? Logo, se o pai prefere a ajuda imediata do filho na roça em vez de investir na sua educação, é provavelmente porque a educação tem um baixo valor esperado, e não compensa o custo. Essa é a conclusão de estudos da própria Organização Internacional do Trabalho. Forçar crianças a freqüentar a escola sem ter uma contrapartida de valor esperado positivo para tamanho investimento parece ser uma medida inócua. Isso sem falar da questão sobre qual educação será oferecida quando o Estado toma conta de tudo, já que vemos em muitos casos uma verdadeira doutrinação ideológica em vez de educação de fato.

Em outras palavras, criar gente qualificada onde não há demanda por gente qualificada pode representar um desperdício, fora o risco de doutrinação ideológica por parte do governo. Como exemplo sintomático, podemos pensar nos taxistas engenheiros, ou mesmo em prostitutas com diploma, além da migração para outros países, como já foi dito. Comparar as duas diferentes partes da Alemanha nos tempos da Guerra Fria é elucidativo. Os povos tinham a mesma educação, mas o diferente grau de liberdade econômica fez a ocidental prosperar, enquanto a oriental ficava cada vez mais miserável.

Não pretendo desmerecer o investimento em educação. Ele parece ser fundamental, ainda que não seja uma condição suficiente para o progresso. Mas a educação parece estar longe de ser o milagre que muitos acreditam, como se bastasse mais investimento estatal nesse setor para que o Brasil virasse uma Suíça. Sinto dizer, mas não é o caso. Sem ambiente favorável aos negócios, possível com maior liberdade econômica, teremos apenas subempregos com diplomas. Mas o povo ainda será muito pobre. Afinal, a educação, sozinha, não faz milagre. Não é essa panacéia que tantos acreditam.

Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

Estudantes da PUC-Rio lançam manifesto contra a UNE

Mais um grupo de universitários está se rebelando contra a União Nacional dos Estudantes (UNE).

O DCE da Puc-Rio lançou hoje um manifesto contra os desmandos, a orientação política, a farsa das eleições e a falta de representação da entidade.

A UNE é comandada há 25 anos pela União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, e insiste em apoiar Dilma mesmo diante dos erros da presidente e da crise na educação superior.

Leia abaixo o manifesto do DCE da Puc-Rio:

Caros estudantes,

Neste final de semana, ocorre o o 63º Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG), entidade deliberativa da União Nacional dos Estudantes (UNE), no qual as Entidades Gerais de Estudantes (DCEs, por ex.) realizam seu credenciamento, mediante o qual poderão organizar as eleições de Delegados para o Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE). Este, aliás, também será convocado neste mesmo Conselho.

Primeiramente, informamos: a atual gestão do DCE Raul Amaro PUC-Rio não comparecerá a este credenciamento. Não reconhecemos a UNE – e suas respectivas instâncias deliberativas – como uma verdadeira entidade de representação estudantil. Apesar da luta histórica e dos anos de glória da mesma, os últimos anos não lhe foram nada felizes: aparelhada por uns poucos partidos que já a dominam por muitos anos, a UNE se tornou apática e dominada pelo governismo cego, sendo incapaz de lutar pelos estudantes quando quem os prejudica é o Governo Federal – ou qualquer outro governo regional de sua base aliada.

Como prova disso, já em 2009 setores de movimentos estudantis insatisfeitos com a relação da corrente majoritária da UNE – ligada ao PT e ao PCdoB, que controla a entidade há mais de 25 anos – com o Governo Federal criaram uma nova entidade estudantil para representá-los, a ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre), cuja atuação persiste até os dias de hoje. Atualmente, vemos que essa insatisfação cresce entre os estudantes de todo o país.

Inúmeros são os contingenciamentos direcionados à educação, como os elevados cortes orçamentários e o endurecimento das regras do FIES. Hoje, diversas Universidades beiram a paralisação geral / greve, mas não vemos a UNE nas ruas endossando as críticas ao Governo Federal, responsável direto pelo o que vem ocorrendo. Indiretamente, vemos uma crise institucional e econômica, que afeta toda a nossa sociedade e também os estudantes, que enfrentam dificuldades cada vez maiores para entrar no mercado de trabalho, dada à estagnação de nosso crescimento. Também não vemos qualquer pronunciamento da UNE quanto a isso.

Outra prova do aparelhamento praticado pela instituição – e o seu desrespeito pela autonomia das Entidades Gerais Estudantis – foi a participação, em favor da chapa derrotada ["Abre a Roda"], de membros da Executiva Nacional da UNE (como Mitã Chalfun, Vice-Presidente) nas eleições de DCE ocorridas no final do ano passado, sendo que os mesmos eram alunos de outras Universidades. Essa prática, infelizmente, é recorrente no modus operandi da entidade.

Por todos os argumentos usados, e tantos outros mais, repudiamos a forma como a UNE vem sendo conduzida – e aparelhada – e nos negamos a reconhecer e participar dos Conselhos e Congressos por ela convocados e organizados. Estamos certo de que há outras formas de fortalecer a representação estudantil em todo o país. Contamos com o apoio de nossa amada comunidade de alunos, cientes que estão da lamentável situação apresentada.

Atenciosamente,

Equipe DCE Raul Amaro PUC-Rio

(por Leandro Narloch)

Tags:

Fonte: Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Prejuízos na pecuária devem continuar em 2022, avalia o presidente da Assocon
Exportações totais de carne bovina caem 6% no volume e 11% na receita em janeiro
Santa Catarina mantém proibição de entrada de bovinos vindos de outros estados
A "filosofia" de Paulo Guedes para a economia brasileira. Os liberais chegaram ao Poder
O misterioso caso de certo sítio em Atibaia (Por Percival Puggina)
Integrante da equipe de transição de Bolsonaro é crítica severa do agronegócio
undefined