Além do mensalão, do petrolão e da chanchada pornopolítica que transformou em celebridade a segunda-dama Rose Noronha, fora o resto, outro caso de polícia de grosso calibre ronda o prontuário de Lula ─ e ajuda a explicar o longo período de mudez que se impôs o ex-presidente. No fim de janeiro, a imprensa portuguesa noticiou que o Ministério Público daquele país investiga a denúncia feita pelo publicitário Marcos Valério: o Partido dos Trabalhadores recebeu 2,6 milhões de euros da Portugal Telecom (veja o vídeo abaixo).
Em 9 de janeiro deste ano, o executivo Miguel Horta e Costa, ex-presidente da empresa de telefonia, foi interrogado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal. Investigado do lado de lá do Atlântico por corrupção em transações internacionais, Costa também entrou na mira de um inquérito conduzido pela Polícia Federal brasileira. A história começou a ser apurada em 2012, depois que Marcos Valério, condenado a mais de 37 anos de cadeia por ter exercido informalmente o cargo de diretor financeiro da quadrilha do mensalão, denunciou o pagamento feito ao PT durante o governo Lula.
Em troca, a Portugal Telecom teria facilitada a compra da Telemig, operadora telefônica baseada em Minas Gerais. Segundo Valério, a propina foi negociada diretamente com o então presidente brasileiro. O dinheiro teria sido transferido por meio de uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, a publicitários brasileiros que trabalharam em campanhas eleitorais do PT. Como sempre, Lula vai jurar que não sabe de nada.
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Ai, ai, vamos lá. Quando, no ano passado, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que São Paulo passava pela maior seca em 84 anos — agora, já são 85 —, alguns mangaram dele. Inclusive a presidente Dilma Rousseff. Segundo a nossa governanta, a culpa pela crise hídrica do Estado era, claro!, do governo e de quem não sabia planejar. Tivesse a soberana atentado para os dados com mais prudência, teria constatado que a falta de chuva acabaria, fatalmente, afetando o setor elétrico, especialmente num país em que mais de 70% da matriz, na geração elétrica, vem da água. Dilma não é culpada, claro!, se não chove. Mas tem de responder por sua arrogância e pelo erro absurdo que cometeu ao baixar a tarifa de energia, antecipar concessões e quebrar o setor.
Vamos a alguns dados. Segundo o NOS (Operador Nacional do Sistema), a água das chuvas que alcançou os reservatórios das usina em janeiro foi de apenas 38,04% da média histórica, o mais baixo em 84 anos. Desde 1931, o mais baixo índice tinha sido verificado em 1953, com 44,6%. A coisa tá feia. O CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) trabalha com um índice prudencial para o risco de faltar energia. O consenso é que, se chega a 5%, o abastecimento está em perigo. Pois esse limite, meus caros Villa, Joseval e Rachel, já foi ultrapassado em 46% e chegou ontem a 7,3% nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Nota: o Sudeste responde por 49,21% do PIB brasileiro.
Prestem atenção a estes outros números. Segundo o ONS, os reservatórios, nesta quarta, estavam com 16,58% de sua capacidade nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e 16,10% na região Nordeste. No Sul e Norte, a coisa está mais tranquila: 58,16% e 34,29%, respectivamente. Para comparar: quando houve o apagão, em 2001, os reservatórios do Sudeste tinham quase o dobro de água: 31,41%.
Eduardo Braga, ministro das Minas e Energia, afirmou, no dia 22, que, se os reservatórios das usinas chegassem a 10% de sua capacidade de geração, teria de haver racionamento. Nesta quarta, a situação era a seguinte: Furnas: 9,35%; Três Marias: 10,62%; Três Irmãos e Ilha Solteira: 0%. Sim, zero! Não quer dizer que a água secou de tudo, mas que não se gera energia ali.
As coisas podem se complicar. Quem conhece a área aponta um outro problema. Parte das termelétricas que estão socorrendo o país está sucateada, e outra parte em vias de. A razão é simples: não foram feitas para operar o ano inteiro. Os apagões não virão só porque faltará energia, mas porque vai dar pau no sistema.
Vejam bem: Dilma vende a si mesma, desde 2003, como uma especialista em energia. Estamos nesta pindaíba. Assim, meus caros, eu resolvi apelar ao saber não-convencional e selecionei para vocês um vídeo com uma Dança da Chuva, ocorrida na Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Como sugestão final, acho que Dilma deve nomear o Cacique Cobra Coral para ministro da chuva. Sei que ele não poderá comparecer fisicamente às reuniões. Tudo bem! Também seus assessores não serão deste mundo.
Por Reinaldo Azevedo
Como diria o petista Chico Buarque, uma pergunta, nesta quarta, andou nas cabeças e nas bocas: se a informação não confirmada de que Graça Foster deixaria a Presidência da Petrobras fez disparar as ações da empresa, por que o mesmo não se deu com a confirmação de sua saída e de toda a diretoria? Porque Graça, como lembra reportagem da VEJA.com, não é o único problema da Petrobras. Na verdade, ela entrou lá para ser a solução. Quando ficou claro que não conseguiria tirar a empresa do atoleiro, o mercado pôs um preço.
E resolveu fazer a compensação na outra ponta quando ficou claro que Graça iria sair. Mas o valor dessa expectativa positiva já havia sido definido na segunda e na terça. Na quarta, as ações acabaram andando de lado. Outras questões agora se alevantam. Quem será seu substituto? Vem para corrigir ou para alimentar os vícios? Haverá uma profissionalização para valer?
A empresa tem pepinos gigantescos a resolver, e isso é que vai determinar, de agora para diante, o comportamento dos investidores. A Petrobras vai incorporar a seu balanço uma perda de quanto? Os mais de R$ 88 bilhões, que deixaram Dilma enfurecida, não vão sair tão facilmente da cabeça do mercado. Se o valor for muito abaixo disso, o que se tem é desmoralização — e isso custará muito caro. Qualquer que seja ele, no entanto, num primeiro momento, a tendência é que a reação seja ruim. Se os números forem realistas, pode ter início um ciclo de confiança depois do estresse.
A única coisa sensata que Dilma tem a fazer é procurar estimular o otimismo indicando um nome que não seja notoriamente ligado à máquina de desmandos. A depender da escolha, haverá otimismo, mas não se enganem: ainda há espaço para o valor das ações cair bastante. A Petrobras não dispõe dos recursos necessários para ser a parceira obrigatória da exploração do pré-sal. Ocorre que isso se tornou uma obrigação. O endividamento da empresa explodiu. A própria Graça admitiu — outro presidente dirá o contrário? — que a estatal reduzirá ao mínimo necessário a sua atuação na exploração e no refino de petróleo, suas duas atividades principais.
A confiança é muito importante, mas não existe mágica. O ciclo que vem pela frente não é nada animador. Escolham o problema:
a: o preço do barril do petróleo despencou;
b: a Petrobras não tem recursos para arcar com as despesas do pré-sal;
c: a exploração do pré-sal, dado o valor do barril, deve resultar num zero a zero, e olhem lá;
d: a Operação Lava Jato, com seus desdobramento, está longe do fim;
e: as ações judiciais contra a empresa no exterior têm desfecho imprevisível; podem ser devastadoras para as finanças da estatal;
f: agências de classificação de risco põem a empresa, hoje, no último patamar do grau de investimento; abaixo dele, é grau especulativo.
As ações se valorizaram com o boato da queda de Graça e ficaram estáveis no fato. Isso é parte do jogo. De agora em diante, o que conta é a resposta do governo aos novos desafios, que já, ora vejam, os velhos!
Por Reinaldo Azevedo
Ai, Ai… As forças da reação se organizam. Como diria Karl Marx, já citado hoje neste blog, “a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. De quem estou falando? Ora, de Rui Falcão, presidente do PT, que hoje comanda a tropa dos reacionários do país. E o que é um reacionário? À diferença do conservador, que defende a preservação de instituições para que se possam fazer as mudanças, o reaça quer forçar a história andar para trás, ele quer restaurar um passado que já passou, ele quer recuperar privilégios perdidos. Faço uma pequena digressão. A imagem é de Chesterton, um conservador iluminado, sem trocadilho: os postes de luz devem ser permanentemente pintados para que continuem funcionais. Eles mudam para que, sobrevivendo, suportem a luz. Alguém poderia brincar: “Ah, mas não seria o caso de enterrar os fios, tornando obsoletos os postes?”. Se e quando isso for necessário, sim. Mas que se preserve lá, de pé, a história, como parte de um passado que fez o presente e anuncia e o futuro. A civilização se faz do acúmulo de conhecimento e de experiência, não da eliminação do passado. Num caso, temos democracia; noutro, Estado Islâmico. Mas volto ao ponto.
Rui Falcão, o presidente do PT, estava com a macaca nesta quarta. Logo depois de uma reunião com a bancada federal do partido, deu a seguinte declaração: “O mais importante é fortalecer a Petrobras e mostrar que é uma empresa que tem recursos para o futuro do país. Há uma tentativa muito grande de desmerecer a Petrobras como empresa pública”. Como é que é?
Sob o comando do PT, a estatal chega perto da insolvência, palco do maior escândalo de que se tem notícia — deve haver outros, cujo conteúdo desconhecemos — na história do país. Na gestão do petista José Sérgio Gabrielli, uma quadrilha se apoderou da empresa. Mas Rui Falcão acha que a diretriz tem de continuar a mesma.
Ele especificou o seu desejo de mesmice: “Nós temos que manter as políticas de conteúdo nacional da Petrobras, que garantem emprego e recursos para o país. Não concordamos com analistas que defendem privatizar a Petrobras, tirar dela a condição de operadora única do pré-sal e mudar o regime de partilha para o regime de concessão”.
Vamos ver. Infelizmente, são poucas as vozes que defendem a privatização da Petrobras — entre os homens públicos, ninguém até agora A chamada política de conteúdo nacional gerou uma empresa à beira da insolvência, a Sete, onde Dilma quer enfiar R$ 10 bilhões, e só serve para elevar os custos da Petrobras. O regime de partilha, da forma como imposto à estatal, exige da empresa o desembolso de um dinheiro que ela não tem.
Falcão estava animado e resolveu se pronunciar também sobre um parecer do advogado Ives Gandra Martins, segundo quem Dilma pode ser alvo de um processo de impeachment, ainda que por ações culposas. Afirmou: “Não vejo nem base jurídica nem base política para isso. A presidente Dilma foi eleita e está conduzindo o país conforme o programa vitorioso nas urnas. Essas tentativas que são aqui ou ali ensaiadas, de flerte com o golpismo, não levo a sério porque a população brasileira está muito firme com a ideia da democracia. São chuvas de verão”.
Flerte golpista uma ova! Eu nem defendo exatamente o ponto de vista de Ives Gandra, mas o que está numa lei democraticamente votada ou acolhida, golpe não é. Golpe é organizar uma quadrilha para assaltar a Petrobras e o estado brasileiro.
O reacionário Falcão acha que o futuro do Brasil está no passado, no tempo em que os petistas davam as cartas. Levaram o país à bancarrota.
Por Reinaldo Azevedo
Publicado no Globo desta terça-feira
MARCO ANTONIO VILLA
O governo Dilma acabou. É caso único na história republicana brasileira. Vitorioso nas urnas, duas semanas depois do pleito já dava sinais de exaustão. De um lado, a forma como obteve a vitória (usando da calúnia e da difamação) enfraqueceu a petista; de outro, o péssimo cenário econômico e as gravíssimas acusações de corrupção emparedaram o governo. Esperava-se que Dilma aproveitasse os louros da vitória para recompor a base política e organizasse um ministério sintonizado com o que tinha prometido na campanha eleitoral. Não foi o que aconteceu. Acabou se sujeitando ao fisiologismo descarado e montou um ministério medíocre, entre os piores já vistos em Pindorama.
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Tags: Aloízio Mercadante, Dilma Rousseff, eleição, Gleisi Hoffmann, Ideli Salvatti,Lula, Marco Antonio Villa, Pepe Vargas, petrolão, Renan Calheiros
Fonte:
veja.com