"Pastore disse que essa alta do dólar está só no começo", Na casa de Simonsen, oráculos prevêem suor e lágrimas...
Na casa de Simonsen, oráculos prevêem suor e lágrimas
O auditório no décimo segundo andar daquele templo septuagenário da economia chamado Fundação Getúlio Vargas estava mais lotado do que posse de ministro.
Lá dentro, mais de uma centena de convidados – alunos, professores e gente do mercado financeiro – queriam alguma luz sobre os destinos do PIB, da moeda, e, de alguma forma, de suas próprias vidas.
A placa na porta explicava o furor daqueles nerds: “Seminário de Política Monetária”. O evento era uma oportunidade única para se ouvir uma penca de ex-diretores do BC num momento ‘nunca antes tão confuso’ da vida do País.
Se havia alguma chance de entender a verdadeira ‘trollagem’em que transformou a economia, essa chance estava ali. Estávamos, afinal, na casa de Mário Henrique Simonsen, talvez o maior economista brasileiro e o autor da frase, “A inflação aleija, mas o câmbio mata.” Simonsen não viveu para ver o Brasil em que sua frase voltou a ser atual, mas os economistas nos dois painéis do dia descreveram-no em detalhes horripilantes.
E o pior: “o grau de dispersão das opiniões” (em economês, a diversidade de opiniões) era da espessura de um fio de cabelo. O consenso é de que o dólar vai continuar subindo, e os juros também.
O primeiro a falar foi José Júlio Senna, um ex-diretor do Banco Central e autor de vários livros, um deles chamado “Tempos de Incerteza: A Economia Brasileira nos anos 80” — dado o título e o momento atual, deve ser candidato óbvio a uma edição atualizada e comparativa. Essencialmente, Senna disse que as coisas no Brasil tem que ficar mais caras para que aumente o excedente a ser exportado e o País, assim, consiga fechar o buraco na sua balança de pagamentos. “Uma depreciação cambial adicional parece indispensável,” alertou.
Outro sinal de que eu devia sair logo dali e procurar a casa de câmbio mais próxima veio com a exposição de Eduardo Loyo, economista-chefe do BTG Pactual. Loyo notou que várias moedas estão se desvalorizando em relação ao dólar, e que, por isso, “para que o Brasil obtenha um dado ganho de competitividade, a desvalorização do real em relação ao dólar terá que ser maior do que precisaria ser se essas outras moedas estivessem estáveis frente ao dólar.”
Mas Senna e Loyo ofereceram apenas o aperitivo; o prato principal foi servido por Affonso Celso Pastore, um economista de cabelo prateado e pinta de chef gourmet que comandou o Banco Central entre 1983 e 1985 — aliás, uma época em que, como agora, a moeda nacional apanhou do dólar forte.
Pastore disse que essa alta do dólar está só no começo. “O que aconteceu até agora é pequeno perto do que aconteceu em ciclos de valorização anteriores,” disse ele, antes de explicar o que considera a principal variável para a desvalorização do real. “Você não tem que olhar quanto a [Janet] Yellen [presidente do Fed] vai subir o juro nos EUA. Você tem que olhar o crescimento relativo dos EUA versus o resto mundo — é isso que vai determinar a desvalorização aqui.”
Para ele, o fato dos EUA estarem crescendo bem mais que Europa e Japão é o que leva o fluxo de capitais para lá, e não a alta do juro.
Apontou para os jovens à sua frente e fuzilou: “Essa geração que está sentada aqui não tem memória de ciclos de fortalecimento do dólar na magnitude que estamos vendo hoje… Essa geração que está sentada aqui não tem memória de desequilíbrios estruturais como os que estamos enfrentando hoje.”
Ao ouvir a palavra ‘desequilíbrios’, um economista, digamos, mais próximo de Keynes do que de Friedman me cochichou: “Só tem uma forma de resolver isso: vender ativos.” (Até tu, Brutus?) “Isso atrairia capital, melhoraria o balanço de pagamentos e ainda aumentaria o caixa do Tesouro.”
Na plateia, alguns alunos da graduação mordiam a ponta dos lápis, aparentemente indecisos entre a satisfação de estar ali ouvindo os oráculos e a angústia com a mensagem que eles traziam.
Os ex-BCs foram consensuais em que a desvalorização cambial vai alimentar a inflação. Como resultado, o chamado ‘salário real’ (o que você ganha, menos o que a inflação te rouba) vai cair. E, lembrou o economista a meu lado, essa queda acentuada do poder de compra será a primeira a atingir o brasileiro depois que ele passou a ter acesso a crédito. Ou seja, vai pegar muita gente endividada.
No intervalo, um senhor de rosto vincado e barba branca me abordou e puxou assunto. Sem que eu nada perguntasse, pontificou: “Hoje existe a internet! Só não acabam com a inflação porque não querem! Se pegar três PhDs desses aqui [e apontou para um grupo de alunos], acabam com a inflação em uma semana.” Sorri obsequioso, e afastei-me por cautela.
Afora o futuro fulgurante do dólar, sobraram queixas sobre a “desconstrução institucional” de que a política econômica foi vítima. Mário Mesquita, que deixou o BC em 2010, lembrou sua experiência prestando contas ao Congresso: “Na época, a reação do Senado a uma inflação de 3% foi muito mais adversa do que a reação à inflação de 6%, e isso diz muito sobre o País em que vivemos.” (Não diz não, Mário — grita.)
Afonso Bevilaqua, que chefiava a política econômica do BC no Governo Lula 1, reclamou dos “experimentos de política fiscal” que engordaram a dívida durante o Dilma 1, do Congresso ter relaxado a Lei de Responsabilidade Fiscal, e da volta de relações incestuosas entre os bancos públicos e as estatais.
O clima do evento evocava uma piada recente que corre no mercado. “Qual é a diferença entre o cenário otimista e o pessimista no Brasil hoje? No otimista, ‘C’est la vie’; no pessimista, ‘sem Levy’.”
Tem horas que só o humor salva.
Por Geraldo Samor
Análise de HENRIQUE MEIRELLES, na folha deste domingo:
O mundo como ele é
Logo depois da crise de 2008, o mundo parecia entrar em nova era, com novos paradigmas de crescimento econômico e progresso.
Os EUA, líderes da economia mundial por décadas, afundavam numa crise imprevisível. A Europa, muito regulada e com pouco crescimento, logo seria abalada. Já os BRICs e emergentes passaram a liderar a recuperação global.
Mas esse quadro não se sustentou, a começar pela China. Como resposta à crise, que abalou o modelo exportador aos países ricos, o país fez investimentos massivos em infraestrutura. Quando a via se esgotou pelos próprios excessos e erros, Pequim focou na criação de um robusto mercado interno, elevando renda e benefícios aos trabalhadores. Mas a mudança não decolou na velocidade prevista, e o crescimento, ainda alto nos padrões internacionais, caiu --o FMI prevê 6,8% neste ano.
Por aqui, as mudanças na política econômica brasileira adotadas a partir de 2011 causaram redução dramática do crescimento, chegando ao patamar atual de PIB negativo. Na Rússia, a queda do preço do petróleo e as sanções econômicas também levaram o país à recessão. A Índia é o único dos BRICs originais que ainda cresce a taxas robustas, impulsionada pelo novo governo de visão econômica liberal, mas ela não tem muito impacto global.
Enquanto isso, os EUA tomaram medidas de contenção fiscal e de alta liquidez que levaram sua economia, fundamentada na alta produtividade e nos princípios de livre mercado, de volta ao crescimento e ao papel de grande motor da economia global.
Já a Europa aplicou reformas rígidas para restaurar o equilíbrio fiscal, reduzir entraves normativos e elevar a competitividade e a flexibilidade dos mercados. Elas estabilizaram a economia, e a perspectiva é de recuperação das médias históricas de crescimento.
O cenário mundial, portanto, está muito diferente da perspectiva de poucos anos atrás, num quadro que agora poderíamos chamar de volta ao normal. Países liderados pelos EUA, mais abertos e competitivos, com baixa regulação e governos menos intervencionistas, voltam a sustentar o crescimento mundial e a aumentar suas importações.
Isso abre um caminho à retomada da China, de novo baseada no modelo exportador para EUA e Europa --as exportações chinesas cresceram 20% no ano passado.
Se não é um rearranjo inédito, pois restaura o que prevaleceu no século passado, é uma mudança radical do que se esperava há alguns anos, quando setores do pensamento econômico brasileiro e de outros países proclamavam a falência do regime de livre mercado e a prevalência futura dos modelos mais centralizados e de forte intervenção.
A realidade, porém, é outra.
análise economica de VINICIUS TORRES FREIRE, na folha:
Depois da crise política
Seja qual for o desfecho da crise aguda de agora, restará o conserto econômico, que ainda será tenso
SABE-SE LÁ o que virá depois de hoje, das manifestações, se uma bola de neve ou uma bola de gude nas ruas. Sabe-se lá o que virá depois da solução da crise política aguda, que virá, ainda que reste um desarranjo crônico. Sabe-se lá quando será o "depois": seis semanas ou seis meses?
Sabe-se que, nesse "depois", a tarefa de lidar com a desordem econômica será essencialmente a mesma, por mais ou menos que a situação esteja deteriorada pela sangria política; os consertos básicos vão custar caro e não vão dar resultados brilhantes. Depois de uma quase década sem mudanças institucionais, "reformas" ("liberais" ou não), não é provável que o país volte a crescer sem mais, afora no caso de sortes ora invisíveis no horizonte (algo como um "efeito China" da década passada).
Lidar com a desordem econômica elementar depende, claro, de fazer com que a dívida pública comece a decrescer (em 2017?): isso é o ajuste fiscal. Mas a receita básica para uma retomada de crescimento mínimo inclui também medidas que favoreçam desvalorização grande do real sem criar mais inflação. Aí, a coisa pega.
Isto é, o "dólar tem de ficar mais caro". Mas dólar mais caro barateia nossos produtos no exterior, cria demanda para eles, na medida em que tal barateamento não seja comido pela inflação (para encurtar uma história mais complicada). Inflação, no nosso presente caso, vem de salários em alta excessiva. A coisa toda no curto prazo depende da contenção de salários, o que sobreviria com aumento do desemprego, maior ou menor a depender da qualidade do restante da política econômica.
Além de um impulso dado pelo setor externo (real fraco, redução de consumo), que nem grande será, de resto, há poucas alternativas de religar a economia (isto é, lá em 2016).
Não haverá tão cedo crescimento do crédito, que na banca privada encolhe faz meses e vai minguar na banca pública. Não haverá, óbvio, impulso por meio de investimento público. Não haverá incorporação em massa de mão de obra desempregada, como na década passada. Não haverá um bônus como o aumento do preço das nossas exportações.
Um arrocho fiscal muito duro pode encurtar a temporada de juros altos, uma ajuda. Um programa grande de concessões de serviços públicos para a iniciativa privada, como planeja o governo, poderia ser uma saída, embora a desconfiança na economia, nas regras dos negócios, a falta de crédito, a inépcia do governo e a desordem das empresas do setor suscitem certa descrença nessa alternativa, no curto prazo.
Um plano de mudanças mais amplas, que ao menos limpasse a areia das engrenagens econômicas, poderia restaurar a confiança em tempos melhores para investir, apressando talvez a recuperação. Para começar, porém, Dilma Rousseff teria de renunciar a si mesma para que se adotasse tal programa.
Enumerar as dificuldades não significa prever desastre --o país está melhor, apesar dos quatro anos recentes de estragos. Trata-se só de dizer que a transição será complicada, arrastada, social, política e culturalmente difícil de vender, em especial devido ao clima ideológico da década passada. Enfim: trata-se aqui apenas do conserto básico, não de conflito socioeconômico profundo.
Como reinventar a Petrobras e manter as aparências
É verdade que os números da Petrobras sempre foram superlativos — mas, com o dólar a R$3,10, passaram a ser imponderáveis.
Entre 2015 e 2018, a Petrobras precisará de 484 bilhões de reais para executar seu plano de investimentos atual.
(A empresa recentemente cortou em cerca de 30% sua meta de investimento para este ano apenas, de US$39 bilhões para US$32 bilhões. Um novo plano de investimento, provavelmente com mais cortes, deve ser anunciado em junho.)
No mesmo período, a estatal também vai gastar 210 bilhões de reais amortizando sua dívida bruta, que, com o câmbio atual, chega a 330 bilhões de reais.
Assumindo que a estatal consiga rolar 100% da sua dívida (o que é razoável), que o dólar não suba mais (o que é improvável), e que a gasolina não sofrerá reajuste em quatro anos (uma estimativa conservadora), a Petrobras terá um ‘fluxo de caixa negativo’ de 190 bilhões de reais nos próximos quatro anos, ou seja, precisará levantar essa cifra para fechar suas contas ao longo do período.
Esta necessidade de financiamento pode ser atendida com um dos seguintes remédios (ou uma combinação deles):
1) uma garantia do Tesouro para novas emissões de dívida da empresa (o que complicaria ainda mais o quadro fiscal);
2) uma venda de ativos maior do que o pacote já anunciado;
3) aumentos de preço na gasolina e do diesel (que geram desgaste ao Governo);
4) um baita aumento de capital (seja com uma injeção direta de caixa ou uma conversão da dívida da empresa com os bancos estatais em novas ações).
A cada 1% que o real se desvaloriza, a Petrobras precisa aumentar os combustíveis em 2,5% — ou que o petróleo caia 5% — só para manter a situação atual (que já é muito apertada).
Em outras palavras, para compensar cada 10% de desvalorização do real, a Petrobras teria que aumentar os preços na bomba em 25% para não abrir um novo rombo em seu casco.
Tem mais: se o dólar passar um ano inteiro no patamar médio de R$3,25 e não houver aumento de gasolina durante aquele período, a Petrobras teria, naquele ano, um lucro próximo de… zero.
Qualquer pessoa de bom senso entende que um aumento de capital é parte da equação para fechar a conta, a despeito do novo CEO da empresa ter descartado a medida.
O problema é que o momento para uma emissão de ações é o pior possível, tanto pelos danos que a corrupção causou à empresa quanto pelo preço do barril, por volta de 55 dólares.
Além disso, qualquer pessoa de bom senso também sabe que o Governo preferiria enfiar um revólver na boca e puxar o gatilho do que privatizar a Petrobras — não só porque as razões do partido são maiores que as razões de Estado, mas porque falta a este governo o pragmatismo de outros regimes.
Mas há um jeito de fazer a coisa certa e ainda assim manter as duas aparências que interessam ao Governo: o compromisso com a propriedade do Estado e a fantasia, pueril e popular, de que o petróleo é nosso.
A Petrobras pode continuar estatal, mas tem que encolher.
A tabela acima mostra três áreas de negócio da Petrobras que poderiam ser vendidas, para o bem da empresa e com consequências positivas para toda a economia. Como neste momento talvez seja difícil encontrar compradores entre as grandes empresas internacionais, a Petrobras poderia simplesmente separar estas áreas e abrir seu capital na Bolsa, vendendo, digamos, 49% de cada negócio e ainda assim mantendo o controle.
Para evitar que estas empresas fiquem sujeitas às mesmas ingerências políticas que colocaram a Petrobras de joelhos, elas deveriam ser listadas no Novo Mercado (“uma ação, um voto”), e seus acionistas minoritários deveriam ter não apenas representação máxima no conselho como também poderes de veto.
Estas três áreas — a Gaspetro, a Transpetro e a BR Distribuidora — não são parte do negócio principal da Petrobras de achar e extrair petróleo, e sua venda ou IPO seria uma fonte de recursos que a Petrobras, hoje, não conseguiria achar em lugar nenhum. Conversando com analistas e investidores, VEJA Mercados tentou estimar o valor de cada negócio usando múltiplos de venda iguais aos de empresas parecidas. Assim, a BR Distribuidora foi comparada com a Ultrapar; a Gaspetro, com a Comgás; e a Transpetro, com uma mistura de empresas americanas donas de navios e oleodutos. (É evidente que as comparações são imprecisas, mas elas fornecem uma ordem de grandeza.)
A venda de 100% destas três empresas poderia levantar cerca de 90 bilhões de reais para a Petrobras — quase o seu valor de mercado atual, que está em 111 bilhões.
Mas haveria benefícios adicionais.
A Petrobras é hoje uma empresa verticalizada. Isso significa que ela controla toda a cadeia de petróleo: ela é dona do poço ao posto BR, passando pelo oleoduto, pelas refinarias e pela petroquímica. É tudo dela.
A Petrobras também é uma empresa horizontalizada. Isso significa que ela está não apenas no petróleo, mas também no gás natural e no etanol. E, em todos estes mercados, quando ela não é o único participante (caso do gás), ela é o gorila que determina preços e condições de mercado, impedindo que uma fonte de energia concorra com a outra, o que levaria a preços mais baixos ao longo do tempo.
Em outras palavras, a Petrobras ‘vertical’ faz mal a si mesma, e a Petrobras ‘horizontal’ faz mal ao País.
Simplesmente vender uma Gaspetro ou Transpetro para uma empresa internacional equivaleria a privatizar um monopólio que a Petrobras exerce de fato. O Governo deveria, antes, dividir cada uma delas em duas ou três empresas, para com isso fomentar a concorrência. (A venda da BR inteira não criaria um problema concorrencial.)
O Governo Dilma 2 está apenas no começo, e está claro que não conseguirá atravessar quatro anos preso a uma narrativa de consertos marginais para um modelo que está errado no atacado.
Governos vivem de vender sonhos e entregar conquistas. No passado, o Planalto fazia o brasileiro sonhar com programas como o PAC, o FIES, e o Minha Casa Minha Vida.
Esse ciclo se esgotou, porque o dinheiro do Estado acabou. Para um recomeço — que é a chave de sua própria sobrevivência — o Governo vai precisar encantar o setor privado e mobilizar sua capacidade de investimento.
Um redesenho profundo da Petrobras quebraria a narrativa atual — sem prejuízo das investigações e do trâmite dos processos criminais em curso — e traria benefícios difusos para a economia, aumentando sua competitividade.
A “nova Petrobras” teria um balanço mais leve e mais capacidade de se financiar. Os negócios vendidos teriam capacidade de investir e de manter ou gerar empregos. Seria um ganha-ganha num jogo onde hoje todo mundo está perdendo.
Mas para isto, o Planalto precisa sair do imobilismo e ter a coragem de testar novas ideias.
Para os observadores mais céticos, isto vai parecer quase impossível — mas neste momento, o que, exatamente, essa Presidente tem a perder?
Por Geraldo Samor
Na implosão da Braskem, a Petrobras também paga a conta
A queda pornográfica de 18% nas ações da Braskem hoje — em meio a alegações de Alberto Yousseff de que a empresa pagava propina para ter condições favoráveis na compra de nafta da Petrobras — impõe a pergunta: “Por que a Petrobrás tem que ser sócia da Braskem?”
A Petrobras é dona de 47% das ações com direito a voto e 36% do capital total da Braskem, o que faz dela uma acionista minoritária na empresa controlada pelo grupo Odebrecht.
Não só isso, a Petrobras é a maior fornecedora da Braskem, vendendo-lhe a nafta, a matéria-prima para a fabricação de resinas e plásticos.
A Petrobras chegou a esta posição acionária pela convergência de duas vontades: a do Governo, de fazer dela um player na petroquímica — um setor reconhecido mundialmente como intensivo em capital e de retornos baixos — e a vontade dos empresários do setor, que sempre fizeram lobby para ter a Petrobras como sócia, dado que ela é monopolista no fornecimento de nafta.
A Petrobras já era grande no petróleo, no gás, no etanol, no refino de combustíveis, e até em postos de abastecimento, mas… para que pensar pequeno? A Braskem era a chave para ela ser grande também na petroquímica!
Assim, abençoada por uma Petrobras com síndrome de gigantismo, e através de uma série de operações que efetivamente consolidaram o setor petroquímico brasileiro a partir de 2007, a ‘bolha Braskem’ foi crescendo. Os retornos continuam medíocres, mas o capital da Petrobras continua empatado lá.
A Braskem, que já valeu mais de 15 bilhões de reais na Bolsa, termina o dia de hoje valendo pouco mais de 7 bilhões de reais. O acionista da Petrobras mais uma vez pagou a conta.
A Lava Jato está ajudando a desfazer a ideia de que, no Brasil, corrupção nunca dá cana.
Deveria, também, ajudar a sociedade e o Estado a redefinir profundamente o tamanho e o papel da Petrobras.
Por Geraldo Samor
Gavekal diz que Brasil pode ficar “pior, muito pior”
As grandes consultorias internacionais, que ajudam a formar a opinião de investidores, empresários e políticos no mundo todo, começaram a ‘rasgar o verbo’ sobre a crise brasileira.
Uma delas, a Gavekal, publicou ontem um relatório intitulado,“The Land Of Wishful Thinking” (“A terra de torcedores”, numa tradução livre).
O texto começa bem direto: “Quão ruim o Brasil pode ficar? Pior, muito pior.”
O analista Arthur Kroeber, cuja maior especialidade é a China, esteve no Brasil na semana passada e conversou com investidores, gente do governo e acadêmicos. Para Kroeber, a “extraordinária deterioração” do Brasil aconteceu nos últimos seis meses, “e não está nem de longe prestes a terminar.”
Ele nota que o mercado já levou o dólar para R$3 e que a Bovespa já caiu 19% desde seu pico em agosto, mas diz que “correções mais profundas vão acontecer,” em linha com o que discutimos aqui ontem.
Os maiores investidores institucionais brasileiros, que venderam suas posições em Bolsa há meses, estão “perplexos que o capital internacional continue entrando” na Bovespa, escreveu o analista.
“Quando os estrangeiros entenderem o que está acontecendo, tanto as ações e o real vão cair ainda mais.”
O relatório descreve a lambança na Petrobras, mas também aponta os desafios da Vale, cujo principal produto caiu de US$134 por tonelada para cerca de US$60.
“A Vale está mais mal posicionada para enfrentar esta crise do que os seus concorrentes, a BHP Billiton e a Rio Tinto, porque ela é mais concentrada no minério de ferro e fica mais distante da China, o que faz com que seus custos mais altos de transporte aumentem sua desvantagem de preço. O petróleo mais barato vai reduzir os custos de frete e diminuir um pouco a dor. Mas com o preço do minério abaixo de US $ 65, a Vale vai enfrentar uma pressão financeira intensa.”
A Gavekal diz que o efeito combinado destes fatores negativos vai fazer o PIB brasileiro contrair “entre 1% e 2% este ano, com outra queda um pouco menor em 2016.”
“Esta será a primeira vez desde 1929-1930 que a economia brasileira se contrairá por dois anos consecutivos,” prevê a consultoria.
Pelo menos em um trecho do relatório a consultoria vê o copo meio cheio. “É uma pena que haja tão pouco ímpeto em qualquer setor para reverter esta crise — a qual, para sermos justos, será menos danosa que a crise da dívida nos anos 80 e da hiperinflação no início dos anos 90, sem mencionar o quase caos em que se encontram Argentina e a Venezuela.”
Ufa. Agora sim, já me sinto bem melhor.
Por Geraldo Samor
Quem planta vento colhe tempestade. Ou: O PT radicalizou ignorando a Lei de Newton
Tive um bate-papo civilizado ontem com um marxista. Sim, descobri que isso é possível. Trata-se de Luiz Carlos Prestes. Calma, não fui a uma sessão espírita com direito à psicografia. Falo do filho do antigo líder comunista. Temos uma amiga em comum. Prestes trabalha com economia da cultura e seu objetivo, agora, tem sido unir esforços em defesa da democracia. Não gosta do PT. Conseguimos, portanto, encontrar algum denominador comum, ainda que, confesso, seja difícil eu aceitar na mesma frase marxismo e democracia: ambos são incompatíveis na prática.
Com fala tranquila (na forma), Prestes se mostrou preocupado com o radicalismo que vem tomando conta do país, onde paixões extremadas impedem qualquer raciocínio mais frio. É preciso pensar o futuro do país, unir lideranças de diferentes vertentes ideológicas para deixar as diferenças de lado e resguardar nossa democracia, hoje ameaçada. Quem são esses líderes moderados? Ambos reconhecemos que FHC tem tentado fazer sua parte, ainda que eu tenha críticas à sua postura um tanto negligente com o PT.
Confesso que considero um tanto irônico o desejo de maior moderação partindo de quem elogia o MST. Mas deixando isso de lado, o conteúdo da mensagem é válido: o Brasil poderia aproveitar um pouco mais de moderação nos debates políticos. O clima está tenso, há extremistas para todo lado, e tem gente querendo dar um golpe de lá (bolivariano) ou de cá (intervenção militar). O país necessita, neste delicado momento, de lideranças que consigam evitar o radicalismo e a tentação de jogar lenha na fogueira.
Foi o tema da coluna de Demétrio Magnoli hoje no GLOBO. Após falar dos malucos do Estado Islâmico, que querem destruir obras de arte para, com isso, destruir o passado e controlar o futuro (sombrio), Demétrio chegou na realidade política nacional, e concluiu:
A fabricação de uma história caricatural, apoiada na dicotomia fácil, contraria a regra implícita da democracia, que é o reconhecimento da legitimidade da divergência. No PT e nos seus tentáculos acirra-se o extremismo retórico. Envenenado, o debate público afunda no pântano da intolerância, degradando-se em briga de rua. É nessa atmosfera impregnada que, como reação, configura-se uma narrativa simétrica, alicerçada em visceral aversão ao lulopetismo. De acordo com ela, o PT não passaria de uma “quadrilha” de celerados consagrada à espoliação do país, enquanto os governos lulopetistas representariam um longo, insuportável, parêntesis na gloriosa jornada nacional.
A crise do governo de Dilma Rousseff inflama a nossa “guerra de memória”, que se esparrama perigosamente dos casulos da internet para o cenário da praça pública. Numa ponta, um Lula acuado, quase ensandecido, convoca o “exército de Stédile”. Na outra, patéticos radicais de salão pregam o extermínio do lulopetismo a golpes judiciais. Quando se celebram os 30 anos do fim do regime militar, renunciamos ao debate democrático. Preferimos esburacar touros alados virtuais com furadeiras de brinquedo.
Demétrio tem um ponto, como Prestes também tem. Mas acho que erram ao jogar os dois extremos no mesmo saco, ignorando que um, representado por parcela ínfima da população e longe do poder, é reflexo do outro, organizado e no poder. O PT vem adotando uma retórica de “nós contra eles” há muito tempo, segregando a população, jogando uns contra os outros como uma estratégia de poder. É natural que isso tenha reação, como sabem aqueles que conhecem a Terceira Lei de Newton.
A internet faz sua parte, acirrando os ânimos e ajudando a criar um clima de “Fla x Flu”. Mas até aqui há uma explicação alternativa que não deve ser ignorada: após décadas de hegemonia da esquerda na cultura, nas escolas e universidades, e até na imprensa, a direita encontrou finalmente sua voz nas redes sociais. Não nego que em muitos casos isso significou um radicalismo tosco, mas as pessoas estavam cansadas de ver radicais de esquerda tratados como “moderados”.
Como autor de um blog bastante visitado pela direita, posso atestar que esse clima de radicalismo existe mesmo. Quando ousei tecer críticas aqui a Jair Bolsonaro, por exemplo, fui alvo de ataques raivosos de muita gente. Passei automaticamente a ser visto como um traidor, um covarde, ou quase um petista! É uma postura que em nada contribui para a formação de um Brasil melhor, plural e democrático.
Já reparei, também, que boa parcela dos leitores quer mesmo ver o circo pegar fogo. Adora quando um deles, do lado de lá, é massacrado, desmascarado, destruído. Os artigos mais profundos, com mais filosofia política e argumentos impessoais, atraem bem menos audiência. Já uma carta contra um idiota feito Juca Kfouri, que merecia ser simplesmente ignorado, fica viral, é lida por mais de 150 mil pessoas em dois dias, e recebe quase 30 mil curtidas. A turma quer duelos, chega ao blog com sangue nos olhos.
Não consigo culpá-los tanto quando lembro que é o PT no poder. Eis meu ponto aqui: tudo isso, que não é positivo para o futuro do Brasil, é uma consequência dos atos petistas. Demétrio rejeita a ideia de que o PT seria uma “quadrilha”, mas pergunto: e não parece justamente isso? Uma quadrilha disfarçada de partido político? Então quer dizer que reconhecer um fato agora passou a ser coisa de radical? Não posso aceitar isso.
A esquerda multiculturalista europeia plantou as sementes do caos, ao ignorar por décadas os alertas de liberais e conservadores de boa estirpe. Deixaram o monstro do islamismo radical crescer em seu próprio quintal, e o “welfare state” quebrar os governos. Tudo isso produziu um ambiente favorável aos representantes da direita radical, como Le Pen. Mas vejam: é um resultado do esquerdismo incompentente!
No Brasil é a mesma coisa. Quando um partido radical e golpista como o PT chega ao poder, começa a adotar uma agenda claramente chavista, aparelha o estado todo, e a “oposição” adota uma postura pusilânime como a do PSDB, é natural que vozes mais radicais da direita conquistem espaço. É o efeito esperado da conivência ou negligência com os radicais de esquerda, tratados por muitos como moderados, o que definitivamente não são.
Por isso estou convencido de que qualquer saída para o impasse do radicalismo passa pela retirada do PT do poder. Enquanto essa turma estiver no poder, adotando esses métodos nefastos e abjetos, será difícil condenar o extremismo de quem não suporta mais o lulopetismo. Qualquer pessoa razoável, afinal, não aguenta mais o PT, suas mentiras, seu discurso segregacionista. Moderação é algo possível somente quando o PT for apeado do governo, estiver longe do poder.
Não desejamos exterminar o PT com “golpes judiciais”, e sim com a aplicação das leis vigentes no país e com a persuasão de maior parcela da população. O PT faz muito mal ao Brasil. Precisa ser politicamente destruído, ou então destruirá de vez nosso país. Enquanto isso não acontece, teremos de conviver com os radicais da direita, como aliados táticos contra um risco muito maior, que é a transformação do Brasil numa Argentina ou Venezuela.
Meu sonho é viver num país que possa debater democrática e civilizadamente quais os melhores rumos para a nação. Isso envolveria a parcela da esquerda mais civilizada, que é a social-democracia representada pelos tucanos, os liberais, e os conservadores de boa estirpe. Marxistas e reacionários não teriam vez nessa pluralidade democrática, pois não respeitam a democracia para começo de conversa. Infelizmente, estamos longe desse ideal. São os radicais que estão dando as cartas. E são os radicais de esquerda que estão no poder, destruindo nossa democracia de dentro dela. Chega!
Rodrigo Constantino
Toffoli colhe a desconfiança que plantou
Um dia após se colocar como voluntário para migrar de Turma e aderir ao time que julgará o petrolão, o ministro Dias Toffoli se reuniu por quase duas horas com a presidente Dilma. Segundo Toffoli, a Operação Lava-Jato não fez parte do teor da conversa, que seria voltada para discutir a proposta de criar o Registro Civil Nacional. Toffoli se recusou a responder mais perguntas dos jornalistas, e se limitou a um monossilábico “não” quando foi perguntado se o petrolão fez parte da conversa. Acredite quem quiser!
A presidente Dilma confirmou que o tema foi sobre a Justiça Eleitoral, e não sobre o Lava-Jato:
Hoje era o dia que eu podia e ele podia. Eu podia, mas quase que eu não podia, porque eu vinha para aqui (Acre). Mas como tem duas horas de fuso, eu fiz a reunião com o ministro Toffoli, por quê? Porque nós temos um interesse comum, um processo interessantíssimo que nós estamos discutindo com a Justiça Eleitoral. O intuito é transformar qualquer documento em um registro só. A gente está discutindo a possibilidade disso ser feito pela Justiça Eleitoral.
Até a noite de terça, porém, não constava na agenda oficial da presidente esta reunião, ocorrida na quarta. Para o ministro Toffoli, foi pura coincidência a agenda ter sido alterada poucas horas depois de sua mudança de Turma. Também devemos crer que Toffoli se candidatou com prontidão a assumir a vaga na Turma que vai julgar o petrolão por puro patriotismo, senso de dever cívico, abnegação.
O jornalista Merval Pereira, quem muito admiro e respeito, rechaçou qualquer possibilidade de conluio, mesmo após a decisão veloz de Dias Toffoli e o encontro logo depois com Dilma. Para Merval, é pura teoria conspiratória acreditar que há algo mais por trás dessas fortuitas coincidências. Diz ele em sua coluna de hoje:
Parece óbvio que se esse encontro tivesse o objetivo de armar alguma estratégia para proteger os petistas do petrolão, não teria sido feito à luz do dia, e nem nesse momento. Até porque quem assumiu publicamente a frente das negociações para que a mudança acontecesse foi o ministro Gilmar Mendes, identificado pelos petistas como um adversário a ser batido.
Não sei se concordo com Merval nessa. Não sei se é preciso ser tão adepto assim de teorias conspiratórias para suspeitar desses últimos acontecimentos. Merval conclui: “Tudo indica que a preocupação que predomina no Supremo hoje é garantir a percepção da opinião pública de que ele está acima das disputas partidárias, e é um garantidor da democracia”. Essa preocupação seria unânime entre os ministros do STF? Inclusive de Toffoli?
Não posso aceitar facilmente esta tese. Se Toffoli realmente desejasse a imagem de independência, jamais teria aceitado julgar o mensalão, para começo de conversa. Afinal, foi advogado do PT, trabalhou para o próprio José Dirceu, era ligado de forma umbilical ao partido que estava no epicentro do escândalo. Tinha que se considerar impedido de participar do julgamento, mas não o fez. E inocentou seus pares.
“À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. A máxima romana continua válida. Figuras públicas, que participam do núcleo do poder, especialmente os que fazem parte da instituição guardiã da Constituição, não poderiam nunca levantar suspeitas sobre sua idoneidade, independência e capacidade técnica. Toffoli, que foi reprovado em duas tentativas de se tornar juiz, não preenche nenhum dos quesitos. Todos acham, com razão, que ele está no STF por ser petista, e nada mais.
Quando alguém com tal perfil se coloca rapidamente à disposição para mudar de Turma e integrar o time que vai julgar novamente petistas envolvidos em novo escândalo, e no dia seguinte se reúne com a presidente por quase duas horas sem tal reunião constar na agenda oficial na noite anterior, é perfeitamente natural que os brasileiros desconfiem do que está por trás disso tudo, das intenções do ministro. Toffoli pode desejar mudar sua imagem, mas colhe hoje o que plantou ontem. A desconfiança que paira sobre sua cabeça foi o resultado de suas próprias escolhas.
Merval pode considerar conspiração a crença de que tudo isso é muito estranho e suspeito. Eu já considero ingenuidade demais achar que tudo não passou de coincidência e que Dilma e Toffoli realmente nada falaram sobre o Lava-Jato. A simples presença de Toffoli no STF é um escárnio, o maior sintoma de que o Brasil petista se aproximou do bolivarianismo venezuelano. O STF deveria estar acima de quaisquer suspeitas. Com o PT foi o contrário: há fortes indícios de aparelhamento partidário nessa que é a mais importante instituição republicana.
Rodrigo Constantino
A primeira baixa na guerra convocada por Lula
Sugeri aqui o voto em Marcel van Hattem durante a campanha, pois já o conhecia, sabia de sua firmeza e convicção na defesa dos ideais liberais, e que teria coragem de enfrentar a corja socialista na tribuna. O jovem deputado estadual não me decepcionou. Vejam que discurso franco, direto e verdadeiro, sem medo de jogar certas verdades na cara dos que posam de defensores dos pobres, enquanto pretendem apenas desrespeitar as leis para o próprio benefício:
PRIMEIRAS MORTES DA GUERRA CONVOCADA POR LULA
Lula convocou o "Exército do Stedile" a ir às ruas contra a "oposição" - na verdade, contra todos nós brasileiros indignados com esse desgoverno do PT. O MST atendeu ao chamado e está invadindo propriedades e marchando com foices em riste Brasil afora. O primeiro resultado prático e lamentável dessa convocação irresponsável de Lula foram 3 mortes, incluindo a de uma criança, hoje na BR 101 em Sergipe, por consequência das manifest...
Ver mais
Como podem ver, aos poucos os liberais vão tendo mais voz na política nacional, dominada hoje pela esquerda. Convivemos por tempo demais aceitando passivamente as mentiras, o monopólio da virtude, as acusações infundadas dessa gente podre, que aplaude um regime ditatorial como o cubano ao mesmo tempo em que finge falar em nome do “povo”. Não!
O povo de verdade não quer saber de invasões de propriedade, de MST, de guerra convocada por Lula. Quer melhores serviços públicos, pois paga pesados impostos, e oportunidades boas de trabalho. Coisas que o PT tem impedido, com sua incompetência, roubalheira e ideologia ultrapassada.
Chega! Não dá mais para aceitar políticos que convidam marginais, invasores, criminosos para a Assembleia, como se fosse a coisa mais normal do mundo. O lugar desses criminosos é na cadeia! E não ficaremos mais em silêncio. Essa turma autoritária vai ter que aprender o que é democracia de verdade…
Rodrigo Constantino