Se o estado brasileiro fosse uma família, tinha quebrado e estaria na mão de um agiota

Publicado em 31/01/2015 12:00
por Rodrigo Constantino, de veja.com

Se o estado brasileiro fosse uma família, tinha quebrado e estaria na mão de um agiota

Uma “gestora eficiente”…

“Os governos nunca quebram. Por causa disso, eles quebram as nações.” (Kennet Arrow)

Qualquer administrador das finanças do lar compreende que não é possível gastar mais do que ganha indefinidamente. O “superávit primário” nada mais é do que poupar uma parte das receitas para ter condições de pagar o custo da dívida acumulada nos anos anteriores.

O mínimo que se espera de um governo responsável é um saldo positivo primário, pois o certo mesmo seria um saldo final positivo, o que significaria que o governo consegue pagar todas as suas despesas, incluindo a de juros, e ainda amortizar um pouco do estoque de dívida.

No Brasil, curiosamente, nossas esquerdas rejeitam até mesmo a necessidade de um superávit primário. Ou seja, é como se acreditassem que o governo é muito diferente de uma família, e que pode simplesmente gastar mais do que arrecada como se não houvesse amanhã.

Em um aspecto ao menos o governo é diferente de uma família, ainda que seja apenas o administrador dos recursos públicos em nome de todas as famílias brasileiras: ele tem o poder de arrecadar impostos e de emitir dinheiro (um imposto disfarçado).

Quando uma família perdulária gasta sistematicamente mais do que ganha, mergulha no vermelho de forma perigosa, adere ao cheque especial e eventualmente cai na mão de um agiota. Paga juros altíssimos e corre o risco de ter que declarar falência e perder todos os seus bens remanescentes.

Mas quando o governo gasta cada vez mais, sem a contrapartida na receita, ele pode sempre emitir mais moeda e gerar inflação (como fez o governo Dilma), ou decretar aumento de impostos (como fez o governo Dilma). Ele não quebra como uma família; mas ele acaba quebrando a nação!

Digo tudo isso, claro, para chegar ao lamentável fato ocorrido em 2014, divulgado agora: tivemos o primeiro déficit fiscal primário desde 1997! As “pedaladas” do governo Dilma foram criando uma bola de neve que, ao ser parcialmente reconhecida no final de 2014, levou a esse rombo superior a R$ 30 bilhões no consolidado.

Só para refrescar a memória do leitor, o governo falava em superávit primário de R$ 100 bilhões no começo do ano, depois revisto para R$ 80 bilhões. Entregou um déficit de R$ 32 bilhões. Primário, ou seja, sem levar em conta o serviço da dívida que, como qualquer indivíduo bem sabe, também é despesa.

Em outras palavras, Dilma rasgou a Lei de Responsabilidade Fiscal, jogou no lixo o legado mais importante da era FHC. E para não ser punida legalmente pelo crime de responsabilidade, ainda mandou ao Congresso uma alteração na Lei das Diretrizes Orçamentárias no apagar das luzes do ano passado, para se livrar das consequências de seus atos irresponsáveis. Quem paga por seus erros somos nós, trabalhadores, consumidores e pagadores de impostos.

Agora o governo Dilma fala em um superávit de 1,2% do PIB para 2015. E quem acredita? Não basta colocar ministro novo com fama de “fiscalista” ortodoxo. O esforço fiscal necessário para essa reviravolta seria homérico, especialmente em uma economia em crise, sem crescimento. Dilma vai mesmo entregar o que promete agora? Como?

O certo seria cortar na carne, bilhões e bilhões de despesas inúteis do governo, que aumentaram exponencialmente nos últimos anos, sem contrapartida alguma na melhoria dos serviços públicos.  Quando analisamos que a receita do governo subiu de R$ 991,1 bilhões em 2013 para R$ 1,01 trilhão em 2014, fica claro que o problema não é falta de receita.

O problema é excesso de gasto. As despesas saíram de R$ 914,1 bilhões em 2013 para R$ 1,03 trilhão em 2014. Estamos diante de um governo gastador, perdulário, irresponsável e incompetente (já que nada disso significou melhoria nos serviços públicos).

Mas sabemos que Joaquim Levy e a presidente Dilma desejam ir pelo caminho mais fácil e proteger todos aqueles pendurados em tetas estatais, jogando o fardo uma vez mais nas costas dos pagadores de impostos. O caminho escolhido será o aumento de impostos, prerrogativa que só os governos têm, não as famílias.

Outra medida que as famílias endividadas podem tomar quando as contas apertam é a venda de ativos. Aquele carro extra, talvez um relógio ou uma joia, quem sabe as ações que guardavam para o filho? O estado tem ativos também. Muitos, no caso brasileiro, pois a União é dona de centenas de empresas.

Logo, a privatização seria outra alternativa para reduzir o rombo fiscal e abater endividamento, que subiu bastante e ultrapassou 62% do PIB. Mas aqui o governo Dilma também fez grandes lambanças (e onde não fez?). A Petrobras, sem dúvida o principal ativo, foi destruída pela incompetência e roubalheira. O valor de suas ações despencou. A empresa perdeu mais de R$ 20 bilhões de valor de mercado em apenas 3 dias!

Somando tudo, eis o que temos: o governo Dilma rasgou a Lei de Responsabilidade Fiscal e entregou o primeiro déficit primário desde 1997, fez isso aumentando arrecadação, mas aumentando ainda mais despesas, produziu uma inflação elevada e crescente para financiar sua irresponsabilidade, expandiu a dívida do governo, e destruiu o valor dos ativos do estado. E é nela que alguns depositam a esperança de consertar essa trapalhada toda?

Rodrigo Constantino

 

 

A obsessão antiamericana

“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. (Arnold Toynbee)

A esquerda costuma ser bastante organizada e unida, enquanto os liberais, por definição, são mais independentes e vivem isolados, cuidando da própria vida. Vemos, portanto, uma difusão de certas inverdades por parte da esquerda, que ficam sem muita contestação. O objetivo desse texto é desfazer algumas delas, principalmente no que diz respeito ao alvo predileto deles: os Estados Unidos.

Em primeiro lugar, vamos tentar compreender o motivo dessa obsessão antiamericana. No passado recente, num mundo bipolar, os Estados Unidos representavam o experimento capitalista liberal, enquanto a União Soviética era o socialismo planejado. Com a queda do segundo, ocorreu uma perda de identidade por parte dos países socialistas, já que ele representava o denominador comum desses povos. Atônitos, eles precisam encontrar um novo foco, que passa a ser então o antiamericanismo.

Não recuperados da humilhação que foi a queda da “cortina de ferro” e o aparecimento de suas cruéis atrocidades, com mais de cem milhões de vítimas fatais no currículo, precisam tentar “provar” que os Estados Unidos, e por conseguinte o capitalismo, também falharam. Jamais vão perdoar os americanos pela vitória na Guerra Fria! Nessa jornada passional, vale absolutamente tudo, desde mentiras grosseiras, passando por propaganda enganosa maciça, sofismas, inversão de causalidade ou ocultação de fatos. O objetivo é apenas um: condenar o capitalismo liberal e seu maior ícone.

Vale aqui um alerta: os Estados Unidos não representam o ideal dos liberais. Lá, o Estado é um Leviatã também, que extorque quase 30% da riqueza privada em nome do bem-estar social. Mas atualmente, é o que temos mais próximo do liberalismo, justamente a causa de seu sucesso relativo.

O artigo tenta resumir o livro de Jean-François Revel, renomado escritor que foi membro da Academia Francesa. De tempos em tempos, apesar de a França ser um dos países mais antiamericanos da Europa, surge um francês que faz uma avaliação isenta de xenofobia. Aléxis de Tocqueville escreveu no século XIX seu clássico A Democracia na América, excelente livro que destaca com detalhes as diferenças básicas entre a França e os Estados Unidos. Revel também utiliza bastante a comparação entre as nações. O que mais impressiona no antiamericanismo não é a desinformação, já que a quantidade de informação disponível sobre o tema é vasta. O que é incrível nisso tudo é a vontade deliberada de estar desinformado.

Vejamos um primeiro exemplo, a Guerra do Vietnã. Normalmente um dos assuntos mais citados para se criticar o “império” americano – não sem boa dose de razão, mas que nunca ninguém destaca as causas da guerra, atreladas aos fracassos militares da França, que por não abrir mão da Indochina como colônia, acabou levando à intervenção americana. Falam também do fato de a guerra ter matado cerca de um milhão de pessoas ao longo de quase duas décadas, enquanto omitem que o regime comunista de Ho Chi Minh, que lá se instalou quando os americanos saíram, matou mais de três milhões. Camboja, que não sofreu intervenção americana, viu cerca de um terço de sua população ser dizimada pelo regime comunista, e isso não costuma ser lembrado. Não lembram ainda que a ajuda americana na Coréia foi o que possibilitou a sulista ser próspera e livre hoje, e não como sua irmã do norte. Os Estados Unidos podem e devem ser condenados pelos erros no Vietnã, mas reforço o apelo pela busca mais imparcial dos fatos, já que a paixão pode cegar um homem.

Um dos pontos mais repetidos diz respeito ao argumento marxista de que, para o rico ficar mais rico, o pobre tem que ficar mais pobre. Logo, como os americanos prosperaram economicamente, conclui-se automaticamente que o mundo pagou o preço. Esse absurdo pode ser refutado com a mais singela observação empírica, mas a falsidade nunca impediu um ponto de vista de prosperar, quando sustentado pela ideologia e protegido pela ignorância.

Gostando ou não, a verdade é que a superpotência americana resulta em parte da vontade e criatividade de seu povo, e em parte pelos fracassos acumulados do resto do mundo. Afinal, foram os europeus que tornaram o século XX o mais negro da história, provocando duas guerras mundiais e regimes totalitários assassinos. Foram as nações européias, assim como Japão e China, que tentaram conquistar outros países. O papel dos Estados Unidos foi justamente o desalvar o mundo das garras de Stalin e Hitler, e depois ajudar na reconstrução financeira européia com o Plano Marshall. Mas, paradoxalmente, são os americanos os acusados de “império colonizador”. Logo eles, que restauraram a democracia na Alemanha e no Japão, e quecompraram terras como a Louisiana e o Alaska.

O antiamericanismo é repleto de contradições. Ora falam que o livre comércio é o veículo de exploração americana, ora acusam o embargo de Cuba pela sua miséria. O embargo nada mais é do que a proibição de empresas americanas negociarem com a ilha, atitude bastante razoável dado o calote cubano em 1986 e seus mísseis apontados para a Flórida no passado. A Europa reclama do protecionismo de alguns setores nos Estados Unidos, como aço e agricultura, ao mesmo tempo em que garante muito mais subsídios agrícolas em seus quintais. O Bovè, um dos maiores beneficiados dessa ausência de competição leal, é o maior crítico da globalização, e é recebido no Fórum Social Mundial com honrarias, justamente pelos que mais sofrem com esses subsídios paternalistas. Criticam violentamente a globalização, mas suas ideologias totalitárias esquerdistas sempre tentaram avançar internacionalmente. O que detestam não é a globalização em si, mas a globalização liberal e democrática. E o mais engraçado é que esses jovens, com coquetéis Molotov em mãos, se intitulam “pacifistas”.

Outra acusação comum é o aparente alargamento da distância entre ricos e pobres. Deixando claro que para alguém ficar mais rico não é necessário que outro fique mais pobre, não vamos confundir também a distância entre eles com o nível absoluto de vida das pessoas. Na Índia, apenas para dar um exemplo, a produção de gêneros alimentícios multiplicou-se por dez em poucos anos, o que permitiu o fim da fome em massa. Esse ganho absoluto deveria ser louvável, mas parece que o ser humano olha apenas para a grama mais verde do vizinho. Vários indicadores mostram facilmente como a qualidade de vida dos pobres melhorou nos últimos séculos, com inúmeros avanços graças a carona no progresso dos ricos. Se isso não é relevante, é porque estamos lidando com um dos sentimentos mais mesquinhos da humanidade: a inveja.

Como não reconhecer a evidência clara de que vários países, como México, Canadá, Taiwan, Coréia e Cingapura, melhoraram de vida rapidamente com o comércio com os americanos, normalmente maiores compradores de seus produtos? Os americanos importam cerca de US$ 800 bilhões a mais do que exportam todo ano. Até mesmo a Europa depende dos Estados Unidos para crescer e gerar empregos. Muitos mundo afora dependem praticamente do sucesso de uma nação, mas a criticam o tempo todo. E se ainda temos tanta miséria pelo mundo, como na África e países da América Latina, isso nada tem a ver com os americanos, mas sim com o fato de essas nações terem adotado um modelo socialista com receita de coletivização de terras e regimes totalitários.

Capciosos, os críticos de plantão dos Estados Unidos não cansam de repetir o fato de o país ser o que mais investe na indústria bélica no mundo. Ignoram tranqüilamente o fato da economia americana representar cerca de 30% da mundial, ou seja, eles serão, via de regra, os que mais investem em todos os setores, incluindo educação e saúde. Além disso, é fato que os americanos acabam servindo como polícia do mundo livre, através da Pax Americana. Já a China, que ainda está sob regime totalitário, vem aumentando vertiginosamente seus gastos militares, e isso sim deveria preocupar os “pacifistas”. De acordo com estimativas do Pentágono, a China tem atualmente mais de setecentos mísseis próximos de Taiwan, e está acelerando esta estocagem. Não é segredo que o Partido Comunista Chinês tem a intenção de anexar a ilha ao seu território. O governo chinês mantém relações amistosas com diversas ditaduras perigosas. A Coréia do Norte e o Irã se armando deveria dar calafrios nos que almejam a paz, e não a força americana. Estranhamente, são os Estados Unidos que são vistos por muitos como real ameaça à paz global.

O caso da América Latina é especial. Como bem colocou o pensador venezuelano Carlos Rangel, “para os latino-americanos é um escândalo insuportável que um punhado de anglo-saxões, chegados ao hemisfério muito depois dos espanhóis, tenham se tornado a primeira potência do mundo”. Seria necessário um doloroso mea culpa, que acaba levando a uma solução mais confortável de explicar nossa situação inferior através do “imperialismo” americano, o bode expiatório de sempre.

Sem dúvida, uma das críticas mais pesadas em relação aos Estados Unidos é seu unilateralismo. Em primeiro lugar, deve ficar claro que esse unilateralismo é conseqüência, não causa, da perda de influência do resto do mundo. E como argumentar contra esta postura americana quando se tem uma total ausência de um outro lado ativo, ou que está evidente o viés antiamericano nas demais nações? Será que alguém ainda duvida da inoperância da ONU, que nada fez sobre a Chechênia, Tibete, Coréia, Kosovo e tantos outros casos?

A China tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, e tem usado este poder constantemente para desviar as sucessivas tentativas dos Estados Unidos de impor sanções aos países que representam ameaças, como o Irã em suas ambições nucleares. O Conselho dos Direitos Humanos da ONU conta com países como China e Cuba, onde os direitos humanos são completamente ignorados. A Liga das Nações, antecessora da ONU, estaria provavelmente ainda hoje debatendo os riscos da Alemanha nazista, enquanto o Füher estaria sentado em um trono europeu, quiçá mundial. Como culpar o unilateralismo americano quando sabemos que a Europa reluta até para reconhecer o perigo real do islamismo fanático?

Os supostos “pacifistas”, que aclamam por solução diplomática, são ou sonhadores românticos ou hipócritas. Aliás, vestidos com a causa pacifista, os comunistas franceses exortaram os trabalhadores das fábricas de armamento a sabotarem seu trabalho e pressionaram os soldados a desertarem, quando os exércitos nazistas estavam a poucas semanas de ocupar Paris. Pablo Picasso criou a litografia da pomba da paz como presente para o genocida Stalin! Alguns “pacifistas” poderiam estar em Guantánamo. É preciso lembrar que seria necessário termos motivações lógicas e racionais por parte dos terroristas para se ter alguma esperança de acordo diplomático. Mas sua cruzada já ficou clara: destruir os infiéis, ou seja, todos os não muçulmanos. O aforismo é antigo: com terroristas não se negocia. Podemos fazer um paralelo com o caso de Hitler, onde fica claro que não seria razoável alguém pensar em solução política amistosa.

Ainda em relação ao Islã, existe mais contradição. O principal alvo é novamente os Estados Unidos, mas estes, por sua vez, nunca colonizaram países muçulmanos, e pelo contrário, nas intervenções na Somália, Bósnia ou Kosovo, assim como pressões sobre o governo macedônio tiveram por objetivo defender as minorias islâmicas. Quem ataca de facto os muçulmanos são os próprios muçulmanos, como no caso do Iraque no Kwait, que foi defendido pelos americanos, ou na Argélia, onde o próprio povo se massacra. Como que tamanha contradição pode passar despercebida? Em 1956, foram os Estados Unidos que detiveram a ofensiva militar anglo-francesa-israelense contra o Egito, na chamada “Expedição Suez”. Nada disso é relevante para os povos obstinados e imbuídos de fé cega, assim como pesada lavagem cerebral de seus líderes, que utilizam os Estados Unidos como perfeito bode expiatório, justificando assim o regime opressivo doméstico.

Os antiamericanos inundam os canais de propaganda com afirmações de que foram os Estados Unidos que criaram Bin Laden, e de tanta repetição, se tornou verdade incontestável. Somente se explica isso por total ignorância ou má fé. No contexto da Guerra Fria, o que haveria de anormal no fato de que Reagan aceitasse os serviços de todos aqueles que quisessem resistir à União Soviética, fossem ou não do Islã? Imaginem o que poderia ter representado para a Índia, Paquistão ou países do Golfo uma ocupação definitiva dos soviéticos sobre o Afeganistão. Gorbachev talvez jamais tivesse se tornado líder, a Perestroika não teria existido e possivelmente teríamos ainda hoje milhões de gulags espalhados pelo mundo.

No campo econômico, os antiamericanos costumam fugir dos números como o diabo foge da cruz. O fato dos Estados Unidos terem criado quase dois milhões de empregos por ano nos últimos 15 anos, enquanto a Europa criou praticamente zero, incomoda profundamente. Em nome do social, os europeus adoram criticar os americanos, que não se interessariam tanto pela saúde dos mais pobres. Acontece que as despesas públicas com saúde representam nos Estados Unidos uma percentagem sensivelmente igual às da França, sem que isso asfixie o setor privado. Aliás, o sucesso relativo dos americanos se deve justamente ao maior espaço dado ao setor privado, bem mais eficiente que o público. Essa diferença faz a taxa de desemprego na França ser praticamente o dobro da americana, ou a renda média por habitante dos americanos ser 30% maior que a dos franceses.

Como Voltaire disse, “julgue um homem mais pelas suas perguntas que suas respostas”. Os antiamericanos não querem fazer perguntas, pois temem pelas respostas, ou então porque já possuem a resposta “certa” para todas as perguntas: é culpa da América! A dificuldade de debater com um antiamericano típico está na percepção que Karl Popper teve, de que é impossível debater com alguém que prefere te matar a te dar razão.

Não consigo entender, utilizando a lógica, o motivo para tanto rancor ao “american dream”. Se acham que é tão ruim assim viver lá, como explicar a migração constante de diversos povos diferentes para lá? Será que os pioneiros não iriam alertar seus sucessores, em vez de mandarem passagens desenfreadamente? E ainda conseguem acusar os americanos de racistas, sendo que são um dos únicos grandes países a abrigarem diversas etnias e religiões de forma civilizada. O sucesso da integração à americana é precisamente que os descendentes de imigrantes podem perpetuar suas culturas ancestrais sentindo-se plenamente cidadãos americanos. Essa convivência amistosa deve realmente irritar muito pessoas que gostariam de impor, à força, suas crenças religiosas ou políticas. Nos Estados Unidos já existem quase 40 milhões de hispânicos, e cerca da metade dos bebês que nascem na Califórnia são de famílias mexicanas. São mais de 30 milhões de negros, e milhares de outros grupos, todos ajudando a criar essa superpotência capitalista e liberal.

Muitos se sentem agredidos com a “invasão” da cultura americana, do excesso de McDonalds em seus países. Não param para pensar que a globalização não uniformiza, mas diversifica. A reclusão é que exaure a inspiração. Se temos várias lanchonetes americanas espalhadas pelo mundo, temos também diversos restaurantes árabes, italianos ou japoneses. As trocas entre nações fizeram florescer a diversidade cultural, não o contrário. Além disso, diferente do que muitos costumam afirmar, a cultura americana não se limita às canções de Madonna ou filmes de Bruce Willis. São também um país onde há 1.700 orquestras sinfônicas, quase 8 milhões de entradas para óperas por ano, 500 milhões de entradas nos museus. Desenvolveram mais de 6 milhões de patentes. As vendas anuais de livros passam de US$ 30 bilhões, enquanto a “educada” Rússia luta para chegar a cifra de US$ 1 bilhão. Suas universidades, por seguirem um modelo mais lógico e eficiente de ligação com o mercado, absorvem os melhores intelectos do mundo todo.

Os povos se sentem agredidos pela adoção do inglês como língua predominante no mundo. Ora, é justamente a difusão dele que facilita a comunicação entre diferentes culturas, permitindo que cada povo possa ter acesso às mais diversas informações. Imaginem a loucura que seria se tivéssemos que aprender cada língua diferente para se comunicar ou ler um livro! O latim já desempenhou esse papel no passado, e não tem nada demais usarmos o inglês como língua internacional. Isso não impõe de forma alguma a cultura americana aos outros povos; pelo contrário, facilita a diversificação cultural.

A ideologia é uma máquina de rejeitar fatos no momento em que estes apresentam risco de constrangimento. Com tanta evidência de viés e incoerência, o americano pode tirar uma só conclusão: os Estados Unidos são sempre culpados. Como julgar, portanto, o unilateralismo deles? Deixo as palavras finais por conta de Revel: “As perfídias freqüentemente delirantes do ódio antiamericano, as imputações da mídia, dependendo ora da incompetência ora da mitomania, a maledicência perseverante que inverte o significado de todo acontecimento de maneira a interpreta-lo, sem exceção, como desfavorável aos Estados Unidos, leva-os ao convencimento da inutilidade de qualquer consulta”.

Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

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Fonte: Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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