Dilma acha que a sua vitória se deve à sabedoria dos que votaram nela...

Publicado em 28/10/2014 05:45 e atualizado em 29/10/2014 05:36
...e que o triunfo de Alckmin, Aécio e Serra em São Paulo se deve à ignorância do povo paulista (por Reinaldo Azevedo, de veja.com)

Dilma acha que a sua vitória se deve à sabedoria dos que votaram nela e que o triunfo de Alckmin, Aécio e Serra em São Paulo se deve à ignorância do povo paulista

O governo está em plena, como dizer?, “ofensiva de mídia”. Nesta segunda, a “represidenta” concedeu duas entrevistas: uma ao “Jornal da Record”, da TV Record, e a outra, quase em seguida, ao “Jornal Nacional”, da TV Globo. De substancial — ou quase isso — disse a mesma coisa em ambos, repetindo não apenas fragmentos de raciocínio, mas também expressões: “o recado das eleições é a mudança”; vai investigar a Petrobras “doa a quem doer”, vai fazer um governo inclusivo, com especial atenção “às mulheres, aos negros, aos jovens”; será a presidente de todos os brasileiros… E vai por aí.

No JN, ela se mostrou calma e pacífica, mas se irritou, foi visível, com a repórter Adriana Araújo, da Record, que conduziu a entrevista com extrema competência e correção. Não tem jeito: a represidenta gosta é que lhe abram o microfone para falar. Qualquer tentativa de diálogo verdadeiro, ainda que absolutamente pacífico, é logo rechaçada ou com grosserias intimidadoras ou com raciocínios tortos. Todos sabem que age desse modo com subordinados — os tais dos seus “homens meigos”. A entrevista com Adriana, muito mais reveladora, teve o condão de deixar claro, por culpa exclusiva de Dilma, que a disposição para o diálogo da governanta é conversa para boi dormir. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

Os mercados derreteram ontem, e o dólar subiu às alturas. Não foi surpresa para ninguém. Ou foi: se isso acontecia com o boato de que Dilma poderia ganhar a eleição, veio o fato. É possível que, em movimentos de curto prazo, haja uma subida ou outra? É. Mas o que importa é a trajetória, que é descendente. Guido Mantega, o único ministro demitido no cargo de que se tem notícia, disse não ver nada demais e afirmou que as Bolsas caíram no mundo inteiro, bobagem que Dilma repetiu na entrevista da Record. Falso, é claro! Houve quedas mínimas mundo afora, nada comparável à despencada havida no Brasil. Criativo na análise, não apenas na contabilidade, Mantega afirmou que a reeleição de Dilma significa aprovação da política econômica do governo. Fazer o quê? O país não está nessa pindaíba por acaso. Foi preciso, ao longo dos anos, uma incompetência verdadeiramente metódica, determinada, convicta.

Como os mercados derretem, então é preciso falar. Mas falar o quê? Dilma, claro, não adiantou que medidas pretende tomar na área econômica. Até porque, gente, quando ela tiver alguma ideia, talvez revele. De resto, nesse caso, “o que fazer” está intimamente atrelado a “quem vai fazer”. E já está claro que não será Guido Mantega, aquele que afirmou que a política econômica foi aprovada nas urnas.

Adriana cumpriu a sua obrigação e perguntou qual será o perfil do próximo ministro da Fazenda, citando, por exemplo, Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, lembrado frequentemente como um possível nome. Dilma ficou irritada e tentou ridicularizar a repórter: “Você está lançando um nome, Adriana?” Falando certamente com os, como direi?, serviçais que estavam fora da câmera, ironizou: “Ela está lançando nome…” Ouve-se um pequeno alarido de solidariedade com a chefia, como a dizer: “Oh, que absurdo!” Sabem como é aquela truculência burocrática da servidão… A repórter reagiu muito bem e deixou claro que seu papel era perguntar. Perfeito.

Mas furiosa mesmo Dilma ficou quando Adriana tocou nos quase oito milhões de votos a mais que Aécio Neves teve em São Paulo. Por que teria acontecido no estado com a maior economia do país, com a maior população?… Dilma disse, então, coisas realmente estupefacientes. Indagou por que a repórter não lhe perguntava sobre os 11 milhões de votos a mais que teve no Nordeste, ao que respondeu a jornalista: “Eu lhe pergunto então…”

A Dilma que até ali vinha falando em diálogo, em inclusão, em superar as diferenças, descambou para o eleitoralismo mais tosco e afirmou que não podia compreender que São Paulo vivesse a maior crise de água do Brasil e ninguém tocasse no assunto, sugerindo, o que é uma mentira descarada, que a imprensa estaria a proteger o governo do Estado. E emendou para espanto dos fatos e da língua portuguesa: “Fosse com qualquer governo da situação, nós seríamos criticados diuturna e noturnamente”. Sugiro a vocês que façam uma pesquisa nos arquivos na imprensa paulista sobre o assunto. A insistência beirou o terrorismo.

A represidenta que diz querer a união, que afirma ser preciso superar as divergências do período eleitoral, que anuncia ser a palavra “diálogo” a mais importante do seu segundo mandato, decidiu pautar a imprensa contra um governo de oposição, atribuindo a sua derrota no Estado, vejam vocês!, às deficiências do jornalismo — esse mesmo, diga-se, que a protege das barbeiragens cometidas, aí sim, no setor elétrico.

Vale dizer: Dilma acha que fez tudo certo; que os que não votaram nela só estavam mal informados e que o papel da boa imprensa é atacar seus adversários. Mais: para a represidenta, ela venceu no Nordeste em razão dos méritos do seu governo, e a oposição deu uma lavada em São Paulo em razão dos deméritos do que os petistas chamam “mídia”. Ou por outra: a sua reeleição é prova de sabedoria da população; já as vitórias estrondosas de  Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves em São Paulo provam a ignorância do povo paulista.

Digamos, o que é escandalosamente falso, que a imprensa realmente tivesse omitido informações sobre a crise hídrica. Será que os paulistas não teriam percebido ao abrir a torneira? O PT perdeu, em São Paulo, três turnos da eleição insistindo nessa tecla: o primeiro e único para o governo do Estado e os dois outros para a Presidência. Dilma está querendo disputar o quarto turno.

Eis a presidente que afirma querer o diálogo. Fica evidente: a exemplo de seu partido, ela também não esquece nada nem aprende nada.

Por Reinaldo Azevedo

 

Quero ser governado pela “Vovó Dilma”. Ou: “Não pega porque é do povo brasileiro!”

Bronca da vovó: “Não pega que é do povo brasileiro”

Eu sempre fico muito encantado quando políticos decidem mostrar, assim, o seu “lado humano”, especialmente depois de falar com, como direi?, especialistas em imagem. Vi com atraso, mas vi, o perfil de Dilma Rousseff no Fantástico. O vídeo está aqui. A partir dos 9min, vejam lá, a “represidenta” acabou fazendo humor involuntário. Ao comentar a sua doçura de avó, ela contou como é rigorosa em separar o púbico do privado; ela deixou claro como não mistura as coisas; evidenciou, com terna gravidade, que, com ela, as duas esferas não se confundem. Afinal, isto é uma República! E como ela deixou isso claro? Com a fábula contada sobre o netinho, Gabriel, de 4 anos.

Disse a presidente que, no andar térreo do Palácio do Alvorada, só há coisas públicas, inclusive uma bola de cristal — que certamente não anda a mostrar o futuro… — na qual o garoto gosta de mexer. Mas a avó não deixa, não! De jeito nenhum! E ela reproduz, então, a conversa que tem com o infante:

“Não pega que é do povo brasileiro. Ele tem medo do povo brasileiro atualmente. Acha o povo brasileiro perigosíssimo (…) Ele adora pegar a bola de cristal, mas o povo brasileiro não deixa”.

Huuummm…

Já sei! Vamos criar, então, a “Lei Gabriel” do governo Dilma, não é? Quero ser governado, entre 2015 e 2018, pela Vovó Dilma. Em que consiste? A “nona” vai demitir todos os apaniguados das estatais. Os cargos de direção só serão exercidos por técnicos de carreira, independentemente de suas vinculações partidárias. Imaginem se a doce senhora decidisse que as estatais só seriam governadas segundo o lema da avó: “Diretor, não pega que é do povo brasileiro”.

E se a presidente Dilma, em vez de ter nomeado Nestor Cerveró diretor financeiro da BR Distribuidora, tivesse dito à turma da Petrobras: “Não pega porque é do povo brasileiro”? Imaginem se aquela multidão que exerce cargos de confiança nas estatais, nas autarquias, na administração direta e indireta… Imaginem se essa gente toda tivesse do “povo brasileiro” o medo que, segundo Dilma, tem Gabriel. Seria muito bom que esses valentes também considerassem “perigosíssimo” esse “ente” chamado… “povo brasileiro”.

Ocorre que assim seria se assim fosse. Dilma só passou a admitir que algo de errado havia acontecido na Petrobras quando o seu marqueteiro lhe apresentou números evidenciando que o escândalo na Petrobras poderia lhe tirar a reeleição; quando estava claro, por A mais B que a coisa, como se diz, “havia pegado”; quando se tornou evidente que o tal “povo brasileiro” — que não é dono só daquela bolota de cristal do palácio, mas também da Petrobras — estava mesmo indignado.

Antes disso, Dilma preferiu adotar o discurso fácil e mentiroso de que criticavam os desmandos na estatal só os que queriam privatizá-la. Pessoalmente, eu não veria nada demais que a vovó Dilma fosse um pouco mais relaxada com a criança. Aos quatro anos, Gabriel não ameaça o povo brasileiro, por quem, acho, tem de ser estimulado a sentir amor, não medo. Já a administração pública, ah, esta sim…

A presidente poderia, por exemplo, não ter usado o Bolsa Família para ganhar votos e, pior de tudo, tomar votos. Seu lema, em relação a uma política de Estado, poderia ser este: “Não pega porque é do povo brasileiro”. Dilma me obriga a encerrar assim: ela pode ser mais presidente, isto é, mais permissiva, com o seu netinho. E que seja mais vovó com a coisa pública: “Não pega porque é do povo brasileiro”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Reforma política: a tentação bolivariana de Dilma, que pode nem terminar o mandato, agora visa a quebrar o PMDB

O PT conseguiu quatro mandatos com a Constituição que aí está. Ficará, se Dilma conseguir encerrar o próximo período, 16 anos no poder. E se prepara, um tanto alheio à realidade, para fazer uma reforma que busque eternizá-lo no poder. Não vai conseguir.

Mesmo com o país dividido, mesmo tendo obtido apenas 38% dos votos, com uma abstenção recorde; mesmo estando quase exilado às faixas de renda do país hoje mais dependentes dos benefícios estatais, os petistas se acham na condição de liderar uma reforma política contra o Congresso. Que os peemedebistas não duvidem um só segundo: o partido, embora o principal aliado do petismo, é o principal alvo das tentações totalitárias dos companheiros.

Em seu discurso, Dilma afirmou que pretende encaminhar a reforma política via plebiscito, que é como colocar o carro adiante dos bois; que é como fazer o rabo abanar o cachorro. Repetiu a sua intenção nas duas entrevistas concedidas até agora. No seu modelo ideal, fazem-se um plebiscito e uma constituinte exclusiva para a reforma. Em favor da tese, alega ter recebido uma petição de movimentos sociais com oito milhões de assinaturas. Ocorre que mais de 80 milhões deixaram de votar na represidenta. Perceberam a desproporção?

Fazer uma constituinte exclusiva corresponde a montar uma assembleia só com a finalidade de fazer a reforma, que será, obviamente, distorcida pelos ditos movimentos sociais, que nada mais são do que braços do PT. Pior: se os constituintes podem elaborar o texto e ir para casa, não terão compromisso nenhum com os seus efeitos.

É claro que, desse processo, resultaria um modelo tendente a fortalecer os fortes e a enfraquecer os fracos. O partido quer, por exemplo, financiamento público de campanha. Ora, como seria distribuído esse dinheiro? Teria de obedecer necessariamente aos votos obtidos na eleição anterior. Vale dizer: quem hoje dispõe de uma vantagem tenderia a carregá-la para o futuro. O PT tem também especial predileção pelo voto em lista. Quer encher o Congresso com os seus burocratas sem rosto.

Se propostas como essas vencem um plebiscito, os congressistas estariam obrigados a aceitá-las. “Ah, mas se é a vontade da maioria…” Bem, propostas as mais asquerosas e fascistoides podem contar com o apoio da maioria sem que a democracia saia ganhando com isso, não é mesmo? Proponha pena de morte e mutilações para bandidos perigosos, e isso tende a contar com a anuência popular. Quem disse que é bom?

O PMDB resiste à tentação totalitária da senhora Dilma Rousseff e faz muito bem! Até porque a legenda está na mira dos companheiros. Eles sabem que o partido dificilmente deixará de ter um candidato próprio nas próximas eleições.

A única forma decente de conciliar uma participação mais direta com os pressupostos da democracia representativa é fazer a reforma com o auxílio de referendo. Aí, sim: o Congresso vota uma reforma, e a população diz se aceita ou não a mudança.

Fora desse modelo, o que se tem é tentação golpista. O golpismo das urnas, que substituiu os tanques no neoautoritarismo em  curso em vários países da América Latina. Dilma que não venha posar de bolivariana. A gente nem sabe se ela termina o mandato, certo? A Venezuela,  a Bolívia e o Equador não são aqui.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma precisa de um dicionário. Ou: Odorico Paraguaçu baixou na represidenta

Eu tinha pensado, confesso, numa intenção um tanto cabotina, em dar de presente a Dilma Rousseff o meu quinto livro, que vai ser lançado no mês que vem. Mas mudei de ideia depois de assistir a duas de suas entrevistas, uma à TV Globo e outra à TV Record. Deixarei meu livro pra lá. Enviarei à represidenta um dicionário. Pode ser o Aurelião, o Houaiss ou o Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa, que já traz imortalizou a palavra “petralha”, uma criação deste escriba, que o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, detesta. Ele acha que isso é cultura do ódio. Entendo. Cultura do amor é afirmar que o adversário, se for eleito, vai extinguir o Bolsa Família. Mas, agora, deixo isso de lado.

À Globo, mostrando que sua gestão não é dada apenas à contabilidade criativa, Dilma afirmou que, durante a campanha, seu governo foi atacado “diuturna e noturnamente”. À Record, disse que, se a crise hídrica que há em São Paulo ocorresse em algum governo da situação, eles, os seus apoiadores, seriam criticados “diuturna e noturnamente”.

Escreveu o poeta Olavo Bilac que a língua portuguesa é, “a um tempo, esplendor e sepultura”. No caso de Dilma, falta o esplendor. A represidenta acha que “diuturno” quer dizer aquilo que acontece “de dia”, daí que “diuturnamente” seria o contrário de “noturnamente”, palavra que, de resto, não existe. O conjunto da obra é digno de Odorico Paraguaçu, o lendário prefeito criado por Dias Gomes. Faz sentido: a forma como o governo usou o Bolsa Família na eleição fez de boa parte do Brasil uma verdadeira Sucupira, não é mesmo?

Lula sempre espancou a língua portuguesa com notável desenvoltura. Nunca ninguém deu muita bola porque se sabe que, embora muito inteligente, teve, de fato, pouca instrução formal. Não é o caso de Dilma, que, ao menos frequentou os bancos universitários. Se ela quer falar como povo, que tire então o “diuturno” do seu vocabulário; se quer recorrer ao vocabulário dos mais instruídos, então precisa se instruir.

Em tempo: “diuturno” quer dizer aquilo que dura muito tempo, que se prolonga, que subsiste. Na origem, a palavra latina “diuturnos” estava, sim, relacionada a “dia”, mas entendido como um período de 24 horas.

Está decidido. Meu presente para Dilma será o “O Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Mercado emite sinal de boa vontade com Dilma, desde que ela não faça mais besteira

Enquanto escrevo, a Bolsa está em alta, e o dólar, em queda, numa aposta de que sobre à represidenta Dilma Rousseff um tanto de racionalidade. Depois publico um post com os números do fechamento. De tal sorte se espera mudança no governo que a simples hipótese de que ela possa nomear para o Ministério da Fazenda alguém que saiba fazer conta já muda o ânimo da turma.

Dilma emite sinais de que pode escolher para o cargo alguém, digamos, afinado “com os mercados”. Quando se fala em pessoa “afinada com o mercado”, isso não quer dizer, como imaginam petistas, psolistas e outros do calcanhar ideológico rachado que é gente que gosta de ver pobrezinho sem pão. Lembram-se da campanha eleitoral bucéfala da represidenta, segundo quem a comida sumiria do prato das criancinhas se o BC fosse independente?

Não! Significa apenas que haverá uma pessoa ocupada em, num prazo razoável, tentar fazer convergir a inflação para o centro da meta, não gastar mais do que arrecada, essas coisas. Dilma vai por aí — e isso significa, por exemplo, blindar a economia da influência de Aloizio Mercadante? Se for, bem. O mercado emite um sinal positivo. Se não, então vai ter de lidar com turbulências ainda maiores.

Que fique claro: fazendo a coisa certa, já vai ser difícil; se fizer a errada, fica impossível.

Por Reinaldo Azevedo

 

Justiça italiana faz o óbvio, antevisto aqui em fevereiro, e nega a extradição de Pizzolato; petistas respiram aliviados

A Corte de Bolonha, na Itália, negou nesta terça-feira o pedido, feito pelo governo brasileiro, de extradição do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado a 12 anos e sete meses de prisão no processo do mensalão. O homem deverá ser solto ainda nesta terça.

Nunca acreditei na extradição, como vocês sabem. Deixei isso claríssimo aqui no dia 5 de fevereiro. O malandro tem dupla cidadania, brasileira e italiana. E ele é um criminoso no Brasil e na Itália. Em dois países. Em dois idiomas. Pudesse ter uma terceira, vocês já sabem… Que vocação a desse senhor, não é mesmo?

O poeta latino Horácio, nascido onde hoje é a Itália, país em que Pizzolato foi preso, dizia que aquele que cruza o oceano muda de céu, mas não de espírito. Isso quer dizer, leitor, que a pessoa sempre leva consigo aquilo que ela essencialmente é. Pizzolato cometeu no Brasil os crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Para entrar na Itália, recorreu a documentos e passaporte falsos, usando o nome de um irmão morto. O Brasil, que já tem movimento de sem-terra, movimento de sem-teto, movimento do sem sei-lá-o-que, também tem o MSL: Movimento dos Sem-Limites.

Atenção! Ele não foi preso pelas autoridades italianas por causa dos R$ 76 milhões desviados do fundo Visanet, do Banco do Brasil, para a sem-vergonhice mensaleira. Ele foi preso porque recorreu a documentos falsos para entrar na Itália. Se não tivesse cometido crime nenhum naquele país, teria continuado livre, leve e solto. Considerando a dinheirama viva que estava com ele — 15 mil euros mais US$ 20 mil —, não parece que estivesse passando por um aperto. Sem contar que este valoroso senhor jamais deixou de receber a aposentadoria de R$ 25 mil como ex-funcionário do Banco do Brasil. Isso corresponde a quase 8 mil euros. Considerando que o salário médio na Itália está na faixa dos 900 euros, dá para levar uma vida boa.

Para ser preso na Itália por causa do mensalão, seria preciso que a Justiça de lá abrisse um processo e o condenasse pelos crimes cometidos aqui. A hipótese é remotíssima. A extradição era improvável porque, afinal, ele também era um cidadão italiano que não havia cometido crime nenhum por lá.

Preso por ter entrado em solo italiano com documento falso, a extradição dificilmente seria concedida. Não foi. O governo brasileiro vai fingir que o quer de volta e vai recorrer. Vai perder de novo. E cumpre, sim, lembrar o caso Cesare Battisti. O Brasil se negou a extraditar o terrorista, embora ele tivesse sido condenado na Itália pelo assassinato de três pessoas. Será que, ao se negar a entregar Pizzolato, os italianos estão apenas se vingando? Não! Battisti, que também entrou no Brasil com documento falso, não tinha cidadania brasileira, e Pizzolato tem cidadania italiana. No caso do terrorista, o Tratado de Extradição vigente entre os dois países obrigava a entrega; no caso de Pizzolato, não.

O governo brasileiro chamou a prisão de Pizzolato de “operação conjunta”. Falso. Foram os italianos que prenderam o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, em razão do crime cometido na Itália.

Petistas aliviados
Os petistas respiram aliviados. A volta de Pizzolato seria como a saída de um zumbi do armário. Ele desmoraliza as versões fantasiosas que os petistas tentam consolidar sobre o mensalão. Se mensaleiros como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino fizeram suas vaquinhas indecentes para supostamente pagar multa, Pizzolato — que, na prática, era chefiado pelo trio — deixa claro que não tinha problemas financeiros. Viveu vida de rico na Europa. Comprou nada menos de três apartamentos só no litoral da Espanha — dois deles avaliados em R$ 3 milhões. Por que será que seus chefes posam de coitadinhos?

A virtude que os petistas mais apreciam em Delúbio é a sua capacidade de aguentar tudo calado, de não denunciar ninguém, de ser um homem do partido — é, em suma, a encarnação cara de pau. Já deu para perceber que Pizzolato é de outra natureza: não aguenta o tranco. Tem queixo de vidro.

Agora, vai poder ficar na Itália gozando de seu patrimônio e de sua doce aposentadoria.

Também para esse petista, o crime compensou.

Por Reinaldo Azevedo

 

Executivo de empreiteira acerta acordo de delação sobre a Petrobras

Por Mário Cesar Carvalho, na Folha:
Um executivo investigado sob suspeita de ter pago propina para obter contratos na Petrobras decidiu fazer um acordo de delação premiada com os procuradores que atuam na Operação Lava Jato, segundo três pessoas que atuam na investigação ouvidas pela Folha. É Júlio Camargo, executivo da Toyo-Setal, empresa que tem contratos de cerca de R$ 4 bilhões com a estatal. Ele é o primeiro dos executivos das grandes empresas a assinar um acordo de delação e deve revelar detalhes sobre como funcionava o esquema de divisão de obras da Petrobras entre as empreiteiras. Camargo fechou o acordo na última semana, para tentar obter uma pena menor. O executivo teria ficado assustado com os detalhes revelados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em sua delação premiada. A advogada de Camargo, Beatriz Catta Preta, já havia atuado na delação premiada de Costa e é considerada uma especialista nesse tipo de acordo.

O nome de Camargo foi citado pelo ex-diretor da Petrobras em um documento apreendido pela Polícia Federal na casa dele, no qual ele enumera o nome de executivos de fornecedores da Petrobras e a disposição de cada um para contribuir para uma campanha política. Após o nome de Camargo, Costa anotou: “Começa [a] ajudar a partir de março”. A campanha política, segundo a Folha revelou no último dia 11, era a do candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PT, Lindbergh Farias, que acabou derrotado. Aparecem também no documento os nomes de Mendes Junior, Engevix e UTC Constran. As empresas negam que tenham feito contribuições ilegais para as campanhas.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Deem um copo de sangue a Gilberto Carvalho! Ele está com sede!

Dilma Rousseff é a presidente reeleita do Brasil. Os que me conhecem podem dizer quantos chutes no cão eu dei por isso: nenhum! Quantos murros na mesa eu dei por isso: nenhum! Quantos chiliques eu dei por isso com quem trabalha comigo: nenhum! Quantas piadas eu deixei de contar por isso? Nenhuma! Quantas ironias ou autoironias deixei passar: nenhuma! Quem está bravo, quem está rancoroso, quem está irritado, quem está com o sangue nos olhos, quem está com o espírito envenenado, quem está com fome de fígado, quem revela o desejo de partir para a porrada — o que é sempre mais fácil quando se conta com seguranças aos montes, pagos pelo dinheiro público — é o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência.

Eu não disputo eleições; o partido do ministro, sim. Eu não ganho nem perco nada, o ministro, sim. Vença Dilma ou não, a minha vida segue a mesma, trabalhando muito, com três empregos — a menos que as gestões do sr. ministro surtam algum efeito e eu os perca. Preocupados estavam aqueles que aprenderam, ao longo destes 12 anos, a viver das prebendas estatais; preocupados estavam aqueles que dependem do capilé público para comer o seu caviar.

Enquanto Dilma Rousseff, de terninho branco, fazia uma chamamento à união e à paz, apesar de seus planos amalucados de plebiscito e reforma política, Carvalho concedia uma entrevista ao UOL e anunciava a sua disposição de ir para a guerra. Afirmou o ministro, entre outros mimos: “Ninguém mais do que nós vai defender permanentemente a liberdade de imprensa”. Mas emendou: “A meu juízo, o excesso de editorialização, de adjetivação e o colunismo que acabou ganhando um peso enorme na imprensa brasileira têm feito, na minha opinião, um estímulo a esse ódio que nós vimos nos últimos tempos”.

Vale dizer: o ministro é a favor da liberdade de imprensa, desde que ele concorde com as opiniões emitidas. Se elas forem contrárias ao que ele pensa, aí ele acredita estar diante de um problema. O político que diz ser contra o ódio pertence ao partido que sugeriu que o adversário era alcóolatra e espancador de mulheres. O político que diz ser contra o ódio pertence ao partido que espalhou nas ruas panfletos acusando o oponente de querer acabar com o Bolsa Família e com os programas sociais. O político que diz ser contra o ódio estimulou, na prática, que milícias de vagabundos e desocupados atacassem uma empresa de comunicação porque não gostaram da notícia veiculada.

Na entrevista, o ministro elogiou a Folha: “Eu até destaco aqui particularmente a Folha, que eu acho que é um periódico dos mais equilibrados, mas infelizmente há jornais que se transformaram em panfletos nessa campanha”. E emendou um novo ataque à VEJA: “O excesso de editorialização da imprensa, a meu juízo, capitaneado nesse episódio vergonhoso final da revista Veja é a ponta avançada a mim da principal conspiração contra a verdadeira liberdade de imprensa”.

Vergonhosa é sua fala, ministro! Seus entrevistadores decidiram não refrescar a sua memória, mas eu refresco: a Folha de S.Paulo, que pertence ao mesmo grupo de comunicação ao qual pertence o UOL, deu a mesma notícia publicada pela VEJA, senhor ministro, no dia seguinte. E que se coloquem, uma vez mais, os pingos nos is: VEJA NÃO ANTECIPOU EDIÇÃO NENHUMA! A data estipulada para a revista que está nas bancas era sexta-feira. A publicação não tinha como adivinhar que Alberto Youssef fizesse a sua confissão na terça anterior.

Gilberto Carvalho anunciou que o governo quer conversar com os veículos de comunicação. Disse ele: “O que nós queremos é sentar com vocês, com gente séria da imprensa, para a gente fazer uma análise de como é que o Brasil está sendo passado para as pessoas, de como a realidade é traduzida efetivamente”. Isso, ministro, sente mesmo com gente séria.

Aliás, gente séria não senta, metaforicamente falando, no colo de ministros de estado, veja lá, hein. Carvalho agora está ocupado em atacar o que ele chama “pregadores do ódio”. Certamente ele não está se referindo àqueles que, financiados por estatais e pela administração direta, atacam a imprensa livre, os líderes da oposição e figuras do Judiciário. Ah, não! Esses, são todos defensores do amor, não é mesmo?

Diz ainda o ministro: “O que não dá para aceitar é a gente ser considerado como aqueles que inventaram a corrupção no Brasil”. Claro que não! Eu, por exemplo, nunca disse isso. Mas digo, sim, que o PT é o único partido que chama corrupto de “herói do povo brasileiro”.

Enquanto Dilma pregava o amor, Carvalho emitia sinais de que vai dar início a uma nova temporada de caça às bruxas. O partido já fez uma lista negra de jornalistas. Pelo visto, pretende ampliá-la ou partir para a execução dos sentenciados. Encerro assim: Dilma quer um pouco de paz? Comece por botar na rua Gilberto Carvalho. O diabo é que ela não pode fazer isso. Porque é ele o chefe dela, não o contrário.

O PT foi notavelmente violento nesta campanha e partiu para a baixaria. Ocorre que só quem posa de vítima pode atacar os adversários e os discordantes sem obedecer a qualquer limite ou ética. E é este o lugar que ele reivindica: o da vítima. Carvalho acaba cometendo um ato falho. Diz ele, para evidenciar o caráter popular do governo, que vai retomar o diálogo com as pessoas. Afirmou: “Nós fizemos mais de 260 reuniões plenárias pelo país afora, com 300, 400, 500 militantes”. Tomo a conta pelo topo: o ministro conversou, portanto, com, no máximo, 130 mil militantes. Ocorre que 51.041.155 votaram em Aécio, e 32.277.085 não quiseram votar em ninguém. Juntos, eles são 83.100.453, bem mais do que os 54.501.118 que escolheram Dilma.

Certa feita um adversário de Marat, o porra-louca da fase do Terror da Revolução Francesa, referiu-se a ele nestes termos: “Deem um copo de sangue a este canibal; ele está com sede”. Gilberto Carvalho está com sede.

O ministro não se conforma que seus 130 mil militantes não consigam mandar na vontade de mais de 83 milhões. Carvalho não se conforma que o PT não tome, enfim, o lugar da sociedade. Dizer o quê para encerrar? Isto: “Não passarão!”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma não tem direito a lua de mel, diz Aloysio

Na VEJA.com:
Um dia depois da derrota de Aécio Neves na disputa presidencial, o candidato a vice da chapa tucana, Aloysio Nunes Ferreira, afirmou que a presidente Dilma Rousseff “não tem direito à lua de mel” e prometeu fazer oposição “firme” e “sem transigência”. Aloysio e Aécio foram eleitos senadores em 2010 – o primeiro, por São Paulo, e o segundo por Minas – e retornam às atividades parlamentares após o fim das eleições. ”Não tem por que diminuir a intensidade da oposição. Ela (Dilma) não tem direito à lua de mel que todo governante recém-eleito tem quando tem novo mandato”, afirmou o senador. “Nós vamos trabalhar para cobrar aquilo que ela prometeu (na campanha), para revelar aquilo que ela escondeu. Ela não terá trégua da nossa parte.” Para Aloysio, o PSDB deixou as eleições deste ano “com um mandato”: o de endurecer a oposição.

Com a derrota de Aécio, o PSDB está focado a partir de agora em manter o tom duro de oposição a Dilma usado ao longo da campanha eleitoral. O partido tem como objetivo levar ao Congresso um discurso afinado com o adotado pelo partido principalmente em São Paulo, onde capitalizou praticamente sozinho o sentimento antipetista dos eleitores. Além de Aécio e Aloysio, o PSDB contará com outros nomes combativos da sigla para defender essa nova postura, como José Serra (SP), Alvaro Dias (PR) e Tasso Jereissati (CE). Em 2015, a bancada do PSDB no Senado será menor: a legenda conta hoje com doze parlamentares e terá dez membros a partir do ano que vem.

Na Câmara dos Deputados, onde o PSDB aumentou sua bancada – saltou de 44 para 57 parlamentares -, o partido já se articula para fortalecer a oposição. Nesta terça-feira, representantes de partidos do bloco oposicionista se reunirão na casa do deputado Mendonça Filho (DEM-PE) para começar a alinhar discursos e traçar estratégias. ”Nós não vamos afrouxar as nossas convicções. Quem ganha governa. Quem perde fiscaliza”, disse o deputado reeleito Duarte Nogueira (PSDB-SP), que participará do encontro em Brasília. “Nossa oposição vai ser muito intensa e durante todo o mandato (de Dilma). Vamos cobrá-la dos compromissos assumidos.”

Diálogo
Alguns parlamentares são céticos sobre a disposição de Dilma em dialogar com a bancada oposicionista no segundo mandato. O deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB em Minas, disse que a presidente “não tem vocação para o diálogo” e é dona de uma “índole autoritária”. ”Em momento algum a presidente propôs um diálogo com a oposição. Ela não teve a humildade de mencionar nada em relação aos 48 milhões de eleitores que a rejeitaram e o que fez foi um discurso em que reafirma a continuidade”, afirmou o deputado mineiro. “E não acho que depois de certa idade as pessoas mudem. Não creio nessa conversão súbita, não creio que mude sua índole autoritária. Nossa oposição não vai titubear em vocalizar o desejo de metade do Brasil”, afirmou.

Para Duarte Nogueira, conversar com a oposição seria “um bom começo” da presidente. O tucano sugeriu que Dilma fizesse o mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua gestão, mantendo canais de diálogo com representantes de fora da base aliada. “Se ela (Dilma) quiser, para efeito de início de diálogo, pode sentar para conversar com a gente para explicarmos as nossas teses, que podem ser unidas às ideias que ela já tem. Fica aqui minha sugestão”, afirmou. 

Por Reinaldo Azevedo

 

A força de Franklin

De volta à Esplanada?

De agora até o final de dezembro, choverão especulações sobre o novo ministério de Dilma Rousseff. Nada é certo ainda, salvo exceções, como a permanência de Aloizio Mercadante em alguma pasta muito poderosa.

De qualquer forma, a volta de Franklin Martins ao cargo de ministro é dada como muito provável por pelo menos dois ministros que despacham no Palácio do Planalto. Se Franklin for mesmo convidado, significará uma inflexão de Dilma no modo com que ela tratou de questões de imprensa em seu primeiro mandato.

Por Lauro Jardim

 

Mercados fazem o óbvio: despencam

Na VEJA.com:
A vitória da presidente Dilma Rousseff na corrida pela eleição presidencial trouxe mau humor para o mercado financeiro nesta segunda-feira. Puxado pelas ações da Petrobras, o Ibovespa, principal índice da BM&Fbovespa, cai 3,71%, aos 50.014 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a despencar 6,20%, aos 48.729 pontos. Os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras caíam,12,39% e 11,27%, respectivamente, por volta de 14h10.

No início do pregão, os operadores começaram a falar de um possível “circuit breaker”, mecanismo usado para controlar a forte oscilação do Ibovespa, mas os ânimos acalmaram um pouco. Quando o Ibovespa atinge uma queda de 10%, o “circuit breaker” é acionado e as negociações das ações são interrompidas por trinta minutos. Após esse intervalo, o índice volta a ser transacionado, mas se a queda alcançar 15%, as operações voltam a ser paralisadas, desta vez com intervalo de 1 hora. Se a queda alcançar 20%, ocorre a suspensão dos negócios por prazo a ser definido pela bolsa.

Estatais
Uma das principais insatisfações de operadores e analistas em relação às diretrizes econômicas do governo federal vinha do que consideram como intervenção excessiva nas estatais, que eles veem persistindo com a continuidade de Dilma no Palácio do Planalto. Além das ações da Petrobras, outras estatais também sofrem no dia na bolsa de valores. Banco do Brasil caía 7,96%, enquanto Eletrobras ON perdia 11,84%.

Câmbio – O dólar, que começou a ser negociado às 9h (horário de Brasília) já subia 3,37% com apenas 20 minutos de pregão. Por volta de 14h20, a moeda americana valorizava 3,21% sobre o real, cotada a 2,5354 reais.

Eleições
Com 51,64% dos votos, a presidente Dilma Rousseff superou o candidato Aécio Neves (PSDB) na corrida presidencial. Aécio obteve um total de 48,36% dos votos válidos. A diferença de apenas três pontos porcentuais é a menor desde que o PT chegou ao poder, em 2002. Em 2010, a própria Dilma obteve 56% dos votos válidos, contra 44% do tucano José Serra.

Por Reinaldo Azevedo

 

Agora, já era

Dilma: mais quatro anos

De acordo com alguns bancos de investimentos, entre cinco e dez operações de abertura de capital  aconteceriam até o fim do ano se Aécio Neves tivesse vencido a eleição. Com a vitória deDilma Rousseff, empresas e bancos vão se sentar à mesa para rediscutir os planos.

Por Lauro Jardim

 

Como quase todas as outras, a torcida do PT não sabe perder. Mas é a única do mundo que também não sabe ganhar

O texto reproduzido na seção Vale Reprise foi publicado em novembro de 2010. Se a data fosse omitida, pareceria um post recém-nascido. Como ocorreu há quatro anos, a seita lulopetista prefere berrar insultos aos eleitores de Aécio Neves em vez de festejar a vitória de Dilma Rousseff. Os torcedores do PT nunca souberam perder. Mas são os únicos do mundo que também não sabem ganhar. Eles não conseguem ser felizes.

Gente assim é incapaz de entender a linguagem da ironia, confirmam os recados remetidos à coluna em que milicianos coléricos uivam, urram ou rosnam a mesma cobrança: o que o DataNunes tem a dizer sobre a previsão errada? Uma sindicância interna acaba de encontrar a explicação: os encarregados de avaliar o quadro eleitoral em Minas Gerais e no Rio de Janeiro almoçaram com Lula no sábado. Embora tenham sido bem mais comedidos que o campeão, beberam o suficiente para inverter os índices dos candidatos.

Os culpados pelo erro que deturpou as conclusões do último boletim foram demitidos por justa causa. Nesta segunda-feira, receberam da direção do PT a boa notícia: os dois já estão inscritos no programa Desemprego Zero para a Companheirada.

 

A bravura, a força e a altivez exibidas neste outubro reafirmam que a resistência democrática nunca esteve tão musculosa

 

Um post de 5 de outubro constatou que Aécio Neves começou a cruzar a fronteira do segundo turno no momento em que ignorou o palavrório de marqueteiros poltrões, assumiu o comando da própria campanha, declarou guerra à corrupção impune e se transformou no candidato do Brasil indignado com o clube dos cafajestes no poder. Os 35 milhões de brasileiros que votaram no candidato do PSDB compreenderam que a oposição real enfim se sentia representada por um candidato da oposição oficial.

Além do Jesus Cristo de chanchada e da protetora de bandidos que finge combater, os 34% obtidos por Aécio no primeiro turno derrotaram blogueiros canalhas, parteiros de boatos infamantes, esquartejadores da honra alheia, comerciantes da base alugada, colunistas sabujos, analistas de araque, milicianos da esgotosfera e fabricantes de profecias encomendadas.

Ao longo desse confronto com a tribo dos sem-vergonha, o senador mineiro também ministrou uma aula de tenacidade, coragem e altivez aos aliados pusilânimes e a cabos eleitorais que se vergam a malandragens tramadas por qualquer Maquiavel de picadeiro. Candidatos testados por tantos reveses sucessivos costumam sucumbir ao desânimo, ressalvou o texto. Aécio não parou de sonhar com a arrancada improvável ─ e sobreviveu à epidemia de descrença.

A performance foi reprisada com brilho ainda maior no segundo turno, envilecido pela selvageria das milícias açuladas por Lula. A entrada em cena do especialista na disseminação de calúnias, injúrias, difamações e outras invencionices abjetas transformou o que já era uma campanha repulsiva na mais calhorda da história da República. E nem por isso Aécio revogou o código de honra que balizou a conduta das legiões antipetistas.

Insinuadas por Dilma, recitadas aos berros por Lula e vendidas como fatos comprovados pela rede de esgoto digital, torpezas de variado calibre tentaram reduzir o candidato do PSDB a “bêbado”, “drogado”, “agressor de mulheres”, “grosseiro com a presidenta”, “playboy” ─ não houve limites para o vale-tudo. Valente, Aécio cumpriu a promessa que fizera quando as tropas petistas intensificaram a ferocidade dos ataques: “Quanto mais mentiras contarem sobre nós, mais verdades contaremos sobre eles”.

Mais de 51 milhões de votos confirmam que Aécio combateu o bom combate, e se identificou exemplarmente com os brasileiros que, à margem dos partidos, arrostam há 12 anos a seita cujos devotos aprendem que o único pecado mortal é perder uma eleição. Pela primeira vez, um líder tucano enfrentou de peito aberto o bando que institucionalizou a corrupção impune, aparelhou a máquina federal e sonha com a destruição do Estado Democrático de Direito.

O PT e seus parceiros alugados não metem medo em mais ninguém. A sigla que prometia modernizar o país vai sendo confinada nos grotões atulhados de gente que acredita em qualquer patifaria espalhada por coronéis fantasiados de guerrilheiros do povo. A sobrevivência do partido, quem diria, hoje depende dos dependentes do governo.

Para a companheirada, é essencial manter ou ampliar o tamanho da freguesia do Bolsa Família; se o maior programa oficial de compra de votos do planeta perder clientes, o PT perderá todas as eleições. Da mesma forma, não convém ao governo melhorar o sistema de educação. Quem estuda e aprende acaba descobrindo o que é o PT ─ e vota na oposição.

Dilma Rousseff, que nunca soube conjugar sse verbo, descobriu subitamente a importância de “dialogar”? Que fale sozinha. A oposição não tem tempo a perder com conversa fiada. Deve investi-lo integralmente em opor-se o tempo todo, em todas as frentes, a uma presidente que tem complicações políticas a superar, complicações econômicas a resolver e complicações policiais a administrar.

O partido vitorioso nas urnas é uma velharia agonizante. Pode até durar alguns anos, mas já respira por instrumentos. Em contrapartida, a resistência democrática esbanjou força e bravura nos duelos deste outubro. Triunfante no Brasil que faz, inova, progride, planta, colhe, produz, cria empregos, exporta, importa, avança, a frente formada pelos que pensam e prestam tem programa, tem voto, tem o líder que faltava, tem mais de  51 milhões de eleitores.

Tem, sobretudo, consciência de que, se a eleição terminou com a derrota mais que honrosa, a guerra pela salvação nacional não será interrompida sequer por algumas horas. A oposição nunca foi tão musculosa. E jamais se mostrou tão decidida a retomar a nação das mãos dos ladrões do futuro e dos assassinos do futuro da esperança.

(por Augusto Nunes)

 

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, de veja

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