Bateu o pânico – CCJ do Senado rejeita audiência com Tuma Junior

Publicado em 10/12/2013 07:19 e atualizado em 24/02/2014 17:02
por Reinaldo Azevedo, de veja.combr

Bateu o pânico – CCJ do Senado rejeita audiência com Tuma Junior

Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou nesta quarta-feira um requerimento de convite a Romeu Tuma Junior, secretário nacional de Justiça durante parte do governo Lula. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) queria que ele fosse ouvido a respeito das revelações de seu novo livro, “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”.  VEJA mostrou trechos do livro em que Tuma Junior revela, dentre outros fatos, o uso da máquina pública para montar dossiês contra adversários, o esquema de corrupção que motivou a morte do ex-prefeito de Santo André, o petista Celso Daniel, e a existência de uma conta criada nas Ilhas Cayman para movimentar recursos do mensalão.

 A base aliada se mobilizou pela derrubada do requerimento. “O Senado não cumpre um de seus deveres essenciais, que é o de fiscalizar o Executivo. As denúncias são da maior gravidade: o que se denuncia é a existência de um aparelho policial marginal na estrutura da administração federal”, criticou o senador Alvaro Dias, autor do requerimento, após a sessão. A gora, Dias quer fazer um convite extra-oficial para que Tuma Junior compareça ao Senado e fale a parlamentares interessados. Também nesta quarta, a base governista conseguiu o adiamento da votação de um convite a Tuma Junior na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. Com isso, o requerimento só voltará a ser analisado – se for – em 2014.

Por Reinaldo Azevedo

 

Governo manobra e adia audiência de Tuma Jr. na Câmara

Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
Em uma ação comandada pela base do governo, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados adiou a votação do pedido de audiência com o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. Agora, o depoimento de Tuma Jr. – se aprovado – só deverá ocorrer no ano que vem. A manobra governista também conseguiu transformar a convocação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, em um convite – o que, na prática, significa que ele prestará depoimento aos parlamentares apenas se quiser.

Conforme revelou VEJA, Tuma Junior afirma em seu livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, que chegará às livrarias nesta semana, que recebeu ordens enquanto esteve no cargo para “produzir e esquentar” dossiês contra adversários do governo Lula. Durante três anos, Tuma Junior comandou a Secretaria Nacional de Justiça, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos. Entre 2007 e 2010, período em que comandou a secretaria, o delegado testemunhou o funcionamento desse aparelho clandestino que usava as engrenagens oficiais do Estado para fustigar os adversários.

Nesta quarta-feira, a análise de três requerimentos de autoria dos partidos de oposição – DEM, PSDB e PPS – foi adiada por cinco sessões de votação em plenário – prazo que se encerra durante o recesso parlamentar. A manobra foi capitaneada pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), com forte respaldo da bancada do PT. “A base montou uma tropa de choque para blindar qualquer convocação”, disse Vanderlei Macris (PSDB-SP). “Nós não estamos tratando de um personagem marginal ao poder. Estamos tratando de alguém que ocupou um cargo importante, não podemos ignorar como se nada tivesse acontecido. Essa é uma oportunidade, inclusive, para o governo dar explicações”, afirmou Stepan Nercessian (PPS-RJ).

 Ainda nesta quarta-feira, outros pedidos de convocação de Carvalho e o convite a Tuma também deverão ser votados pela Comissão de Segurança Pública da Câmara.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aliado de Lula deixa claro: o PT tomou o lugar do povo

Gosto de palavras. Gosto de seu sentido. Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, é uma espécie de porta-voz informal de Lula. Também pertence ao núcleo duro do PT. Representa, ele sim, o PT lulista, que se quer autêntico, aquele de origem sindical. Muito bem. Ele concedeu uma entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha/Uol. Segundo disse, Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, cometeu um erro ao se lançar candidato agora. Acredita que deveria ter esperado 2018, quando, então, poderia ter o apoio do PT. Dá a entender que isso lhe foi oferecido. Disse ainda outra coisa espetacular. Já chego lá.

Sobre o PT apoiar Campos em 2018, dizer o quê? Vejam o que o petismo fez com Ciro Gomes. De voz nacional, virou, quando muito, e olhem lá, um quase-líder regional. Lula obrigou o rapaz a transferir seu domicílio eleitoral para a cidade de São Paulo para ser o candidato do PT à Prefeitura em 2008. Ciro pagou o mico. O PT lhe deu um pé no traseiro. Imaginar que o partido possa abrir mão do poder em favor de um aliado, especialmente se acha que pode vencer, é uma piada.

Ao especular a respeito, Marinho se trai de maneira espetacular e diz esta pérola, verdadeiramente antológica:
“Nós temos convicção de que em algum momento o PT terá que botar um partido aliado para governar o Brasil. Se nós queremos um projeto de longo prazo, nós temos que partilhar isso com os aliados.”

Leiam de novo. Não é que ele ache que, em algum momento, o PT poderá não estar muito bem, não ter o favorito, sendo obrigado a escolher um aliado; não é que ele ache que possa, eventualmente, surgir um nome mais capaz ou mais viável no terreno governista… Nada disso. Generoso, Marinho diz que “o PT terá de botar um partido aliado para governar o Brasil”.

Entendi. Quem “bota” é o partido — o outro nem mesmo se elegeria por seus méritos. Para Marinho, a verdadeira eleição para presidente não é aquela que tem o povo como colégio eleitoral, mas a que se faz no próprio partido.

O PT tomou o lugar da sociedade.

Por Reinaldo Azevedo

 

Tudo é história: um aniversário e a sala do sofá vermelho. Ou: O “ganso” de Romeu Tuma

Vejam esta outra foto. É de 1978, ano em que Romeu Tuma Jr. entrou na Polícia — ele se aposentou neste 2013, com 35 anos de serviço. Aparece perto do pai, que comemorava no Dops os seus 47 anos. A sala em que se apagam as velinhas, um anexo do gabinete de Tuma pai, tem história.

Ali ficava o sofá no qual Lula dormiu, segundo Tuma Jr., a maior parte dos dias em que esteve preso. Raramente dividia a cela com os demais “companheiros”. O delegado não está dizendo que o chefão petista era informante direto dos generais. Segundo afirma, ele era um “ganso” do chefe do Dops. “Ganso”, na gíria profissional, é aquele que serve para alertar a polícia sobre eventuais problemas, entendem?

Funcionava assim: Lula falava com Tuma, e Tuma falava com os generais.

A menos o sofá em que Lula expelia os humores do sono era vermelho.

Por Reinaldo Azevedo

 

Romeu Tuma Jr. e Lula em 1980: A FOTO

A primeira investida do aparelho midiático petista, financiado por estatais, foi afirmar que Romeu Tuma Jr. não tinha como saber o que se passava no Dops em 1980 porque seria ainda um jovem, com pouco mais de 16 anos. A tentativa de desqualificação se baseava numa informação errada, publicada na Wikipedia. Lá se informava que o delegado teria nascido no dia 4 de outubro de 1963. Ocorre que ele é do dia 13 de agosto de 1960 — prestou o chamado concurso IP/78, conforme este blog revelou nesta segunda. Também se falou de uma foto. Aqui está ela.

Em maio de 1980, na porta do Dops, Tuma Junior (de bigode, à direita na imagem) atua como guarda-costas de Lula (que aparece ao lado da mulher, Marisa). Romeu Tuma pai achava a tarefa tão importante e tinha tal zelo pessoal pela segurança do sindicalista que escalou o próprio filho. Era uma tarefa de absoluta confiança.

Segundo Tuma Junior (que escreveu, em parceria com Cláudio Tognolli, o livro “Assassinato de Reputações — Um Crime de Estado”), Lula era, para o regime militar, bem mais (ou bem menos, a depender do ponto de vista) do que um sindicalista rebelde: era um informante, que gozava de privilégios na prisão.

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula no camburão: o que diz a foto histórica quando analisada à luz do óbvio e sem mistificação

Vejam esta foto. Pensem sobre esta foto.

Luiz Inácio Lula da Silva (que, segundo Romeu Tuma Jr., era um “ganso” de seu pai — Romeu Tuma, o chefe do Dops) recebe pensão mensal do Estado brasileiro — do seu bolso, leitor! — por ter ficado preso por 31 dias em 1980; entre 19 de abril e 20 de maio. Razão: a greve dos metalúrgicos de São Bernardo.

É um absurdo haver um estado que prende um líder grevista só porque líder grevista? É claro que é. O Brasil ainda era uma ditadura. Ocorre que o PT havia sido oficialmente criado dois meses antes, no dia 10 de fevereiro daquele ano. E seu líder maior era… Lula! Logo, a greve dos metalúrgicos de 1980, em pleno regime militar, já era liderada por um… partido. E tudo aquilo parecia tão natural, não é? Afinal, havia a ditadura e coisa e tal…

Reflitam, então, sobre uma história que foge a qualquer narrativa ou lógica convencionais: um líder de partido político é preso por liderar uma greve. Na cadeia, felizmente, não é maltratado por ninguém. Ao contrário: começam a surgir evidências de que recebeu tratamento especial. Na foto 3 x 4, há um certo apelo ao mártir, admita-se.

Somem os algarismos que compõem o número de seu prontuário: 13 na cabeça! Os místicos podem fazer a festa. Vejam que coisa: Lula já tinha um partido, já estava fazendo política, pôs a greve a serviço, então, do que veio a se mostrar um futuro venturoso e ainda… cobra uma indenização mensal do estado brasileiro. Não estamos diante de uma história vulgar. Não mesmo!

A foto
Agora vejam a famosa foto do camburão, que costuma ser usada por seus hagiógrafos como evidência de seu brutal sofrimento. No banco da frente, sentado no meio, está Luiz Eduardo Greenhalgh, seu advogado. Lula, ele próprio, está atrás, ao lado da porta, fumando o seu cigarro. Mesmo que estivéssemos falando da mais tabajara das polícias, convenham, o preso não viaja como passageiro — num tempo em que os carros não tinham trava elétrica.

O Reinaldo está dizendo que essa foto prova que ele era mesmo um “ganso” de Tuma? Não. O Reinaldo está escrevendo que essa foto evidencia que ele era um preso diferenciado, tratado já com mesuras. Lula estava fazendo política — e, nesse particular, deve ter reconhecido seu mérito. O que é inaceitável é que, até hoje, cobre mensalmente uma grana do estado brasileiro como se tivesse sido uma vítima.

Não! Era o senhor do sindicato, do partido, do camburão, da sala do sofá vermelho. E veio a ser inimputável do Brasil!

Por Reinaldo Azevedo

 

O cadáver de Celso Daniel volta a incomodar Gilberto Carvalho

Carvalho: ele repudia a acusação e diz que processará Tuma Jr.

O ministro Gilberto Carvalho diz que vai processar o delegado Romeu Tuma Junior. Isso e lá com ele. Em entrevista à VEJA, Tuma Junior o acusa de ter confessado a existência, sim, de um propinoduto em Santo André — nota: Carvalho era o braço-direito do prefeito. Mais do que isso. O agora ministro teria dito ao delegado que ele, pessoalmente, levava a dinheirama para José Dirceu.

Não é a primeira vez que o nome do petista graúdo aparece na história. O oftalmologista João Francisco Daniel, um dos irmãos de Celso, diz que Carvalho lhe fez, sim, a confissão. E nos mesmos termos.  Marcos Valério também afirmou à polícia que foi convidado a dar um cala-boca, com grana, em pessoas que chantageavam Carvalho e Lula, ameaçando contar o que sabiam sobre a morte do prefeito. Segundo disse, não aceitou a tarefa. Acho que é mais uma questão a ser investigada. Já escrevi sobre o estranho comportamento dos petistas quando Celso foi assassinado.

Recuperem o noticiário de janeiro de 2002, por ocasião da morte do prefeito. Antes que qualquer pessoa aventasse publicamente a possibilidade de que o PT pudesse ter tido algum envolvimento, os petistas botaram a boca no trombone e saíram acusando a suposta tentativa de incriminar o partido, exigindo, em tom enérgico, que a polícia fizesse alguma coisa. Montou-se uma verdadeira operação de guerra para controlar o noticiário. No arquivo do blog, vocês encontram alguns textos a respeito. Celso foi o primeiro de uma impressionante série de oito cadáveres.

O prefeito morto era já o coordenador do programa de governo do então pré-candidato do PT à Presidência, Lula. O partido seria o primeiro a ter motivos para desconfiar de alguma motivação política para o sequestro e imediato assassinato. Deu-se, no entanto, o contrário: o partido praticamente exigia que a polícia declarasse que tudo não havia passado de crime comum.

Celso Daniel com Lula pouco antes de ser assassinado

O último morto, por causa desconhecida (!), foi o legista Carlos Delmonte Printes, que assegurou que Celso fora barbaramente torturado antes de ser assassinado. Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do PT que acompanhou o caso em nome do partido e teve acesso ao cadáver, assegurou à família do prefeito, no entanto, que não havia sinais de tortura. O fato é conhecido porque foi denunciado pelos familiares do morto.

Carvalho movimentou-se freneticamente logo depois da morte do “amigo” para que prevalecesse a versão do partido: crime comum. O esforço deixou um rastro de conversas gravadas que vieram a público. Tudo muito impressionante. Leiam, por exemplo, este diálogo em que Sérgio Sombra, acusado de ser um dos assassinos de Celso, entra em pânico e pede para falar com Carvalho. Alguém garante que está sendo montado “um esquema”. Sombra, no diálogo abaixo, é o “personagem A”.
A – Ô Dias!
B – Oi chefe!
A – Onde é que você está cara?
B – Tô na avenida (…). Eu tô saindo, to indo praí.
A – (…) Fala prá ligá nesse instante (…) Pará de fazer o que está fazendo.
B – Peraí, Peraí, Perai. Ei! Oi! Escuta o (…) Já está aí onde está todo mundo (…) Alô!
A – Ô meu irmão!
B – Cara cê está no sétimo?
A – Ô meu! O cara da Rede TV está me escrachando, meu chapa! Tá falando que… Tá falando que é tudo mentira, que o carro tá pegando, que não destrava a porta, que sou o principal suspeito.
B – Ô cara! Deixa eu te falar. O que hoje tá pegando contra você é esse negócio do carro. Nós temos que fazer é armar um esquema aí: “porque as empresas de (…) junto com a Mitsubishi, por razões óbvias de mercado, se juntaram para dizer que você está mentindo, que o câmbio está funcionando”…Entendeu? Então é o seguinte…
A – Peraí. Perai, péra um pouquinho.
B – (…) Pô! Pegá o que Porra?
A – Chama o Gilberto aí! Chama o Gilberto! Tem que armar alguma coisa!
B – Calma!
A- Eu tô calmo. Quero é que as coisas sejam resolvidas.

Outro diálogo: “Puta! Tá dez!”
Há outro diálogo bastante interessante. Alguém liga para Ivone, tornada pelo partido a “viúva oficial” de Celso — consta que era sua “namorada” à época… E lhe dá nota dez por sua performance como “viúva” numa entrevista. Vocês entenderam direito. Leiam. Ivone é a personagem B.
A – Oi!
B – Oi meu amor. O Xande quer falar com você. Tá bom?
A – Ok.
B – Tchau.
C – Como vai minha querida?
B – Vou assim. Arrastando.
C – Ótima a sua entrevista! Viu?
B – Você gostou Xande?
C – Eu gostei muito mesmo.
B – É importante a sua opinião pra mim porque estou totalmente sem referência. Né?
C – Eu achei muita boa. Entendeu. Tá super. Tem coisas… tá perfeito!
(…)
B – Hoje tem uma coisa. Programa pra ir na Hebe.
A – É. Porque vai a mulher… a viúva do Toninho.
B – Sabe que o Genoino quer. E é uma merda, né? Uma merda!
A – Olha. Se você falar o que falou ai está 10. Puta! Tá 10, não parece estrela, a dor de uma viúva. Tá dez!

Como se nota, a morte do “companheiro” havia se transformado apenas numa questão de marketing e de guerra para ganhar a “mídia”. Com direito a nota pela performance da, sei lá como chamar, “atriz” talvez.

João Francisco: Carvalho lhe teria contado tudo

Bruno: até irmão de esquerda teve de sumir

Retomo
Já lhes contei aqui. Mesmo a ala petista da família Daniel rompeu com o PT. Um dos irmãos, Bruno, teve de se exilar na França com mulher e filhos. Estavam sendo ameaçados de morte no Brasil. Vale a pena, reitero, por curiosidade quase científica, voltar ao noticiário daqueles dias para constatar a frenética movimentação preventiva do partido, certo de que poderia conduzir para onde quisesse a opinião pública. Passada uma semana, quem estava na defensiva era a polícia paulista… Agora, a acusação de Tuma Junior se junta às de João Francisco e Marcos Valério.

Uma coisa é certa: o cadáver de Celso Daniel volta a se agitar no armário.

PS – Por favor, nada de acusações ou ilações além dos fatos nos comentários. O certo é pedir que tudo seja devidamente apurado. E pronto!

Texto publicado originalmente às 3h09

Por Reinaldo Azevedo

 

Tuma Jr. nasceu em 1960, não em 1963, e já era policial em 1980, ano em que Lula foi preso; em foto, ele aparece escoltando o petista no Dops. Ou: Quanto ao denunciante, vamos aos fatos. Só aos fatos

Comecei a receber uma enxurrada de comentários — não de comentaristas; já explico — cobrando-me por tudo o que já publiquei neste blog sobre o delegado Romeu Tuma Junior. Os preclaros estariam apontando a minha suposta incoerência. Ai, ai… Só sou imodesto numa coisa: tenho a melhor memória que conheço. Sei muito bem o que publiquei. E até farei um pequeno mea-culpa, mas não aquele que os petralhas esperam. Ah, sim: por que é “enxurrada de comentários, não de comentaristas”? Porque chegam grupos de 10, 15, 20 postagens com o mesmo IP. Vale dizer: é a mesma meia dúzia de petralhas assumindo identidades diferentes: ora entram como asnos, ora como zebras, ora como antas… Que coisa chata! Não façam isso! O procedimento funciona naqueles blogs financiados por estatais. Aqui não! Há mecanismos para identificar picaretagem. Mas isso tudo é o de menos. Atenção para os fatos:

1 – Tuma Junior não nasceu no dia 4 de outubro de 1963, como informa a Wikipedia, mas no dia 13 de agosto de 1960. Assim, em 1980, quando Lula foi preso, ele tinha 20 anos. Quem nasceu em 4 de outubro foi seu pai, Romeu Tuma;
2 – assim, em 1980, quando Lula foi preso, Tuma Junior tinha 20 anos e estava na Polícia havia dois. Ele prestou o concurso para investigador IP1/78 (o “78” é o ano);
3 – acalmem-se os mais ansiosos: quando o livro chegar às mãos dos leitores, há lá uma foto de Tuma Junior escoltando Lula no Dops.
4 – Tuma Junior se aposentou na Polícia neste ano, com 35 anos de serviço: 2013 – 35 = 1978.

Por que isso ganhou relevância? O delegado — que escreveu o livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado” — diz que Lula foi, na verdade, um informante de seu pai, Romeu Tuma, então chefe do Dops. Estão alegando por aí que ele não teria como saber disso porque, supostamente nascido em 1963, não teria nem feito 17 anos à época e não poderia estar na Polícia. Bem, em primeiro lugar, convenham, dá para saber muita coisa com essa idade e mesmo fora do aparelho policial. Ocorre que Tuma Junior tinha 20 e já havia prestado concurso e sido aprovado. Pois é…

Antes mesmo que se conheçam mais detalhes do livro, começou o trabalho de desqualificação do denunciante, uma prática que o ministro Gilberto Carvalho diz ser muito feia. Feíssima. Segundo ele, é preciso que se preste atenção ao que está sendo denunciado. Como Carvalho diz ser essa uma regra válida para os adversários do PT, suponho que também valha para o petismo.

Sim, noticiei algumas coisas sobre Tuma Junior no clipping e escrevi textos. Como sabe o delegado, eu não ganhava nada nem antes nem agora. Costumo ter o mau hábito de tratar aqui do que é notícia. É claro que a “ética” dos que estão a serviço do petralhismo é outra: antes, quando não recebiam de estatais, eram todos inimigos do partido; agora, viraram lulo-petistas fanáticos.

Essa gritaria é só cortina de fumaça pata tentar impedir a apuração das denúncias. Quanto a Tuma Junior, cabe-me, sim, um mea-culpa — mas não só a mim. Talvez fosse conveniente que a totalidade da imprensa o fizesse no caso. Por quê? Prestem atenção:

FATO UM – A Comissão de Ética Pública da Presidência da República concluiu que nada havia contra ele (veja documento);

FATO DOIS – A sindicância feita pelo Ministério da Justiça concluiu que nada havia contra ele (veja documento);

FATO TRÊS – Inquéritos da PF — houve mais de um pelo mesmo fato — foram arquivados sem resultar em indiciamento. E olhem que ele já era um maldito;

FATO QUATRO – O Ministério Público nunca ofereceu denúncia sobre nada;

FATO CINCO – Uma acusação de improbidade administrativa por conta de uma apreensão de dólares no aeroporto de Cumbica foi arquivada pelo Ministério Público por falta de evidência de que se tivesse cometido algum crime.

Qual é o mea-culpa? Eu explico. Nem eu e, até onde sei, quase ninguém (e escrevo o “quase” para a hipótese de que alguém o tenha feito) noticiamos os FATOS — apenas fatos — que eram favoráveis a ele. Vejam aqui o que diz a Comissão de Ética Pública.

Agora vejam o resultado da sindicância do Ministério da Justiça.

Estão querendo debater lateralidades. A questão central é outra. Tuma Junior está denunciando uma máquina incrustada no aparelho estatal para produzir dossiês contra adversários políticos. O ministro José Eduardo Cardozo não tem saída. Tão logo compre o seu exemplar na livraria, está obrigado a enviar o material para a Polícia Federal e cobrar: “Investigue-se tudo!”. Se ele faz isso com denúncia anônima, por que não o faria com aquela que vem com assinatura? Mais: Tuma Junior aceita falar às instâncias pertinentes do Congresso.

Por que o pânico?

Parece haver certo pânico no petismo com essa história. Que o partido sempre recorreu a práticas policialescas para perseguir adversários, convenham, não é novidade. Quem não se lembra do dossiê dos aloprados, por exemplo? Ocorre que Tuma Junior acusa em seu livro algo bem mais grave: trata-se da mobilização da máquina do estado para perseguir adversários, que é rigorosamente o que se faz nos chamados estados bolivarianos: criminaliza-se a divergência para que a perseguição política passe como um caso de polícia.

Finalmente:
1: não fui eu quem nomeou Tuma Junior secretário nacional de Justiça; foi Lula!
2: não fui eu quem disse que ele nada devia quanto à questão ética: foi a comissão do governo… Lula!
3: não fui eu quem atestou a sua idoneidade, mas o Ministério da Justiça do governo… Lula!

O que estão a sugerir os paus-mandados no petismo, financiados por estatais? Que não se deve confiar em Lula, na Comissão de Ética de Lula e no Ministério da Justiça de Lula?

Texto publicado originalmente às 2h04

Por Reinaldo Azevedo

 

A “Comissão da Verdade” vai apurar se Lula colaborou com a ditadura? Ou ainda: E agora José Eduardo Cardozo? A denúncia de Tuma Júnior não é nem anônima nem apócrifa. O ministro vai ou não mandar investigar?

Lula é carregado pelos companheiros em 1979: segundo Tuma Junior, o “Barba” era informante de Romeu Tuma

Os petistas e a rede petralha na Internet tentam reagir ao livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado” (Editora Topbooks), que traz o longo depoimento do delegado Romeu Tuma Junior ao jornalista Claudio Tognolli. A ordem que emana da cúpula do partido e chega à Al Qaeda Eletrônica é desmoralizar o denunciante, lembrando que ele foi acusado de envolvimento com a máfia chinesa em São Paulo. Já chego lá. Há duas coisas no livro que incomodam os petistas: uma tem um peso, digamos, moral e pode contribuir para jogar ainda mais luzes nas origens do PT. A outra tem a ver com o presente e revela o modo como o PT entende o exercício do poder.

No livro, Tuma Junior diz ter a convicção de que Luiz Inácio Lula da Silva foi um informante de Romeu Tuma, então chefe do Dops, lá no fim dos anos 1970, quando apenas líder sindical. Não é a primeira vez que a, como vamos chamar?, intimidade de petista com o regime militar é posta em debate. O delegado sugere que a colaboração tenha deixado rastro e dá uma dica: que se procurem as contribuições de um certo “Barba” com os órgãos de repressão. A esta altura, ninguém com um mínimo de honestidade intelectual pode ignorar que parte considerável do establishment militar via com bons olhos a emergência política do tal “sindicalista” porque avaliava — e com razão neste particular — que sua ascensão enfraqueceria os líderes pré-64 que voltaram ao Brasil com a aprovação da Lei da Anistia. Nesse sentido, a escrita se cumpriu. O petismo exilou Leonel Brizola no Rio de Janeiro e Miguel Arraes em Pernambuco. É inegável que Lula cumpriu o desígnio de quebrar as pernas dos antigos líderes populistas, que encontraram um novo Brasil ao voltar ao país.

O Lula “colaboracionista”, pois, é um dado da própria equação. Ainda que seus propósitos fossem os mais, digamos, puros — criar um partido só de trabalhadores —, a verdade inegável é que sua liderança rompia duas pretensões de unidade: a) a unidade da oposição defendida pelo MDB; b) a unidade das esquerdas, que Brizola tinha a ambição de liderar. E aquilo era música para os estrategistas da transição, especialmente o general Golbery do Couto e Silva. Eu era um fedelho, militante da Convergência Socialista, e me lembro bem como a extrema esquerda lia, então, a questão:
a: Lula era considerado um nosso aliado contra a “frente burguesa” que pretendia se apresentar como “falsa alternativa” (era o que achávamos então) ao regime;
b: Lula era considerado um nosso aliado contra a “falsa esquerda”, que considerávamos não marxista (e era mesmo!), que vinha do exílio com pretensões de liderar as massas, o que repudiávamos;
c: Lula era considerado um nosso aliado APENAS ESTRATÉGICO, já que julgávamos que ele não passava de um reformista, com sérios “desvios de direita”, interessado apenas em reformar o capitalismo;
d: a extrema esquerda entendia que fortalecer Lula era importante, para que pudesse ser descartado mais tarde.

Bem, meninos, é desnecessário dizer que Lula jantou os militares, o MDB, Brizola, Arraes e a extrema esquerda… Reproduziu na política a sua carreira no sindicato, conforme demonstrou José Nêumanne Pinto no livro “O que sei de Lula”. Também ali se acercou do poder pelas beiradas, fez acordos com os pragmáticos, tomou o poder e deu um pé no traseiro das velhas lideranças.

Foi além
Tuma Junior, na entrevista concedida à VEJA na edição desta semana e, consta, no livro (ainda não li), sugere muito mais do que uma colaboração mediada pela história. Ele fala é de outra coisa: é de ação coordenada com o regime, combinada mesmo. Cumpre investigar, não como quem procura um crime, mas como quem busca a verdade. Eu já ouvi de um ex-alto executivo da Villares e de um ex-membro do então chamado “Grupo 14”, da Fiesp, que o então grande sindicalista e herói das massas e da imprensa negociava com os patrões até as propostas que seriam recusadas. Fazia parte do show.

Bem, o Brasil tem uma “Comissão da Verdade”, não é mesmo? Que tal chamar o “companheiro” para depor — depois, claro, de uma minuciosa investigação dos arquivos?

De volta ao presente
Se Lula foi ou não uma espécie de dedo-duro a serviço da ditadura é matéria de interesse histórico. A questão pode doer na reputação do petismo, mas não se tem muito além disso. O outro pilar do livro de Tuma Júnior é, sim, muito grave. O delegado diz estar disposto a demonstrar que, na Secretaria Nacional da Justiça, foi instado a dar curso a dossiês fabricados pelo petismo contra seus adversários. E cita uma penca de casos (leia post). Mais: assim como perseguia adversários, protegia o PT ao não dar curso a investigações que poderiam comprometer o partido.

A Al Qaeda eletrônica, a rede petralha, já começou o trabalho de desqualificação do denunciante. Alguns bobinhos enviaram mensagens para cá apontando que eu mesmo publiquei posts sobre a demissão de delegado, por conta da sua suposta ligação com a tal máfia chinesa… Sim, publiquei. E daí? Pra começo de conversa, foi Lula quem decidiu nomear Tuma Junior para a Secretaria Nacional de Justiça. Não fui eu, não foram os opositores do PT, não foram os inimigos do partido. Justamente porque não tenho nenhuma vinculação com o delegado, publico o que penso ser relevante. Antes e agora.

E me parece relevante que alguém escolhido pelo próprio PT para um cargo tão importante venha a público revelar as muitas vezes em que foi instado a desrespeitar a lei para atender a uma demanda política — coisa que ele diz não ter feito. Quer dizer que Tuma Junior é um desclassificado, alguém a ser ignorado, mas era bom o bastante para permanecer três anos à frente da Secretaria Nacional de Justiça?

O fedor do estado policial – Na Câmara, ele disse que manda investigar tudo. E agora? Denúncia, desta vez, tem assinatura

Não há como: alguém com nome e endereço, que esteve na cúpula do Ministério da Justiça, acusa uma ação coordenada de um partido com órgãos do estado para perseguir adversários políticos. Nos depoimentos dados ao Senado e à Câmara, Jose Eduardo Cardozo afirmou que seu papel é encaminhar as denúncias que recebe, mesmo as anônimas, à Polícia Federal. Pois bem: a acusação de agora anônima não é. Tem assinatura. E Tuma Junior já disse que quer falar.

E nesse caso? O que fará o ministro da Justiça? Cumpre lembrar que, na lista dos dossiês que os petistas queriam pôr para circular, está justamente a suposta formação de cartel para a compra de trens em São Paulo. Se papeluchos sem assinatura, supostamente deixados na casa de Cardozo por um deputado do PT, bastam para que a PF passe a fazer uma investigação, como agirá o ministro com acusações que têm assinatura?

Os petistas acham que Tuma Junior não é de confiança? Não é da confiança de quem, cara-pálida? De Lula e da cúpula do Ministério da Justiça, pelo visto, ele era. Tanto que foi nomeado para o cargo de secretário nacional da Justiça. Agora, ele decidiu contar o que diz ter visto, ouvido e vivido. E afirma ter como provar as acusações que faz. O mínimo que se pode esperar é que seja convocado para depor na Câmara. 

Acusando a imprensa de não dar a devida atenção à questão do cartel de trens — é mentira, como se sabe —, afirmou Gilberto Carvalho: “Tirando o (jornal) O Estado de S. Paulo, não se pergunta pelo crime, se recrimina o acusador”.Muito bem: por que a rede petralha não segue o conselho de Carvalho? Ora, pare de ficar recriminando o acusador e passe a se preocupar com os crimes que ele aponta. Tuma Junior, diga-se, mira também no próprio Carvalho, que lhe teria confessado que havia mesmo um esquema de desvio de dinheiro em Santo André, questão que estaria na raiz do assassinato de Celso Daniel. O ministro diz que vai processar o delegado.

Tuma Junior não era só um datilógrafo do Ministério da Justiça que agora diz ter ouvido coisas. Não! Ele ocupava um cargo central na pasta e afirma ser testemunha da forma como atua a máquina petista de moer a reputação dos adversários, seguindo aquela que, há muito tempo, digo ser a máxima do partido: “Aos amigos, tudo, menos a lei; aos inimigos, nada, nem a lei”.

Texto publicado originalmente às 2h13

Por Reinaldo Azevedo

 

O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os detalhes do estado policial petista. Partido usa o governo para divulgar dossiês apócrifos e perseguir adversários. Caso dos trens em SP estava na lista. Ele tem documentos e quer falar no Congresso. Mais: diz que Lula foi informante da ditadura, e o contato era seu pai, então chefe do Dops

Romeu Tuma Junior conta como funciona o estado policial petista

O “estado policial petista” não é uma invenção de paranoicos, de antipetistas militantes, de reacionários que babam na gravata dos privilégios e que atuam contra os interesses do povo. Não! O “estado policial petista” reúne as características de todas as máquinas de perseguição e difamação do gênero: o grupo que está no poder se apropria dos aparelhos institucionais de investigação de crimes e de repressão ao malfeito — que, nas democracias, estão submetidos aos limites da lei — e os coloca a seu próprio serviço. A estrutura estatal passa a servir, então, à perseguição dos adversários. Querem um exemplo? Vejam o que se passa com a apuração da eventual formação de cartel na compra de trens para a CPTM e o metrô em São Paulo. A questão não só pode como deve ser investigada, mas não do modo como estão agindo o Cade e a PF, sob o comando de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. As sentenças condenatórias estão sendo expedidas por intermédio de vazamentos para a imprensa. Pior: as mesmas empresas investigadas em São Paulo se ocuparam das mesmas práticas na relação com o governo federal. Nesse caso, não há investigação nenhuma. Escrevi a respeito nesta sexta.

Quando se anuncia que o PT criou um estado policial, convenham, não se está a dizer nenhuma novidade. Nunca, no entanto, alguém que conhece por dentro a máquina do governo havia tido a coragem de vir a público para relatar em detalhes como funciona o esquema. Romeu Tuma Junior, filho de Romeu Tuma e secretário nacional de Justiça do governo Lula entre 2007 e 2010, rompe o silêncio e conta tudo no livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, publicado pela Editora Topbooks (557 págs., R$ 69.90). O trabalho resulta de um depoimento prestado ao longo de dois anos ao jornalista Cláudio Tognolli. O que vai ali é de assustar. Segundo Tuma Junior, a máquina petista:
1: produz e manda investigar dossiês apócrifos contra adversários políticos;
2: procura proteger os aliados.

O livro tem um teor explosivo sobre o presente e o passado recente do Brasil, mas também sobre uma história um pouco mais antiga. O delegado assegura que o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva — que nunca negou ter uma relação de amizade com Romeu Tuma — foi informante da ditadura. A VEJA desta semana traz uma reportagem sobre o livro e uma entrevista com o ex-secretário nacional da Justiça. Ele estava lá. Ele viu. Ele tem documentos e diz que está disposto a falar a respeito no Congresso. O delegado é explícito: Tarso Genro, então ministro da Justiça, o pressionou a divulgar dados de dossiês apócrifos contra tucanos. Mais: diz que a pressão vinha de todo lado, também da Casa Civil. A titular da pasta era a agora presidente da República, Dilma Rousseff.

Segue um trecho da reportagem de Robson Bonin na VEJA desta semana. Volto depois.
(…)
Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que sio considerados inimigos.
(…)
Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial. Depois, alguém dava urna dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação existia, mas dizia que ela era sigilosa e ele não poderia fornecer os detalhes. O investigado”, é claro, negava tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre agem da mesma forma. 0 estrago, porém, já estará feito.

No livro, o autor apresenta documentos inéditos de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele reuniu para comprovar a existência de uma “fábrica de dossiês” no coração do Ministério da Justiça. Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Senador época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando revelou a imprensa que tinha avisado Lula da existência do mensalão. 0 autor conta que em 2010 o então ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, entregou em suas mãos um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano. As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir urna investigação formal. 0 trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente Lula. Contrariado, Tuma Junior refutou a “missão” e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não impediu novas investidas.
(…)

Celso Daniel, trens, mensalão…
Vejam o que vai acima em destaque. Qualquer semelhança com os casos Alstom e Siemens, em São Paulo, não é mera coincidência. O livro traz revelações perturbadoras sobre:
a: o caso do cartel de trens em São Paulo:
b: o dossiê para incriminar Perillo;
c: o dossiê para incriminar Tasso Jereissati (com pressão de Aloizio Mercadante);
d: a armação para manchar a reputação de Ruth Cardozo;
e: o assassinato do petista Celso Daniel, prefeito de Santo André;
f: o grampo no STF (todos os ministros foram grampeados, diz Tuma Junior);
g: a conta do mensalão nas Ilhas Cayman…

E muito mais. Tuma Júnior está com documentos. Tuma Junior quer falar no Congresso. Tuma Junior tem de ser ouvido. Abaixo, seguem trechos de sua entrevista à VEJA.

(…)
Por que Assassinato de Reputações?
Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida. Mas sempre me recusei. (…) Havia uma fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês fajutos que chegaram até mim. Por causa disso, virei vítima dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram minha reputação. Mas eu sempre digo: não se vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é a minha honra.

De onde vinham as ordens para atacar os adversários do PT?
Do Palácio do Planalto, da Casa Civil, do próprio Ministério da Justiça… No livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos. Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores petistas que hoje são figuras importantes no atual governo. Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado a minha reputação, o que foi feito de forma sórdida. Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei.
(…)

O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?
Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008, o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça para atingir os tucanos na eleição municipal. O ministro da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.

O senhor é afirmativo quando fala do caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos no crime.
Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André e não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.
(…)

O senhor também diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior.
Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.
(…)

O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante da ditadura. É uma acusação muito grave.
Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar que a confiança que o presidente tinha em mim no governo, quando me nomeou secretário nacional de Justiça, não vinha do nada. Era de muito tempo. 0 Lula era informante do meu pai no Dops (veja o quadro ao lado).

O senhor tem provas disso?
Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba.
(…)

Encerro
Encerro por ora. É claro que ainda voltarei ao tema. Tuma Junior estava lá dentro. Tuma Junior viu e ouviu. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer que o delegado preste depoimento à Câmara sobre o que sabe.

O estado policial petista tem de parar. E parte da imprensa precisa deixar de ser o seu braço operativo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Oba! Já temos um aperto de mão para ser chamado de “histórico”… Ou: Cuidado com a má poesia, jornalistas!

O bom da vida é haver visões diversas de mundo, não é? Eu estou entre os que acham isso. Raúl Castro, ditador de Cuba, entre os que pensam o contrário. Para ele, o bom é haver quem pense “certo”… Na cerimônia fúnebre de Mandela — em que ambos discursaram, além de Dilma e mais três —, Barack Obama, presidente dos EUA, apertou a mão de Raúl. Isso está sendo visto, assim, como um aperto de mãos entre Aquiles e Heitor… Há, assim, um certo esforço para que o gesto seja visto como o “jeito Mandela” de ser. A Obama cabia cumprimentar os que discursavam na cerimônia — e, obviamente, não tinha como ignorar o ditador.

Se me perguntassem quais são os males a que deve resistir o jornalismo, cito os três mais importantes:
a) fazer justiça com o próprio teclado;
b) achar que o mais fraco está sempre certo;
c) ceder à poesia barata.

Para o estilo, o terceiro é o mais devastador; para as ideias e a verdade possível, os outros dois.

Se é para fazer poesia, então vamos subir o degrau; vamos lá para o alto. Vejam este espetáculo da lavra de Mário Faustino sobre a união dos contrários:

ESTAVA LÁ AQUILES, QUE ABRAÇAVA
Estava lá Aquiles, que abraçava
Enfim Heitor, secreto personagem
Do sonho que na tenda o torturava;
Estava lá Saul, tendo por pajem
Davi, que ao som da cítara cantava;
E estavam lá seteiros que pensavam
Sebastião e as chagas que o mataram.
Nesse jardim, quantos as mãos deixavam
Levar aos lábios que os atraiçoaram!
Era a cidade exata, aberta, clara:
Estava lá o arcanjo incendiado
Sentado aos pés de quem desafiara;
E estava lá um deus crucificado
Beijando uma vez mais o enforcado.

Encerro
Sou favorável, leitor, a que se recorra à boa poesia para tornar o mundo menos ordinário. Em tempo: o aperto de mão é “histórico”, claro!, como tudo o que o Obama faz. Ainda que a história possa vir, se vier, depois…

Por Reinaldo Azevedo

 

Oposição também quer ouvir Gilberto Carvalho sobre livro de Tuma Jr.

Por Marcela Mattos e Gabriel Castro, na VEJA.com:
Além do esforço para levar o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior ao Congresso para dar mais detalhes sobre as afirmações feitas em seu livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”, a oposição também quer que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, preste depoimento sobre as revelações de um esquema orquestrado para “produzir e esquentar” dossiês contra adversários do governo Lula, conforme revelou VEJA esta semana.

Nesta segunda-feira, o DEM protocolou requerimento convocando Carvalho para comparecer em duas comissões da Câmara dos Deputados: Segurança Pública e Fiscalização Financeira e Controle. A expectativa é que a proposta seja votada na próxima quarta-feira. Se aprovada, por ser uma convocação e não um convite –, o ministro não pode se recusar a prestar esclarecimentos aos parlamentares.

Segundo Tuma Junior narra em seu livro, em 2010, o então chefe de gabinete de Lula encomendou uma investigação contra o ex-senador e atual governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, após o surgimento de um documento apócrifo que afirmava a existência de contas no exterior em nome do tucano. Também esteve na mira da “fábrica de dossiês” petista o então senador Tasso Jereissati (CE).

“A par das medidas particulares que possam ser adotadas pelo ministro, faz-se necessária sua oitiva, vez que estão em jogo denúncias contra órgãos estatais, que estariam prevaricando em investigações a cabo do Ministério da Justiça”, afirmou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), no requerimento. “Vê-se também que recursos públicos podem ter sido desviados para paraísos fiscais, o que demandaria uma atuação tempestiva dos órgãos estatais, o que, nos parece, não ocorreu”, continuou, referindo-se a uma conta criada nas Ilhas Cayman, no Caribe, para guardar dinheiro desviado no esquema do mensalão.

Senado
Tuma Junior também deve ser ouvido no Senado. Em requerimento apresentado nesta segunda-feira com o convite para audiência na Comissão de Constituição e Justiça, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) cita as revelações de que o Ministério da Justiça foi utilizado para produzir dossiês contra adversários políticos do PT. “São revelações que mostram a apropriação da máquina do Estado por um grupo que a coloca a seu próprio serviço”, diz o senador, no pedido. A expectativa do tucano é de que o requerimento seja votado ainda nesta semana.

Por Reinaldo Azevedo

 

Comissão de Ética cobra explicações de José Eduardo Cardozo

A Comissão de Ética da Presidência da República decidiu pedir nesta segunda-feira explicações sobre a atuação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no caso da investigação da formação de cartel na compra de trens em São Paulo. Vamos entender esse negócio.

Se a comissão acha que a atuação é absolutamente regular, descarta de início qualquer iniciativa, mesmo um pedido de explicações. Se avalia que, aparentemente ao menos, há algo de estranho ou irregular, cobra a explicação — que pode ou não ser considerada satisfatória. Se não for, há uma espécie de advertência, que tem um peso, digamos, moral. A comissão não pune ninguém. Vinícius de Carvalho, presidente do Cade, já foi advertido por ter omitido as suas óbvias relações com o deputado Simão Pedro.

Por que Cardozo, quando menos, deve explicações — e explicações, avalio eu, sobre o inexplicável? Segundo ele próprio diz, foi ele quem entregou para a PF os três documentos, todos sem assinatura, que fazem pesadas acusações contra os tucanos. O ministro diz estar apenas cumprindo a sua obrigação. É? O ministro envia à PF toda denúncia anônima que chega às suas mãos? Ora…

A partir deste fim de semana, as coisas se complicaram. Segundo o delegado Romeu Tuma Júnior, o caso do cartel de trens compõe um dos dossiês montados pelos petistas para atingir a oposição. É o que está escrito no livro “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado”. Pergunta óbvia: o ministro mandará à Polícia Federal o livro escrito por Tuma Júnior, que agora faz uma denúncia com assinatura?

Por Reinaldo Azevedo

 

O livro de Romeu Tuma Júnior em comentário na Jovem Pan

Clique aqui para ouvir o comentário de hoje na Jovem Pan sobre o livro do delegado Romeu Tuma Júnior.

Por Reinaldo Azevedo

 

Programa Primeiro Emprego – Eles querem pôr Dirceu no bom caminho: tijolo por tijolo num desenho lógico

Presidiários em ação: tijolo por tijolo num desejo lógico, como diria aquele… (Foto: Cristiano Mariz)

Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
“Aqui nós não vamos discriminar ninguém. Vimos neles a situação de pessoas que cometeram erros e estamos aqui para lhes dar novas oportunidades. A nossa função é somar”. A declaração é de Fernando de Figueiredo, coordenador da Cooperativa Sonho de Liberdade, entidade que oferece trabalho para presidiários em regime semiaberto no Distrito Federal. Ex-detento, Figueiredo conhece bem a rotina que os condenados no julgamento do mensalão cumprem no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, mas reprova a tentativa do mais ilustre dos mensaleiros encarcerados, o ex-ministro José Dirceu, de ser contratado como gerente de hotel, com salário de 20 000 reais mensais: “Vinte mil reais é o que eu pago para vinte funcionários. Se forem para um emprego bom, fica difícil mudar de vida. Vão continuar na mesma situação de regalias. Aqui são todos iguais”.

Criada em 2005, mesmo ano em que o Brasil descobriu o maior esquema de corrupção já arquitetado no coração de um governo, a cooperativa hoje emprega 80 trabalhadores, metade deles presos por crimes como tráfico de drogas, homicídio e roubo. Fica numa área de cinco hectares – 50 000 metros² – na Cidade Estrutural, vizinha a um lixão, numa região pobre do Distrito Federal – água encanada e energia elétrica são conquistas recentes. O espaço é dividido em núcleos de serviços: a marcenaria e a confecção de bolas de futebol fica em um espaço de madeira e chão de cimento queimado. Um lamaçal, repleto de cachorros, separa os galpões.

Na última quinta-feira, a Sonho de Liberdade encaminhou à Justiça propostas de emprego para o trio petista formado por Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino – este provisoriamente em prisão domiciliar por problemas de saúde. Ao contrário do que pleiteavam Dirceu e Delúbio, que quer dar expediente na Central única dos Trabalhadores (CUT), com salário de 4 500 reais mensais, a cooperativa apresentou uma oferta de trabalho nos moldes daquela enfrentada pela grande maioria dos detentos do país que conseguiram autorização judicial para deixar o presídio durante o dia e retornar no período noturno. O salário é pago de acordo com a produtividade e corresponde a cerca de um salário mínimo. A cooperativa oferece café da manhã e um lanche à tarde – o almoço custa de 5 reais a 7 reais. O deslocamento, da Papuda até o local de trabalho, é feito por conta do detento, mas os agentes de segurança checam o comparecimento.

A Lei de Execução Penal prevê a possibilidade de trabalho externo para condenados que cumprem pena no regime semiaberto, mas sair do presídio durante o dia não é direito automático, como a defesa de Dirceu, por exemplo, sustentou. O condenado tem de apresentar uma carta com a proposta de emprego e, na sequência, um grupo de assistentes sociais analisará o local de trabalho e a possibilidade de as atividades auxiliarem na ressocialização do condenado. Segundo o artigo 37 da Lei de Execução Penal, o trabalho externo só é autorizado quando o condenado tiver cumprido, no mínimo, um sexto da pena, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem jurisprudência que autoriza o trabalho independentemente deste tempo transcorrido. O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, tem decisões em sentido contrário, exigindo a comprovação de cumprimento prévio de parte da sentença. A cada três dias de trabalho, o preso tem direito a redução de um dia da pena. Na cooperativa Sonho de Liberdade, os trabalhadores mais antigos já conseguiram abater um ano de pena.

Além dos petistas, a cooperativa também estendeu o convite aos demais detentos do mensalão. Uma empresa de engenharia enxergou no ex-tesoureiro do extinto PL (hoje PR), Jacinto Lamas, habilidade para trabalhar como gerente administrativo, para ganhar 1 200 reais. Já o ex-deputado Romeu Queiroz quer atuar em seu próprio empreendimento, a RQ Participações S/A.

Expertise
A cooperativa informa que a oferta de emprego aos mensaleiros foi feita com base na experiência do trio. Para Dirceu, foi oferecido um cargo de administrador do setor que fabrica materiais de concreto, como manilhas e blocos de cimentos. Assim como os demais trabalhadores, o líder petista teria de usar uniforme (uma vestimenta azul), luvas e botas. E, mesmo na função de coordenador, não escaparia do trabalho pesado: “Aqui eu recebo as encomendas, coordeno a produção e resolvo todos os problemas. Mas sempre acabo me juntando ao resto do pessoal. Se o Dirceu vier, vai suar, vai andar na lama como todo mundo”, diz o encarregado-geral, Francisco César Lima, de 47 anos.

O valor cobrado por cada peça montada varia de 0,60 centavos a 5 reais. Metade do lucro fica para a cooperativa. O resto é dividido entre os demais funcionários e chega a render até 1 000 reais por mês para cada um.

Já ao ex-presidente do PT José Genoino a proposta foi ajustada à sua condição de saúde: por causa dos problemas cardíacos, a sugestão é que ele costure bolas de futebol – ofício que pode exercer sentado e não lhe exigiria esforço físico, conforme relatam os próprios profissionais. “Não tem desgaste. Aqui acaba sendo uma terapia, temos de ter muita paciência para costurar mais de 1 400 furos por bola”, afirma Josué Carneiro de Souza, de 29 anos, que cumpre pena de 19 anos e um mês de prisão.

Genoino tenta obter aposentadoria por invalidez da Câmara dos Deputados e a autorização para cumprir pena em regime domiciliar, apesar de pareceres médicos elaborados a pedido do STF e da própria Câmara atestarem que sua cardiopatia não é grave. “Aqui nós temos cadeirantes, pessoas em tratamento de câncer e com depressão. Ele tem toda a condição para vir”, diz o coordenador da cooperativa.

A seleção de Delúbio Soares foi a mais difícil. Embora seu currículo indique experiência em finanças, a entidade não o considerou “confiável” para ocupar um posto que envolvesse recursos financeiros. Restou o cargo de assistente de marcenaria. Em um galpão mal iluminado e entulhado de madeiras, o assistente de marceneiro tem desde varrer o chão a ajudar a manusear facas e serras. O excesso de poeira misturado ao forte odor de verniz impede a permanência prolongada no local. “Quem não está acostumado, vai querer sair correndo no primeiro dia”, afirma Francisco de Souza, que trabalha no galpão. Mas, ao admitir a dificuldade, o marceneiro oferece solidariedade aos colegas presidiários: “Se eles vierem, nós vamos abraçá-los”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Roberto Jefferson pode cumprir pena na cadeia, dizem médicos. Pergunta: não haverá protestos nas redes sociais?

Boa notícia para Jefferson: sem sinais de câncer em atividade

A junta de oncologistas que examinou o ex-deputado Roberto Jefferson afirma que ele não precisa de acompanhamento médico hospitalar ou doméstico, o que significa, na prática, que pode cumprir a pena na cadeia, também em regime semiaberto, como José Genoino. Segundo os doutores, e certamente Jefferson considerou esta uma boa notícia, não existem evidências de um câncer em atividade.

O deputado, como todo mundo já viu, está com uma aparência ainda bastante abatida, certamente em decorrência da agressividade da doença e do tratamento. Mas vocês podem apostar: não haverá protesto nas redes sociais, não haverá manifestações de solidariedade, nem mesmo alguns dos nossos queridos jornalistas vão escrever textos comovidos, alertando para o risco de morte do ex-deputado.

Eu realmente acho essas coisas bastante curiosas. Parece que os mensaleiros se dividem em duas categorias distintas: uma superior, aristocrática, composta de petistas — e outra inferior, meio mixuruca, formada pelos demais.

A situação é de tal sorte acintosa que, na sexta-feira, foi preciso que a Justiça ordenasse que Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, que é governado pelo PT, pusesse um fim aos privilégios dos mensaleiros — privilégios que só existem, é bom que se destaque, por causa dos petistas que estão lá. Agora, eles não terão dia especial de visitas, e seus familiares serão submetidos à mesma rotina dos familiares dos demais presos.

Pode parecer impressionante, mas é verdade: em pouco mais de três semanas de prisão, já havia se estabelecido no presídio uma rotina inaceitável de privilégios. A mulher de um dos presos comuns protestou: quis saber por que os mensaleiros tinham tratamento especial e perguntou à queima-roupa: “É por que eles roubaram dinheiro do povo?”. Pergunta muito sábia a dessa senhora. Ela poderia não saber, mas estava repetindo um sermão do grande Padre Antônio Vieira, que, já no século XVII, afirmava: “Alguns ladrões furtam e são enforcados; outros furtam e enforcam”.

Eu espero que José Genoino, Roberto Jefferson e todos os que foram condenados sejam tratados com dignidade. Aliás, eis um bom momento, ainda que por más razões, para que se corrija a situação lastimável em que vivem os presídios no Brasil. Infelizmente, o tema só está sendo debatido porque alguns bacanas estão tendo de passar lá uma temporada. Mas não podemos deixar que o assunto seja esquecido. Quem errou tem de pagar. Quem cometeu crimes e foi condenado tem de cumprir a pena. Mas é evidente que essa pena tem de ser aplicada de maneira digna.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já chegou a dizer uma vez que preferiria morrer a cumprir pena em cadeia brasileira. É uma fala infeliz. Sobretudo porque, em último caso, os presídios estão subordinados à sua pasta. Infelizmente, neste ano, o ministério da Justiça vai investir na área menos do que investiu no ano passado. E isso acontece num momento em que a criminalidade no Brasil cresce em vez de diminuir. Que bela chance ele perdeu de ficar calado! Mais uma!

Texto publicado originalmente às 5h23

Por Reinaldo Azevedo

 

Roberto Jefferson: o problema não é o câncer, mas os efeitos decorrentes da cirurgia, diz ex-deputado

Reproduzo dois posts do blog do ex-deputado Roberto Jeffeson, que transformo num texto só. Volto em seguida:
Laudo dos médicos do Instituto Nacional de Câncer (Inca) — de que, do “ponto de vista oncológico”, isto é, do câncer, não é imprescindível minha permanência em casa/hospital para tratamento — surpreendeu-me, porque o assunto pra mim estava encerrado. Quem leu entrevista recente minha à “Folha” viu que eu já afirmara que eu não tinha mais a doença. Meus problemas de saúde hoje são decorrentes da cirurgia à qual me submeti para a retirada do tumor no ano passado. Tive dois cânceres, um em 1992 e outro em 2012; tenho fé em Deus que me livrei deles.

Minha cirurgia para a retirada de neoplasia maligna na cabeça do pâncreas — considerada de grande porte e de alta complexidade — foi um sucesso do ponto de vista da retirada do tumor, mas, como não poderia ser diferente, trouxe complicações outras (passei a ir, por exemplo, de oito a dez vezes ao banheiro por dia, visto que meu trânsito alimentar passou a ser extremamente rápido). Afinal, retiraram quatro quintos do meu estômago, todo o duodeno, a cabeça do pâncreas (a vesicular biliar já havia sido retirada em cirurgia anterior), 1,5 metro do meu intestino delgado, e parte do fígado. Hoje não preciso apenas de medicamentos, mas do acompanhamento da equipe que me assiste e de toda a estrutura necessária na forma de exames, suplementos vitamínicos e oligoelementos, alguns deles injetáveis, reposição de enzimas, seis alimentações diárias, exercícios físicos específicos etc. Esta é a razão do pedido encaminhado por minha defesa junto ao Supremo Tribunal Federal para que me fosse concedida a prisão domiciliar.

Voltei
Não sou médico. Li o que vai acima para um especialista, e ele me disse que os cuidados que o ex-deputado diz que se fazem necessários são compatíveis, sim, com a sua situação. Parece-me, pois, que Jefferson, mais do que José Genoino, precisa do socorro doméstico, não?

Notem que nem entro no mérito da ação de cada um deles nessa história. Sem especular sobre as motivações subjetivas de Jefferson, acho que ele prestou um serviço ao país. Genoino continua a se achar um herói. Desconsideremos essas coisas. Pensemos apenas em cada doente.

PS – Conforme o previsto, ninguém derramou uma lágrima por Jefferson…

Por Reinaldo Azevedo

 

Está aberto o concurso para ver quem produz a metáfora mais molhada e cafona sobre Mandela…

A morte de Nelson Mandela despertou o, vamos dizer assim, lado cafona da imprensa mundial — da brasileira também, é evidente. Raramente li tanta besteira bem-intencionada. Ora o apartheid é tratado como se tivesse sido um regime de escravidão, ora como um regime colonialista. Não era nem uma coisa nem outra e, por isso mesmo, conseguiu, asqueroso como era, sobreviver até outro dia. A história de uma minoria de brancos ricos de um lado contra negros miseráveis de outro é simplesmente falsa — e isso não elimina a sua essência imoral, indigna.

Por que é importante que as coisas sejam postas nos seus devidos termos? Porque há de haver uma explicação para que a desigualdade social tenha aumentado depois da queda do apartheid. Aí o sujeito que tem as quatro patas solidamente plantadas no chão procura ler o que não está escrito: “Ah, o Reinaldo está dizendo que o apartheid era melhor…”. Não! O Reinaldo está dizendo que o regime da desigualdade política entre brancos e negros era apenas um dos problemas — gravíssimo, mas apenas um.

Caiu a expectativa de vida por causa da Aids. O Congresso Nacional Africano cismou que a doença era instrumento dos brancos para tentar discriminar os negros, e o flagelo se espalhou. Dá-se pouca ou nenhuma atenção ao fato de que a África do Sul é um dos países mais violentos do mundo, com uma das elites mais corruptas da Terra. E isso nada, rigorosamente nada, tem a ver com a questão racial. Sim, havia, em regra, uma desigualdade gigantesca, também social, entre brancos e negros, mas a existe entre negros e negros já era escandalosa — e segue sendo.

É pouco tempo para consertar o país? Certamente. Mas já se passou tempo demais para nada ter melhorado, não é mesmo? Ao contrário: certos indicadores apontam para uma piora sensível na qualidade de vida. A questão, então, é saber por que é assim — e a morte de Mandela não pode servir para esconder o que está aos olhos de todo o mundo.

E o nome do problema é Congresso Nacional Africano, que se constitui como um estado paralelo. Tanto é assim que só é possível chegar à Presidência do país depois de assumir o comando da organização. Nesse sentido, e é o pior sentido, o regime é, digamos, meio chinês: se quer controlar o país, primeiro tenha o controle do partido. E isso só é possível fazendo as vontades da burocracia. A diferença é que não fica bem, na África do Sul de Mandela, não fazer eleições. Mas digam aí: qual é a chance de um negro (nem conto com a possibilidade de um branco…) desvinculado do CNA chegar ao poder? Na “democracia” sul-africana, tal hipótese nem se conta entre as coisas sensatas.

Isso tudo diminui a importância de Mandela? Não! Isso apenas o coloca entre os mortais, entre os terrenos — ele próprio, aliás, chegou a demonstrar certo inconformismo com o endeusamento. Aqui e ali leio que ele deveria ser considerado uma espécie de paradigma de político, de modelo a ser seguido, de norte, de guia genial dos povos…

Aí não! Já exaltei e exalto de novo a figura que percebeu que o confronto sangrento era contraproducente e jamais construiria um país — ou acabaria destruindo o que havia nele de virtuoso. No poder, evitou a revanche e controlou seus radicais. Outro acerto. Mas o líder carismático, o orientador político, não tinha inclinação para a gestão.

Olhem aqui: depois de todas as metáforas, hipérboles e prosopopeias sobre a liberdade, é preciso recolher o lixo, é preciso asfaltar ruas, é preciso cuidar da iluminação pública, é preciso construir escolas, é preciso erguer hospitais, é preciso reprimir a violência… É preciso, em suma, governar. E a África do Sul, nesse particular, SEGUE SENDO UM EXEMPLO A NÃO SER SEGUIDO.

Todas as homenagens a Mandela são justas. A comoção, como se estivéssemos diante do sagrado, no entanto, é hipocrisia. Ela diz mais respeito ao coração culpado dos “brancos” do planeta do que às reais condições de vida dos sul-africanos. Esse concurso para ver quem consegue produzir a metáfora mais molhada sobre “Madiba” é um porre.

Por Reinaldo Azevedo

 

Planalto usa a morte de Mandela para propaganda e para ofuscar a truculência política do Brasil real

Bem, a morte de Nelson Mandela anda a produzir mistificações, como escrevi há pouco, mundo afora. E serve até ao proselitismo interno. Vejam esta foto, divulgada pelo Palácio do Planalto.

A presidente Dilma e os quatro ex-presidentes embarcam para a África do Sul para o velório do líder sul-africano. Todos com um ar, assim, sorridente mesmo. Tenho cá as minhas desconfianças se o decoro não pediria outra coisa. Afinal, não estão rumando para a posse de Mandela, não é? — não, ao menos, aqui na terra; parece que um trono o aguarda no Reino dos Céus; se é que já não chegou a hora de depor Aquele Lá, né?

No Twitter, a equipe de marketing de Dilma aproveita para fazer proselitismo político. Vejam:

 

Que engraçado!!!

Lula e Dilma foram adversários políticos dos três outros ex-presidentes que aparecem na foto, né? O Babalorixá de Banânia esculhambou impiedosamente cada um deles.  E acabou se compondo politicamente com todos eles, menos com… FHC!

Sim, senhores! Vejam a foto. Todos ali, exceto FHC, fazem parte da base aliada. Não por acaso, o tucano é o único que representa um partido que pode ser uma alternativa real de poder. O PT decidiu incorporar as qualidades de Sarney. O PT decidiu incorporar as qualidades de Collor. O PT só não quer saber das qualidades de… FHC!

Eu sou chato mesmo! Acho que sempre é tempo de pensar. Essa gente unida e sorridente da foto não espelha o Brasil real. Acaba de vir a público uma história escabrosa sobre a forma como o PT usa a estrutura do estado para destruir adversários. Até Ruth Cardoso, mulher de FHC, foi alvo da baixaria. Há dois ou três dias, num evento público, Lula se referiu à cocaína encontrada no helicóptero da família Perrella como “coisa do lado de lá” — como se fosse um problema da oposição.

Dilma diz no Twitter que a viagem é um exemplo de que “as divergências do dia-a-dia não contaminam as questões de Estado”. Com a devida vênia, não caio nessa. Fazer dossiê contra adversários e vazá-los não é coisa de “divergência do dia-a-dia”; sugerir que os adversários estão ligados ao tráfico de drogas também não. Nesse caso, seria melhor não fazer a viagem coletiva e ter mais respeito pelos adversários.

A morte de Mandela não me impede de ver o que acontece na África do Sul.

A morte de Mandela não me impede de ver o que acontece no Brasil.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma desce a ripa em antecessores antes de viajar com eles. Ou: Um sanguinário numa cerimônia fúnebre

Ai, ai… Escrevi neta segunda um post afirmando que a viagem da presidente Dilma Rousseff, acompanhada de quatro ex-presidentes, era só material de propaganda para ofuscar a truculência política interna. E, claro, levei algumas bordoadas. Eu seria, entre outras coisas, muitas impublicáveis, um sujeito de maus bofes, incapaz de reconhecer atos de grandeza… É? Então… Leio naFolha que, antes da viagem, a petista desceu o sarrafo nos governos que antecederam os do PT, em especial no de FHC. E na presença do tucano. Falava no seminário promovido pela fundação liderada pelo ex-presidente americano Bill Clinton, num hotel do Rio. E ainda fez uma, digamos, reflexão sobre a América Latina. Reproduzo trecho da Folha:
Ela afirmou que os países do continente foram vítimas de ditaduras e, em seguida, de governos “conservadores” que os “infelicitaram”. ”Frearam nosso crescimento, aumentaram a desigualdade social e provocaram desequilíbrios macroeconômicos”, afirmou.

Pois é… Certamente a presidente não acha que o Chile, a Colômbia e o Peru (governado por um esquerdistas, mas sem mudar um milímetro do que herdou) sejam experiências bem-sucedidas. Bacanas mesmo, hoje em dia, são os governos companheiros da Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Argentina,  certo? Não tem jeito! São quem são. E vocês podem aguardar mais falação, digamos, redentora e de resistência…

Cerimônia fúnebre
Seis presidentes vão discursar na cerimônia fúnebre de Mandela. Dilma está entre eles. Também falarão os presidente de Cuba, Raúl Castro; dos EUA, Barack Obama; da própria África do Sul, Jacob Zuma, além dos da Namíbia e Índia. Por que Dilma? Porque o Brasil é, efetivamente, um país regionalmente relevante, pouco importa quem o governe.

África do Sul, Brasil e Índia integram, por exemplo, o chamado BRICS, o grupo de emergentes. Barack Obama discursará por razões óbvias, e o presidente da Namíbia é convidado porque o país só se tornou independente da África do Sul em 1990, mesmo ano em que Nelson Mandela deixou a prisão. Dá para entender perfeitamente bem por que pelo menos cinco mereceram a deferência. Mas e o sexto? O que faz lá o ditador sanguinário  Raúl Castro?

Cuba é o único país das Américas que mantém, oficialmente, presos de consciência. Até os regimes protoditatoriais bolivarianos procuram inventar uma acusação criminal contra alguns adversários para poder persegui-los. Já é imoral, já é indecente. Cuba nem se dá esse trabalho. Prende os opositores quando julga necessário e pronto. Há na ilha presos políticos, como Mandela foi. Nos últimos três anos, dois deles morreram na cadeia em greve de fome: Orlando Zapata Tamayo, em 2010, e Wilman Villar Mendoza, em 2012. A liberdade pela qual Mandela lutou é tudo o que não existe no país. Eis aí um dos aspectos detestáveis do Congresso Nacional Africano — que nunca repudiou a companhia de ditadores.

Volto a Dilma
Lamento por aqueles que ficaram bravinhos com o meu primeiro texto, não é? Fazer o quê? Os que me leem esperam, como diria Padre Vieira, que eu veja a realidade “com mais aguda vista” do que o amor pelo oficialismo que anda em alta em certas esferas da imprensa; esperam que eu enxergue um tantinho além da fotografia.

É claro que eu não serviria para ser político. Sou muito primitivo para certas coisas, sabem? Não tenho aquela sofisticação da hipocrisia, que a política parece exigir. Que “estadista” é essa que usa um seminário internacional para desmerecer a obra alheia, para fazer proselitismo político vulgar e, em seguida, viaja em companhia do agravado em nome dos interesses da nação?

Por Reinaldo Azevedo

 

Ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra defende no TCU empresário ligado ao PT

Por Fábio Fabrini e Andreza Matais, no Estadão:
Empresário ligado ao PT, Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, conhecido como Bené, contratou a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra para defendê-lo em processos no Tribunal de Contas da União nos quais é suspeito de superfaturamento em serviços prestados ao governo federal. Bené ganhou notoriedade em 2010 ao ajudar a pagar o aluguel de uma casa em Brasília onde funcionou um núcleo da pré-campanha de Dilma Rousseff. Ele é dono de empresas que já receberam R$ 272 milhões das gestões petistas no Palácio do Planalto. Já Erenice foi braço direito de Dilma na Casa Civil. Depois, substituiu a petista no cargo de ministra. Ela deixou o posto em 2010 ao se ver envolvida em suspeitas de tráfico de influência. Em 24 de agosto de 2012, Bené autorizou o escritório Guerra Advogados, de Erenice, a defender uma de suas empresas no TCU, a Due Promoções e Eventos, que recebeu R$ 68 milhões durante os governos Lula e Dilma.

Em um dos processos o tribunal pede que a empresa devolva aos cofres públicos R$ 1,8 milhão, ou 32% dos gastos em 2009 na 3.ª Conferência de Agricultura e Pesca, do Ministério da Pesca. O processo só aguarda um parecer do Ministério Público e análise da relatora, Ana Arraes, para ser levado a plenário. Nele, a área técnica do tribunal rejeita os argumentos da Due e dos demais responsáveis pelo evento. Sem fazer. Segundo o relatório do TCU, ao menos R$ 809 mil em serviços que não foram prestados acabaram pagos à Due de Bené. Além disso, foi apurado superfaturamento de até 750% em itens do contrato. O aluguel de uma toalha de mesa, por exemplo, custou R$ 63 por dia, ante os R$ 7,40 cobrados, em média, no mercado.

O ex-ministro da Pesca Altemir Gregolin é um dos cobrados a devolver recursos por suspeita de autorizar de forma ilegal três prorrogações de contrato com a empresa – a última delas aumentou em 100% o valor. Em outro caso com atuação da banca de Erenice, o tribunal atribui à Due responsabilidade pelo superfaturamento de contrato com o Ministério das Cidades para vários eventos entre 2007 e 2009. Numa decisão de 2012, determina a abertura de uma tomada de contas especial (TCE) e impõe à empresa e a outros envolvidos a devolução de R$ 2,7 milhões. Ainda cabe recurso. Também nesse caso, o TCU requer o ressarcimento dos recursos.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte: Blog de Reinaldo Azevedo (VEJA)

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