Lula, o Apedeuta que não vê um calo na mão há 42 anos, é lobo com sede de sangue
Lula ressuscita a teoria do ódio para que seu partido possa odiar à vontade; o lobo está com sede de sangue. Ou: Apedeuta não vê um calo na mão há 42 anos!
Vamos lá. Luiz Inácio Lula da Silva voltou à sua ladainha de sempre. Haveria no país uma grande conspiração contra o PT, que uniria a “elite conservadora”, a oposição e, como sempre, a imprensa. E falou no que parece ser uma clara ameaça: “Estamos fazendo uma campanha perigosa. Se, em 2002, fizemos uma campanha da esperança contra o medo, agora é a da esperança contra o ódio”. Ora, quem faz uma consideração como essa está se preparando para o vale-tudo. É como se dissesse: “Já que o meu adversário me odeia, tudo o que fizer está justificado; afinal, eu encarno a esperança”.
Vocês conhecem a fábula do lobo e do cordeiro, não? O malvadão acusa o carneirinho de estar turvando a água que ele bebe. “Mas como, pergunta o outro, eu poderia fazê-lo se bebo morro abaixo?”. O lobo então diz que ficou sabendo que o outro falara mal dele no ano anterior. “Mas eu nem havia nascido”, objetou o interlocutor. “Então foi seu irmão.” Ocorre que o acusado não tinha irmãos. “Então foi alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue.” E pulou em cima do cordeiro, meteu-lhe os dentes e o matou.
Assim é Lula. Como está doido para pular na jugular dos adversários, mas quer fazê-lo na condição de vítima, não de algoz, então inventa a conspiração. Lula discursou no evento que formalizou a candidatura de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. E o que se viu foi o petista nos moldes pré-2002.
Ora, quem é esse senhor para falar em ódio? Não é aquele que inventou a tal “herança maldita”, que nunca existiu? Não é aquele que transforma seus adversários na fonte de todo mal, incapaz que é de lhes reconhecer uma única virtude? Procurem os discursos de FHC, por exemplo, e se encontrarão vários elogios a Lula — alguns, a meu juízo, absolutamente imerecidos. Mas o Lulinha, que supostamente não odeia ninguém, ah, esse é incapaz de admitir que seus adversários possam ter feito, alguma vez, algo de bom. Ele muda de ideia, sim, desde que o antigo desafeto se ajoelhe a seus pés, como faz José Sarney.
No melhor do seu estilo rancoroso, sugeriu que FHC não aprendeu a ter sentimentos na “faculdade”. Entenderam? Para Lula, estudo e o preparo intelectual tornam as pessoas insensíveis. Mas ele tem a certeza de que os outros odeiam, e ele ama.
Incrível, não, leitores? Como não me lembrar do tal “Ultrajano” neste momento? Do que foi que ele me acusou mesmo? Lembrei! De disseminar o ódio. E ele fez o quê? Demonizou a mim e a meus leitores num canal de televisão. E tudo por quê? Ora, porque ele é um homem amoroso, certo? Reparem: ainda que em escalas distintas, o procedimento é o mesmo: acusam os outros de fazer aquilo que eles próprios fazem; desumanizam as suas vítimas para que possam, então, avançar em seu pescoço. É uma gente moralmente asquerosa.
Lula foi adiante nas tolices. Repetiu um mantra da época do mensalão, afirmando que estavam tentando fazer com ele o que fizeram com Getúlio Vargas. Esperem. O que foi que fizeram com Getúlio? Que eu saiba, gente da laia getulista tentou matar Carlos Lacerda, não é? Descoberta a trama, o então presidente se matou. Que se saiba, não foi Lacerda quem puxou o gatilho.
Lula é doido para se apropriar da obra alheia — como tenta fazer com o Plano Real, que ele buscou destruir — e para se livrar dos seus pecados. Referiu-se à vaia que Dilma levou no Itaquerão. Segundo disse, quem xingou a presidente não tem “calo na mão” “porque aquelas pessoas tinham cara de tudo, menos cara de trabalhadores”. Ele está tentando se livrar do peso da Copa do Mundo. Quem conduziu todo o processo foi o PT. Ainda que fosse verdade que não havia trabalhadores no estádio, os responsáveis são Lula, Dilma e seu partido, não é mesmo? Que eu me lembre, quando os tucanos se negaram a pôr dinheiro público em estádio, foram duramente criticados pelos… petistas!
Quanto a calo na mão, dizer o quê? Lula não sabe o que é isso desde os 27 anos, quando virou diretor de sindicato. Está com 68. Não vê um calo de perto há 42 anos. No máximo, pode ter calo na língua, de tanto falar bobagem.
Por Reinaldo Azevedo
Troica petista lidera “manifesto de juristas” em defesa de decreto de Dilma; agora tenho 100% de certeza sobre seu caráter golpista e bolivariano
Contestei num post de hoje um texto publicado na Folha com seis perguntas e seis respostas sobre o Decreto bolivariano de Dilma Rousseff. Pareceu-me que o texto do jornal resolveu ignorar os riscos potenciais nele contidos, fixando-se apenas em seus aspectos burocráticos. Muito bem! Até havia pouco, eu tinha noventa por cento de certeza de que se tratava de um projeto autoritário e de uma tentativa de submeter a sociedade brasileira ao filtro de conselhos comandados pelo PT e pelas esquerdas. Agora, eu tenho cem por centro. Em matéria de direito e democracia, é sempre bom perguntar — ou tentar saber — o que quer Fábio Konder Comparato. Não faça, leitor, é claro!, juízos automáticos. Mas convém ligar o sinal de alerta: o “dotô” costuma querer o que serve ao PT — quando não está à esquerda do partido, o que também pode acontecer.
Muito bem! Se o governo quisesse apenas “organizar” a intervenção de conselhos na administração como parte, digamos, de suas atribuições burocráticas, caberia uma primeira pergunta: por que fazer isso por decreto? Se o dito-cujo não tivesse, assim, grande importância, por que tamanha determinação em defende-lo? Pois é… Agora a coisa ficou mais explícita.
Comparato lidera um “Manifesto de Juristas e Acadêmicos” em favor da Política Nacional de Participação Social. O PT decidiu transformar a estrovenga autoritária numa questão de honra. Lá nos porões do petismo, avalia-se que o caso pode ganhar até uma tradução eleitoral. O partido quer dividir o país entre os que são e os que não são favoráveis à “participação popular”. É evidente que se trata de vigarice intelectual.
Há mais dois nomes conhecidos que encabeçam a lista: Frei Betto, aquele sedizente católico da Teologia da Cubanização, e Maria Victória Benevides, que, como intelectual, é militante petista e, como militante petista, é militante petista mesmo!
Leiam o texto (em vermelho). Volto em seguida.
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” art. 1º. parágrafo único, da Constituição da República Federativa do Brasil.
Em face da ameaça de derrubada do decreto federal n. 8.243/2014, nós, juristas, professores e pesquisadores, declaramos nosso apoio a esse diploma legal que instituiu a Política Nacional de Participação Social.
Entendemos que o decreto traduz o espírito republicano da Constituição Federal Brasileira ao reconhecer mecanismos e espaços de participação direta da sociedade na gestão pública federal.
Entendemos que o decreto contribui para a ampliação da cidadania de todos os atores sociais, sem restrição ou privilégios de qualquer ordem, reconhecendo, inclusive, novas formas de participação social em rede.
Entendemos que, além do próprio artigo 1º CF, o decreto tem amparo em dispositivos constitucionais essenciais ao exercício da democracia, que preveem a participação social como diretriz do Sistema Único de Saúde, da Assistência Social, de Seguridade Social e do Sistema Nacional de Cultura; além de conselhos como instâncias de participação social nas políticas de saúde, cultura e na gestão do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (art. 194, parágrafo único, VII; art. 198, III; art. 204, II; art. 216, § 1º, X; art. 79, parágrafo único).
Entendemos que o decreto não viola nem usurpa as atribuições do Poder Legislativo, mas tão somente organiza as instâncias de participação social já existentes no Governo Federal e estabelece diretrizes para o seu funcionamento, nos termos e nos limites das atribuições conferidas ao Poder Executivo pelo Art. 84, VI, “a” da Constituição Federal.
Entendemos que o decreto representa um avanço para a democracia brasileira por estimular os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta a considerarem espaços e mecanismos de participação social que possam auxiliar o processo de formulação e gestão de suas políticas.
Por fim, entendemos que o decreto não possui inspiração antidemocrática, pois não submete as instâncias de participação, os movimentos sociais ou o cidadão a qualquer forma de controle por parte do Estado Brasileiro; ao contrário, aprofunda as práticas democráticas e amplia as possibilidades de fiscalização do Estado pelo povo.
A participação popular é uma conquista de toda a sociedade brasileira, consagrada na Constituição Federal. Quanto mais participação, mais qualificadas e próximas dos anseios da população serão as políticas públicas. Não há democracia sem povo.”
Voltei
Trata-se de uma tentativa de constranger o Congresso com esse conversa supostamente especializada de “nós, juristas, professores e pesquisadores…”, como se isso os colocasse acima dos cidadãos comuns. Reitero, na vigência desse decreto, qualquer juiz pode nele se ancorar para negar uma reintegração de posse, com base na premissa de que é preciso haver antes uma “mesa de negociação”.
Se a esquerda não visse aí a chance de ampliar permanentemente seu domínio do estado brasileiro, não iria fazer um manifesto. Fábio Konder Coparato, Frei Betto e Maria Victória Benevides encabeçando a iniciativa? Então o decreto é golpista e bolivariano mesmo! Agora tenho cem por cento de certeza.
Por Reinaldo Azevedo
Estratégia guerrilheira
Franklin: a hora de radicalizar
No núcleo duro da campanha de Dilma Rousseff, Franklin Martins defende a radicalização do discurso contra o PSDB e o recrudescimento da guerrilha na internet já nesta fase de campanha.
Mas, por enquanto, é uma voz solitária no grupo.
Por Lauro Jardim
Na madrugada do dia 1º, milhares de pessoas na plateia do show do Rappa, em Ribeirão Preto, já haviam premiado Dilma com o coro que se ouviu no Itaquerão. Será que se tratava também da “elite branca de São Paulo”, como dizem a ESPN, cheia de anúncios de estatais, e o PT?
Leitores me enviam um vídeo que eu não conhecia. Na madrugada do dia 1º de junho, o grupo Rappa se apresentou no “João Rock 2014”, em Ribeirão Preto, em São Paulo, que fiquei sabendo ser o maior evento de rock do interior. E aconteceu isto aqui. Vejam. Volto em seguida.
Voltei
Pois é… Os que me leem habitualmente sabem o que penso e o que não penso:
- jamais fui simpático às chamadas “manifestações de junho”; os arquivos estão aí;
- sempre considerei inaceitável a violência da esmagadora maioria dos protestos;
- nunca apelei ao simplismo de afirmar que o dinheiro da Copa deveria ser investido no social porque não é assim que as coisas funcionam (já disse por que em outros posts).
Assim, há muitas coisas na fala de Falcão, o vocalista do Rappa, com a qual não concordo. Agora, as pessoas estão protegidas pela liberdade de expressão, e tanto ele como a plateia têm o direito de dizer o que acham que deve ser dito. Inaceitável, para mim, é a violência. E, como se vê ali, todos estão em paz. Mas isso é para mim, não para Dilma por exemplo, que recebe líderes de movimento que partem para a porrada, não é mesmo?
E aí? O que dizer da plateia do Rappa e do próprio Falcão? Também eles são, como querem os petistas e a ESPN, expressões da elite branca de São Paulo? Por que a canalha que nunca atacou os black blocs — ou por covardia ou por concordar com a ação — fica tão desarvorada quando a plateia dirige um impropério ao governante, o que acontecia, ora vejam!, até no Império Romano? E olhem que a imperadora Dilma, até onde se sabe ao menos, divina não é.
Ao assistir esse vídeo, o que dirá José Trajano, o melancia às avessas da ESPN? Já sei: “Pô, os leitores de Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnoli, Diogo Mainardi e Augusto Nunes aparelharam o show do Rappa!!!”. Também nesse caso o PT vai acusar uma grande armação da oposição?
Leitores me informam que o mesmo coro com que Dilma foi premiada no Itaquerão foi ouvido, ainda que de forma mais discreta, na Arena Pantanal e no Mineirão. O que há de surpreendente nisso? Nada!
Moro praticamente ao lado do Pacaembu. Todas as vezes, todas, sem exceção, em que fui ao estádio, ouvi em uníssono o “Ei, juiz, vai tomate cru…”. Aliás, dá pra ouvir até quando não se está lá dentro. Nego-me a revelar se já aderi. Basta que o árbitro apite ou deixe de apitar alguma coisa que contrarie a torcida do time mandante, o coro começa na “geral”, onde não se encontram exatamente os mais endinheirados e os “brâncu de zoiazul” (como disse Lula). E se espalha. Esse xingamento é um clássico dos jogos de futebol. Em estádios, aliás, não importa o setor, não é o melhor lugar para a gente escolher genros, não é? Fora de lá, sogros podem até virar lordes.
Por mais que se lamente — por mim, todos declamariam Camões ou Shakespeare —, os impropérios fazem parte da natureza do espetáculo. “Ah, que coisa mais machista!” É mesmo? Vocês já viram a fúria das moças na arquibancada? Sogras também não escolheriam ali as suas noras… O que não impede as moças de virar princesas tão logo atravessem o portão. A violência retórica quase nunca é íntima da violência física. Na maior parte das vezes, uma toma o lugar da outra.
De resto, com uma popularidade bem maior do que a de Dilma, Lula foi vaiado na abertura dos Jogos Pan-Americanos, em 2007. Vejam:
Ele chegou a comentar, mais tarde, a reação do público. Como a eleição vindoura estava longe, posou de compreensivo:
Ora, Lula tinha sido reeleito havia apenas nove meses, com 69,69% dos votos válidos no Rio. Vaias e xingamentos a políticos em estádios não são nada de excepcional nem encontram uma tradução político-eleitoral imediata, como pretendem muitos — gostem ou não de Dilma Rousseff.
Manipulação da opinião pública
O PT e seus asseclas “essepeênicos”, com um monte de anúncios de estatais, estão é tentando fazer do limão uma limonada. Nas redes sociais, petistas e esquerdistas variados chamam a vaia a Dilma no Itaquerão de “tiro no pé”. Ora, isso revela a má-fé, então, do falso ofendido, não é? Está na cara que estão buscando conferir a Dilma a força da “vítima”. Pretendem transformá-la numa espécie de mártir da suposta elite branca paulista — não é mesmo, ESPN? — para ver se o incitamento ao ódio reverte em benefício eleitoral.
A verdade é que alas diferentes do PT vibram com o acontecido por motivos distintos: os dilmistas acham que ela só tem a ganhar se posar de mártir que resiste; os lulistas esperam que a imagem da presidente se deteriore ainda mais para defenestrá-la da chapa e chamar demiurgo de volta. Ele próprio diz que, “por enquanto, não é hora”. No fundo, torce por mais vaias e mais xingamentos.
Por Reinaldo Azevedo
De novo os melancias às avessas da ESPN e seu esquerdismo chulé sustentado “peluzamericânu”. Novos detalhes sobre a fala de um farsante
Vamos lá. Prometi que voltaria aos “progressistas” da ESPN e volto. É aquela gente que paga pau aos esquerdistas, posa de nacionalista, faz discursinho anti-imperialista e só se comporta bem na hora de receber o rico dinheiro dos patrões norte-americanos. Hipócritas! Como sabem, o tal José Trajano, chefão da emissora no Brasil, não gostou das vaias e dos xingamentos que o público dirigiu a Dilma no jogo de abertura da Copa. Resolveu passar um carão nos torcedores, que reagiram ao pito do vovô chapa-branca (e vermelha). Ele, então, ficou ainda mais bravo e arrumou quatro culpados: Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Demétrio Magnoli e Augusto Nunes.
Sim, os que foram esculhambá-lo — por causa de sua sujeição voluntária e de seu hábito de andar de joelhos — seriam leitores desses quatro Cavaleiros do Apocalipse, que, segundo ele, incentivam o ódio e a inveja. Como? Inveja, a depender do ramo de atividade e da coisa na qual eu esteja pensando, eu poderia ter é de Flaubert, de Brad Pitt, de Churchill, até do mais desgraçado dos mendigos. De Trajano? Das outras sumidades? Deem-me uma miserável razão para isso. Vamos relembrar a sua fala, em que ele arrota a sua grande coragem.
Quando botei esse vídeo no ar, ontem, uns poucos gatos-pingados o tinham visto. Agora, já são mais de 100 mil visitas. Trajano, cuja existência eu ignorava e sobre quem, é evidente, eu jamais havia escrito uma linha, também descobriu que atacar certas pessoas rende trânsito, bochicho, audiência. Sou generoso. De vez em quando, dou uma esmola a gente como ele.
Senti, ao assistir ao vídeo, a tal vergonha alheia. Então esse banana acha que é preciso grande coragem para atacar na televisão homens PODEROSOS (???) como Reinaldo, Diogo, Demétrio e Augusto? Por quê? Qual é o nosso poder? Percebam ali o tonzinho de “ninguém vai me calar”. O trecho mais encantador de sua fala é o “não vou me vergar”. Ora, vergar-se a quem? A nós? No que me diz respeito, se um sujeito como esse se vergar diante de mim, vomito no cangote dele.
De resto, não pode mais se vergar quem vergado já está. Não a mim, é claro! Não aos outros três! Mas ao poder, a uma ideologia, às patrulhas.
Ora, alguma coragem é necessária para combater os poderosos de turno, não para fazer a genuflexão até no vocabulário. Esse cara é do tipo que chama Dilma de “presidenta”, mas diz que não se verga a Reinaldo Azevedo e a seus leitores. Nossa!!! Que valente! Quando eu tiver 50 anos a menos de reflexão, quero ser como ele. Mas, se chegar a ter 30 a mais de idade, quero ser como sou. Leia de novo, Trajano!
É preciso ser muito vigarista para criticar os que “não respeitam a opinião alheia”, atacando, em seguida, quatro pessoas que não estão presentes para se defender, que absolutamente nada tinham a ver com a questão e que não podiam, sob qualquer pretexto — exceto o ódio, a intolerância —, ser responsabilizadas por aqueles que, exercendo seu sagrado direito de divergir, resolveram discordar da opinião de Trajano e da de seus outros “camaradas”. Ao fazê-lo, ele estava sendo… tolerante? Se nunca toquei no nome dele, se não escrevo sobre esportes, se nem mesmo o conhecia, ele me agride por quê? Ah, é que sou considerado um crítico do PT, um conservador, até mesmo um “direitista”, entendem? E o tal acha que gente assim merece ser achincalhada. Trajano cobra tolerância com os que são de sua laia para que ele possa mandar para o paredão os que não são. Pai, mãe, se vocês, ainda assim, quiserem assistir à ESPN, tirem ao menos as crianças da sala.
Bem, é um comportamento compatível com gente que sustentou ser muito justo mandar a Fifa “tomar no c…”, mas que considerou um crime de lesa-pátria dirigir tal impropério a Dilma. Também se perguntou na ESPN por que nunca ninguém mandou Paulo Maluf fazer tal coisa. Entendo! Com Maluf, então, seria justo, mas não com Dilma!!! Assim, não é que Trajano, seus pares e a ESPN considerem inadequado mandar que os outros “tomem no c…”. Só não se pode fazer isso com as pessoas erradas, com os “progressistas”. Com os “reacionários” — ainda que Maluf seja hoje um reacionário aliado ao PT —, pode. Para Trajano e sua trupe, mandar “tomar no c…” um sujeito procurado pela Interpol é aceitável. Mas fazer isso com a turma que elevou o orçamento da refinaria de Abreu e Lima de US$ 2,5 bilhões para US$ 19 bilhões é um atentado ao bom gosto, ao bom senso e à cidadania.
É o triunfo do “Paradigma Moral José Dirceu”. Assim como certas pessoas estão acima da lei, algumas outras, não importa o que façam, estão acima do palavrão. Xingar os inimigos de Trajano — ou aqueles que ele considera inimigos — é um dever cívico. Fazer o mesmo com aqueles de quem ele puxa o saco e diante dos quais se verga é um crime moral. Se acontece, ele precisa, então, arrumar culpados.
Eu sabia, meninos!
No texto anterior, afirmei que iria procurar a direção da ESPN para saber se o braço brasileiro do grupo norte-americano endossa a avaliação de que a elite branca de São Paulo — como se acusou lá — é capaz de cometer essas coisas hediondas. Leitores às pencas escreveram para dizer que o chefão é o próprio Trajano. Caros, àquela altura, eu já sabia. Já havia feito uma rápida pesquisa na Internet. Estava apenas sendo irônico.
O companheiro esquerdista e certamente anti-imperialista não dorme do ponto, não é?, e conseguiu arrumar uma boquinha com “uzamericânu”. Não é de hoje que gente com esse perfil é boa para arrumar emprego. As respectivas direções de institutos culturais de bancos e de grandes empresas, por exemplo, estão coalhadas de esquerdistas. São, assim, uma espécie de bobos da corte, regiamente pagos para que o patrão ou tenha onde colocar o seu complexo de culpa ou possa posar de “moderno e progressista” nas colunas sociais e nas pré-estreias de filmes-cabeça. Oswald de Andrade, que, dentro da sua loucura, tinha coerência, chamava valentes assim de “palhaços da burguesia”. No que me diz respeito, tenho mais desprezo por eles do que por qualquer maluco de uma seita ultraesquerdista que se leve a sério. Se o bicho realmente um dia pegasse no país, aqueles seriam os primeiros a se esconder, com a cueca borrada. Não, esses nem são a esquerda caviar. Faltam-lhes gosto para apreciar a iguaria e coragem para lutar por aquilo em que dizem acreditar.
O queridinho de Freixo
Na minha rápida pesquisa, quanto tomei conhecimento da existência do tal Trajano, topei com este vídeo.
Eis aí. Agora, a coisa está completa pra mim. Agora, a equação se fecha de maneira inequívoca. O deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL do Rio, o queridinho dos socialistas da Zona Sul, com vista para o mar, propôs a “Medalha Tiradentes” para Trajano. O partido que engrossa o coro em favor do controle da mídia no Brasil — sim, o PSOL também está nessa — resolveu defender a “linha editorial” “duzimperialista” porque, nesse caso, diz o guru das “socialites socialistas”, a ESPN trata das “contradições que esse mundo dos negócios, dos esportes, das paixões pode envolver”. Ah, entendi! Contamos “cuzamericânu” para nos ajudar a entender as “contradições desse mundo dos negócios”… Que bom que tenho o estômago forte!
Nos comentários, leitores me informam que a ESPN nunca foi dura o bastante com a turma do pega pra capar que está nas ruas. Todo o ódio que Trajano e seus camaradas destilaram contra os que vaiaram e xingaram Dilma nunca teria sido secretado contra black blocs e contra quem sai quebrando tudo por aí. Não sei se é verdade porque nunca vi o canal — tanto é assim que Trajano sabia da minha existência, mas eu ignorava a dele. Deve ser verdade. E isso também tem explicação, como se vê.
Não custa lembrar que Freixo é o chefão do PSOL no Rio, partido que comanda, por exemplo, os sindicatos de professores das redes estadual e municipal, que não viram nada demais em fazer uma parceria explícita, admitida em nota oficial, com os black blocs. Como esquecer que a notória Sininho, ora indiciada pela polícia, foi oferecer um advogado a um dos acusados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade em nome de uma entidade politicamente ligada a Freixo, esse santo do pau oco do socialismo com vista para o mar?
Os outros três incluídos na baba hidrófoba de Trajano falem por si se quiserem. Falo por mim. Faz todo sentido que este senhor veja com maus olhos o meu trabalho. Gente que recebe comenda de Marcelo Freixo, dadas as suas ações recentes no Rio, não tem mesmo por que ter simpatia pelo meu trabalho. É claro que nem isso explica a sem-vergonhice que foi dita no ar.
Gente que incentiva o linchamento em nome da tolerância não é apenas contraditória. É canalha também.
Texto publicado originalmente às 4h37
Por Reinaldo Azevedo
Devo culpar os admiradores do sr. Ultrajano Chapa-Branca por isto?
Leiam este comentário, com o IP e tudo.
Como esse, chegam centenas todos os dias. Vocês já me viram aqui a reclamar ou a acusar os outros por isso ou aquilo? Deem uma olhada nos blogs sujos para ver quantas são as vezes em que recorrem ao meu nome para ganhar trânsito. A mais nojenta de todas as páginas — QUE COBRA CARO PARA NÃO ATACAR PESSOAS, NUMA PRÁTICA MAFIOSA — adora republicar meus textos, sem autorização, para tornar sua vida mais interessante e sua chantagem mais valorizada. E simplesmente costumo ignorar essa gente.
Não só isso. São dezenas de ameaças de morte e de espancamento por dia. Não saio por aí culpando A ou B.
Sim, daqui a pouco eu me canso desse “Ultrajano Chapa-Branca”. Mas, enquanto eu não me cansar, trato do assunto.
Por Reinaldo Azevedo
De novo, o Decreto 8.243, de Dilma. É golpista e bolivariano, sim! Ou: O que não me parece bom nas seis perguntas e seis respostas da Folha
A Folha, jornal de que sou colunista, publicou no domingo seis perguntas e respostas sobre o Projeto 8.243 — aquele dos “conselhos populares”. O leitor chega à conclusão de que o diabo é bem menos feio do que se pinta. Discordo, é claro! “E por que não escreve a respeito no jornal?” Já escrevi. Volto ao assunto aqui. O que segue em vermelho foi publicado pela Folha. Comento em azul.
Classificado por alguns como “golpista”, “bolivariano” e até “bolchevique”, o decreto de Dilma sobre política de participação social parece bem menos polêmico.
Eu considero o decreto golpista e bolivariano, mas não “bolchevique” porque, parece-me, o bolchevismo supõe a perspectiva imediatamente revolucionária e de eliminação de uma classe social. Não sei quem classifica assim o texto — ninguém que eu tenha visto.
Gramscianamente golpista, isso ele é. Como era — e, em certa medida, ainda é — a terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos, de dezembro de 2009. E é bolivariano também porque Chávez recorreu a conselhos para minar o sistema representativo na Venezuela.
1) Para que serve a Política Nacional de Participação Social (PNPS), criada por decreto por Dilma?
O objetivo é organizar a relação entre ministérios e outras repartições federais com as diversas instâncias de participação social, como os conselhos permanentes de políticas públicas, as periódicas conferências nacionais temáticas e as frequentes audiências públicas, entre outras.
O texto busca, digamos, naturalizar o decreto, como se Dilma tivesse recorrido a esse expediente — por que não um projeto de lei, por exemplo? — apenas porque surgiu a necessidade de “organizar”. Epa! Um texto legal que regulamenta a participação da sociedade civil, definindo-a como “o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações” pode ser tudo, menos corriqueiro. Eu quero saber, por exemplo, a diferença entre um “movimento social institucionalizado” e um “movimento social não institucionalizado”. Mais: se o “cidadão” é parte da sociedade civil, como ele faz para participar de um conselho? Já volto ao ponto.
2) Mas já não existem vários conselhos?
Existem. Alguns são muito antigos, como o CNE (Conselho Nacional de Educação), criado em 1931, e o CNS (Conselho Nacional de Saúde), que existe desde 1937. Há conselhos para os mais variados temas, como direitos dos idosos, trabalho, segurança pública, juventude, política indigenista, previdência, drogas e igualdade racial. Alguns têm caráter normativo, como o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Outros são meramente consultivos, como o Conselho de Desenvolvimento Econômico, que reúne vários empresários dos mais diversos setores.
Vamos lá. Peguemos um dos conselhos citados acima: o da Juventude. Alguém ficou sabendo, a começar da imprensa, que as inscrições para tentar fazer parte do “Conjuve” terminaram às 23h59 do dia 4 de junho? Mais: nada menos de 159 entidades — devem ser os tais “coletivos” e “movimentos sociais institucionalizados e não institucionalizados” — se inscreveram. É mesmo?
Ora vejam… Vamos ver o que diz o Artigo 1º do decreto de Dilma: “Fica instituída a Política Nacional de Participação Social – PNPS, com o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil”. Sei… O Inciso II do Artigo 3º sustenta ainda que uma das diretrizes do PNPS é a “complementariedade, transversalidade e integração entre mecanismos e instâncias da democracia representativa, participativa e direta”.
Certo! Então os conselhos são uma forma de democracia direta, né? Só que é a democracia direta que se realiza à socapa, sem que ninguém saiba. Ou o “cidadão” decide fazer parte de algum “coletivo” ou “movimento social”, ou não vai participar de coisa nenhuma. Continuo na questão seguinte.
3) Esses conselhos agora são controlados pelo governo?
Não.
Não??? De novo, tomo o exemplo do Conselho da Juventude. É formado por 60 membros: um terço (20) é de representantes do governo e dois terços (40), da sociedade civil. Se vocês clicarem aqui, terão acesso a seus nomes e entidades às quais pertencem. E ficará claro, de saída, que a questão não está em ser o conselho formalmente controlado pelo governo. Em tese, não é. Estou falando é de outra coisa: de controle ideológico. Vejam lá qual é o viés das tais entidades representadas. Ora… Essa democracia “direta” é, como se vê, bem mais restritiva, então, do que a “representativa”, não? Afinal:
a: o processo eletivo ocorre sem que ninguém saiba;
b: a eleição dos conselheiros será necessariamente indireta;
c: já existe uma seletividade ideológica na largada.
É isso, então, a democracia representativa?
4) O governo passa a ser obrigado a seguir decisões tomadas em conselhos?
Não. O decreto diz apenas que os órgãos da administração, como os ministérios, deverão “considerar” essas instâncias de participação social na hora de formular, executar, monitorar e avaliar suas políticas. Isso já ocorre em muitos casos. O decreto diz também que os órgãos deverão produzir relatórios anuais mostrando como estão implementando a PNPS.
Com a devida vênia, é uma resposta ingênua para uma pergunta não menos. Imaginem se, a partir do decreto, os tais conselhos não acabarão se tornando uma espécie de imposição. Não há como impor legalmente as decisões dos conselhos. Trata-se de um constrangimento político. Tanto é que os órgãos federais são obrigados a prestar contas sobre a forma como estão implementando o tal PNPS. Ora, é o estado se organizando para ter o controle da sociedade civil. Saudável, convenha, seria o contrário!
5) O governo está criando novos conselhos?
O decreto não cria nenhum novo conselho nem mexe nos já existentes. A norma, porém, define parâmetros mínimos para orientar a eventual criação de novos conselhos ou instâncias.
De novo, fica parecendo que Dilma decidiu acordar e dizer: “Hoje é segunda-feira”. Não! A coisa é bem mais grave e mais complexa do que isso. Ademais, insisto na pergunta: por que um decreto? Já volto ao ponto.
6) Os conselhos populares assumem alguma atribuição do Poder Legislativo?
Não. O que se discute é se a PNPS, nos termos em que foi elaborada, deveria passar pelo Congresso. O governo sustenta que, como não há criação de cargos ou despesas, o decreto é suficiente. Alguns entendem que, ao criar um procedimento novo, a PNPS só poderia ser validada por meio de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional.
A resposta e amplamente insuficiente. Não se pode perguntar se o decreto faz o impossível porque o impossível ele não faz… A CONSTITUIÇÃO NÃO PERMITE QUE O EXECUTIVO SOLAPE PRERROGATIVAS DO LEGISLATIVO. E NÃO SERIA POR MEIO DO DECRETO 8.243 QUE DILMA O FARIA. A pergunta não faz sentido.
A questão é saber se conselhos não poderão ter um peso maior na decisão de órgãos federais do que o próprio Legislativo. A depender de como se conduzam as coisas, a resposta é “sim”. Segundo o decreto, um dos mecanismos de participação direta da sociedade são as “conferências nacionais”. Peguem as conclusões das conferências de Comunicação e Cultura, por exemplo. Nos dois casos, há flertes claros com a censura, por imposição dos vários grupos de esquerda que as compuseram. COMO NÃO CONSEGUEM VENCER ELEIÇÕES NO PARLAMENTO PARA IMPOR A SUA VONTADE, TENTAM FAZÊ-LO POR INTERMÉDIO DAS TAIS CONFERÊNCIAS. A de Mulheres, por exemplo, defendeu a descriminação do aborto. Curioso: não é essa a opinião da maioria das mulheres brasileiras nem é esse o resultado das urnas. ESSAS FORMAS DE DEMOCRACIA DIRETA, COM A REALIZAÇÃO DE ELEIÇÕES ÀS ESCURAS, SÃO INSTRUMENTOS DE QUE DISPÕEM MINORIAS QUE SE QUEREM DE VANGUARDA PARA IMPOR A SUA VONTADE ÀS MAIORIAS.
Pior do que tomar o lugar do Legislativo, o “conselhismo” ambiciona é tomar o lugar da Justiça mesmo, e alertei para esse risco em meu artigo na Folha, na sexta. Reproduzo trecho (em preto).
No dia 19 de fevereiro (https://abr.ai/1lkunwF), o ministro Gilberto Carvalho participou de um seminário sobre mediação de conflitos. Com todas as letras, atacou a Justiça por conceder liminares de reintegração de posse e censurou o estado brasileiro por cultivar o que chamou de “uma mentalidade que se posiciona claramente contra tudo aquilo que é insurgência”. Ou por outra: a insurgência lhe é bem-vinda. Parece que ele tem a ambição de manipulá-la como insuflador e como autoridade.
Vocês se lembram do “Programa Nacional-Socialista” dos Direitos Humanos, de dezembro de 2009? É aquele que, entre outros mimos, propunha mecanismos de censura à imprensa. Qual era o “Objetivo Estratégico VI” (https://abr.ai/1lkLvSS)? Reproduzo trecho:
“a- Assegurar a criação de marco legal para a prevenção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo o devido processo legal e a função social da propriedade.
(…)
d- Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos (…) como medida preliminar à avaliação da concessão de medidas liminares (…)”
Dilma resolveu dar uma banana para o Congresso e, em vez de projeto de lei, que pode ser emendado pelos parlamentares, mandou logo um decreto. As Polianas que fazem o jogo dos contentes acusam os críticos do decreto de exacerbação retórica e dizem que a trajetória do PT não revela tentações bolivarianas. Não? Fica para outra coluna. Nego-me a ignorar o que está escrito para ser árbitro de intenções. Pouco me interessa o que se passa na alma do PT. Eu me ocupo é dos fatos. Dilma tem de recuar. Brasília não é Caracas.
Encerro
Ora, uma vez em vigência esse decreto, um juiz poderá se amparar nele para não conceder uma liminar de reintegração de posse, por exemplo — não sem que se realize antes a tal mesa de mediação de conflitos. É evidente que a presidente não assinaria um decreto admitindo que está criando mecanismos que podem ser considerados um Legislativo e um Judiciário paralelos. Só faltava essa! A esse grau de loucura, o petismo ainda não chegou. Mas que o texto pavimenta o caminho para a companheirada não se desgrudar mais do poder, ganhe ou perca eleição, ah, isso é fato! Não é bolchevique porque não dá mais para ser bolchevique, o que muitos lamentam… Mas é golpista, sim. E recorre a expedientes bolivarianos, sim!
Não custa lembrar que, na América Latina contemporânea — mas nunca moderna —, não se dão mais golpes com tanques, mas com instrumentos legais que vai minando o regime democrático. O Decreto 8.243 é um deles. Que o Congresso reaja e derrube essa estrovenga por meio do decreto legislativo. Dilma que envie um projeto de lei. Ou a presidente quer instituir a participação da sociedade civil sem ouvir o Poder Legislativo?
Por Reinaldo Azevedo
Santos se reelege na Colômbia, e negociação com narcoterroristas vai, então, continuar; população de áreas onde as Farc atuam votou contra acordo
Num resultado até certo ponto surpreendente, dados os números do primeiro turno, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, venceu o segundo turno da eleição presidencial. Com a apuração totalmente concluída, obteve 50,95% dos votos contra 45% de Óscar Ivan Zuluaga, seu opositor. Traduzindo: 7.816.986 contra 6.905.001. No primeiro turno, Zuluaga venceu com 29,3%, contra 25,7% de Santos. Como explicar?
É preciso fazer algumas considerações prévias. Santos foi eleito presidente em 2010 com o apoio integral do ex-presidente Álvaro Uribe, de quem foi ministro da Defesa. Foi de Santos a decisão, por exemplo, de invadir o território equatoriano para matar o líder terrorista Raúl Reyes, das Farc. No poder, deu início a um processo de negociação com a narcoguerrilha, que se desenvolve em Cuba. Descontente, Uribe rompeu com o antigo aliado, criou um novo partido e fez Zaluaga candidato.
Embora Santos tenha bons números a oferecer na economia, a negociação com as Farc dividiu o país — divisão que persiste, a julgar pelo resultado: Zuluaga se opõe frontalmente à negociação e exige a deposição de armas dos grupos guerrilheiros e a punição de seus líderes. Santos, antes o falcão, resolveu posar de pomba da paz. Isso lhe rendeu o apoio da esquerda colombiana, o que parecia impossível.
A esquerdista Clara López, que obteve 1.958.414 votos no primeiro turno, fechou com o presidente. O mesmo fez o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro. Santos triplicou seus votos na capital: de 444.051 no primeiro turno para 1.337.349 no segundo.
Vejam este mapa. Na área azul, venceu Zuluaga, francamente contrário à negociação com a guerrilha; na amarela, Santos.
Agora vejam as áreas de mais forte atuação das Farc.
Comparando-se, então, o mapa de votação dos dois candidatos com o mapa das áreas sob influência das Farc, percebe-se que a maioria da população que é potencialmente vítima dos narcoguerrilheiros votou contra o acordo político. Esse confronto já matou, em cinquenta anos, mais de 250 mil pessoas e provocou o migração de 5 milhões.
A Colômbia vive uma realidade política interessante. Embora o país abrigue as duas mais antigas guerrilha da América Latina, a esquerda é eleitoralmente fraca. Santos venceu a eleição com o apoio de esquerdistas, mas é um político conservador. Seu adversário, Zuluaga, é da direita uribista. Uma maioria estreita votou pela continuidade das negociações de paz. A responsabilidade que pesa agora sobre os ombros de Santos é gigantesca. Se naufragar, seu grupo está politicamente morto.
Não posso encerrar este texto sem chamar a atenção para um troço meio asqueroso. As Farc negociam a paz, mas sem depor as armas, é claro! Quem reduziu drasticamente seu poder de fogo foi a política de Uribe. De um exército de estimados 30 mil homens, foram reduzidas a menos de 8 mil. Seus principais líderes estão mortos. Mas elas ainda têm reféns, praticam sequestros, extorsões, assassinatos e tráfico de drogas. Ancorar um discurso na “paz” negociando com gente dessa espécie corresponde, na prática, a ceder a uma chantagem.
A maioria, no entanto, dos eleitores decidiu que assim deve ser, especialmente a maioria dos lugares em que a guerrilha não atua, como é o caso de Bogotá. A chance de que tudo dê errado é gigantesca!
Por Reinaldo Azevedo
A união do PSDB é fundamental para preservar a democracia no Brasil
A última vez em que o PSDB esteve tão unido numa campanha eleitoral foi 1998. Não vou aqui me dedicar à arqueologia de por que, antes, foi assim ou assado. O fato é que o candidato à Presidência, Aécio Neves, conta com o pressuposto primeiro de uma campanha que pretende, claro!, ser vitoriosa: a união. Sem ela, não existe milagre. Para alcançá-la, é preciso que todos os atores estejam dispostos não exatamente a fazer concessões, mas a ouvir o “outro” e “os outros”. Mais do que tudo, entendo, desta vez, o PSDB não tinha o direito — sob o risco da autodissolução — de não ouvir fatias consideráveis do país que querem mudança. E a cobram com uma clareza que não se via desde 2002, justamente quando o PT venceu.
Notem que não faço juízo de valor sobre os desejos de antes e os de agora. Falo de demandas que estão na sociedade e às quais os partidos têm de responder. O PSDB não tinha, e não tem, o direito de se apequenar em divisões internas. O que se viu neste sábado é auspicioso. Lá estavam, e com muito mais solidez do que em jornadas anteriores, Aécio e José Serra de mãos dadas, sob o olhar de FHC, o tucano que venceu o PT nas urnas duas vezes, no primeiro turno.
Isso é uma declaração de voto? Não é, mas poderia ser — e não vejo por que os leitores devam ter desconfianças sobre em quem vou votar. Acho que minha escolha está clara. Mas isso é o de menos neste post. O meu ponto é outro. Não existe democracia sem oposição. Repito o que já escrevi dezenas de vezes: as tiranias também têm governo (e como!!!). Só as democracias contam com forças que se opõem ao poder de turno, buscando substituí-lo, dentro das regras do jogo. Sem oposição organizada, não existe governo legítimo.
Ocorre que esse não é um valor no petismo. Nunca foi. Ao contrário. Para o partido, os que se opõem à sua visão de mundo — mesmo àquela parcela eventualmente não criminosa — são sabotadores, são inimigos. E devem ser destruídos.
Desde que os petistas chegaram ao poder, resolveram dar início a uma falsa guerra entre o “nós”, que eram “eles”, e o “eles”, que eram os outros. De um lado, os donos da virtude, do bem, do belo, do justo; do outro, o contrário. Talvez seja o caso, então, de a oposição comprar essa briga e fazer o confronto entre o “nós oposicionista” e o “eles governista”.
Os tucanos têm uma história respeitável. Tiraram o Brasil da hiperinflação. Deram ao país uma moeda. Devolveram a nação ao cenário internacional. E o fizeram sem jogar o povo contra o povo. E o fizeram sem incitar a guerra de todos contra todos. E o fizeram sem estimular ódios e rancores. Ao contrário: sempre souberam, e sabem, que, como diz o velho bordão, a união faz a força. Os petistas, infelizmente, tentam se fortalecer jogando brasileiros contra brasileiros, como estamos cansados de ver. É assim que eles enfraquecem a sociedade para fortalecer um ente de razão chamado “partido”.
Mais do que nunca, acho que cabe aos tucanos deixar realmente claro que “eles”, tucanos, não são “os outros”, os petistas e seus aliados. Ou, nos termos propostos pelo PT, chegou a hora de deixar claro que, de verdade, “nós não somos eles”. E não é preciso ir muito longe para percebê-lo: há, por exemplo, tucanos e membros de gestões tucanas sob investigação. Não vi, até agora — e não creio que vá acontecer — o partido a demonizar a Justiça. Sim, há uma grande diferença entre se solidarizar com um aliado e atacar a instituição. Em defesa de mensaleiros, de criminosos condenados, o petismo não hesitou um só instante em achincalhar o Supremo, cuja composição é, de resto, de sua inteira responsabilidade.
Autoritários
A propaganda política terrorista que o PT levou ao ar, destaquei aqui, deixou claro que o partido não tem mais futuro a oferecer aos brasileiros. Agora só lhes resta o expediente, que também não é novo em sua trajetória, de destruir a reputação e o passado alheios e de recontar a história. Mais um pouco, os “historiadores” do partido ainda transformarão Lula no pai do “Plano Real”, e FHC no chefe do grupo que tentou sabotá-lo — e sabotar o país.
Dilma já não sabe por que governa e sabe menos ainda por que quer mais quatro anos. Essa gente é tão autoritária que inventa teorias conspiratórias até quando parte de um estádio de futebol expressa seu repúdio ao governo, segundo a linguagem, feia ou bonita, que se costuma usar em disputas assim desde as arenas romanas ao menos. Seus áulicos na subimprensa — um bando de vagabundos pançudos, pendurados nas tetas da propaganda oficial e de estatais — têm o topete de acusar, ora vejam!, a oposição e alguns jornalistas por manifestações espontâneas, que surgem sem paternidade.
Os petistas, no poder, sempre tentaram calar a oposição. Agora, acham que já é chegada a hora de calar o povo — ao menos a parcela do povo que ousa discordar. E sua concepção autoritária de poder está em curso, com lances novos, embora esperados, dado o seu projeto de poder. O Decreto 8.243, inspirado por Gilberto Carvalho, saído das catacumbas do PT, é a evidência de que o partido ainda não desistiu da ditadura do partido único.
A união do PSDB, demonstrada neste sábado, é fundamental para preservar a democracia no Brasil.
Por Reinaldo Azevedo