Dilma, Marina, a “guerra dos banqueiros” e a vergonha alheia. Ou: Cinismo e conversa mole
Dilma, Marina, a “guerra dos banqueiros” e a vergonha alheia. Ou: Cinismo e conversa mole
Escrevi um post nesta tarde em que afirmei que o Brasil estava entre larápios e fantasmas. Não preciso, por óbvio, declinar os nomes dos primeiros. Os demais estão a toda hora na propaganda eleitoral do PT e no discurso do governo. Quando os petistas apostavam que Dilma iria disputar o segundo turno com Aécio Neves, espalhavam a mentira estúpida de que, se eleito, o tucano iria cortar benefícios sociais. Como Aécio ataca, e com correção, o Estado perdulário, ineficiente, gastador e corrupto, os companheiros transformavam essa crítica num sinônimo de “medidas amargas” contra os pobres. Era só um fantasma. Nunca existiram nem a promessa nem a intenção.
Segundo a fotografia do momento das pesquisas, Dilma disputaria o segundo turno com Marina Silva. Não faltam a cada uma das adversárias motivos para apontar falhas nas promessas da outra. Os há às pencas. Mais uma vez, no entanto, a petezada escolhe o discurso das sombras, do medo, do terror. Se eleita, espalham, a peessebista não dará atenção ao pré-sal. O sindicalismo gay foi mobilizado para sair por aí a gritar impropérios contra a candidata do PSB, acusada de homofóbica e fundamentalista. Fantasmas, fantasmas, fantasmas! Sempre os fantasmas.
Nesta terça, as candidatas que lideram as pesquisas, segundo os institutos, se engalfinharam em acuações obscurantistas, falsas e cínicas. No horário eleitoral, o PT fez de Marina mero títere dos bancos. Enquanto o locutor dizia que a peessebista pretende dar autonomia ao Banco Central, a comida ia sumindo do prato dos brasileiros, tadinhos!, que faziam, então, uma expressão triste. Segundo o locutor, a autonomia significaria “entregar aos banqueiros um grande poder de decisão sobre a sua vida, a sua família, os juros que você paga, seu emprego e até seu salário”.
É claro que é um discurso vigarista, mentiroso. Marina rebateu a baixaria à altura e apelou a uma linguagem que nada deve ao PSTU e ao PSOL. Acusou o PT de ter criado a “bolsa banqueiro” por intermédio do pagamento de juros. Referindo-se a Dilma, mandou brasa: “Ela disse que iria baixar os juros, e nunca os banqueiros ganharam tanto. Agora, eles, que fizeram a bolsa empresário, a bolsa banqueiro, a bolsa juros altos, estão querendo nos acusar de forma injusta em seus programas eleitorais”.
Dilma voltou à carga para deixar o debate ainda mais burro: “O Banco Central, como qualquer outra instituição, não é eleito por tecnocratas nem por banqueiros. Sua diretoria é indicada por quem tem voto direto. O Congresso chama o Banco Central e manda prestar contas. Eu não digo isso porque sonhei com isso, mas porque está escrito no programa de autonomia do Banco Central, e todo mundo sabe o que é autonomia do Banco Central. Então, não adianta falar que eu fiz bolsa banqueiro. Eu não tenho banqueiro me apoiando”.
Qual das duas está certa nesse bate-boca? Sempre relevando que os bancos tiveram, sim, um excelente desempenho nos governos petistas, a resposta é esta: ninguém! Trata-se de um discurso para enganar trouxas. Os petistas sabem que, na maior parte do tempo, fizeram um governo afinado com, digamos, a metafísica do setor financeiro. E nem os estou criticando por isso. Foi quando Dilma resolveu que marcharia na contramão do óbvio que a coisa desandou. Marina Silva, por outro lado, sabe que esse papo de “bolsa banqueiro” é mera conversa mole.
As duas candidatas poderiam, então, dar um exemplo, não é mesmo? Rejeitem a contribuição do setor financeiro na campanha eleitoral, ora essa! É o cúmulo do cinismo transformar banqueiro no novo fantasma da eleição para, depois, usar à socapa o seu rico dinheirinho. O nome disso é vigarice política. E uma informação que não pode faltar: até meados do ano passado, os banqueiros faziam rezas e romarias para que fosse Lula o candidato do PT ao governo. Sabem que o companheiro sempre foi “de confiança”.
Por Reinaldo Azevedo
Segundo Ibope, situação de Dilma melhora bastante no Rio
O Ibope divulga nesta quarta-feira os dados da pesquisa sobre a eleição presidencial. Nesta terça, o instituto tornou públicos os números de São Paulo e Rio. Se traduzirem o que se passa no resto do país, é provável que a petista Dilma Rousseff tenha aumentado a sua vantagem no primeiro turno sobre Marina Silva, do PSB — a menos que tenha havido um movimento inverso em outros estados. Só para lembrar: há uma semana, segundo o Ibope, a petista tinha 37% dos votos, contra 33% da peessebista. Vejam, no entanto, o que aconteceu com o eleitorado nesses dois Estados em poucos dias, segundo o Ibope (gráficos publicados pelo G1):
Como se pode ver, em sete dias, Dilma oscilou dois pontos para cima em São Paulo: tinha 23% e agora está com 25%. Marina oscilou um para baixo, passando de 39% para 38%. A diferença é grande, mas, estando certa a pesquisa, tendente a diminuir. No Rio, teria havido uma movimentação importante: a peessebista teria caído de 38% para 34%, e a petista, subido cinco pontos: de 32% para 37% — uma mudança de 9 pontos.
São Paulo, com 31.998.432 eleitores, segundo dados do TSE, tem o maior eleitorado no país. O Rio vem em terceiro lugar, com 12.141.145, sendo ultrapassado por Minas, que fica em segundo, com 15.248.681. Em quarto lugar, está a Bahia, com 10.185.417, seguida por Rio Grande do Sul, com 8.392.033.
A menos que Marina ou Aécio — com trajetória descendente nesses dois estados, diz o Ibope — tenham recuperado votos nos demais, retirando-os de Dilma, a petista deve ampliar a liderança que mantinha sobre Marina no primeiro turno na pesquisa anterior: 4 pontos (34% a 37%). E pode haver, portanto, reflexo no segundo turno. A peessebista vencia a petista por sete pontos de vantagem: 46% a 39%.
A pesquisa Ibope diz ter feito seu levantamento entre sexta-feira da semana passada e esta terça. O megaescândalo da Petrobras ainda estava sendo quebrado em miúdos. Esta semana será decisiva para avaliar se ele terá ou não algum impacto eleitoral. Nesse levantamento, ainda não pode ser levado em consideração.
Por Reinaldo Azevedo
Ibope no Rio: depois da “revolução” dos socialistas e anarquistas da Vieira Souto, votos do campo conservador somam 68%; esquerda soma… 11%
No Rio, vai se cumprindo o óbvio, tantas vezes antevisto aqui. Bem, se querem saber, dos males possíveis, que dê o menor, que vem na forma de um aumentativo. O diminutivo poderia ser bem mais devastador.
Segundo o Ibope, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ganhou seis pontos em uma semana e, com 25% dos votos no primeiro turno, já aparece tecnicamente empatado com Anthony Garotinho (PR), que oscilou de 27% para 26%. Marcelo Crivella, do PRB, mantém os mesmos 17%. Outro dado relevante é o naufrágio do petista Lindbergh Farias, do PT, que agora passou para um dígito, indo de 11% para 9%. Tarcísio Motta, do PSOL, tem 2%, 14% dizem anular o voto, e 6% afirmam não ter definido um nome.
O Ibope fez uma simulação do segundo turno, e, conforme o esperado, a rejeição a Garotinho faz o trabalho em favor de seu adversário: Pezão o venceria por 40% a 33%. Dizem que não votariam no candidato do PR de jeito nenhum nada menos de 39% dos eleitores. O segundo mais rejeitado é Pezão, com apenas 18%.
A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-567/2014 e ouviu 1.806 eleitores entre os dias 5 e 8 de setembro em 56 municípios. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Senado
Na disputa para o Senado, pode ter aumentado a diferença em favor de Romário, do PSB, que, segundo o Ibope, tem 44% — há uma semana, 40% —, seguido por Cesar Maia, que passou de 19% para 21%.
O clima e o resultado
Tudo caminha, no Rio, para uma vitória de Luiz Fernando Pezão. Escrevi isso aqui há muito tempo. Para quem confunde protestos de minorias extremistas com vontade popular, o resultado pode ser surpreendente. De fato, não é.
Vamos ver. Sérgio Cabral deixou o governo debaixo de vara, com uma das rejeições mais altas do país. Parecia que as “Sininhos” da vida representavam a vontade do povo fluminense. Como se vê, nada mais falso.
O mais à esquerda dos candidatos, Lindbergh, “já” está com 9%. Se formos somar o campo, digamos, mais conservador (sem debater a qualidade desse conservadorismo), há nada menos de 68% dos votos.
E se destaque, mais uma vez, o retumbante desastre do petista, a segunda maior aposta de Lula nas disputas estaduais. A outra era Alexandre Padilha, em São Paulo, que está com… 8%.
Eis o verdadeiro tamanho dos “revolucionários” do Rio: conservadores 68% x esquerdistas 11%. Esses 11% representam mais ou menos o tamanho dos “progressistas” abastados.
Por Reinaldo Azevedo
Ibope: Skaf cai 5 pontos, e Alckmin venceria no 1º turno com folga ainda maior; Serra lidera para o Senado. Ou: O discurso da seca e secura de votos
Saiu uma nova pesquisa Ibope para o governo de São Paulo. Skafistas, se é que isso existe, e petistas continuam sem razões para comemorar. Na verdade, estando certos os números, eles têm muito a lamentar. Em uma semana, segundo o instituto, o candidato do PMDB caiu de 23% para 18%; o tucano Geraldo Alckmin oscilou dentro da margem de erro, que é de dois pontos, e passou de 47% para 48%. Alexandre Padilha, do PT, que tinha 7%, aparece agora com 8%. Os demais candidatos somam 3%. Os brancos e nulos são 11%, mesmo índice dos que não sabem em quem votar.
O candidato tucano venceria a disputa no primeiro turno, com 19 pontos de vantagem sobre a soma dos demais candidatos. Mesmo assim, o instituto fez uma simulação de segundo turno: Alckmin venceria Skaf por 53% a 26%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-56/2014, foi realizada entre os dias 4 e 9 de setembro e ouviu de 2.002 eleitores em 97 municípios.
Se Padilha não conquistou o coração do eleitorado pelo sim, ele o conquistou pelo não. O petista segue sendo o mais rejeitado pelo eleitorado: 26% dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Seu saldo negativo, portanto, é de 18 pontos. Um portento mesmo.
O governo Alckmin segue sendo bem avaliado pelos eleitores: 42% afirmam que sua administração é ótima e boa. Dizem ser regular 35%, e apenas 18% a avaliam como ruim ou péssima.
Senado
Tudo o mais constante, José Serra vai tirar Eduardo Suplicy do Senado depois de… VINTE E QUATRO ANOS! Nesse período, ele apresentou o projeto da renda mínima, decorou uma música dos Racionais e já aprendeu a cantar Bob Dylan…
Se a eleição fosse hoje, o tucano seria eleito, com 33% dos votos. O petista aparece com 27%, e Gilberto Kassab, do PSD, aparece com 7%.
Pois é… O PT promete um esforço concentrado em São Paulo em favor da Padilha. A coisa, no entanto, parece difícil para o petista. Skaf resolveu endurecer seu discurso contra Alckmin. A estratégia parece contraproducente. A campanha tucana resolveu exibir as suas vinculações políticas, e a sua persona de “não político” disputando um cargo parece ter ido para o brejo.
O resultado não poderia ser pior para Skaf e Padilha. No lugar deles, eu pararia de culpar Alckmin pela seca em São Paulo. Mas, no lugar deles, eu também não ouviria esse meu conselho… Não sei se fui muito sutil. Em suma, o discurso da seca é uma secura de votos.
Por Reinaldo Azevedo
STJ nega recurso de Arruda; ele segue ficha-suja
Por três votos a um, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso apresentado pelo ex-governador José Roberto Arruda, que pedia que o tribunal declarasse a suspeição do juiz Álvaro Ciarlini, que o condenou por improbidade administrativa na primeira instância, o que foi referendado depois pelo Tribunal de Justiça.
A estratégia de Arruda era a seguinte: se a primeira condenação fosse anulada, a segunda também não valeria, e ele deixaria de ser ficha-suja. Como o TSE cassou a sua candidatura com base nessa lei, então ele estaria livre para seguir adiante na disputa. Ele lidera todas as pesquisas de opinião para o governo do Distrito Federal.
O TSE julga hoje outro recurso de Arruda. Como se trata apenas de um embargo de declaração — isto é, para eliminar dúvidas sobre a decisão —, as chances do ex-governador são remotíssimas. Tudo indica que o governador Agnelo Queiroz, do PT, vai mesmo disputar o segundo turno com o senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, que deve ser eleito em razão da rejeição a Agnelo.
Por Reinaldo Azevedo
O Brasil entre larápios e fantasmas
A agência de classificação de risco Moody’s rebaixou o viés de nota do Brasil. Isso significa que, tudo o mais constante, vem um rebaixamento da nota propriamente. Duvido que a promessa feita pela presidente Dilma Rousseff de que Guido Mantega, ministro da Fazenda, não continuará no próximo governo, caso ela vença a eleição, iria mudar alguma coisa.
O país está em plena campanha eleitoral. E tem de se debater entre larápios e fantasmas. Os larápios, como se sabe, estavam aboletados na Petrobras. Segundo Paulo Roberto Costa, a empresa era a fonte que alimentava um propinoduto que fazia a alegria de políticos da base aliada — do PMDB, do PP e do PT. Adicionalmente, diz ele, Eduardo Campos, era beneficiário do esquema. O homem morreu num acidente aéreo no dia 13 de agosto. Isso não significa, é claro, que não se possa proceder a uma investigação. É evidente que se trata de um assunto importante. Mas a gente se pergunta: até quando seremos uma República permanentemente assaltada por quadrilhas?
E há os fantasmas. Dilma Rousseff e o PT não têm mais nada a oferecer ao eleitorado a não ser a pregação terrorista. Diante da possibilidade de derrota na disputa com Marina Silva — confirmada em outra pesquisa divulgada nesta terça —, nada resta aos companheiros senão ameaçar o eleitorado: “Se Marina ganhar, as riquezas do pré-sal estariam ameaçadas”. Não é diferente do que fazem os petistas com o Bolsa Família no Nordeste.
Os programas que servem apenas à amenização da miséria — contra os quais, diga-se, não há nenhuma força política organizada — se transformaram, como é sabido, em moeda de troca e na mais formidável e institucionalizada forma de compra de votos de que se tem notícia. O PT se ocupa menos de dizer o que pretende realizar se eleito do que em desqualificar as propostas dos rivais.
E, quando acena com uma ideia de futuro, a coisa pode ser bem pior. Na entrevista concedida nesta segunda ao Estado, Dilma deixou claro que, se reeleita, pretende apostar as suas fichas na reforma política. Segundo diz, é a única maneira de impedir que esquemas criminosos, como o que estava instalado na Petrobras, prosperem. É uma falácia escandalosa. Enquanto a Petrobras for tratada como um quintal de governos de turno, nada impedirá que a safadeza se repita. E a safadeza vai se repetir enquanto a empresa for uma estatal.
Disputas eleitorais são boas oportunidades para que o país escolha que futuro pretende ter. No momento, o Brasil parece presa de um passado que insiste em não passar. Pense nisso na hora de apertar o botão.
Por Reinaldo Azevedo
‘O silêncio de Lula’, de Marco Antonio Villa
Publicado no Globo desta terça-feira
Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais.
Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las.
Os saqueadores da Petrobras assassinaram CPIs em vão: a roubalheira foi exumada pela Polícia Federal e por um juiz sem medo
ATUALIZADO ÀS 2h09
“A Petrobras já está privatizada”, informa o título do post publicado em 10 de junho de 2010. Aparecem no texto, inspirado no surto de chiliques provocado pela criação de uma CPI incumbida de investigar a estatal, personagens que acabam de sair da caixa preta em poder do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Confira:
O presidente Lula ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Depois de ter feito o possível para interromper a gestação, agora faz o possível para matá-la no berço. Baseado no critério do prontuário, entregou a Renan Calheiros o comando do grupo de extermínio montado para o justiçamento. O senador do PMDB alagoano, diplomado com louvor na escolinha que ensina a delinquir impunemente, é especialista no assassinato de qualquer coisa que ponha em risco o direito conferido aos congressistas leais ao Planalto de roubar sem sobressaltos.
O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Caprichando no palavrório que identifica os nacionalistas de galinheiro, qualificou de “inimigos da pátria” os partidários da devassa na empresa ─ o que promove automaticamente a defensores da nação em perigo os que tentam manter fechada a caixa preta. Gente como Renan Calheiros. Ou Ideli Salvatti. Ou Fernando Collor. Ou Romero Jucá, em aquecimento para encarnar o papel de relator que impede a coleta de relatos relevantes.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Governista seja qual for o governo, o agregado da Famiglia Sarney conhecido na Polícia Federal pela alcunha de Magro Velho alegou que iluminar os porões de uma empresa que é a cara do Brasil Maravilha espanta clientes, fornecedores e possíveis parceiros. Se conhecessem a folha corrida de Lobão, todos os clientes, fornecedores e possíveis parceiros já teriam saído em desabalada carreira das cercanias da Petrobrás e do gabinete do ministério.
Os modernos pelegos ficaram muito irritados com a instauração da CPI da Petrobras. Jovens velhacos da UNE berraram que o petróleo é nosso para plateias insuficientes para eleger um vereador de grotão. Velhos velhacos da CUT garantiram que CPI gera desemprego para gente mais interessada no kit dupla sertaneja+pão com mortadela+tubaína. Vigaristas do PT, do PP e do PMDB lembraram aos sussurros que o petróleo é nosso, mas a eles compete a escolha dos diretores incumbidos de cuidar dos interesses dos padrinho, do partido e do país, nessa ordem.
Tudo somado, e embora a CPI nem tenha ainda saído do papel, ficou mais difícil acusar os partidos de oposição, a elite golpista, os paulistas quatrocentões, os capitalistas selvagens e os loiros de olhos azuis de tramarem nas sombras a privatização da Petrobrás. A empresa já foi privatizada ─ sem licitação. O novo dono é o PT, que arrendou parte do latifúndio à base alugada.
Em 29 de outubro de 2009, os representantes da oposição abandonaram a CPI. “Todos os requerimentos importantes são arquivados sem discussão pela maioria governista”, disse o senador Álvaro Dias, que propusera a instauração da comissão. Em 17 de dezembro, ao fim de 14 sessões reduzidas a shows de cinismo, foi aprovado o papelório de 359 páginas “destinado a contribuir com a Petrobras e com o Brasil” . O relator Jucá concluiu que todos os culpados eram inocentes, não enxergou nenhuma irregularidade na compra de plataformas e viu apenas maledicências nas denúncias de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Jucá, Lobão, Renan, chefões do PP, cardeais do PMDB, Altos Companheiros do PT ─ um a um, os saqueadores da Petrobras, abraçados aos comparsas que ampliaram a quadrilha nos últimos anos, vão sendo expelidos do baú de bandalheiras aberto por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino. Foi para seguir embolsando sem sobressaltos propinas bilionárias que os assassinos de CPIs escavaram em 2009 a cova rasa prestes a acolher outras duas comissões que agonizam no Congresso. O enterro de CPIs não impediu a exumação das verdades que têm assombrado desde sábado o Brasil que presta.
Para resgatar os fatos, foi suficiente que uma oportuníssima conjunção dos astros juntasse agentes da Polícia Federal, procuradores de Justiça e um magistrado desprovidos do sentimento do medo. O acordo de delação premiada foi consequência do trabalho exemplar dos que investigaram, da altivez dos que acusaram e, sobretudo, da coragem do juiz federal Sergio Moro, que tornou a prender o ex-diretor da Petrobras inexplicavelmente libertado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.
O acordo que induziu Paulo Roberto Costa a abrir o bico, aliás, precisa ser homologado por Zavascki. Precavido, Moro deixou claro ao depoente que, para livrar-se de envelhecer na prisão, teria de fornecer nomes e provas que permitissem a completa desmontagem do esquema criminoso e, portanto, justificassem a delação premiada. É o que o ex-diretor da Petrobras tem feito nos interrogatórios diários que duram em média quatro horas. A menos que tenha perdido o juízo, restará a Zavascki chancelar o acordo sem falatórios em juridiquês.
O país decente acaba de descobrir que a praga da corrupção impune pode ser erradicada sem que parlamentares e ministros togados ajudem. Basta que não atrapalhem. Basta que não tentem eternizar o faroeste à brasileira — único do gênero em que o vilão sempre escapa do xerife e nunca perde o controle da terra sem lei.
(por Augusto Nunes)
A charge de SPONHOLZ: pelo telefone
Tags: demissão, Guido Mantega, Sponholz
Moody’s diz que crédito do Brasil se deteriora
Nada mudou.
Confirmando a tese de que as agências de classificação de risco são sempre retardatárias ao reagir aos eventos da economia real, a Moody’s acaba de colocar a nota de crédito do Brasil em perspectiva negativa, o primeiro passo para rebaixar o rating do País.
A agência citou o baixo crescimento econômico, a crise de confiança do empresariado (que levou a uma queda do investimento) e o “desafio fiscal” representado por uma dívida alta e um crescimento baixo.
Com um rating mais baixo, o custo dos empréstimos internacionais para as empresas e para o Governo brasileiro sobe.
Em princípio, o possível corte pela Moody’s, que ainda pode demorar meses, não ameaça o chamado “grau de investimento”, o selo de qualidade dado pela agência que certifica que o País é um lugar “seguro” para se investir.
Na escala de ratings, o Brasil está dois degraus acima do grau de investimento.
Mas a pergunta é: com um PIB em estado de coma, centenas de bilhões de reais em esqueletos fiscais, contabilidade criativa e intervenção governamental em vários setores… como é que a perspectiva ainda não era negativa?
(por Geraldo Samor)
Dilma é responsável por política econômica e a levará às últimas consequências, diz Mantega
A presidente Dilma, após sentir o calor de Marina em seu cangote na corrida eleitoral, acenou com possíveis mudanças no eventual segundo mandato, praticamente demitindo Guido Mantega por antecipação. Busca, com isso, conquistar algum apoio do empresariado, acalmar os investidores, mostrar que poderá reverter algumas políticas atuais que levaram ao quadro de recessão com alta inflação. Balela!
Quem quiser acreditar em Dilma é livre para isso. Mas que fique claro se tratar de um wishful thinking absurdo, de um incrível desejo de crença, profundamente irracional. Afinal, como já cansei de repetir, Dilma é a “cabeça da Hidra”, a responsável pela atual política econômica. Mantega é apenas um ministro fraco, no poder há tanto tempo justamente por ser fraco. Quem dá as cartas equivocadas é Dilma mesmo.
Se o empresário não quiser acreditar em mim, que ao menos acredite no próprio Mantega! Ementrevista ao GLOBO, o ministro disse não se sentir constrangido coisa alguma com sua suposta “demissão”, que não existiria. Garantiu que ele é quem quer sair, por questão familiar, e já tinha dito isso a Dilma. E para não deixar margem a dúvidas, frisou com todas as letras:
Eu gozo da plena confiança da presidente, e ela sempre confirmou. No dia em que eu não tiver a confiança dela, saio imediatamente. Isso é condição de trabalho. Somos muito afinados na política econômica. Compartilhamos dessa política econômica, e ela vai levar essa política econômica às últimas consequências.
O que interessa é a estratégia econômica. São as ideias, não as pessoas. Tanto ela quanto eu somos portadores de um projeto de desenvolvimento que tem acontecido no Brasil, que tem passado por etapas diferentes. E esse projeto terá continuidade. Isso pode ser implementado por pessoas diferentes.
Ou seja, temos aqui o próprio ministro de Dilma garantindo publicamente que goza de sua total confiança, que sem isso sairia imediatamente, e que ambos são muito afinados na política econômica, que compartilham dela. Dilma não negou em momento algum isso; ao contrário: confirmou que a saída de Mantega seria por razões pessoais dele. Ou seja, está consentindo com seu ministro, o que torna sua fala ambígua sobre mudanças de equipe apenas uma tentativa de ludibriar alguns trouxas.
E Mantega ainda enfatizou que a presidente “vai levar essa política econômica às últimas consequências”. Isto é: vamos mesmo dobrar a aposta se Dilma for reeleita, vamos insistir nos erros, intensificar o nacional-desenvolvimentismo, continuar com preços represados, com malabarismos contábeis, com o BNDES fazendo sua “Bolsa Empresário” e selecionando os “campeões nacionais”, com os bancos públicos fomentando uma bolha de crédito de forma irresponsável, com um Banco Central subserviente ao Planalto deixando a inflação acima da meta, com gastos públicos crescentes e sem superávit fiscal.
Enfim, vamos reforçar tudo aquilo que nos trouxe a essa situação de estagflação. Argentina é nosso modelo a ser seguido se Dilma vencer as eleições, e quem diz isso, ainda que implicitamente, é Mantega, que continua no cargo. Ou seja, Dilma atesta sua declaração. Se o empresário não quer acreditar nos “pessimistas”, que ao menos acredite na própria presidente e em seu ministro, o mesmo que está no cargo por tempo recorde em nossa história democrática. Depois não adianta dizer que foi enganado…
Rodrigo Constantino
Eu acredito em Dilma! Não acredito é em seus eleitores…
A presidente Dilma disse que “não tinha a menor ideia” de crimes na Petrobras. Eu acredito nela! Acredito que Dilma não tinha a menor ideia do que se passava em uma empresa da qual presidiu o Conselho de Administração, que observou de cima como ministra de Minas e Energia, de que participou minuciosamente como presidente da República, cuja presidente Graça Foster foi ela quem escolheu. Por que Dilma haveria de saber de desvios milionários dentro da estatal?
Assim como acredito que Dilma também não tivesse a “menor ideia” do nepotismo instalado na Casa Civil por Erenice Guerra, seu braço direito (ou esquerdo) de longa data. Também acho absolutamente plausível que Dilma nada soubesse das falcatruas que derrubaram seu então ministro Carlos Lupi, que depois retornou ao governo e hoje recebe seu apoio na candidatura ao Senado (Dilma continua nada sabendo sobre ele, portanto).
A presidente Dilma não tinha a “menor ideia” das consultorias milionárias de Palocci, que derrubaram o ministro no começo de seu governo. O ministro Alfredo Nascimento teve de deixar a pasta dos Transportes pouco depois, após se envolver em suspeitas de corrupção, das quais Dilma não tinha a “menor ideia”. Wagner Rossi saiu do Ministério da Agricultura após acusações que incluíam o pagamento de propinas, influência de lobistas e aparelhamento político, dos quais Dilma não tinha a “menor ideia”.
Pedro Novais, responsável pelo Ministério do Turismo e suspeito de usar dinheiro público para pagar sua governanta por sete anos e de usar motorista da Câmara para transportar sua mulher, também deixou o governo Dilma, mas a presidente nada sabia. O mesmo com Orlando Silva, do Ministério dos Esportes, suspeito de participar de desvio de recursos do qual Dilma não tinha a “menor ideia”.
Mas não é só de escândalos de corrupção que Dilma nada sabe. Recentemente, diante da crise econômica que levou o Brasil à estagflação, Dilma chegou a confessar que não sabia por que o país não crescia. Ou seja, Dilma também não tem a “menor ideia” do motivo pelo qual estamos em recessão e com alta inflação.
Eu acredito em Dilma! Acho que ela realmente não tinha ideia de nada disso. Mas o caso lembra aquele da piada do judeu Isaac, que em seu leito de morte pergunta a Sara se ela estava ao seu lado quando a casa pegou fogo, quando a firma faliu, quando foi acometido pela doença terrível. Sara concorda, diz que sim, sempre esteve ao seu lado nesses momentos todos de dificuldade, no que ele retruca: “Vai dar azar assim no inferno!”
Dilma nada sabia. Não tem culpa. Apenas estava lá, em posto-chave, liderando esses malfeitores traidores, quando os maiores escândalos foram eclodindo, quando a lama do fundo do pântano emergiu à superfície, quando a economia parou de crescer, quando a inflação saiu do controle. Dilma não tinha a “menor ideia”, e eu acredito nela. O que eu tenho mais dificuldade em crer é que há gente que não tem a “menor ideia” de tudo isso e pretende votar nela novamente…
PS: Acho possível até mesmo que Lula e Dilma não conheçam direito o “Paulinho”, como o ex-presidente carinhosamente chamava o poderoso ex-diretor da Petrobras que agora entrega o esquema em sua delação premiada. E acredito que tudo isso pode não passar de mais uma tentativa golpista da mídia burguesa ou dos tucanos, que devem ter feito lavagem cerebral em Paulo Roberto Costa com algum instrumento moderno desenvolvido pela CIA…
Rodrigo Constantino
Por Geraldo Samor