Gilberto Carvalho – As palavras aparentemente doces de um ministro que, na prática, quer relativizar a propriedade privada e c
Gilberto Carvalho 1 – As palavras aparentemente doces de um ministro que, na prática, quer relativizar a propriedade privada e cassar prerrogativas da Justiça
Há tempos vocês perceberam que três ministros da presidente Dilma disputam o meu coração: Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) — Ideli Salvatti concorre em outra categoria. Tudo bem pesado, ninguém supera Carvalho no absurdômetro, até porque ele é, tenho de admitir, mais inteligente que a soma dos outros dois e mais poderoso também — é a maior influência no PT depois de Lula. Mais: é o interlocutor de toda a ala vermelha da Igreja Católica — e não me refiro, é claro!, ao sangue de Cristo, para o qual a dita-cuja não dá a menor bola.
Na quarta-feira, como já vimos, Carvalho participou de um seminário no Ministério da Justiça sobre mediação de conflitos. Foi lá que andou exercitando a sua fala perigosa. Censurou o estado brasileiro — o Executivo também, do qual ele próprio faz parte — por cultivar “uma mentalidade que se posiciona claramente contra tudo aquilo que é insurgência”.
Ou por outra: para Carvalho, o bom seria se o estado, ora vejam!, incentivasse a insurgência, entenderam? E ele deixou isso claro! Expressou o seu desconforto com o fato de o governo ser obrigado a tomar medidas com as quais não concorda — aquelas, sabem?, de manutenção da lei e da ordem. Vejam o vídeo com sua fala aparentemente mansa. Volto em seguida.
O vídeo não dá conta do contexto. O encontro que se fazia ali, meus caros, vituperou, entre outras coisas, contra decisões do Judiciário que determinam, por exemplo, a reintegração de posse de áreas privadas invadidas — áreas essas, no mais das vezes, de pessoas que têm títulos legais de propriedade; áreas que, depois de 100, 200 anos, em razão da militância de ONGs, voltam a ser… “indígenas”!
O vídeo deixa claro de que lado está Carvalho: contra os proprietários. A sua proposta, vejam lá, é aumentar a “mediação”. O nome parece bacana. Na prática, o que se quer é igualar “invasor” e “invadido”, de sorte que, entre partes supostamente iguais e legítimas — um para tomar o que é legalmente do outro, e esse outro para se defender do esbulho —, surja o intermediário, que buscará um consenso.
Ora, não é preciso ser muito bidu para perceber que, nessa perspectiva, o proprietário vai apenas saber o tamanho da sua perda. Esse é o homem que Dilma escolheu para negociar com “movimentos sociais”.
Fala mansa
Será que Carvalho sempre fala manso assim? Procurem saber como atuou este senhor e seu braço-direito, Paulo Maldos, na desocupação de uma região chamada chamada Marãiwatséde, em Mato Grosso. O tal Maldos foi o coordenador do grupo de trabalho. Nessa área, havia uma fazenda chamada Suiá-Missú, que abrigava, atenção!, um povoado chamado Posto da Mata, distrito de São Félix do Araguaia. Moravam lá 4 mil pessoas. O POVOADO FOI DESTRUÍDO. Nada ficou de pé, exceto uma igreja — o “católico” Gilberto Carvalho é um homem respeitoso… Nem mesmo deixaram, então, as benfeitorias para os xavantes, que já são índios aculturados. Uma escola que atendia a 600 crianças também foi demolida. Quem se encarregou da destruição? A Força Nacional de Segurança. Carvalho e Maldos foram, depois, para a região para comemorar o feito. Republico este vídeo, que mostra o que restou daquela comunidade.
Nota
A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil emitiu uma nota contra a fala de Carvalho no seminário. Transcrevo a íntegra.
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É com perplexidade que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) toma conhecimento, pela imprensa, das manifestações de um ministro de Estado e de um alto funcionário do Ministério da Justiça, desmerecendo o Poder Judiciário brasileiro.
Ao participarem da apresentação de pesquisa sobre conflitos de terra, realizada por uma ONG notória opositora do agronegócio do país, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o Secretário de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, Flávio Caetano, defenderam a mediação como medida mais eficiente para resolver os problemas fundiários, relegando a um segundo plano o papel da Justiça.
Preocupa especialmente a CNA a defesa, por autoridades, da submissão de conflitos de enorme complexidade a mediadores ideologicamente comprometidos, em substituição a magistrados imparciais, protegidos por garantias constitucionais e selecionados com impessoalidade, por meio de rigorosos concursos públicos. O ministro defende a criação de uma escola de mediadores sem esclarecer qual será o currículo e quem serão os professores destes futuros substitutos de juízes.
Por outro lado, a afirmação, presa a dogmas ultrapassados, de que “a velha figura do latifúndio contra o pequeno proprietário continua existindo no país” mostra desconhecimento da realidade do campo. Baseia-se na noção do latifúndio improdutivo, quando é sobremaneira sabido que a propriedade rural brasileira é altamente produtiva e a principal responsável pelo crescimento econômico.
Estas declarações ganham especial relevância neste momento em que o Ministério da Justiça insiste em não dar cumprimento a decisões judiciais de reintegração de posse, em favor de produtores do sul da Bahia que tiveram suas terras invadidas por índios. As liminares concedidas pela Justiça Federal e confirmadas pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região garantem o direito de propriedade. Nestes casos, a crítica do ministro Gilberto Carvalho quanto à inexistência “de posição neutra no aparelho do Estado brasileiro” é contrária à efetividade da Justiça e ao Estado de Direito.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) repele firmemente tais aleivosias e contra elas lutará, em defesa da Constituição e da ordem jurídica.
Brasília, 20 de fevereiro de 2014.
Senadora Kátia Abreu
Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
Gilberto Carvalho 2 – Ele planta a baderna, e a Polícia Militar de SP impõe a ordem a pedido do governo federal
Reintegração de posse em Itaquera: PMs foram recebidos como de hábito
Se a presidente Dilma Rousseff não tomar cuidado, Gilberto Carvalho leva o seu governo para um buraco ainda mais profundo. Ainda que, no fim das contas, todos eles sejam petistas, não custa lembrar que há aqueles que sonham com a volta de Lula — e Carvalho é um deles. Podem reparar: todas as áreas hoje conflagradas do país passam por sua pasta. Quero aqui tratar do primeiro caso: uma reintegração de posse em São Paulo, executada, por decisão judicial, pela Polícia Militar.
O busílis é o seguinte. Em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, foi construído um conjunto habitacional de 940 apartamentos dentro do Programa Minha Casa Minha Vida. Existe um cadastro para a ocupação desses imóveis. Trata-se de uma política pública, e é evidente que, dada a natureza do programa, isso tem de ficar sob o controle do estado. Bem, os imóveis foram invadidos por ditos movimentos de sem-teto, e a Caixa Econômica Federal — aquela que costuma patrocinar alguns blogs sujos que atacam a Polícia Militar de São Paulo —, que administra o programa, recorreu à Justiça pedindo a reintegração de posse, que foi concedida pela Justiça.
Então, leitor! Quando a Justiça manda fazer uma reintegração de posse, a executora da medida é a Polícia Militar, aquela mesma tratada aos tapas por petistas municipais, estaduais e federais. A PM não pode escolher não ir, dar de ombros, mandar o juiz plantar batatas. Foi. E os policiais foram recebidos como de costume: paus, pedras, porrada. E reagiram com os instrumentos legítimos que têm à mão, como bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral — que já são as alternativas mais civilizadas às armas letais. Quem sai mal no retrato? Acaba sendo a PM, não é?, que parece estar lá para esmagar os coitadinhos. O nome da Caixa nem apareceu.
E, agora, o PT e Carvalho
O PT é, originalmente, o grande organizador de movimentos de sem-teto cidades afora — e há alguns grupelhos radicais que escaparam a seu controle. Eles foram, por exemplo, alguns mais ativos militantes em favor da eleição de Fernando Haddad à Prefeitura. Quem, no governo, faz a chamada “interlocução” com esses movimentos sociais? Acertou quem chutou “Gilberto Carvalho”. Na sua pasta, há até uma subsecrataria só para falar com esses “líderes”.
Ocorre que Carvalho não é exatamente um homem que concorre para amenizar ou evitar os conflitos. Ao contrário. Ele os instiga. E foi o que fez na quarta-feira, num seminário no Ministério da Justiça, ao dar estas declarações, conforme registrou a Folha Online.
Onde estava Carvalho?
Onde estava Gilberto Carvalho no caso da reintegração de posse de Itaquera, pedida pela CEF, que diz respeito a programa do governo federal? Consta que havia três mil moradores lá. Não é o ministro que faz a interlocução com os tais “movimentos sociais”? O homem não deus as caras. Na desocupação do Pinheirinho, no entanto, quando o solicitante não era o Planalto, esse patriota mandou seu braço-direito, Paulo Maldos, fazer proselitismo entre os moradores, instigando o confronto.
É preciso que fique claro que esses movimentos de sem-teto existem para alimentar os… movimentos de sem-teto. Eles se tornaram atravessadores das casas populares. Pessoas igualmente pobres, que aguardam na fila, acabam preteridas porque os “invasores”, recrutados em todo canto, chegam antes.
Quem conhece o movimento por dentro me diz que há “invasores volantes”, isto é, que “moram” em vários lugares. São profissionais da ocupação. O que interessa é sequestrar o maior número possível de imóveis para o “movimento”. Atenção! Esses ditos “líderes”, na cidade de São Paulo, já ganharam o direito de distribuir uma cota de casas entre os seus “filiados”. Trata-se da mais escancarada privatização do bem público.
Quem deveria estar cuidando do assunto, tentando impedir a pistolagem? Gilberto Carvalho. Em vez disso, ele é um incitador.
Proposta a deputados
Tenho uma proposta a fazer aos deputados estaduais de São Paulo — os não petistas, claro! Sempre que a PM tiver de fazer uma reintegração de posse solicitada por alguém ente público, um representante desse ente tem de estar presente no local. Mais: durante a operação, um policial fica com um megafone: “Esta operação está sendo realizada por ordem da Justiça, em favor de TAL ORGANISMO”.
O que não dá mais é para continuar esse espetacular show de covardia: Carvalho e seus esquerdistas insuflam os ditos “movimentos sociais”, e a Polícia Militar que se vire e apareça depois no noticiário como truculenta.
Por Reinaldo Azevedo
Nepotismo cruzado, no caso de Freixo, é poesia e virtude, certo? Ou: Atos indecorosos!
Ivan Lins e Caetano Veloso no ato de desagravo a Freixo. Não se disse uma palavra de solidariedade à família de Santiago Andrade
Ah, mas eu estou cada vez mais interessado no senso muito particular de moralidade do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), aquele flagrado numa estranha e suspeita proximidade com os black blocs e que, para se defender, decidiu gritar: “Conspiração!”. E chamou os socialistas milionários da Zona Sul do Rio para sair em seu socorro, acusando os outros, claro, de reacionários.
Um leitor do Rio me envia um artigo da deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ), publicado no jornal “O Dia”. Mesmo com tudo o que sei de Freixo, há coisas que eu realmente ignorava, presentes no artigo da deputada. Não sabia, por exemplo, que a mulher de Freixo trabalha no gabinete de um vereador do PSOL do Rio e que, antes, havia trabalhado no de um outro, também do partido. Uma legenda como o PSOL, dados os socialistas da orla, pode ser uma janela e tanto de oportunidades, né? Transcrevo o texto de Cidinha Campos em azul. Volto depois.
Freixo, o intocável
Era previsível a reunião de “desagravo” a Marcelo Freixo. Esquerdistas do Posto 9, humanistas do Leblon e turistas da política em geral gritaram: “Com ele não!!!”. Mas por que não? Todos os homens públicos não estão sujeitos a ter a sua conduta questionada em algum momento da vida? Mas Marcelo Freixo, enfant-gaté da esquerda caviar, não.
Ter dois advogados em seu gabinete, pagos com dinheiro público, trabalhando num instituto que defende black blocs, só seria questionável se o contratante fosse o Bolsonaro. Freixo não! Sem falar nos outros dois advogados na mesma situação exonerados recentemente.
Nepotismo, ainda que cruzado, só é feio quando praticado pelos outros. Freixo não! Sua mulher, Renata Stuart, é funcionária do vereador Renato Cinco (aquele que doou dinheiro para a Sininho), mas já passou pelo gabinete de Eliomar Coelho, todos do Psol. Imagina se fosse o Renan?
Taí um partido generoso com as esposas dos companheiros. A mulher do ex-deputado Milton Temer, Rosane Andrade de Aguiar, que recentemente passou com o marido temporada de três meses em Paris, é empregada no gabinete da liderança do Psol, onde também bate ponto (será?) Cristiane Pena Dutra, esposa do bombeiro Daciolo, aquele que colocou fogo na greve dos bombeiros.
Quando o telhado é do Psol, ninguém pode jogar pedra. O senador Randolfe Rodrigues (AP) — também presente ao “desagravo” a Freixo — foi acusado de receber um mensalinho. Ficou indignado porque saiu no jornal. Mas quando é o Zé Dirceu…
Conheço bem o Freixo. Fui vice-presidente da CPI das Milícias, junto com outros seis companheiros. Eu e minha família fomos ameaçados por Cristiano Girão, hoje preso fora do estado. A imprensa — essa mesma que hoje ele acusa de perseguição — nos ajudou e muito na investigação. Da parte dele, nenhuma palavra de agradecimento.
Estranhei a ausência da deputada Janira Rocha no “desagravo” a Freixo. Depois do escândalo em que meteu, não convinha mesmo dar as caras. No “desagravo”, também não vi manifestações de solidariedade à família de Santiago Andrade. No Facebook do deputado, tem uma declaração formal: “Sinto muito. Minha mulher trabalhou com ele.” E se fosse um policial a ter a cabeça estourada? Ele se solidarizaria? Ou policial só é legal na sua segurança pessoal?
O deputado tem um jeito muito particular de lidar com a democracia e a liberdade de imprensa. Para Marcelo Freixo, a mídia só é boa quando ele é a fonte ou a estrela.
Voltei
O PSOL herdou da nave-mãe, o PT, essa mania de desagravos, abaixo-assinados, essas patacoadas. Basta que seus valentes se vejam sem saída, que não tenham resposta para as coisas óbvias, lá vem um movimento de solidariedade.
Nos anos 1980, ficou famosa uma história do tempo em que Marilena Chaui era uma espécie de Marcelo Freixo da várzea do rio Pinheiros, onde fica o campus principal da USP. A mulher escreveu um livro chamado “Cultura e Democracia” que trazia algumas páginas que eram mera cópia de um livro de Claude Lefort, de quem ela havia sido aluna e amigona. José Guilherme Merquior acusou o plágio? Sabe o que fizeram os esquerdistas da várzea? Um abaixo-assinado contra… Merquior!!! E ainda acusaram “a direita” — sempre ela, coitada! — de estar tentando desautorizar uma grande intelectual. Os fatos quer se danassem.
Assim fizeram os que foram lá emprestar seu apoio a Freixo: os fatos que se danem. Mas eles existem.
Por Reinaldo Azevedo
Minha coluna na Folha desta sexta: Assim não dá, Vladimir!
Leiam trecho da coluna:
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Vladimir Safatle, possível candidato do PSOL ao governo de São Paulo, surpreendeu os leitores deste jornal ao acusar, em sua coluna de terça, a polícia de ser responsável pela morte de quatro manifestantes: Cleonice Vieira de Moraes, Douglas Henrique de Oliveira, Luiz Felipe Aniceto de Almeida e Valdinete Rodrigues Pereira. Seriam, asseverou, apenas algumas das vítimas das PMs. A palavra delicada para definir a afirmação é “mentira”. As polícias, felizmente, não mataram ninguém nos tais protestos.
Cleonice, uma gari, morreu em Belém de infarto. Varria rua quando houve um confronto entre manifestantes e a PM. Inalou alguma quantidade de gás lacrimogêneo e teve infarto depois disso, mas não por causa disso. O filósofo deve conhecer a falácia lógica já apontada pelos escolásticos: “post hoc ergo propter hoc” — “depois disso, logo por causa disso”. Nem tudo o que vem antes é causa do que vem depois. É como no filme “Os Pássaros”, de Hitchcock. Tudo se dá depois da chegada da loura, mas a loura é inocente, Vladimir! A notícia sobre a morte está aqui.
Douglas e Luiz Felipe morreram ao cair do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte. Não há evidências de que estivessem sendo encurralados pela polícia. Ainda que sim, seria preciso examinar as circunstâncias. Leia sobre as mortes de DouglaseLuiz Felipe.
A mentira sobre Valdinete é mais escandalosa (aqui). Foi atropelada por um motorista que havia furado um bloqueio no Km 30 da BR-251, em Cristalina, em Goiás. No mesmo episódio, morreu outra mulher, Maria Aparecida. Elas decidiram botar fogo em pneus para cobrar melhorias no distrito de Campos Lindos — nada a ver com os protestos dos coxinhas vermelhos. O motorista de um Fiat Uno não parou, atingiu as duas e sumiu. Elas não fugiam da violência policial.
(…)
Para ler a íntegra da coluna, cliqueaqui
Por Reinaldo Azevedo
A Ucrânia acorda para o seu ódio
Uma crise com a violência que se vê na Ucrânia não explode da noite para o dia. Há por lá menos desejo de se integrar à Europa do que rancor da Rússia, que foi, afinal de contas, o centro do império soviético. Mesmo depois da desintegração desse império, o país nunca deixou de ser uma espécie de satélite russo. E velhos ódios ficaram guardados, para explodir agora.
Poucos países pagaram um preço tão alto para construir a antiga União Soviética. Entre 1930 e 1933, calcula-se que pelo menos 3,5 milhões de ucranianos morreram de fome em razão da política de coletivização da agricultura empreendida por Stálin. A Ucrânia era considerada uma espécie de celeiro dos soviéticos. Os relatos da fome nesse período são aterradores.
Há até uma palavra para designar o que se chama de “holocausto ucraniano”: holodomor, que significa “extermínio pela fome”. No livro “A Corte do Czar Vermelho”, Simon Sebag Montefiore transcreve telegramas de agentes de Stálin enviados ao país que, entre relatos burocráticos, afirmam chegar a aldeias em que toda a comunidade estava morta. Estima-se que o ditador mandou nada menos de 350 mil ucranianos para campos de trabalho forçados. Uma lei para punir camponeses que roubassem alimentos foi criada pensando na Ucrânia: atendia pelo simpático nome de “Apropriação Indevida de Propriedade Socialista”.
Stálin estava convencido de que os ucranianos buscavam sabotar o seu esforço e deslocou para o país um enorme contingente de agentes da polícia política. O resultado foi trágico. O tirano determinou um bloqueio à Ucrânia, e a região estava proibida de receber qualquer alimento de outras regiões. Aos mesmo tempo, os camponeses não podiam cruzar a fronteira do país em busca de comida.
“A Rússia atual não é a União Soviética”, dirá alguém. Mas é evidente que é a sua herdeira. Se o estopim das manifestações foi a recusa do presidente do país, Viktor Yanukovytch, de levar adiante o seu plano de integração à Europa, o que há, de verdade, é uma reação à condição de eterna submissa da Rússia.
Um país não sai de uma relativa paz para uma situação de guerra civil se ódios antigos não restam ainda vivos nas consciências. É o que se viu, por exemplo, no desmantelamento da Iugoslávia. Repúblicas que até então pareciam viver em paz resolveram reciclar dissensões seculares.
Noto — e isto precisa ser dito — que também os protestos fugiram do controle, e há táticas de luta que podem, sem favor, ser chamadas de terroristas. Não parece que os líderes de oposição estejam se comportando também da forma mais responsável. De todo modo, não se vislumbra uma saída civilizada para o governo — este ou outra que venha a assumir — que não passe por uma maior independência em relação à Rússia.
Por Reinaldo Azevedo
Barbárie na Ucrânia
Na VEJA.com:
Uma voluntária que ajudava a atender os manifestantes feridos nos confrontos em Kiev, na Ucrânia, postou uma curta mensagem no Twitter pouco depois de ser baleada no pescoço: “Estou morrendo”, escreveu a paramédica Olesya Zhukovskaya, de 21 anos. O médico Oleh Musiy, coordenador dos trabalhos entre os manifestantes, disse que ela foi operada e está em estado grave, informou o jornal The Washington Post.
Só nesta quinta-feira, os conflitos na Ucrânia deixaram cerca de 100 mortos e 500 feridos. Na capital, o clima está próximo de uma guerra civil, e ativistas opositores afirmam que franco-atiradores estão disparando contra os manifestantes. Vídeos postados na internet mostram o ponto dramático que a crise atingiu, três meses depois do início dos protestos contra o governo. Em um deles, homens armados efetuam disparos. Em outro, um grupo tenta avançar usando escudos como proteção quando tiros são disparados e algumas pessoas caem feridas no chão. Em seguida, feridos e mortos são carregados em macas improvisadas.
Sanções
Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia que se reuniram para discutir a situação da Ucrânia nesta quinta-feira aprovaram a aplicação de sanções contra as autoridades “responsáveis pela violência e pelo uso de força excessiva”. O chanceler da Suécia, Carl Bildt, afirmou, em sua conta no Twitter, que o congelamento de movimentações financeiras e a suspensão de passaportes devem ser adotados “com urgência”. A chefe da diplomacia do bloco, Catherine Ashton, disse após o encontro que os chanceleres se mostraram “horrorizados” com as mortes na Ucrânia, o que os fez consentir com a “suspensão da exportação de licenças para equipamentos de repressão interna”.
Cenário de guerra
Mais de uma dezena de corpos de manifestantes foram levados para a recepção do hotel Ukrania, na Praça da Independência. Segundo as agências de notícias, os corpos estão cobertos com lençóis e são guardados por profissionais de saúde que atendem os manifestantes feridos. Centenas de opositores radicais obrigaram a tropa de choque, que cercava a Praça da Independência, a recuar. Manifestantes com capacetes e escudos e armados de paus e coquetéis molotov tomaram o controle da Praça Europa, junto ao começo da rua Grushevski, onde se encontra a sede do governo. O Ministério do Interior informou que ao menos 67 policiais são mantidos reféns pelos manifestantes em Kiev.
Por Reinaldo Azevedo
Venezuela – Líder oposicionista permanecerá preso por conspiração, mas não por terrorismo
Na VEJA.com:
O oposicionista Leopoldo López, que se entregou à polícia venezuelana na terça-feira, depois de o presidente Nicolás Maduro responsabilizá-lo pela violência que se seguiu às manifestações contra o governo bolivariano, responderá na Justiça pelas acusações de conspiração. Segundo a legislação venezuelana, se condenado, López pode pegar uma pena superior a 10 anos de prisão. Segundo o jornal El Universal, os advogados de López afirmaram que as autoridades não incluíram no processo os crimes de assassinato e terrorismo, que a Justiça havia imputado contra o opositor antes de sua rendição. A próxima etapa do trabalho da defesa será garantir um habeas corpus para o político responder às acusações em liberdade, informou o jornal El Nacional.
De acordo com o advogado de López, Juan Carlos Gutiérrez, a Justiça venezuelana não tem provas suficientes para manter o opositor preso antes do julgamento. “Ele permanece detido em uma prisão militar durante o desenrolar do processo, mas existe judicialmente uma grande possibilidade de que em 45 dias, quando terminar o processo de investigação da promotoria, o Ministério Público esteja absolutamente convencido de que López não cometeu nenhum delito. O chamado que ele fez esteve dentro dos parâmetros constitucionais”, disse Gutiérrez, em alusão ao fato de López, o diretor nacional do partido opositor Vontade Popular, ter convocado os jovens e descontentes com o governo de Maduro a se manifestarem nas ruas.
A defesa também declarou que “a privação de liberdade pode ser revisada por um tribunal de maior hierarquia e revogada”, uma vez que não há indícios que liguem López aos crimes descritos no processo. Com relação às condições da penitenciária em que o político se encontra, Gutiérrez disse que López está “em um estabelecimento fechado, com pouca iluminação e que não tem boas condições”. “Está em condições difíceis, mas ao menos sua vida e integridade estão resguardadas até certo ponto”, afirmou.
As tensões decorrentes da prisão de López e dos conflitos entre opositores e autoridades venezuelanas continuaram presentes nesta quinta-feira nas ruas do país. Para ampliar a repressão sobre os manifestantes, o governo anunciou que o porte de armas de fogo no estado de Táchira foi suspenso temporariamente. O Exército também foi deslocado para patrulhar as ruas, enquanto um novo contingente da Guarda Nacional será enviado para a região. Os confrontos durante os protestos resultaram até o momento na morte de cinco pessoas, incluindo a jovem Genésis Carmona, de 22 anos, eleita Miss Turismo de Carabobo no ano passado.
Nesta quinta-feira, o presidente americano Barack Obama também enviou um alerta para Maduro atender as reinvindicações dos manifestantes da oposição. O pronunciamento do democrata foi feito após o mandatário venezuelano expulsar três funcionários consulares dos Estados Unidos do país. “Ao invés de desviar a atenção de seus próprios fracassos expulsando diplomatas americanos com falsas acusações, o governo deveria se concentrar em atender as reivindicações legítimas do povo venezuelano”, afirmou Obama.
Por Reinaldo Azevedo
A reação hipócrita dos petistas à renúncia de Eduardo Azeredo
Se petistas fossem ao menos seres lógicos, já seria um avanço porque isso aumentaria, digamos assim, a humanidade da conversa. As falas estúpidas vão se multiplicando, inclusive por intermédio da Al Qaeda eletrônica nas redes sociais. Então vamos ver.
O senador Humberto Costa (PT-PE) diz que Eduardo Azeredo renunciou a seu mandato na Câmara “para evitar que o STF se posicione e para tirar o foco do PSDB”. É mesmo? Por quê?
Os petistas não são os primeiros a dizer que essa história de mensalão não tem a menor importância eleitoral? De certo modo, têm razão: Lula foi reeleito depois do escândalo, e Dilma se elegeu em 2010.
Irmão de José Genoino, o deputado federal José Guimarães (PT-CE) — aquele cujo assessor, um pobre-coitado, apareceu com a cueca recheada de reais e dólares — saiu-se com uma patacoada: “Era fundamental garantir a ele [Azeredo] a justiça que foi negada ao PT”.
Como é que é, doutor? Justiça negada ao PT? Então vamos ver:
1: se, antes do início do julgamento, todos os que detinham foro especial por prerrogativa de função tivessem renunciado, o processo não teria ficado no Supremo;
2: ocorre que os petistas e seus associados apostaram que tinham mais chances de absolvição no Supremo do que na Justiça comum;
3: quando se deram conta de que não era bem assim, já era tarde;
4: os petistas mantiveram o foro especial porque quiseram. João Paulo Cunha, por exemplo, não apenas fez questão de se candidatar a deputado como teve o topete de, réu em três crimes — corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro —, presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
5: com o julgamento já em andamento, o sr. José Genoino teve a cara de pau de assumir um mandato na Câmara e integrar também a… Comissão de Constituição e Justiça;
6: já condenados, decidiram fazer uma “vaquinha” na Internet para arrecadar dinheiro, debochando da Justiça;
7: De resto, independentemente das consequências, se o processo migrará ou não para a primeira instância, a renúncia é livre.
E encerro lembrando que, ainda que Azeredo tenha renunciado pensando na campanha de Aécio Neves à Presidência, melhor essa postura — mesmo ele se dizendo inocente — do que a daqueles que se orgulham de malfeitos já comprovados nos autos e que fazem praça dos crimes pelos quais já são condenados.
Por Reinaldo Azevedo
Uma manifestação antissemita do PSOL, com a ativa participação de Marcelo Freixo
Na coluna no Globo em que esculhambou “O Globo”, Caetano Veloso escreveu:“Gosto de Freixo não porque ele é do PSOL. Acho que gosto um tanto do PSOL por ele abrigar Freixo”. Entendi. Marcelo Freixo ajuda Caetano Veloso a fazer escolhas.
Eu ainda não conhecia este vídeo, que me foi enviado por um leitor.
Retomo
Está tudo ali, não? O tal Babá, candidato de Freixo a vereador, ajuda a queimar a bandeira de Israel em meio à gritaria militante. E Freixo aparece para meter as digitais nos atos.
Dadas as últimas manifestações do PSOL, não vejo nenhuma razão para que o partido não seja também antissemita. “Ah, não confunda a crítica a Israel com antissemitismo”, gritarão algumas polianas. Claro que não confundo. Os que criticam escolhas feitas por governos israelenses não queimam a bandeira do país.
Ódio, intolerância, violência.
Por Reinaldo Azevedo