O novo ataque do MST e o poder destrutivo da estupidez, por LUCAS BERLANZA
O novo ataque do MST e o poder destrutivo da estupidez
Por Lucas Berlanza, publicado no Instituto Liberal
O célebre cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues, o mesmo que dizia que Karl Marx era “uma besta”, apontava que nossa época estava marcada por um acontecimento terrível na história humana: a “revolução dos idiotas”. Ecoando pensadores como Ayn Rand, Nelson usou do humor trágico típico de seus textos para sustentar que as pessoas são diferentes, que têm talentos diferentes e, por isso mesmo, ocupam funções diferentes.
A obsessão pela igualdade artificial e impossível fez com que, no entanto, por teimosia e “arrogância fatal” (em termos hayekianos), os menos capacitados se julgassem senhores do bem e do mal, promovendo suas causas a qualquer preço e por quaisquer meios. Julgaram-se, e julgam-se ainda, dignos de determinar os rumos da vida social, quando fariam melhor em estar, no dizer de Nelson, “babando em suas gravatas”. Avançaremos em que, fazendo mais do que somente isso, os “idiotas” podem ser perigosamente destrutivos, e comprometer gerações. Podem destruir o legado construído por aqueles que de fato empreendem e ocupam seu tempo em trabalhos que podem ser úteis à coletividade, além de colocar em risco as instituições que configuram uma sociedade minimamente saudável. Os literalmente “idiotas” do Movimento dos Sem Terra deram mais uma pequena amostra dessa capacidade na manhã desta quinta-feira, 5 de março, em Itapetininga (SP).
Segundo matéria do G1, mais de mil mulheres ligadas ao MST – de acordo com a “entidade”, inseridas na Jornada Nacional das Mulheres Camponesas – invadiram a empresa de pesquisa Futura Gene, pertencente à Suzano Papel e Celulose. Seu propósito? Conhecendo como conhecemos os nossos “movimentos sociais”, incapazes de “construir” qualquer coisa, só poderia ser destruir: elas puseram fim a milhares de mudas transgênicas de eucalipto produzidas numa pesquisa que vinha sendo desenvolvida desde 2001. Não se limitaram a isso; como Nelson Rodrigues também profetizava, o “idiota”, que antes se envergonhava ou ao menos era humilde, hoje busca aplausos. Tem o prazer em se exibir. Não por outra razão, o MST divulgou na Internet um vídeo que exibe o ato. A ideia, conforme explicaram em nota, era provocar um “debate” na sociedade, pois “o plantio em escala do eucalipto transgênico pode causar sérios impactos ambientais e sociais, já que contaminaria a produção de mel brasileira, e necessitaria de mais água e agrotóxico se comparado com a espécie natural”. A empresa, através de seu gerente de operações de companhia, Eduardo José de Mello, garante que o produto é seguro para o meio ambiente e que “perdemos anos de desenvolvimento tecnológico”.
Quem está mais correto em seus argumentos, é questão de segundo plano. O modo por que se argumenta é o fundamental aqui. De que forma o MST pensa em provocar um “debate”, se ele próprio se prova incapaz do diálogo? Se ele próprio não faz uso das ferramentas indispensáveis em uma democracia, preferindo o atalho subversivo e ameaçador do “quebra-quebra” para fazer imposto o seu ponto de vista? Agindo dessa forma, o MST nada tem, como nada teve jamais, a ensinar ao Brasil. Comporta-se como um grupo terrorista, com um modus operandi repulsivo em todos os aspectos.
O irlandês Edmund Burke, a quem muito admiro, censurava os idólatras do radicalismo transformador, sinalizando que a “raiva e o delírio destroem em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho, a previsão não podem construir em um século”. Promovendo um “diálogo” (não literalmente, é claro; o leitor perdoe o didatismo, mas se por acaso um militante do MST ler esse texto, embora eu não tenha a menor pretensão de “iluminá-lo”, preciso ao menos tentar fazê-lo compreender o significado dessa palavra que ele não conhece) entre ele e o velho Nelson, acrescentamos que raiva e delírio associadas – e normalmente o são – à mais franca estupidez, decuplicam esse seu poder imenso de arruinar o presente e o futuro.
Esse infeliz evento acontece pouco depois do memorável discurso do ex-presidente Lula, que ameaçou colocar o “exército de Stédile”, portanto o MST, nas ruas, porque os petistas “também sabem brigar”. A conexão entre o partido de Lula e Dilma e movimentos obscuros de propostas barulhentas e discursos de ódio – conexão essa prática e IDEOLÓGICA – é nossa velha conhecida. Acontece pouco antes, também, da manifestação de 13 de março, em que diferentes setores da esquerda, entre eles estando o próprio MST, estarão questionando um suposto “golpismo” em curso contra a presidente, voltando-se por antecipação contra as manifestações oposicionistas marcadas para dois dias depois. O MST e todos os demais movimentos vinculados se apresentarão, naturalmente, como representantes do “povo”. Será o “povo” com Dilma!
Se quisermos elevar nosso patamar como civilização, precisamos mostrar que o verdadeiro “povo” brasileiro com P maiúsculo não está de acordo com essa beligerância. Precisamos repudiar com veemência os métodos antidemocráticos desses grupos que colocam em risco a integridade e segurança do patrimônio público e privado, e até, a julgar pelo tom belicoso de Lula, da própria vida do cidadão brasileiro. Precisamos desfraldar bem alto a bandeira do diálogo e da reivindicação democrática, respeitando os limites do Estado de direito e seus trâmites indispensáveis, sob pena de sucumbirmos ao completo caos e de vermos prevalecerem aqueles que querem aprovar suas pautas por vias truculentas. Não sabendo recorrer a esses trâmites, o MST perde todo o direito de ser respeitado como movimento, e se razão tivesse – e não cremos seja o caso -, toda ela, por esse único fato, estaria perdida.
(por Rodrigo Constantino)
O copo meio cheio: náusea com Brasil de Dilma pode ser purgatório para melhoras à frente
O Brasil está cada vez mais caótico, e tudo deve ser colocado na conta de Dilma. Não foi por falta de aviso dos liberais. Estamos regredindo uns dez anos no tempo. Aliás, número mágico: o dólar atinge o maior valor em dez anos, chegando a R$ 3,00, assim como a inflação, que acumulou incríveis 7,7% em fevereiro nos últimos 12 meses, o maior índice em quase dez anos. O Brasil subia de escada rolante, gradualmente, e resolveu descer de elevador (ou seria de bungee jumping?) com Dilma.
Mas como já aponto os dados ruins com frequência, farei agora um exercício de Pangloss. Tentaremos ver o lado bom disso tudo, o copo meio cheio. Não é endossar a máxima de quanto pior, melhor, e sim compreender que a fase ruim pode produzir efeitos positivos também. Crise em chinês, reza a lenda, é escrito com dois caracteres, um deles significando perigo, o outro oportunidade. Há alguns sinais de que esse clima negativo possa parir mudanças desejáveis.
Em primeiro lugar, a maior força relativa do Congresso e o próprio PMDB cada vez mais independente do PT. O discurso de esquerda gosta de jogar no PMDB a culpa por todos os males de nossa democracia, mas não é bem assim. O partido é fisiológico e corrupto, sem dúvida, mas também pode ser um fator de equilíbrio que impede a concentração demasiada de poder em uma só legenda, especialmente no PT, com seu projeto golpista e autoritário.
Por exemplo: o PMDB já está pressionando o PT por um nome mais independente para o STF, a ser indicado por Dilma para substituir Joaquim Barbosa. Eis um claro efeito positivo da crise política e econômica. Em condições normais de temperatura e pressão, o PT teria o caminho mais livre para seguir com o aparelhamento do STF, parte crucial do projeto bolivariano. O despertar do PMDB, ainda que por razões comezinhas e não nobres, produziu um efeito positivo.
Outro exemplo: o clima ficou tenso na CPI da Petrobras, houve bate-boca entre petistas e membros do PMDB, o presidente da CPI foi xingado de “moleque”, mas o fato é que foram criadas sub-relatorias que na prática esvaziam o poder do relator petista e aumentam a independência da CPI. Novamente, mais um resultado positivo da briga entre PMDB e PT, fruto do caos econômico produzido por Dilma.
Em sua coluna de hoje, Reinaldo Azevedo também foca nesse aspecto positivo da incompetência de Dilma, que ao menos serviu para jogar um enorme balde de água fria nos bolivarianos do PT. Vários projetos golpistas tiveram de ser abandonados, e o Brasil agradece. Diz Reinaldo:
Sim, a Petrobras foi à breca, o país está na lona, Joaquim Levy espicha seu olhar fiscalista até para as bolsas das velhinhas… Mas tanto desastre, vejam que bacana!, sepultou a reforma política do PT, que tinha ares de golpe branco na democracia; permitiu o avanço do que chamam por aí, de modo burro, de “PEC da Bengala”, o que deve preservar o STF de tentações momesco-bolivarianas; enterrou os delírios dos companheiros de “controle social da mídia”; transformou, desta feita, o estelionato eleitoral em “carnadura concreta” (by João Cabral).
Atenção! Em 2003, Lula jogou no lixo o programa com o qual se elegeu, e isso foi bom. Estelionatário, sim, mas, a seu modo, virtuoso. Desta feita, Dilma sepultou as promessas da campanha –porque não tinha saída–, e a vida das pessoas piorou.
Saúdo, assim, a incompetência do governo. E não porque eu seja adepto do quanto pior, melhor! Mas porque a crise trouxe de volta a política. Janot, com as suas alegorias de mão, lustra o Brasil da impunidade. Dilma, com a sua ruindade, preserva o país, eis a ironia, da sanha petista, como veremos no próximo dia 15, nas ruas. Engraçado, né?
Também na Folha, Marcos Troyjo mostrou as diferentes fases do Brasil, que passou da fobia para a mania, e agora está despertando náuseas nos investidores estrangeiros (e locais). Mas há a possibilidade de isso produzir um resultado positivo à frente:
O sentimento no exterior não é de que o Brasil se tornará um “Estado Fracassado”. O embrulho no estômago vem da sensação de desperdício de oportunidades, gerações que se consomem e futuro não construído.
Os próximos 18 meses serão de provação, mas o país é maior que fantasmas do curto prazo. Esta fase de Brasil-naúsea pode não ser de todo ruim. Talvez signifique que o sistema de defesa do organismo esteja funcionando.
Algo de errado -o modelo brasileiro de capitalismo de Estado- teria de ser expelido. Com isso, o país retomaria seu amplo patrimônio de potencialidades.
Estamos no purgatório! Claro que há o risco de isso ser apenas uma transição para o inferno dantesco. Seria o caso se a crise, em vez de produzir anticorpos fortes o suficiente para enfrentar o PT, nos levasse de vez para o caminho da Argentina e da Venezuela. Não parece ser o caso. Mais provável parece a tese de que o Brasil está ensaiando uma reação, e que o PT está cada vez mais acuado, na defensiva, tendo inclusive de convocar o “exército de Stédile” para destruir laboratórios na desesperada tentativa de erguer uma cortina de fumaça e desviar a atenção das pessoas do petrolão e da crise econômica.
O clima está muito ruim, a crise é muito séria e será longa. E ainda há riscos de a coisa degringolar de vez. Não quero aqui passar uma imagem diferente. Mas, talvez à guisa de celebrar essa sexta-feira, resolvi mostrar agora o copo meio cheio. Há luz no fim do túnel. É verdade que pode ser um trem chavista vindo em nossa direção. Mas também pode ser uma saída para o Brasil, que passa por derrotar o PT. Dia 15 de março vem aí, e veremos o quão forte é essa hipótese…
Rodrigo Constantino
Dilma despenca, FHC deixa cair e Cunha já admite processo de impeachment. Só depende do povo nas ruas
Tem recebido pesquisas com patamares de impopularidade inéditos, segundo a coluna Radar, muito piores do que a presidente obteve após as manifestações de 2013.
A do Vox Populi em Minas Gerais, onde ela venceu a eleição, mostra que 62% dos mineiros consideram seu governo “ruim” ou “péssimo”. Depois do ato de 15 de março, a tendência é que o Ibope consolide o desmoronamento.
Ninguém quer carregar o caixão de Dilma.
Neste sábado, no entanto, a Folha causou frisson na internet ao noticiar que FHC tem admitido a aliados a hipótese de uma aproximação com a presidente, na tentativa de ajudar a achar uma saída para as crises política e econômica.
Rapidamente, FHC desmentiu a matéria em nota:
“O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Este quer antes de mais nada que se passe a limpo o caso do Petrolão: quer ver responsabilidades definidas e contas prestadas à Justiça. Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo. Cabe sim que as forças sociais, econômicas e políticas se organizem e dialoguem sobre como corrigir os desmandos do lulo-petismo que levaram o país à crise moral e a economia à recessão”.
Muito bem. O PSDB não pode salvar o PT. Dilma despenca, FHC deixa cair.
Para quem se recusou a pedir o impeachment de Lula em 2005, no auge do mensalão, já é muita coisa. Mas seria bom se FHC contribuísse ativamente para a queda.
Dias atrás, Eduardo Cunha afirmou a mais de um interlocutor, segundo o Radar, ser impossível segurar o processo de impeachment (veja aqui a base legal) caso a possibilidade ganhe força a partir dos protestos de 15 de março.
Quando Cunha tomou posse, escrevi aqui: “Hoje, até mesmo para proteger o seu partido, também envolvido no escândalo de corrupção da Petrobras, Cunha diz que ‘não há a menor possibilidade’. Se irá engavetar ou não o pedido quando aumentar o volume de acusações, e o PMDB tiver eventualmente conseguido jogar nas costas do PT as maiores responsabilidades, não se sabe ao certo.”
Hoje, o volume de acusações aumentou; e o PMDB está tentando jogar nas costas do PT as maiores responsabilidades.
O governo achou que a inclusão de Cunha e Renan Calheiros na lista de parlamentares investigados pelo petrolão forçaria os peemedebistas a se reaproximar dos petistas – e ainda há, no Planalto, quem aposte nisso. Mas boa parte do PMDB aposta no efeito inverso e as reações dos presidentes da Câmara e do Senado deixaram isso claro.
“O governo quer um sócio na lama. Só entrei para poderem colocar o Anastasia”, disse Cunha à Folha, aludindo à citação de seu nome no inquérito contra o senador tucano Antonio Anastasia (MG), sucessor de Aécio Neves no governo mineiro.
Já Renan está em plena ofensiva contra o governo do PT, deflagrada na devolução da medida provisória que aumentaria a carga sobre a folha de pagamento.
Para o Brasil, tanto melhor que a lista aprofunde ainda mais a divisão entre PMDB e PT; e que o recado enviesado de Cunha aos petistas sobre o processo de impeachment seja mesmo verdade. A julgar por suas palavras, só depende do povo nas ruas.
Quem não se aproximar dele é marido da Dilma.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
COLUNA DE CARLOS HEITOR CONY, NA FOLHA DESTE DOMINGO:
Renúncia ou impedimento
RIO DE JANEIRO - O marechal Göring, segunda autoridade do regime nazista, tendo como único superior o próprio Hitler, era um sibarita. Herói da Primeira Guerra Mundial, o melhor piloto da Alemanha foi considerado um "príncipe da Renascença", roubava as obras de arte dos muitos países invadidos, tornando-se em pouco tempo um dos homens mais ricos do mundo.
Depois da derrota e perante o tribunal de Nuremberg, sob juramento, declarou que nada sabia da "solução final" para massacrar todos os judeus da Europa. Ele nunca ouvira falar sobre os campos de concentração e sobre o holocausto de 6 milhões de judeus.
Não aprovou nem colaborou com o genocídio. Era apenas um piloto que recebia ordens, e as cumpria com a perícia adquirida na guerra anterior. O tribunal condenou-o à forca por crimes contra a humanidade. Suicidou-se na prisão.
Não estou comparando o atual governo, principalmente dona Dilma, com o marechal alemão, a não ser quando ela declara que nada sabia do mensalão e do escândalo na Petrobras. No mesmo caso está o ideólogo Lula --o papa emérito do PT.
Diante do descalabro que envergonha o Brasil, país da corrupção e da impunidade, grande parcela do povo já fala em renúncia ou impedimento da presidente.
No Congresso, na mídia, e repetindo Nelson Rodrigues, nos botecos e nos velórios, a opinião média de todos é a opção da renúncia ou do impedimento da presidente.
Evidente que ainda não há provas isentas. Pessoalmente, acredito que nada será provado contra ela. Mas sua credibilidade e sua imagem pública estão desde já comprometidas. Não temos forca --espero que nunca a tenhamos. Bastam os exemplos de Tiradentes e, em outra hipótese --Deus não nos castigue!--, a solução macabra de Vargas.
Oportunismo xenófobo: como o nacionalismo destruiu o setor de petróleo mexicano
“Os que crêem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu.” (Roberto Campos)
A história ensina que oportunistas sem escrúpulos sempre se aproveitaram do fato da natureza humana estar mais inclinada para a busca de bodes expiatórios que para a dolorosa mea culpa. Um povo sofrido e miserável, afastado dos fatos através da ignorância induzida, precisa de explicações simplistas para seus problemas. Nada mais oportuno que condenar terceiros, normalmente os bem sucedidos, que já despertam automaticamente o sentimento da inveja, bastante comum à nossa natureza também. Tal receita foi utilizada em demasia nos países subdesenvolvidos, sempre despertando fortes emoções nos “nacionalistas”, que costumam acreditar que o sucesso alheio é responsável pelo próprio fracasso. Um dos primeiros casos explícitos dessa xenofobia tola, que empanturra os cofres de poucos oportunistas enquanto esvazia o bolso do cidadão comum, ocorreu no México.
Na década de 1920, o México era o segundo maior produtor mundial de petróleo. Na década seguinte, a produção caiu cerca de 80%, e o governo mexicano culpou exclusivamente as empresas estrangeiras, ignorando o contexto da Grande Depressão que assolava o mundo. O ambiente político estava mudando no país, com a febre revolucionária e nacionalista em alta novamente, assim como o poder cada vez maior dos sindicatos. Tais mudanças estavam personificadas na figura do General Lázaro Cárdenas, que se tornou presidente em 1934. Jogando sempre um grupo contra o outro para manter sua própria supremacia, ele acabou criando um sistema político que iria dominar o México até o final dos anos 80. E o petróleo, assim como o nacionalismo, seria central a este sistema.
Para Cárdenas, a presença dos estrangeiros no setor de petróleo era um grande incômodo, o qual ele pretendia se livrar a qualquer custo. As empresas começaram a ser pressionadas de várias formas, uma tendência crescente em toda a América Latina. Em 1937, o novo governo militar da Bolívia, desejando popularidade, acusou a subsidiária da Standard Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. No México, a briga não seria muito diferente. A crise piorou quando a Corte Suprema manteve um julgamento contrário às empresas estrangeiras numa negociação salarial. Estas, em troca, aumentaram duas vezes a proposta de salário, mas ainda aquém das demandas dos poderosos sindicatos. Em Março de 1938, Cárdenas disse que intencionava assumir o controle da indústria de petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de uma resistência passional ao controle estrangeiro.
O governo inglês reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países. Os Estados Unidos foram mais complacentes, pois Roosevelt não pretendia agravar as relações com o México num ambiente de rápida deterioração da situação internacional. Economicamente falando, a produção de petróleo mexicano era mais vital para a Inglaterra mesmo, que obtinha quase 40% de seu “ouro negro” nesse país. Após o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos os seus maiores clientes.
Foi estabelecida uma empresa nacional e estatal de petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação, e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.
Como fica claro, vem de longa data o uso escancarado de bodes expiatórios estrangeiros para enganar as massas e perpetuar um asqueroso esquema de corrupção e poder concentrado nas mãos de poucos poderosos. O nacionalismo se transforma em arma contra a lógica, expulsando investidores em nome do interesse nacional. Tal tendência suicida não foi monopólio do México, mas sim comum a toda América Latina, sem falar de outras regiões pobres, como o Oriente Médio. Aqui no Brasil tivemos em Brizola um dos maiores ícones dessa xenofobia pérfida. Os debates geravam sempre muito calor, mas pouca luz. Em vez de focarmos nos problemas internos causados por nós mesmos, adotamos a rota fácil de fuga, culpando fatores exógenos. E infelizmente o povo parece não aprender com o passar do tempo. Afinal, ainda rende votos afirmar que os americanos são culpados pelos nossos males.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.
(por Rodrigo Constantino)