A questão: como é que Dilma se livra de Lula para tentar salvar a própria cabeça?

Publicado em 17/03/2015 15:10
POR REINALDO AZEVEDO, DE VEJA.COM
A questão: como é que Dilma se livra de Lula para tentar salvar a própria cabeça?

Pensa que é fácil ser Dilma Rousseff? Nesta segunda, duas, digamos assim, entidades a cercaram: José Sarney, ele mesmo!!!, estava presente à solenidade em que foi sancionado o novo Código de Processo Civil. Mais tarde, a coitada teve de discutir a crise política com um chefe que anda bastante amuado: Luiz Inácio Lula da Silva.

Para todos os efeitos, Lula seria defensor de uma maior “peemedebização” do governo… Não é bem assim. Quem está buscando caminhos para se livrar da tutela do PT e de seu chefão é Dilma. É que o PMDB, até agora, não se mostra um caminho assim tão seguro. Que vai crescer a importância da legenda no governo, ah, estejam certos disso. Mas basta? Acho que não!

Lula, por sua vez, até pode achar que o entendimento com os peemedebistas se faz necessário — afinal, o governo está na pindaíba —, mas a sua luta no momento é outra: ele se mexe para sobreviver como candidato viável em 2018, o que o PMDB também já percebeu. E não está disposto a lhe rechear a empada com azeitona. Ou por outra: o partido não quer ser a garantia da estabilidade de Dilma e preparar o colchão para a volta do demiurgo. E Lula quer a garantia de que jamais será atingido por uma investigação. Mas como?

Esse não é o único descontentamento do ainda Poderoso Chefão. O lulismo teme que o avanço da Operação Lava-Jato chegue mesmo ao topo do partido. Nos bastidores, há uma cobrança quase sanguinolenta para que Dilma faça alguma coisa. Mas, a esta altura, fazer o quê? A presidente admitiu, na entrevista desta segunda, a corrupção em sucessivos governos. Num determinado momento, com alguma irritação, disse: “O governo não sou eu”. Não ficou muito claro o sentido da frase. Ou será que ficou? Quem, então, é o governo?

O ex-presidente acha, sim, que é preciso dar mais espaço ao PMDB, mas apenas como alternativa para esfriar a crise política. Não aceita, por outro lado, a despetização. Os lulistas consideram que Dilma tem sido pouco enfática na defesa do partido. Convenham: o que ela poderia fazer?

Um dos principais problemas da governanta hoje é como tirar Lula do seu cangote. Leiam os ataques feitos ontem por Gilberto Carvalho ao governo. Acabam colocando os tais movimentos sociais em pé de guerra contra uma presidente que está sitiada em seu palácio.

É espantoso que um ex-presidente da República baixe em Brasília não para uma visita de cortesia à atual mandatária, mas com uma pauta debaixo do braço. Isso infantiliza Dilma, atinge a sua reputação e faz dela uma espécie de fantoche entre senhores da guerra.

Ou Dilma começa a se organizar para se livrar de Lula, ou será ele a inviabilizar de vez o seu governo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Carvalho, homem de Lula, critica o governo Dilma e diz sentir “vergonha”. Ele quer ver a presidente errando ainda mais!

Gilberto Carvalho, ex-ministro da secretaria-geral da Presidência, olhos, ouvidos e braço esquerdo de Lula, resolveu sair da toca política para, ainda que com modos de sacristão, atacar o governo que ele integrava até outro dia. Agora com um empregão no Sesi — presidente do Conselho de Administração —, ele falou nesta segunda à noite, em Fortaleza, a uma plateia de 500 pessoas ligadas a sindicatos.

O chefão petista deixou clara a sua ideia de governo e a que ele resume a sociedade brasileira. Disse, segundo o Estadão: “Eu tenho vergonha de dizer: nós erramos. Nós tivemos uma eleição que só foi ganha pela luta de vocês, pela luta da nossa militância. Aqueles três milhões de votos que nos salvaram, nós sabemos que foram graças à luta da militância. E a gente, quando acabou a eleição, em vez de chamar o pessoal para discutir — ‘olha pessoal, vamos fazer um programa para valer, popular’ —, nós esquecemos”.

Um dia depois de o país ter assistido à maior manifestação de sua história, com um repúdio claro ao PT e às suas táticas, Carvalho considerou:

“Levou um mês para ser chamada a CUT lá no Palácio (do Planalto). Um mês para o MST ser chamado lá no Palácio. E viemos com um pacote que só penalizou o lado dos trabalhadores, sem nenhuma comunicação. Devo dizer que fiquei muito triste com isso. Esse foi um erro imperdoável que nós cometemos. Não tem como negar. Porque assim você não faz alianças estratégicas”.

Esse “nós” é só uma forma de esconder a esculhambada que está dando em Dilma. E, como ele é Gilberto Carvalho, está, obviamente, dizendo uma bobagem gigantesca. Por ele, a presidente erraria ainda mais do que está errando. Notem: a única pauta que interessa a este senhor é aquela levada pelos petistas no dia 13. Na fala de Carvalho, o dia 15 não existiu.

Esse foi o caminho que levou Dilma à ruína. Este senhor tentou transformar a presidente da República numa chefe de facção.

Black blocs
Uma das páginas de black blocs anunciava ontem que eles vão tentar botar pra quebrar nas próximas manifestações. Os bravos chamam pessoas que não depredam nem incendeiam nada de “golpistas”. Pois é… Acho que o assunto interessa à Polícia Federal. Sugiro à PF que fale com Gilberto Carvalho. Ele afirmou em entrevista que fez várias reuniões com aqueles patriotas. Deve conhecer seus líderes, não é mesmo?

Só para registro: Carvalho não existe. Quem existe é Lula, o principal fator de desestabilização de Dilma.

Por Reinaldo Azevedo

 

Oposição tem de cobrar uma posição de Zavascki sobre recurso do PPS que pede que Dilma seja investigada, ao contrário do que decidiram Janot e o ministro

Não sei, não, mas tenho pra mim que a oposição está cochilando sobre a importância de um Agravo Regimental, assinado pelo PPS, que chegou ao Supremo Tribunal Federal por intermédio do deputado Raul Jungmann (PE), na sexta-feira. Tratei do assunto num post escrito no sábado. O que é um “Agravo Regimental”? É um pedido para que a corte reveja a sua própria decisão. O que se pede ali? Que a atuação de Dilma no escândalo do petrolão seja investigada, ainda que ela não possa, de fato, ser processada por atos anteriores à sua condição de presidente. Bem, a primeira falha dessa tese é supor que tudo o que diz respeito a Dilma, nesse caso, vai até 2010. Mas não vou me ater a isso agora.

O que interessa nesse agravo do PPS é outra coisa. Há uma sólida jurisprudência no Supremo — e o partido pede que Teori Zavascki se manifeste a respeito — sustentando que um presidente pode, sim, ser investigado. Nem que seja para que o processo ocorra só depois do término de seu mandato. Noto: a argumentação de Rodrigo Janot, acatada por Zavascki, para não investigar Dilma foi justamente esta: sustentar que ela não poderia ser processada por atos estranhos ao mandato. Mas quem está falando de processo?

Vamos ver o que escreveu o ministro Celso de Mello no Inquérito nº 672/6:
[...] De outro lado, impõe-se advertir que, mesmo na esfera penal, a imunidade constitucional em questão [aquela do Presidente da República] somente incide sobre os atos inerentes à persecutio criminis in judicio. Não impede, portanto, que, por iniciativa do Ministério Público, sejam ordenadas e praticadas, na fase pré-processual do procedimento investigatório, diligências de caráter instrutório destinadas a ensejar a informatio delicti e a viabilizar, no momento constitucionalmente oportuno, o ajuizamento da ação penal”

Fora do juridiquês, quer dizer o seguinte: investigar pode; não pode é processar. Até porque vamos pensar:
a: como se vai processar alguém depois de encerrado o mandato sem a investigação?;
b: é preciso que se investigue, então, agora, mesmo as questões anteriores ao mandato (como quer Janot) para saber se elas não têm desdobramentos já na fase do mandato.

Há uma possibilidade de que Zavascki considere que o PPS não tem legitimidade para entrar com Agravo Regimental porque não é uma parte no caso. O partido diz que sim. Por via das dúvidas, já se antecipou e pediu que, eventualmente negado o agravo, a solicitação seja levada ao pleno do Supremo como questão de ordem.

Embora eu entenda, e já expus aqui tantas vezes, que existem razões para a denúncia de impeachment, com base no que dispõe a Lei 1.079, sei que a tese é polêmica. Ocorre que a Lei do Impeachment é matéria a ser tratada na Câmara dos Deputados. No que respeita à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo, nada mais vai acontecer se não houver ao menos a investigação. É só questão de bom senso. Mesmo um defensor fanático do impeachment via Congresso não tem por que contestar o caminho adotado pelo PPS. Nesse caso, o que abunda não prejudica.

É chegada a hora de os oposicionistas cobrarem uma posição de Zavascki.

Por Reinaldo Azevedo

 

A ENTREVISTA – Dilma não precisa de confissão, mas de um ato de contrição política. E terá de apelar à tolerância da população. Se vai obtê-la, aí não sei…

Um bom governo acorda uma década antes. E, portanto, já estava claro às pessoas que lidam com critérios como qualidade, eficiência nos gastos e crescimento sustentável que o petismo não faria um… bom governo. Mas, caso se dê a esse governo um prazo de 48 horas, espera-se que acorde 24 horas antes, não 24 horas depois. Parece — mas nunca é bom apostar o mindinho — que, 24 horas depois da megamanifestação de domingo, a presidente Dilma Rousseff saiu de seu sono, despertando para o pesadelo em curso. Melhor isso do que a alienação.

Depois da desastrosa entrevista concedida por seus dois trapalhões no domingo — refiro-me a José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e a Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência —, Dilma decidiu fazer o que ela própria deveria ter feito já no fim daquela tarde: reconhecer o caráter pacífico dos protestos, seu teor democrático, prometendo pôr as coisas nos eixos. Tudo em, no máximo, dois minutos. Para que não houvesse tempo de escolher que panela amassar.

Foi o que ela procurou fazer com a sua entrevista/pronunciamento, concedida meio de surpresa nesta segunda. As palavras mais repetidas foram “diálogo” e “humildade”. Pesquisas encomendadas pelo Planalto apontam que a população considera o governo “arrogante”. Quando isso se mistura à incompetência, aos números ruins da economia — com consequência na vida das pessoas — e à percepção clara de que o país estava sob o ataque de uma quadrilha, o resultado são dois milhões de pessoas nas ruas gritando “Fora PT” e “Fora Dilma”.

É claro que  a governanta não é, assim, um Cícero da retórica. Ao juntar os dois vocábulos dessa nova postura numa quase unidade semântica, espichou assim o raciocínio:

“Atitude de humildade é que você só pode abrir diálogo com quem quer diálogo. Porque quem não quer abrir diálogo com você, você não tem como abrir diálogo. Eu procurarei ter diálogo seja com quem for, é uma atitude de abertura. Agora eu não tô aqui fazendo nenhuma confissão. Não tem nenhum confessionário. Se alguém achar que eu não fui humilde em algum diálogo, me diz qual, e aí eu tomo providência para mudar. Me diz onde, aí tudo bem. Quem sabe eu não fui mesmo. Me diz aonde, eu vou avaliar. Caso contrário, seria um absoluto fingimento da minha parte.”

Como se vê, a presidente mistura certa subjetividade fora de hora — “fingimento de minha parte” — com uma óbvia dificuldade de dizer o que quer. E de assumir também os erros. No máximo, ela admitiu que, no passado, o governo pode ter errado na dose dos estímulos artificiais e destrambelhados aplicados à economia, mas garantiu, e eis o desconsolo para quem aposta numa mudança de postura, que era para o bem do Brasil.

Se, no domingo, os dois trapalhões defenderam como resposta às ruas uma reforma política à qual o PMDB se opõe, nesta segunda, na presença do condestável José Sarney, acenou para o partido e disse que a reforma é necessária, sim, mas é obra do Congresso. Se, no domingo, Rossetto deu mais ênfase ao “protesto a favor” organizado pelo PT no dia 13, nesta segunda, Dilma ao menos admitiu a legitimidade dos reclamos dos que protestaram contra.

A presidente disse ainda que a “corrupção é uma velha senhora no Brasil”, argumentando que não começou com a chegada do PT ao poder. É claro que não! Nunca li ou ouvi alguém sustentar esse ponto de vista. Mas ou se admite que só no petismo a corrupção se transformou num sistema, numa categoria política e numa categoria de pensamento, ou não se vai sair do lugar. Essa percepção chegou às ruas e é crescente.

E há, ainda, um nervo exposto que vai doer por muito tempo. E que só tende a piorar com a efetividade do ajuste fiscal: a Dilma que governa não é aquela que ganhou as eleições. Nesta segunda, ela disse que não estava num confessionário. Ninguém está interessado em suas dúvidas de consciência, matéria para confissões. Ela terá de fazer, sim, uma contrição política, pedir desculpas pelas promessas que não pode cumprir e apelar à tolerância da população. Se vai ou não obtê-la, aí não sei.

Por Reinaldo Azevedo

 

Sibá Machado como líder do PT na Câmara dá noção da profundidade do abismo

Uma crise da pesada não se faz apenas de uma conjugação de fatores negativos. É preciso também contar com as pessoas certas no lugar certo para produzir o desastre. Olhem os petistas do ministério de Dilma. Por que são tão fracos? Porque é o que o partido tem a oferecer.

O agora deputado Sibá Machado (PT-AC) sempre foi embalado no Congresso por certa aura folclórica, dada, digamos assim, a pouca complexidade de seu raciocínio. Sempre o consideraram, e faz sentido, mais engraçado do que propriamente sagaz. Mas, reconheçamos, a política lhe reservou um lugar de destaque: é nada menos do que líder do maior partido da Câmara. E isso diz em que estado político miserável está o PT.

No Facebook, Sibá não teve dúvida. Postou a seguinte mensagem: “SUSPEITA: Que a CIA esteja coordenando a campanha pelo enfraquecimento dos governos da América do Sul “não alinhados”, tal como fizeram para instalar as Ditaduras militar (sic) nos anos 60. A Orquestra é completa”.

É evidente que eu não vou aqui me dedicar nem a destrinchar o pensamento profundo de Sibá nem vou contestá-lo. Como gosto de dizer, repetindo um cientista, isso nem errado está. Encontra-se abaixo da linha da crítica.

Mas eu fico cá a me perguntar que diabos aconteceu com o próprio PT — por mais que eu seja crítico ao partido — para ter como líder na Câmara alguém com o equipamento intelectual e político de um Sibá Machado. Não! Minha observação nada tem a ver com a sua origem. Lula, goste-se ou não do que faz e diz — e eu detesto as duas coisas —, sempre foi um político muito hábil.

Outro importante cargo, o de líder do governo na Câmara, caiu no colo de um irmão de José Genoino. Trata-se de José Guimarães (PT-CE), cujo assessor foi flagrado, em julho de 2005, um mês depois de explodir o escândalo do mensalão, com US$ 100 mil presos à cueca e R$ 200 mil numa valise. O homem era um pobre-coitado. Tentou alegar que o dinheiro lhe pertencia. Não colou. Nunca ninguém soube quem era o dono.

Entendam o ponto: eu não vou me dar o trabalho de provar o tamanho da bobagem dita por Sibá. O que me espanta é que tenha sido ele o escalado para a tarefa de liderar a bancada. Imaginem alguém a passar a instrução para seus liderados com esse padrão de análise e com esse apego aos fatos. Uma das tarefas de um líder é disciplinar as eventuais besteiras que façam ou digam os liderados.

Sibá deve ter se achado o máximo. Mormente porque a sua ousadia teórica logo recebeu 254 curtidas. Há quem curta o pensamento de Sibá Machado. Vocês estão começando a entender a profundidade do abismo?

Por Reinaldo Azevedo

 

Na TVeja: “Livre-se do PT, Dilma!”

Por Reinaldo Azevedo

 

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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