Da Vaca Sagrada à Vaca Profanada. E com tosse. .., por REINALDO AZEVEDO

Publicado em 23/03/2015 07:13
Será muito difícil Dilma mudar o ânimo das ruas...

Da Vaca Sagrada à Vaca Profanada. E com tosse. Ou: Será muito difícil Dilma mudar o ânimo das ruas

Não será fácil para a presidente Dilma Rousseff mudar o ânimo das ruas. E, a se levar em conta o que andam a sugerir alguns aloprados do PT, a coisa pode piorar. Os veículos e subveículos de comunicação que servem ao poder e ao partido decidiram que é hora de fazer novas listas negras de jornalistas. Esses caras não perceberam que esse tipo de prática milita contra a estabilidade da própria presidente. Agredir moralmente os que divergem do governo corresponde a dar um tiro no pé. Mas os valentes não abrem mão da linguagem do confronto.

A pesquisa Datafolha que captou os números desastrosos da popularidade da presidente — apenas 13% de ótimo e bom e 62% de ruim e péssimo — também quis saber se os entrevistados acham que Dilma sabia ou não das lambanças na Petrobras. Esse resultado consegue ser ainda pior do que o de sua popularidade.

Para 84%, Dilma sabia, sim, da corrupção na estatal. Desse total, 61% sustentam que ela sabia e nada fez; outros 23% avaliam que ela tinha conhecimento, mas nada poderia ter feito para impedir a sem-vergonhice. Ou por outra: 61% a veem como conivente, e 23%, como uma fraca. É difícil saber o que é pior.

Sim, entre os que votaram em Aécio, é esmagador o percentual dos que afirmam que Dilma sabia de tudo: 94%. Ocorre que é também gigantesco entre os que declararam voto na presidente: 74%. Nada menos de 88% afirmam que a Petrobras será prejudicada pelos escândalos — para 51%, um prejuízo que vai durar muito tempo. A elite petista, no entanto, insiste na tecla suicida de que tudo não passa de uma conspiração de golpistas. É também o que afirmam os colunistas da grande imprensa que servem de esbirros do partido.

Sabemos como são as coisas, não? Se a presidente tivesse à mão um conjunto de instrumentos ou de política econômica maiúscula ou mesmo de generosidades pontuais com que acenar, talvez se pudesse apostar numa mudança do quadro num tempo razoável. Mas, como indagaria Noel Rosa, “com que roupa?” A margem de manobra é nenhuma. Ao contrário: o ciclo de dificuldades decorrente do ajuste recessivo — que tem de ser aplicado — ainda nem começou a surtir efeito.

O fator Petrobras
É claro que a crise econômica e as promessas obviamente não cumpridas de Dilma levam muitos milhares às ruas. Raramente se teve com tanta clareza a evidência do estelionato eleitoral. A própria Dilma sugeriu que, em 2003, Lula mocozeou o programa do PT e governou com outro. É verdade. Mas foi bom para os brasileiros. Se o Apedeuta tivesse destruído o Plano Real, aí, sim, teria havido um desastre. Desta feita, a vida piorou.

Entendo que a coisa vai além da crise, o que as pesquisas ainda não pegaram. O PT tratou a Petrobras como a Vaca Sagrada da nacionalidade nas campanhas de 2002, 2006 e 2010. E teria feito o mesmo em 2014, não fosse a Lava Jato. Propagava aos quatro ventos que os adversários queriam privatizar a empresa, que não tinham por ela nenhum respeito, que agrediam os interesses nacionais…

E eis que os brasileiros — que aprenderam com os petistas que a Petrobras era um altar de bênçãos — descobrem que os companheiros haviam transformado a empresa num antro de safadeza, de roubalheira e de rapinagem. A Vaca Sagrada foi profanada.

Queriam o quê? A bomba explodiu no colo de Dilma. Afinal, ela está no poder há 13 anos, não é mesmo?

Texto publicado originalmente às 3h02

Por Reinaldo Azevedo

Ódio à democracia: estafetas do petismo, disfarçados de imprensa, preparam nova lista negra de jornalistas e veículos que seriam “culpados” pelos protestos

O PT já convocou seus estafetas na imprensa e seus esbirros na subimprensa para satanizar jornalistas e veículos de comunicação que consideram “responsáveis” pelas manifestações de protesto contra o governo Dilma e contra o petismo. Atribuem a esses “adversários” o que chamam de estímulo à “direita raivosa”. Trata-se de uma raiva estranha:

– não tem armas;
– não agride ninguém;
– veste as cores nacionais;
– não depreda patrimônio público;
– não ataca o patrimônio privado;
– valoriza o trabalho;
– dedica-se ao estudo;
– aposta no mérito;
– opõe-se, por óbvio, à roubalheira:
- defende a Constituição e as leis.

Ainda que houvesse mesmo, o que é falso, dois ou três responsáveis por essas manifestações em defesa da democracia e do estado de direito, seria o caso, então, de perguntar se os valores que estariam sendo estimulados são ruins. Se o que vai acima é coisa da direita raivosa, cumpre indagar: qual é, então, a esquerda amorosa? A que se arma? A que agride? A que veste vermelho? A que depreda o patrimônio público? A que ataca o patrimônio privado? A que despreza o trabalho? A que faz pouco caso do estudo? A que repudia o mérito? A que defende o roubo social?

Em junho do ano passado, por ocasião das manifestações de protesto no período da Copa do Mundo, Alberto Cantalice, vice-presidente do PT, incluiu meu nome numa lista negra de nove pessoas que, segundo ele, estimulavam o ódio. No link, vocês encontram os demais, se é que ainda não sabem.

Muito bem! A Copa passou. Boa parte dos brasileiros que estão nas ruas em março de 2015 — e que devem voltar no dia 12 de abril — não se manifestou em junho de 2013 (movimento majoritariamente liderado pelas esquerdas) e em junho do ano passado: com perfil mais heterogêneo, mas, ainda assim, com sotaque esquerdista. Desta vez, de fato, o público é outro. Conversei com muita gente na Paulista no dia 15 de março. Boa parte estava no seu evento inaugural. Protestos e manifestações, como sabemos, costumam ser coisas de profissionais da militância ou de mercenários pagos por esses profissionais. Gente que trabalha e estuda não têm tempo para isso — infelizmente!

Mas houve, tudo indica, o despertar da indignação. O Reinaldo, a Maria ou o J. Pinto Fernandes do poema de Drummond não respondem pelos milhões nas ruas. Reinaldo e outros tantos jornalistas que estão na mira do PT não levam 100 para a praça. Mas Dilma, Lula e José Dirceu podem levar milhões. E daí? O partido convocou seus aliados para a guerra suja. E ela já está em curso. OS MALUCOS NÃO ESTÃO ENXERGANDO DIREITO A REALIDADE. NÃO PERCEBEM QUE JÁ NÃO DITAM A PAUTA E QUE O ESFORÇO PARA DESQUALIFICAR OS “ADVERSÁRIOS” SÓ FORTALECE AQUELES CUJO TRABALHO QUEREM MACULAR.

Vamos à luta. Guerra suja se vence com informação. E a ela, então, vamos nos dedicar para botar os devidos pingos nos “is”. Mas o trabalho de intimidação será inútil. Servirá, ao contrário do que pretendem, para marcar posições. Eu acho que é mesmo chegada a hora de definir com mais clareza o papel de cada um e o lado que ocupa no polígono das ideias.

Neguei, e continuo a negar, que a manifestação do dia 15 tenha sido de direita. Não porque a designação me incomode. Basta ler o que escrevi a respeito ao longo de mais de oito anos. É que sou um democrata da direita realista, não um otimista. O “ser de direita” supõe que as pessoas já plasmaram também um universo conceitual e um conjunto de prefigurações e até de utopias que gostariam de ver realizadas — no caso, identificadas com as liberdades individuais, o livre mercado, a democracia política e a redução drástica do poder do estado.

A pauta da rua é parente desses valores, mas não é ideológica — ideológicas são, isto sim, as invectivas hidrófobas de parte considerável da esquerda contra a população que trabalha, que arrecada impostos e que faz o país funcionar.

Aguardem a nova lista negra. Afinal, como sabemos, a Secom — Secretaria de Comunicação da Presidência — admite que os companheiros fornecem “munição” ao subjornalismo para ser “disparada” pelos “soldados de fora”.

Texto publicado originalmente às 23h46 deste domingo

Por Reinaldo Azevedo

 

‘A vaca sempre tossindo’ e outras seis notas de Carlos Brickmann

(Publicado na coluna de Carlos Brickmann)

 

Na campanha presidencial de 1960, Jânio Quadros repetiu o mesmo discurso, palavra por palavra, no país inteiro. E prometeu instalar umas quinze fábricas de automóveis, cada uma localizada exatamente no local em que fazia o discurso. Não havia problema: as comunicações eram precárias, ninguém sabia num lugar o que ele havia prometido em outro. O discurso repetido sempre parecia novo.

Jânio se elegeu há 55 anos. A tecnologia já é outra, não dá mais para disfarçar. E o Pacote Anticorrupção de hoje da presidente Dilma pode ser achado no Google. Em julho de 2005, quando o Mensalão quase afundou o Governo, o presidente Lula, ao lado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, lançou um Pacote Anticorrupção igualzinho ao de agora (veja no Google: “Lula”, “Pacote Anticorrupção”, “2005″). Em 2011, no início do seu mandato, Dilma teve de se livrar de sete ministros habituados a botar o dedo no pudim. Em setembro, houve protestos de rua contra a ladroeira. E a presidente anunciou de novo o mesmo Pacote Anticorrupção de 2005 – que, diga-se, é exatamente o de hoje. Se repetir a lei resolvesse, a corrupção no país seria abolida pela terceira vez em dez anos.

Mas será que o Governo quer mesmo pagar o preço político da luta contra a corrupção? A Casa Civil da Presidência da República há um ano e meio está sentada em cima da Lei Anticorrupção, e não há quem a convença a regulamentá-la para que entre imediatamente em vigor. Dilma poderia dar ordens à Casa Civil para que faça seu trabalho. Como se explica que, tão mandona, Dilma se cale?

 

De Falcão… 
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, propõe o corte da publicidade oficial nos veículos que, a seu ver, apoiaram a manifestação contra Dilma. Quer uma nova política de anúncios para a “grande mídia”. Acusou até a Rede Record, do bispo Edir Macedo – que apoia Dilma e indicou Marcelo Crivella para o Ministério – de ajudar a convocar a manifestação. Acha que o povo foi para a rua, como se fosse manada, porque a imprensa o chamou.

Um provérbio judaico sintetiza: “Gente inteligente, mesmo quando se cala, diz mais que o tolo quando fala”.

…a pombo
Este colunista acha que Falcão não tem de alisar ninguém: deve radicalizar sua posição e propor de uma vez o fim da publicidade oficial. Não tem sentido torrar dinheiro público para dizer que o Governo é bom. Se for bom, o eleitor percebe sozinho. Publicidade oficial, só do tipo institucional: vacinações, editais de concorrência, balanços. E que a verba seja distribuída de acordo com os critérios clássicos de GRP – medida de público alcançado.

Talvez isso atinja alguns veículos favoritos de Falcão, mas não dá para fazer omelete sem etc., etc., etc.

Trovão silencioso
Panelaço? Nada! Buzinaço? Sussurro. Ruidoso mesmo, trovejante, é o obumbrar do silêncio de Lula, enquanto sua afilhada Dilma é massacrada até pelos aliados mal acertados do PMDB. Lula nada disse para apoiar a manifestação das centrais sindicais no dia 13, calou-se na manifestação do dia 15, silenciou quando o PMDB demitiu um ministro de Dilma.

Considerando-se que Lula não pula em piscina vazia, que será que ele sabe que nós não sabemos?

El vuelo del dinero
O programa Mais Médicos é uma resposta positiva às manifestações de 2013, com o objetivo de atender à população carente sem acesso à saúde. Só que não. Hoje, já se sabe que essa história é lenda. O ótimo repórter Fábio Pannunzio, da Rede Bandeirantes, desencavou uma gravação não autorizada da reunião em que se combinou a trama clandestina entre cubanos, Governo brasileiro e Organização Pan-Americana de Saúde, Opas.

A coordenadora da Opas, Maria Alice Barbosa Fortunato, diz: “Se a gente coloca ‘governo cubano’, se o nosso documento é público, qualquer pessoa vai entender que a gente está driblando a coisa de fazer acordo bilateral e pode dar uma detonada.” Para fingir que não era acordo bilateral e ocultar o objetivo real de trazer cubanos e transferir dinheiro brasileiro para Cuba, sugere a inclusão de uns poucos médicos de outros países. “A gente pode colocar (…) Mercosul e Unasul, para tirar o foco de Cuba (…)”

Batom lá mesmo
Estaria o Governo brasileiro a par de tudo ou a iniciativa seria de funcionários ativistas? O Governo sabia de tudo. O assessor para Assuntos Internacionais do Ministério da Saúde, Alberto Kleinman, diz que salários e forma de pagamento tinham sido definidos por Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência. Seriam 60% para o Governo cubano e 40% para os médicos. O contrato que definiu o envio de dinheiro brasileiro a Cuba – mais da metade do salário de cada médico – foi redigido no fim de 2012. E ficou guardado até o meio de 2013, quando o programa surgiu como se atendesse às manifestações.

Curtinho e cortante
A partir de agora, este colunista está no Twitter, em@CarlosBrickmann. Os caros leitores estão convidados a acompanhá-lo. Informações, observações, frases, humor, comentários, análises imparcialmente corinthianas sobre futebol, dicas de assuntos que não estão sendo notados. E, sempre, um olhar diferente.

(POR CARLOS BRICKMANN).

 

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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