Presidente do Cade é militante do PT há 13 anos

Publicado em 24/09/2013 22:35 e atualizado em 29/11/2013 15:25
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Presidente do Cade é militante do PT há 13 anos

Escrevi nesta quarta um post sobre os males que o aparelhamento do estado causa ao Brasil. Não se trata apenas de esse processo privilegiar um partido — o PT. O que se tem é uma degradação da própria democracia.

Um pouco de humor? Será que o fato de usar barbicha e gravata vermelha significa? Significa!

Vejamos o caso do tal Vinícius Carvalho, chefão do Cade. Para todos os efeitos, ele já estava desligado do PT havia muito tempo. Pois bem… O que descobre Felipe Frazão, em reportagem da VEJA.com? Isso não é verdade. Ao contrário: mesmo depois de o partido ter atualizado o seu cadastro, lá está Carvalho, com a ficha válida e quente. É, portanto, militante petista. E há 13 anos! Considerando os eventos do Cade nos últimos meses, isso não surpreende ninguém. Leiam trecho da reportagem. Volto depois. 
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Além de ter trabalhado para um deputado petista na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o atual presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Marques de Carvalho, é militante do Partido dos Trabalhadores (PT) há 13 anos. Carvalho filiou-se ao PT da capital paulista no dia 10 de abril do ano 2000, de acordo com dados oficiais da Justiça Eleitoral.

O presidente do Cade mantém sua filiação ativa e está com registro regular no diretório municipal da legenda, segundo consta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os partidos atualizam a relação de filiados duas vezes por ano. A lista em vigor foi enviada pelo PT ao TSE em 19 de abril. A Assessoria de Comunicação do Cade disse, porém, que Carvalho “já se desfiliou do PT há muitos anos”.

O Cade, responsável pela regulação econômica no país, atua na investigação de um cartel de empresas que fraudou licitações no sistema metroferroviário de governos do PSDB, em São Paulo, e do DEM, em Brasília. O cartel foi denunciado originalmente pelo deputado estadual Simão Pedro (PT) – de quem Carvalho foi chefe de gabinete entre março de 2003 e janeiro de 2004 – ao Ministério Público paulista. No entanto, o caso só foi confirmado em maio deste ano, quando a multinacional alemã Siemens firmou um acordo de leniência e delatou o funcionamento do esquema ao Cade. Carvalho já estava na presidência.

O secretário da Casa Civil do governo paulista, deputado Edson Aparecido (PSDB), saiu em defesa das gestões tucanas em agosto e acusou o Cade de ser “instrumento de polícia política” e de fazer “vazamento seletivo” de informações à imprensa.

À época, o Cade negara ao governo paulista acesso à cópia da documentação apreendida em cerca de vinte empresas integrantes do cartel e dos termos do acordo de leniência. A Justiça Federal liberou, mais tarde, parte da documentação aos procuradores do estado. Eles entraram com pedido de ressarcimento aos cofres públicos contra a Siemens na Justiça estadual.

Carvalho é formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e tem dois doutorados: em Direito Comercial pela USP e em Direito Comparado pela Universidade Paris I (Panthéon-Sorbonne). Antes de presidir o Cade, trabalhou como conselheiro do Cade e assessor da presidência do órgão, assessor legislativo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, chefe de gabinete na Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e secretário da Secretaria de Direito Econômico, no Ministério da Justiça. As informações são do currículo profissional de Carvalho, enviado pela ministra da Casa Civil Gleisi Hoffman em maio de 2012 – época em que o petista foi indicado à presidência do conselho.

Ele omitiu, no entanto, no currículo entregue aos senadores o trabalho como assessor legislativo na chefia de gabinete do deputado estadual Simão Pedro. Questionado, afirmou ter sido um “lapso”.
(…).

Voltei
Caso Dilma seja reeleita, ela poderia entregar também a PF e a Abin a militantes ativos do partido.

Por Reinaldo Azevedo

 

Caso Cade-Siemens expõe a pior face do petismo. Ou: De como o PT transformou um mal brasileiro numa categoria política. Ou: Por que chefe do Cade consegue ser “mais petista” do que a própria Dilma

O caso do Cade ilustra, com uma eloquência escandalosa, uma das misérias políticas brasileiras: o aparelhamento do estado, que foi convertido pelo PT em categoria política, numa forma de pensamento. Sim, governar com aliados é parte do jogo democrático em todo o mundo. Ocorre que, em países que atingiram um estágio avançado de civilização democrática, órgãos de estado, especialmente aqueles voltados à investigação de irregularidades ou de atentados aos direitos básicos dos cidadãos, não estão submetidos a conveniências partidárias, ao toma-lá-dá-cá, a vieses ideológicos, à guerra política… Ao contrário: esses órgãos são, na verdade, uma das fontes garantidoras do sistema. Por mais que os políticos se esfalfem em defesa desta ou daquela propostas, eles se encarregam de manter funcionando o aparato legal. Se e quando mudar, então aplicam a nova lei sem arroubos de criatividade. Nas democracias dignas desse nome, essa burocracia é conhecida por ser aborrecidamente legalista. O Brasil é certamente um dos poucos países do mundo em que até ministro do Supremo chama o triunfo da lei de “legalismo”, com sentido pejorativo.

Por aqui, tudo funciona de ponta-cabeça. O PT chegou ao poder em 2003 com uma base de apoio que presidente nenhum havia tido depois da redemocratização (Sarney, Collor, Itamar ou FHC). Num dado momento, chegou a ter um apoio parlamentar superior ao de generais da ditadura. De tal sorte plasmava a esperança de milhões de pessoas que houve uma espécie de suspensão do juízo: a Lula, tudo parecia ser permitido — e amplos setores da imprensa também caíram na fábula encantatória. Quando Antonio Palocci deixou claro que o partido havia jogado no lixo seu “programa econômico” (para felicidade geral), aí, então, Lula chegou ao topo da glória: o “homem do povo” havia se rendido à racionalidade.

Muito bem! Houvesse um bom propósito no petismo — eu sabia havia muito tempo que não, mas não era a regra —, Lula teria aproveitado a oportunidade para… nem digo “mudar o Brasil” (que isso não quer dizer nada). Já sei: Lula teria aproveitado a oportunidade para começar a corrigir, de forma pausada e metódica, alguns desatinos que infelicitam a República e, pois, os brasileiros.

Mas quê! Ao contrário: ao atingir o topo, percebeu como o estado era poroso à politização mais rasteira e podia, na verdade, ser colonizado por seu partido. Àquela altura, o PT já tinha experiência de aparelhamento até de festinha de aniversário. Consolidou a ocupação desse estado, que já havia começado bem antes, quando ainda partido de oposição. E o fez como? Por intermédio dos ditos “movimentos sociais”.

Os petistas não acreditam — e, de fato, desprezam esta concepção — que a democracia se realiza plenamente com a autonomia dos indivíduos, garantida por uma burocracia estatal estável, presente em setores essenciais que assegurem a funcionalidade do sistema. Ao contrário: o que não se realiza por intermédio do partido não vale. Nesse sentido, segue sendo um esquerdista ortodoxo. Só não é mais socialista ao velho estilo porque socialismo ao velho estilo não há mais. O de novo estilo subordina também o capital aos horizontes partidários, ainda que isso possa custar caro — a Bolsa BNDES, por exemplo. NOTA À MARGEM: o ódio à imprensa livre deriva do fato de que o partido, por enquanto ao menos, não tem sobre ela o controle que logrou ter dos demais setores. Lula não pode entender que potentados da indústria e do capital financeiro o tenham na conta de guia genial e que o jornalismo, ao menos a parte relevante, não esteja a seus pés. Sigo adiante.

Em vez da profissionalização do estado, o PT promoveu justamente o contrário. Se, vá lá, o patrimonialismo se adonava do público, subordinando-o a seus interesses, o patrimonialismo aggiornado, falando a linguagem “das massas”, das “ruas”, fez de uma ocupação igualmente perversa a condição necessária para a realização de seu projeto. Então onde está a diferença para pior no que concerne ao horizonte democrático? A antiga forma de ocupação do estado era tida pela, bem…, “vanguarda do pensamento” como algo que devesse ser superado; agora, ao contrário, considera-se o aparelhamento um ponto de chegada e um valor de resistência.

É essa concepção de poder que faz com que um sujeito como o tal Vinicius Carvalho se torne o chefe do Cade, nada menos do que o órgão que, no Brasil, deve zelar pela livre concorrência, que é, sim, um valor das democracias. Nota irônica à margem: é bom lembrar que foi o PT quem instituiu um sistema novo de construções de obras públicas para a Copa do Mundo que simplesmente jogou no lixo a Lei de Licitações.

Qual o mérito de Carvalho para estar onde está? Nenhum em particular no que concerne à competência técnica, mas um em particular no que concerne à competência política: é do PT. No cargo, a sua ação mais espalhafatosa, como se nota, tem um óbvio alcance político-partidário. Aliás, foi Lula, o chefe máximo da legenda, quem afirmou, dada a avalanche de notícias sobre o suposto cartel, que Alexandre Padilha, candidato petista ao governo de São Paulo, havia “entrado no jogo”.

Quando se diz que o Cade atuou, nesse caso, como polícia política, não se trata de mero exagero retórico. Esse é um procedimento-padrão das repúblicas bolivarianas, o que o Brasil ainda não é — ou o é nos limites do que a institucionalidade que resiste permite. Vejam o caso de senador boliviano Roger Pinto Molina, que está no Brasil — depois de ter conseguido se proteger da atuação sórdida do Itamaraty nesse caso, graças à atuação decente do diplomata Eduardo Saboia. Do que o acusa o governo Evo Morales? De corrupção, claro! Afinal, em tese, na Bolívia, não é proibido se opor ao governo central. Não agem de modo diferente os presidentes da Argentina, da Venezuela, do Equador ou da Nicarágua.

Não estou a dizer, reitero, que nada de errado se deu na relação entre Metrô-CPTM e a Siemens. Que tudo seja investigado! Mas as evidências de que temos um órgão do estado a atuar para atender a interesses de um partido gritam de forma escandalosa. Numa democracia mais civilizada, é evidente que o tal Carvalho não permaneceria cinco minutos no cargo depois da revelação do episódio. Por aqui, não! O rapaz ainda tenta usar a revelação em seu favor. Indagou por que ele teria escondido a coisa de caso pensado se, agora, a revelação lhe traz problemas. A pergunta seria a de um estúpido não fosse a de um espertalhão: escondeu justamente porque a revelação lhe traria… problemas.

A questão é muito mais grave do que parece. Pouco me importa se diz respeito ao PSDB, a A ou a Z. Diz respeito ao estado brasileiro. Trata-se de saber se um órgão de estado pode exercer esse papel. Não deixa de ser curioso que esse escândalo venha à luz no mesmo dia em que Dilma Rousseff deita aquela falação meio ridícula na ONU sobre espionagem (ainda volto ao tema). Por aqui, em solo brasileiro, um órgão que tem a função de zelar pela qualidade da nossa democracia atua como polícia política. Dê o exemplo, governanta! Bata na mesa, diga que isso é inaceitável, que a senhora não é Obama e demita o dito-cujo.

Mas ela vai fazê-lo, certo? Afinal, mais Carvalho do que Dilma representa o poder petista. Ela é ainda expressão de um “atraso”, que o partido sonha em superar um dia: eleição. Ele não! Ele é um quadro que tem de estar onde está simplesmente porque é do partido.

Por Reinaldo Azevedo

 

“Blog da Dilma” tira montagem racista do ar. Ou: Os blogs vinculados à “presidenta”

O tal “Blog da Dilma” tirou do ar a montagem que associa a imagem do ministro Joaquim Barbosa à de um macaco, conforme denunciei aqui no dia 23. O branco Celso de Mello não sabe o que é pressão. Por isso o nosso Rui Barbosa de Tatuí reclama no jornal de sua cidade natal… A manifestação explícita de racismo foi severamente criticada nas redes sociais. Se alguma associação que combate o preconceito racial se manifestou, não fiquei sabendo. Parece que certos setores ideológicos podem ser racistas sem ser importunados pelos militantes.

À Folha, Thomas Traumann, porta-voz da Presidência da República, informa: “”O único blog vinculado com a presidenta Dilma ou com a Presidência da República é o Blog do Planalto”.

Pois é… Ocorre que o “Blog da Dilma” só continua no ar, mesmo com as indignidades a que volta e meia se entrega, porque a dona do nome permite: Dilma! De toda sorte, não é o que se faz de mais doloso na área. Inaceitável mesmo é que exista uma miríade de veículos financiados com dinheiro púbico com o propósito de puxar o saco do governo e do PT e de atacar, em termos no mais das vezes inaceitáveis numa sociedade civilizada, aqueles que são considerados “inimigos”: políticos, jornalistas e juízes.

São, Traumann não tem como negar, páginas de algum modo “vinculadas à presidenta (como ele diz) da República”. Financiar com dinheiro público o oficialismo já seria, em democracias normais, inaceitável. E o que dizer então de usar verbas de estatais para promover a baixaria?

Por Reinaldo Azevedo

 

Agora chega! Celso de Mello passa da conta, confunde liberdade de crítica com pressão indevida e fala bobagem. Ou: No país em que é permitido marchar até em favor do crime, será proibido escrever em favor da lei?

O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), resolveu soltar os cachorros — com a devida vênia por empregar uma metáfora quadrúpede — contra o que está a chamar de “pressão ostensiva para subjugar um juiz”. Deu declarações, vamos dizer, insólitas a um jornal de Tatuí e à colunista Mônica Bergamo, da Folha. Já chego lá. Vamos a algumas considerações prévias — sim, longas, como de costume.

Que bom que Celso de Mello, nesta página, nunca esteve acima do bem e do mal, nunca foi considerado um demiurgo, jamais foi tratado como alguém de quem não se pudesse discordar. Como sabem os leitores — e aí estão os arquivos, como sempre —, todas as vezes em que concordei com ele, escrevi “sim”; quando discordei, escrevi “não”. Deu votos memoráveis no processo do mensalão? Deu, sim! Equivocou-se de maneira brutal, por exemplo, no caso das Marchas da Maconha? Sim. E eu o critiquei por isso. Por quê? Porque o ministro exaltou, num tom verdadeiramente condoreiro, a liberdade de expressão para permitir o que, de fato, se revela apologia de um crime, o que também é crime, segundo o Código Penal. Como ninguém atribuiu a Mello — nem a seus pares — competência para legislar, achei que não lhe cabia ignorar o Código Penal. QUEM CONSIDERA APOLOGIA DO CRIME LIBERDADE DE EXPRESSÃO AINDA ACABARÁ CONFUNDIDO A LIBERDADE DE EXPRESSÃO COM UM CRIME. Entenderam?

E eu bati, sim. Fui respeitoso, como de hábito, mas duro, como de hábito também. E não economizei elogios quando achei que devia. Eu não concordo com Celso de Mello, nem com qualquer outro, em princípio. Concordo quando concordo — uma tautologia necessária nos dias que correm. Pois bem. Não havia gostado, como observei aqui, no debate da VEJA e no programa Roda Viva, do tom do voto do ministro no caso dos embargos infringentes. Fugindo à sua lhaneza habitual, estava um tanto colérico, bravo, cuidando menos da fundamentação técnica de seu voto — eu não considero suas digressões históricas, nem sempre pertinentes, fundamento técnico — do que da desqualificação dos votos divergentes. Então os outros cederam apenas ao clamor das ruas? Então os outros não cuidaram do devido processo penal? Então os outros não reconheciam o pleno direito de defesa? Ora… Mais respeito com seus colegas, excelência!

Mais: em seu voto, fez digressões absolutamente impertinentes — é isto: não sou advogado, jurista, nada, e sustento a impertinência (quanto atrevimento me garante a liberdade de expressão; eu, que só fumo Hollywood) — sobre os infringentes e o duplo grau de jurisdição. Não precisei esperar o julgamento para combater esse argumento tolo. Eu o fiz aqui, felizmente, com todas as letras, no dia 23 de abril. Faz cinco meses. O título do post“O equívoco de Celso de Mello e o esforço da tropa de Dirceu para desmoralizar ministros do Supremo”. Escrevi lá (em azul):

Ao defender que os embargos infringentes são cabíveis, afirmou, leio na coluna “Radar”, de Lauro Jardim, que eles funcionam como uma espécie de duplo grau de jurisdição. Os condenados do mensalão que não exerciam cargos públicos alegam que não tiverem esse direito porque seus processos não foram remetidos para a primeira instância. Sempre que a lógica é frontalmente agredida, o troço fica aqui dando pontadas no meu cérebro, e me vejo obrigado a exercitar a discordância, nem que esteja do outro lado o papa e que se trate de matéria teológica. Celso de Mello é quase um papa no Supremo, e eu sou apenas um fiel seguidor das leis, mas acho que ele agrediu a lógica.

Se se trata, então, de ignorar a Lei 8038 (ver post anterior), admitindo os embargos infringentes como expressão do segundo grau de jurisdição, cumpriria indagar por que tal “direito” só será garantido a alguns réus, mas não a outros. “Ah, porque eles tiveram os quatro votos divergentes.” Mas isso nada tem a ver com o duplo grau de jurisdição; trata-se apenas de matéria regimental, já vencida pela lei. O argumento é ruim; não se sustenta. Ou bem se considera o Artigo 333 do Regimento Interno (o que prevê embargos infringentes) em sua área restrita, ou bem se tenta extrapolar, e, nesse caso, cumpriria, então não fazer justiça seletiva. Infelizmente, a especulação de Celso de Mello abre uma vereda para os chicaneiros acusarem todo o processo de ter sido uma farsa. Cumpre lembrar que o próprio ministro recusou as tentativas de desmembramento, o que implicaria enviar os casos dos réus sem cargos públicos para a primeira instância. Ou bem se considera que o Supremo agiu dentro da lei (e agiu) quando o manteve unificado, ou bem se considera que não. Trata-se de um mau argumento de um bom homem.

Retomo
“E quem é você para apontar o equívoco de Celso de Mello?” Ora, sou alguém com direito de marchar em favor da maconha — licença que ele me deu, de que me dispenso — e alguém com direito de apontar os equívocos de Celso de Mello, licença que a Constituição me dá.

Ainda mais quando não estou sozinho. Nunca exerci aqui o “argumento de autoridade”, até porque não poderia. Deixo isso para os doutores. Faço, a exemplo da imprensa honesta — que não está a serviço de um partido —, o debate.

Muito bem! Para o jornal de Tatuí, Mello disse o seguinte: “Há alguns que ainda insistem em dizer que não fui exposto a uma brutal pressão midiática. Basta ler, no entanto, os artigos e editoriais publicados em diversos meios de comunicação social (os “mass media’) para se concluir diversamente! É de registrar-se que essa pressão, além de inadequada e insólita, resultou absolutamente inútil”.

Eita! Não se chama imprensa de “mass media”, acho, desde os tempos em que professores de comunicação caceteavam os alunos com McLuhan — espero que já tenham mudado de assunto, se é que ainda se fala de livros em curso de jornalismo, sei lá… Desde quanto “artigos e editoriais” caracterizam “pressão insólita e inusitada”? Digam-me cá: os artigos e editoriais da subimprensa financiada por estatais e por gestões petistas — DINHEIRO PÚBLICO NA VEIA — em favor da aceitação dos infringentes entram nessa categoria? Os elogios rasgados que Celso de Mello recebeu — num deles, a imagem de Joaquim Barbosa aparecia associado a um macaco — depois do voto merecem também essa qualificação?

Ao conversar com a jornalista da Folha, Mello resolveu avançar. Leiam:
“Eu imaginava que isso [pressão da mídia para que votasse contra o pedido dos réus] pudesse ocorrer e não me senti pressionado. Mas foi insólito esse comportamento. Nada impede que você critique ou expresse o seu pensamento. O que não tem sentido é pressionar o juiz.”

Então, agora, a excelência se obriga a distinguir a “liberdade de expressão” — que, a seu juízo, entendo eu, abriga até a apologia do crime — da “pressão”. Quem o pressionou, ministro? Supõe-se que aquele que o faz disponha de instrumentos para tanto. Quais?

A queixa de Celso de Mello à coluna da Folha é longa. E ele jamais diz em que momento a liberdade de expressão passou à condição de pressão. Aí, julgando que já tinha batido bastante na ferradura, resolveu acertar ao menos uma no cravo. Tentando ser magnânimo, falou uma bobagem. Prestem atenção:
“Os meios de comunicação cumprem o seu dever de buscar, veicular informação e opinar sobre os fatos. Exercem legitimamente função que o STF lhes reconhece. E o tribunal tem estado atento a isso. A plena liberdade de expressão é inquestionável.”

Errado, ministro!
O STF não nos “reconhece” nada, meu senhor! A liberdade de expressão é uma conquista da democracia, que encontra abrigo na Constituição da República Federativa do Brasil. Eu não sou livre para dizer o que penso porque o tribunal “reconhece” o que quer que seja; sou livre porque é o que está disposto nos Artigos 5º e 220 da Carta Magna, ora bolas!

Mello quer saber o que é pressão?
Mello sabe o que escreve a “mídia petista” sobre os cinco ministros que recusaram os infringentes? Pior! Ela o faz, insisto no ponto, com dinheiro público. Não deixa de ser uma espécie de mensalão, exercido por outros meios. É isto: ESTATAIS E GOVERNO PAGAM UM MENSALÃO A ESSES VEÍCULOS PARA QUE ELES:
a) falem bem do governo;
b) falem mal da oposição;
c) ataquem a imprensa livre;
d) ataquem os ministros do STF que não fazem as suas vontades.

O próprio Celso de Mello foi alvo das baixarias quando decidiu que cabia ao Supremo a decisão sobre o mandato dos parlamentares condenados.

Pressão vagabunda, ilegal e inaceitável foi a que fez uma revista, com amplo financiamento oficial, ao acusar, por exemplo, o ministro Gilmar Mendes de estar numa lista de beneficiários do esquema de Marcos Valério. A peça indigna veio a público uma semana antes do início do julgamento. Dias depois, a evidência: a lista era falsa, produto do trabalho sujo de um conhecido lobista e estelionatário. Celso de Mello não ficou indignado? Incomoda-se agora com editoriais? Ora, ministro…

Concluindo
No dia 18, escrevi um longo e respeitoso artigo sobre o voto de Celso de Mello. Dizia por que discordava dele, mas notava:
“À diferença do subjornalismo a soldo, financiado por estatais e por aliados do governo federal para atacar jornalistas, juízes e políticos da oposição, sei a diferença entre a divergência e a pura e simples desqualificação. Assim, não me divorcio do respeito que nutro por Celso de Mello”.

Aquelas minhas palavras continuam valendo. Por esse Celso de Mello, no entanto, que passou a choramingar porque foi criticado; por esse Celso de Mello, que toma divergência por “pressão insólita”; por esse Celso de Mello, que classifica de “irracionais” os que dele discordam; por esse Celso de Mello, que ignora as pressões exercidas pela imprensa oficialesca contra seus colegas; por esse Celso de Mello, que finge ignorar que réus (então) como José Dirceu e João Paulo Cunha fizeram até plenárias Brasil afora para demonizar o STF, ah, meus caros, por esse Celso de Mello, não tenho respeito nenhum! 

O ministro se aposenta em novembro de 2015. Já fez menção de antecipar a saída. Àquele outro, que não confunde divergência com agressão, recomendei: “Fica!”. A este, que diz prezar a liberdade de expressão desde que ela não seja plenamente exercida, digo “Vai!”.

PS – Não custa notar: ao decano, caberia, dadas as circunstâncias, desarmar os espíritos, investir na concórdia, afastar o confronto. Por alguma misteriosa razão — pode até ser só vaidade —, ele faz o contrário. 

Por Reinaldo Azevedo

 

A primeira-amiga de Lula e a máxima: “Quem tem padrinho não morre pagão”

Vocês leem no post abaixo que Rosemary Nóvoa Noronha, aquela que foi definida num ataque de eufemismo decoroso em nossa imprensa como “amiga íntima de Lula”, foi banida por cinco anos do serviço público. Pois é… Acho que ela esperava alguma punição no âmbito, digamos, administrativo. Como acontecia, no entanto, com os protegidos do “padrinho” em “O Poderoso Chefão”, os que estão sob o guarda-chuva sabem que podem até enfrentar dificuldades, mas jamais serão abandonados. Ao contrário: tão logo apareça uma chance, são reabilitados e voltam por cima — outros, a exemplo de Delúbio Soares ou José Dirceu, nem mesmo têm abalado o seu prestígio. O caso mais recente a ilustrar essa máxima é Hamilton Lacerda, o homem da mala preta do tal “escândalo dos aloprados”. Tornou-se um assessor graduado do petista-cutista Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, cujos tentáculos vão bem além da cidade, vocês ainda verão. Lacerda é uma espécie de executivo-chefe do consórcio que reúne as sete cidades do Grande ABC.

E Rosemary? Suas tarefas partidárias sempre tiveram um cunho muito específico, e é duvidoso que possa servir formalmente à legenda. Também não se imagina que possa ser recebida em encontros do PT com urras de “Rosemary, guerreira, heroína da mulher brasileira”. Troque-se o gênero, e há uma trovinha assim para Dirceu. Também não me parece que o presidente da CUT vá dizer que tem muito orgulho de se reunir com ela, como fez ao festejar Delúbio. Isso não quer dizer, obviamente, reprovação política ou, sei lá, moral a Rosemary. No momento, trata-se apenas de uma inconveniência, cujas franjas se estendem além da política.

Então a coitada vai agora se molhar? De jeito nenhum! Na VEJA que chegava aos leitores no dia 7 de setembro, Robson Bonin informava:
“(…) a ex-secretária dispõe do apoio de três grandes bancas de advocacia do país. Escritórios que têm em sua carteira de clientes banqueiros, corporações, figurões da República, milionários dispostos a desembolsar o que for preciso para assegurar a melhor defesa que o dinheiro pode comprar. Rosemary, apesar do perfil diferenciado, faz parte desse privilegiado rol de cidadãos. (…) São profissionais que, de tão requisitados, calculam seus honorários em dólares americanos, mas que, nesse caso, não informam quanto estão cobrando pela causa, muito menos quem está pagando a conta. Acostumado a cuidar dos interesses de empresários como o bilionário Eike Batista, o criminalista Celso Vilardi defende Rosemary na esfera penal. Já no processo disciplinar em andamento na Controladoria-Geral da União (CGU), atuam dois pesos-pesados do direito público, que têm entre seus clientes banqueiros e megacompanhias como a Vale. O advogado Fábio Medina Osório cuidou da formulação da defesa de Rosemary e agora atende apenas a empresa da família, a construtora New Talent. Já o advogado Sérgio Renault foi escalado para acompanhar o desfecho do caso – prestes a chegar à mesa do ministro Jorge Hage – na CGU.”

Encerro
Sim, sempre resta a possibilidade de que alguns dos maiores advogados do país tenham se apaixonado por causa tão nobre. Como a gente diz lá em Dois Córregos, “quem tem padrinho não morre pagão”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Rosemary é banida do serviço público por cinco anos

Por Laryssa Borges, na VEJA.com. Volto no próximo post.
Acusada de participar ativamente de uma quadrilha que fraudava pareceres de órgãos públicos para beneficiar empresas privadas, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, terá de ficar afastada de cargos públicos federais por um período de cinco anos. A decisão é resultado do Processo Administrativo Disciplinar (PAD) conduzido pela Controladoria-Geral da União (CGU).

Conforme a decisão anunciada nesta terça-feira, a pena aplicada baseia-se na violação dos deveres do servidor público de exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo, ser leal às instituições a que servir e observar as normas legais e regulamentares. Para a CGU, a ex-funcionária usou o cargo para proveito pessoal, recebeu vantagens por ações ilícitas, utilizou pessoal ou recursos materiais da repartição em atividades particulares e incorreu no crime de improbidade administrativa.

Responsável por traficâncias descobertas na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, Rose, que havia sido exonerada na ocasião, foi punida agora com a conversão da exoneração em destituição de cargo público. De acordo com a Lei nº 8.112/90, a ex-operadora da quadrilha ficará impedida de retornar ao serviço público federal por cinco anos.

No início das investigações, VEJA revelou que o governo tentou emplacar uma investigação paralela contra a ex-chefe de gabinete, após uma rápida sindicância do governo coordenada pela Casa Civil ter concluído que Rosemary usava da influência e da intimidade que desfrutava com o ex-presidente Lula para se locupletar do poder. Técnicos chegaram a reunir provas que resultaram na abertura de um processo disciplinar contra ela por enriquecimento ilícito, mas a Secretaria-Geral da Presidência da República montou, logo na sequência, um processo paralelo para sabotar o trabalho de investigação da Casa Civil.

Entre as irregularidades cometidas, a Comissão Processante da CGU já havia identificado o recebimento de vantagens indevidas por Rosemary, oferecidas pelos irmãos Paulo e Rubens Vieira, ex-diretores da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), além da ocorrência de falsificação de documentos e tráfico de influência.

Ex-secretária do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Rosemary Noronha ganhou poder e influência política na chefia de gabinete do escritório da presidência da República na capital paulista. Com um salário de quase 12 000 reais, comprou dois apartamentos, trocou de carro e criou uma empresa de construção civil. Para tentar se safar de punições administrativas por tráfico de influência, Rosemary elencou uma grande lista de testemunhas de defesa, duas delas figuras próximas da presidente Dilma Rousseff: o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. A CGU, porém, negou o pedido para que ela usasse nove pessoas como testemunhas de sua defesa.

Por Reinaldo Azevedo

 

Tirando comida da boca das criancinhas pobres… Ou: Um companheiro no meio do caminho

Os “companheiros”, definitivamente, não estão na política a passeio. Vieram para colonizar o estado brasileiro e estão fazendo isso. Conforme se lê na VEJA.com, a Polícia Federal cumpriu, nesta terça-feira, “11 mandados de prisão preventiva dentro da Operação Agro-Fantasma, que investiga um esquema de desvio de recursos públicos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), repassados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a associações e cooperativas rurais como parte do Programa Fome Zero.” O texto informa ainda que “além dos mandados de prisão preventiva, foram expedidos pela 2ª Vara Criminal da Justiça Federal de Curitiba (PR) sete mandados de suspensão cautelar da função pública, 37 mandados de busca e apreensão e 37 mandados de condução coercitiva em quinze municípios do Paraná, em Bauru (SP) e em Três Lagoas (MS).”

Muito bem! A Conab também tomou providências. Severíssimas! Afastou sete membros da cúpula do órgão no Paraná, epicentro da investigação. Mas, informa a Folha, manteve um: o diretor de política agrícola e informação Sílvio Porto. Ele é filiado ao PT desde 1995. A Conab explica o motivo em nota: “O diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia, área responsável pela operacionalização do PAA, prestou esclarecimentos na Polícia Federal e foi liberado em seguida, mas ainda aguarda acesso ao processo para se posicionar”.

Perguntinha óbvia: por que, nos outros casos, não é preciso “aguardar o processo para se posicionar”? Nota: o petista foi indiciado pela Polícia Federal por estelionato, peculato e formação de quadrilha.

O que é o PAA?
Vocês querem saber o que é o PAA? Vejam na página do Ministério do Desenvolvimento Social. Reproduzo trecho (em vermelho). Volto em seguida.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma das ações do Fome Zero e promove o acesso a alimentos às populações em situação de insegurança alimentar e promove a inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar.
O PAA também contribui para a formação de estoques estratégicos e para o abastecimento de mercado institucional de alimentos, que compreende as compras governamentais de gêneros alimentícios para fins diversos, e ainda permite aos agricultores familiares que estoquem seus produtos para serem comercializados a preços mais justos.
O Programa propicia a aquisição de alimentos de agricultores familiares, com isenção de licitação, a preços compatíveis aos praticados nos mercados regionais. Os produtos são destinados a ações de alimentação empreendidas por entidades da rede socioassistencial; Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição como Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias e Bancos de Alimentos e para famílias em situação de vulnerabilidade social. Além disso, esses alimentos também contribuem para a formação de cestas de alimentos distribuídas a grupos populacionais específicos.

(…)

Voltei
Não é bacana? Como se nota, enfiar a mão em grana, nesse meio, significa, literalmente, roubar comida da boca das criancinhas e dos miseráveis.

Faça aí uma memória dos escândalos mais recentes. Boa parte deles se dá justamente em programas de assistência social, que criam o ambiente ideal para a ação de larápios. Afinal, quem pode ser contra a compra de comida para quem tem fome? Como exigir que se faça licitação disso ou daquilo se existe a desculpa na ponta da língua: “Estamos comprando diretamente dos produtores, eliminando atravessadores”?

É claro que os pobres brasileiros precisam da ação assistencial do estado. Mas de qual? Do que se deixa infiltrar por gente que, literalmente, tira a comida da boca dos infantes?

Por Reinaldo Azevedo

 

Sai pra lá, urucubaca! Ou: O ódio inútil dos fanáticos e o ódio remunerado dos pilantras

Reproduzi na manha desta terça dois textos, que fundi num só (porque, na verdade, um era continuação do outro), de autoria de Olavo de Carvalho. Tratam da psicologia do “fanático”. Olavo expõe ali os caminhos por onde transitam o ódio, a intolerância e a truculência.

Sei que acaba sendo irresistível — embora eu tenha pedido, também na manhã desta terça, que vocês cuidassem de outros assuntos: leitores me enviam algumas reações vindas lá do mundo das sombras sobre a minha participação no programa “Roda Viva” (o vídeo está nesta página). Não há expressão do sórdido, de A a Z, que não tenha sido regurgitada pelos fanáticos. Alguma oposição às perguntas que fiz? Algum erro apontado? Alguma inconveniência? Alguma grosseria com o entrevistado ou com meus colegas de bancada? Nada! Só o ódio e a certeza de que, por alguma razão, eu não poderia estar ali. Só o inconformismo violento com o fato de eu não pensar o que eles pensam.

“Ah, ele é tucano!” Sou, é? Perguntem aos tucanos. Mas ainda que fosse… Alguém indagou, agora ou antes, se outros eram ou são petistas? Não! Porque isso, para eles, seria muito natural. Outro diz: “Se fosse na TV Brasil…”. Existe pensamento divergente na TV Brasil? Mais de uma vez vi o governo de São Paulo receber críticas pesadas no Roda Viva. Não consta que o mesmo se dê na emissora federal em relação ao governo idem.

É o ódio pelo ódio. Outros querem ainda que eu não poderia estar lá porque Augusto Nunes, que comanda o programa, a exemplo deste escriba, está na VEJA.com. Sei. Nunca se impôs restrição a profissionais da Folha quando o mediador era Matinas Suzuki ou da piauí quando aos cuidados de Mário Sérgio Conti. E era o certo. E é o certo. Ou deveria haver uma restrição só para o Reinaldo aqui?

Ninguém, para não variar, definiu com tanta clareza a alma dessa gente como Olavo. Reproduzo um trecho do post desta manhã (em azul):
O que o fanático nega aos demais seres humanos é o direito de definir-se nos seus próprios termos, de explicar-se segundo suas próprias categorias. Só valem os termos dele, as categorias do pensamento partidário. Para ele, em suma, você não existe como indivíduo real e independente. Só existe como tipo: ‘amigo’ ou ‘inimigo’. Uma vez definido como ‘inimigo’, você se torna, para todos os fins, idêntico e indiscernível de todos os demais ‘inimigos’, por mais estranhos e repelentes que você próprio os julgue.

Nota cômica
No meio da tragédia moral que essa gente representa, há uma nota cômica. Fiz uma breve caricatura de algumas páginas que abrem suas respectivas áreas de comentários para o “malha-Reinaldo” (além, claro, do malha-Augusto, malha-Constantino, malha-tudo-o-que-se-move-e-não-é-a-gente). Não só abrem como estimulam o pega-e-esfola. Gente de quem nunca ouvi falar, cuja existência desconhecia, que não tem importância nem lá na esgotosfera, se apresentou: “O Reinaldo está falando de mim…”? Eu??? Há cabeças para as quais até a carapuça da indignidade é grande demais!

Podem babar! Se e quando o Roda Viva me convidar, se e quando eu decidir que devo ir, vou. E tratarei o entrevistado e meus colegas de bancada com o respeito que a condição lhes confere, independentemente do meu juízo pessoal sobre este ou aquele.

Concluo, e não haveria modo melhor, meu post com outro trecho de Olavo:
“Eric Voegelin, quando jovem, não era a favor nem contra o racismo. Era a favor da ciência histórica. Estudou a história da ideologia racista e, tendo concluído que não tinha nada a ver com a realidade biológica das raças, publicou essa conclusão num livro. Mas, para os nazistas, a ciência histórica não era um critério autônomo admissível. A história tinha de ser a favor do partido ou contra ele. No dia seguinte, a Gestapo estava no encalço de Eric Voegelin. Boris Pasternak não era a favor nem contra o socialismo. Era a favor da boa poesia lírica, da expressão genuína dos sentimentos humanos. Mas, para o fanático socialista, isso não vale como critério autônomo. A poesia lírica, se não serve ao socialismo, serve aos inimigos do socialismo. Pasternak foi condenado à prisão como inimigo do Estado soviético.”

Por Reinaldo Azevedo

 

Cuba é aqui – Presidente do CRM do Paraná renuncia ao cargo e acusa a truculência do governo federal, que impõe o desrespeito à lei no “Mais Médicos”. Leia a sua dura carta

Não conheço o médico Alexandre Gustavo Bley, que já é, a esta altura, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná. Ele renunciou ao cargo nesta terça-feira. E o fez, entendo eu, por respeito às leis, aos princípios do regime democrático, à dignidade do seu cargo, à ética de sua profissão. Não estou aqui a dizer que outros devam segui-lo. Talvez o ministro Alexandre Padilha até sonhe com isso — restaria a possibilidade de entregar os conselhos à companheirada. Sempre há um “companheiro” de olho numa boquinha. Se a gente se distrai, eles aparelham festa de batizado, churrascada, reunião da Tupperware e visita de vendera do Avon. A leitora pensa que vai comprar um batom e pimba! Cai vítima da abdução.

Bley renunciou. Não aceitou ceder às pressões do governo. E escreveu uma carta que merece ser lida com cuidado. Abre com uma epígrafe. Leiam o que vai abaixo.
*
A covardia coloca a questão: É seguro?
O comodismo coloca a questão: É popular?
A etiqueta coloca a questão: Ë elegante?
Mas a consciência coloca a questão: É correto?
E chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não e elegante, não é popular, mas temos de fazê-lo porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta.
Martin Luther King

Caros colegas Conselheiros,

Há 10 anos iniciei minha vida dentro do Conselho Regional de Medicina do Paraná. Confesso que foi nesse ambiente que aprendi o real significado da palavra ÉTICA. Um conceito que possibilita o convívio entre as pessoas e traduz o conjunto de valores morais e princípios de uma sociedade. Portanto, é plural, mas auxilia cada um nas decisões cotidianas do que queremos, podemos e/ou devemos fazer. Da mesma forma, as leis norteiam o cidadão no caminho da justiça, o que, a principio, seria eticamente aceito. O grande problema é quando a lei se dissocia da ética.

No momento em que o governo federal emitiu a Medida Provisória 621/13, que instituiu o Programa Mais Médicos, criou-se um “arcabouço legal” para que o programa existisse, inclusive passando por cima de leis já consagradas. Já se passaram 70 dias, após a exposição de inúmeras incongruências da medida, modificações foram propostas, e dois decretos foram emitidos na tentativa de legitimar a ação do governo. Portanto as “leis” estão postas, mas será que todo esse processo é ético? Aos meus olhos, não.

O diagnóstico feito pelo governo de que o Brasil necessita de um maior número de médicos no sistema público é correto, para não dizer óbvio, mas, desde o inicio, os Conselhos de Medicina, criados legalmente para proteção da sociedade, têm alertado que a causa apontada e o tratamento instituído são absolutamente incorretos. A MP 621/13 passa ao largo da solução definitiva de um acesso à saúde, tanto em quantidade quanto em qualidade, condizente com as demandas do povo. Já de muito tempo se denuncia o subfinanciamento da saúde e a má gestão, porém, como de praxe, o governo federal varre para baixo do tapete sua própria sujeira, tentando se eximir da responsabilidade que lhe cabe e colocando a culpa em toda classe médica.

A vinda de profissionais formados no exterior rende manchetes diariamente, seja pela nacionalidade ou agora pelos documentos de inscrição. O vergonhoso envio de dinheiro público para a ilha de Cuba, através da contratação de profissionais subjugados, expõe a moral deste governo. Na mesma linha, a forma autoritária e açodada com que os registros provisórios nos conselhos estão sendo tratados demonstra a falta de zelo com a segurança da saúde do povo. Inúmeros problemas foram encontrados e já noticiados, como documentos trocados, falta de autenticações, falta de diplomas, falta do local de trabalho, nome do supervisor responsável, entre outros.

Após ampla celeuma, a Advocacia Geral da União admitiu em ação civil pública proposta pelo Cremers, que os requisitos dispostos na MP 621/13 podem e devem ser observados, porém o governo não tem corno atendê-los agora. Tal situação ensejou o CFM a “liberar” os CRMs da exigência de ter o nome dos supervisores, tutores e locais de trabalho, concedendo o registro e dando um prazo de 15 dias para regularização. Penso que é uma atitude no mínimo temerária, pois, uma vez liberado o registro, como voltar atrás ? Aguardar esses poucos dias para, de posse de todos os documentos, proceder o registro seria o mais sensato, como noticiamos abertamente para toda a nação durante vários dias. Lembro que há exatos 56 anos os Conselhos de Medicina foram criados e se tornaram responsáveis pela inscrição dos médicos, habilitando o exercício profissional seja definitivo ou provisório, o que possibilita a fiscalização e o julgamento dos possíveis desvios éticos cometidos. A mesma medida é tomada para qualquer médico que vem se inscrever, seja brasileiro ou estrangeiro, formado no exterior ou não. Tudo isso com o intuito de levar segurança à população; logo, penso que não podemos e não temos o direito de abrir mão do nosso dever legal.

Entretanto a pressão do governo sobre os Conselhos já passou o campo da argumentação e de forma clara passou à intimidação, colocando em risco a existência destas instituições, bem corno a moral dos conselheiros que procuram contribuir para a representação de nossa instituição. Por isso entendo que a medida tomada na plenária, de inscrever esses profissionais e aguardar o restante dos documentos, conforme orientação do CFM, pode ter sido a forma mais sensata para se evitar um mal maior. Não tenho dúvida de que sem a presença do Conselho a sociedade ficará mais desprotegida. Entretanto, essa obrigatoriedade de inscrição, ao arrepio da lei, do próprio contexto da MP 621 e da ética, me incomoda e me faz tomar uma atitude. A luta é árdua, pois a força governamental é infinitamente superior, e a preservação da instituição tem que ser priorizada. As pessoas passam, mas as instituições devem ficar.

Todos sabem que, ao longo de minha gestão, primei pela retidão de conduta e me expus demasiadamente na defesa do que entendemos ser o correto para a saúde. Devido à grande visibilidade, não me sinto nem um pouco confortável em assinar uma carteira de habilitação sem que TUDO esteja na mais absoluta correção, conforme o zelo e a isenção que sempre norteou as ações do CRM. Caros colegas, não se trata de intransigência de minha parte, mas sim de coerência. O governo, de forma unilateral, me diz que eu devo fazer, porém não posso, pois minha consciência e minha historia não permitem.

A decisão que estou tomando está sendo muito dolorosa, pois sei das implicações que traz. Pensei e pesei a minha atitude, abri mão da vaidade e me despi de qualquer apego a cargo ou status. Gostaria de pedir desculpas a vocês, meus colegas de conselho, aos funcionários, à ciasse médica e ao povo do Paraná, mas a situação está insustentável para a minha pessoa.

Diante do exposto, renuncio ao posto de Presidente do CRM-PR, mas não da luta pela definição de políticas de estado para que o acesso à saúde saia do patamar vexatório em que se encontra e faça jus ao que a Constituição Brasileira traz em seu texto, qual seja, um real direito de cada cidadão. Saio da representação e retorno para junto dos milhares de médicos que jamais se furtaram de participar desse debate, pois somos forjados nos bancos da escola para, acima de tudo, salvaguardar a vida das pessoas.

Confesso a todos que prefiro a vergonha da renúncia a ter que conviver com a vergonha de ter traído a minha consciência, pois, quando um indivíduo abre mão de suas convicções, perde sua identidade e o significado de sua existência.

Atenciosamente e com profundo respeito,
Alexandre Gustavo Bley

Por Reinaldo Azevedo

 

Déficit em conta corrente até agosto já ultrapassa total de 2012 e é o pior no período desde 1947

Na VEJA.com:
Além do recorde de gastos de brasileiros no exterior em agosto, o Banco Central mostrou ainda que o déficit em conta corrente do Brasil continua se ampliando. Ficou negativo em 5,05 bilhões de dólares em agosto, impactado, sobretudo, pela conta de serviços, que ficou 4,235 bilhões de dólares no vermelho. A balança comercial, que vinha impactando negativamente as transações correntes ao longo de 2013, teve saldo positivo em agosto, de 1,226 bilhão de dólares.

A conta corrente, ou conta de transações correntes, reúne o saldo da balança comercial (exportações e importações), o resultado da balança de serviços e a conta financeira. Quando está deficitária, significa que o Brasil está tomando mais crédito externo do que recebendo investimentos.

No acumulado do ano, o déficit em conta corrente atinge 57,952 bilhões de dólares, o que representa 4,01% do Produto Interno Bruto (PIB). É o pior resultado para a série histórica do Banco Central nos oito primeiros meses do ano desde 1947. O déficit acumulado em 2013 já é maior do que o resultado negativo total de 2012 (54,230 bilhões de dólares). No acumulado dos últimos 12 meses até agosto, o saldo negativo está em 80,642 bilhões de dólares, ou 3,60% do PIB.

Dívida externa
O BC informou ainda que a estimativa para a dívida externa brasileira em agosto de 2013 ficou em 311,474 bilhões de dólares. Em junho, último dado verificado, a dívida estava em 318,043 bilhões de dólares. No fim de 2012, estava em 312,898 bilhões de dólares. A dívida externa de longo prazo atingiu 276,774 bilhões de dólares em agosto.

Estrangeiros
De acordo com o BC, o investimento estrangeiro direto somou 3,775 bilhões de dólares no mês passado, ante 5 bilhões de dólares em agosto do ano passado. Já o investimento estrangeiro em ações de empresas brasileiras ficou positivo em 882 milhões de dólares em agosto, ante superávit de 1,226 bilhão de dólares em agosto do ano passado. No acumulado do ano até agosto, o saldo está em 7,429 bilhões de dólares, acima do total de 4,125 bilhões de dólares vistos em igual período de 2012.

Por Reinaldo Azevedo

 

O discurso eleitoreiro de Dilma e, ao menos, uma grande inverdade: o Brasil não está preparado para combater o terrorismo coisa nenhuma!

Vejam no post anterior a síntese do discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU. Eis um caso em que a única coisa proibida ao observador é dizer o certo. Como fazê-lo, por estas bandas, é prática que não nos assusta — a mim e aos demais (sem que se precise dizer também a errada, como se Deus e o diabo disputassem almas em igualdade de condições morais) —, então não há como vacilar: o discurso de Dilma faz um elenco de, digamos assim, tautologias sobre a soberania dos países, mas com maus propósitos. O arquivo está aí. Desde o primeiro dia, observei que havia uma superestimação da dita “espionagem” e que o governo usaria a questão para incentivar o antiamericanismo bronco e nossa vocação para falar grosso — e inutilmente — com Washington e fino, por exemplo, com a Bolívia.

Como poderia dizer o letrista Caetano Veloso, seu discurso “não é proveito, é pura fama”. O Brasil, com o apoio da Alemanha, pediu que a ONU debatesse a questão da espionagem na semana passada. Fez-se a reunião em Genebra. Foi escolhida para nos representar uma diplomata de baixo escalão, que acabou nem comparecendo à reunião. Em seu lugar, foi enviada uma estagiária, que entrou muda e saiu calada. Logo, é evidente que tanto a cúpula do governo como a do Itamaraty sabem que essa história não tem importância e que há uma superestimação do ocorrido.

Mas como resistir a fazer um discurso babando antiamericanismo verde-amarelo? Parece mesmo irresistível. Dilma foi lá e botou “uzamericânu” do seu devido lugar. Não se limitou a adjetivos e perorações. Também anunciou ao menos uma inverdade clamorosa: “O Brasil sabe se proteger; repudia, combate e não dá abrigo a grupo terrorista”. Cada um desses verbos, entre a sinonímia e a gradação, é contestado pelos fatos.

O Brasil não repudia, por exemplo, o terrorismo das Farc na Colômbia. Não chega ao desplante de reconhecer os narcoguerrilheiros como “grupo beligerante”, mas jamais reconheceu seu caráter terrorista — o mesmo vale, aliás, para o terrorismo árabe em Israel. Então não é verdade que repudie o terrorismo como princípio. É duro dizer, mas é assim. Também não é fato que o combata. E a razão é simples: o país não dispõe de uma lei para tanto; nem sequer existe prescrição penal para tal crime. A Constituição repudia a prática, sim, mas nosso Código Penal é omisso a respeito. Está em debate no Senado um novo código, que especifica pena para atos dessa natureza — desde que os autores da violência não sejam movimentos sociais. Ah, bom!

O Brasil já libertou um homem com comprovadas ligações com a Al Qaeda porque não tinha o que fazer com ele. Claro, claro… Com um pouco de boa vontade, seria possível enquadrá-lo. Mas sabem como é… Os companheiros acham que esse negócio de combate ao terror é coisa lá “duzamericânu”. A Tríplice Fronteira, há uma porção de evidências, já foi infiltrada pelo terrorismo islâmico. É uma forma de abrigo, nem que seja motivada pela incompetência. Dilma se esqueceu de dizer em seu discurso que, em razão da Copa do Mundo, o serviço, de vá lá, “Inteligência” do Brasil está a receber informações da demonizada Agência Nacional de Segurança. Logo, o país é beneficiário do monitoramento feito pelos EUA.

É novidade?
O que há mais a dizer fora da retórica, no terreno do realismo? Espionagem não é o tipo de coisa regulamentada por leis internacionais, segundo as regras de um cartório. Se fosse, o primeiro a se beneficiar do aparelho burocrático seria o próprio terrorismo. Assim, ele se move mesmo nas sombras. Rússia e China não fazem de modo diferente. A natureza da ação permite que, de vez em quando, um tipo ordinário como Edward Snowden saia do controle e faça o que fez. “Mas você não acha que um protesto era necessário?” Acho, sim! Mas é evidente que discursar a respeito na ONU é coisa de mediocridade arrogante. Então são os EUA que ameaçam a paz mundial? A julgar pelo discurso da mais importante, malgrado as próprias qualidades, governante latino-americana, sim! E é preciso ser um perfeito idiota para acreditar sinceramente nisso.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma critica EUA e faz discurso na ONU de olho em 2014

Na VEJA.com. Volto no próximo post.
Ao falar na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, a presidente Dilma Rousseff apresentou um discurso que mais parecia voltado aos eleitores brasileiros do que aos chefes de estado presentes. Como era esperado, Dilma focou sua participação em críticas ao programa de espionagem dos Estados Unidos — mas não faltou tempo para abordar temas como os protestos de junho e os “avanços” conquistados por seu governo. Já na abertura de sua participação, a presidente deixou claro a que veio, classificando a espionagem americana como violação dos direitos humanos. “Estamos diante de um caso grave de violação de direitos humanos e civis, de desrespeito à soberania nacional de meu país”, disse. “Meu governo fará tudo o que estiver a seu alcance para defender os direitos humanos de todos os brasileiros e de todos os cidadãos do mundo e os frutos da engenhosidade dos trabalhadores e das empresas brasileiras.” A presidente afirmou que a espionagem “fere o direito internacional” e “afronta princípios” que regem relações entre nações amigas. E também que o caso causou “repúdio e indignação” no mundo e ainda mais no Brasil – “alvo da intrusão”.

Dilma foi a primeira chefe de estado a discursar em Nova York, na abertura da sessão de debates da 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas — conforme a tradição de presidentes brasileiros abrirem o evento. Ela afirmou que o Brasil vai propor a criação de um marco civil da internet com validade internacional, que garanta a liberdade, a neutralidade, a universalidade e a privacidade dos usuários. “O problema afeta a comunidade internacional e dela exige resposta. As tecnologias de informação não podem ser o novo campo de batalha entre estados. A ONU deve exercer um papel de liderança.” Dilma falou antes do presidente dos EUA, Barack Obama — que, em seu discurso, abordou rapidamente a questão da privacidade. “Esse é o momento de criarmos as condições para evitar que o espaço cibernético seja instrumentalizado como arma de guerra, por meio da espionagem, da sabotagem, dos ataques contra sistemas e infraestrutura de outros países”, prosseguiu.

A presidente afirmou que o Brasil vive em paz com as nações vizinhas há 140 anos e que o argumento de que a espionagem é uma forma de combater o terrorismo “não se sustenta”. “Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos e civis fundamentais dos cidadãos de outro país. Pior ainda quando empresas privadas estão sustentando esta espionagem”, disse Dilma. “O Brasil sabe se proteger, repudia, combate e não dá abrigo a grupo terrorista.” A agenda antiamericana integra a estratégia eleitoral de Dilma, que cancelou a viagem oficial que faria aos Estados Unidos em outubro após ouvir conselhos de seu marqueteiro João Santana e do ex-presidente Lula.

Depois de criticar os Estados Unidos, Dilma tratou de assuntos domésticos. Afirmou que seu governo reduziu de forma drástica a mortalidade infantil e “retirou 22 milhões de pessoas da extrema pobreza em apenas dois anos”. A presidente ainda tratou dos protestos que tomaram o país em junho. Segundo ela, as manifestações foram, na verdade, uma consequência positiva dos avanços de seu governo. “O meu governo não as reprimiu. Pelo contrário, ouviu e compreendeu as vozes das ruas. Porque nós viemos das ruas”. Para Dilma, os protestos pediram mais avanços. “Sabemos que democracia gera mais desejo de democracia, qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida”, declarou.

Dilma também lembrou que o governo conseguiu destinar, por meio de lei aprovada no Congresso Nacional, recursos dos royalties do petróleo para investimentos em educação (75%) e saúde (25%). O governo prevê destinar 112 bilhões de reais para os setores com a medida. “A pobreza não é um problema exclusivo dos países em desenvolvimento, e a proteção ambiental não é uma meta apenas para quando a pobreza estiver superada”.

A presidente também cobrou uma solução diplomática para a guerra civil na Síria – sem intervenção militar, cogitada pelos EUA. A presidente defendeu a ampliação do número de países do Conselho de Segurança da ONU com nações em desenvolvimento. Segundo ela, o órgão perdeu “representatividade e legitimidade” e sofre de “imobilismo perigoso” entre os membros permanentes – além de “paralisia” na questão palestina. O Brasil é candidato a integrar o conselho.

Dilma classificou como “hediondo” e “inadmissível” o uso de armas químicas: “A crise na Síria comove e provoca indignação. Dois anos e meio de perdas de vidas e destruição, o maior desastre deste século. O Brasil está profundamente envolvido nesse drama. É preciso calar a voz das armas convencionais ou químicas do governo ou dos rebeles. A única solução é a negociação, o diálogo”. A presidente também defendeu a criação de um estado palestino independente na questão entre Israel e Palestina, no Oriente Médio.

Economia
Dilma criticou os níveis mundiais de desemprego – na casa dos 200 milhões, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Ela disse que o Brasil está em recuperação: “Temos compromisso com a estabilidade, com o controle da inflação, com a melhoria da qualidade do gasto público e a manutenção de um bom desempenho fiscal”. Ela defendeu uma reforma na composição do Fundo Monetário Internacional (FMI): “A governança do fundo deve refletir o peso dos países emergentes e em desenvolvimento na economia mundial. A demora nessa adaptação reduz sua legitimidade e sua eficácia”.

Esclarecimento
A presidente também cancelou a viagem de Estado que faria no dia 23 de outubro a Washington. Dilma considerou as denúncias de espionagem um atentado à soberania nacional e atrelou a visita à Casa Branca a uma resposta satisfatória do governo americano.

 Em julho, documentos vazados pelo ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden revelaram que Brasil havia sido alvo de monitoramento dos EUA. Segundo os documentos, a NSA colheu informações sigilosas de empresas e de pessoas residentes ou em trânsito no país. Cerca de 2,3 bilhões de telefonemas e e-mails foram alvo de espionagem, com uso de programas de computador e auxílio de empresas privadas. Uma base da NSA chegou a funcionar em Brasília, de acordo com a denúncia. Snowden teve acesso às informações pela site interno da NSA.

Em setembro, reportagens feitas com base em documentos entregues por Snowden mostraram que as comunicações pessoais da presidente Dilma com assessores do governo e a estatal Petrobras haviam sido espionados pelo Departamento de Defesa do governo americano.

Por Reinaldo Azevedo

 

A psicologia dos fanáticos: do Quênia à escória que associa a imagem de Joaquim Barbosa à de um macaco. O que eles querem?

Victor Frankl descrevia o fanático por dois traços essenciais: a absorção da individualidade na ideologia coletiva e o desprezo pela individualidade alheia. “Individualidade” é a combinação singular de fatores que faz de cada ser humano um exemplar único e insubstituível. Há individualidades mais e menos diferenciadas. Quanto mais diferenciadas, menos podem ser reduzidas a tipicidades gerais e mais requerem a intuição compreensiva da sua fórmula pessoal. Isto se observa, mais nitidamente, na obra dos grandes artistas e filósofos, para não falar dos santos e profetas. É só de maneira parcial e deficiente que a personalidade criadora se enquadra em categorias gerais como “estilo de época”, “ideologia de classe” etc., que os cientistas sociais inventaram para falar de médias humanas indistintas, mas que o estudioso medíocre insiste em aplicar como camisas de força a tudo o que vá além da média. Nessa insistência já se manifesta, em forma disfarçada e socialmente prestigiosa, o fanatismo definido por Frankl. Boa parte da “ciência social” de hoje não é senão o recorte das individualidades segundo a medida da mediocridade-padrão.

Antonio Gramsci, que limitava o papel dos seres humanos ao de agentes ou pacientes da luta de classes — excluindo os incatalogáveis como aberrações ou como resíduos arqueológicos de etapas anteriores da mesma luta —, foi, nesse sentido, um gênio da mediocridade e um codificador-mor do fanatismo. A palavra “fanático”, aplicada ao fundador do PCI, parecerá insultuosa e inaceitável aos que, como bons medíocres, só entendem “fanatismo” na acepção vulgar e quantitativa da exaltação frenética. O verdadeiro fanatismo, ao contrário, é inteiramente compatível com a serenidade do tom e enverga, não raro, convincentes sinais de “moderação”. O fanático não precisa ser irritadiço, nervoso ou hidrófobo. Apenas, está tão afinado com a ideologia coletiva que ela basta como canal para a expressão de seus sentimentos, vivências e aspirações, sem nada sobrar daquele hiato, daquele abismo que o homem diferenciado vê abrir-se, com frequência, entre seu mundo interior e o universo em torno.

Ele pensa e sente com o partido, ama e odeia com o partido, quer com o partido e age com o partido. Tudo o que no seu ser escape dessa bitola é desimportante ou doente. Nossa época e nosso país acrescentaram a isso um trejeito grotesco que assinala a última rendição da alma: o militante enxerta a sigla da agremiação no seu nome de batismo, tornando-se “Joãozinho do PT”, “Mariazinha do PT”. Nem o velho Partidão chegou a tanto. A filiação partidária já não é a simples aprovação crítica e condicional que a personalidade autônoma dá a certas ideias políticas: tornou-se o fator estruturante e a essência vivificadora da personalidade mesma, que sem ela tombaria como um saco vazio. A função nomeante e definidora, antes reservada às famílias, às profissões e às regiões, cabe agora ao partido. Ao mesmo tempo, a filiação dá ao fanático uma localização e um ponto de apoio no espaço externo: pela ideologia coletiva ele se integra tão bem no mundo que nunca se sente isolado e estranho senão pelo curto intervalo de tempo necessário a reconquistar o sentido da sua missão partidária e de seu lugar na história, jogando fora com desprezo o momento de “morbidez”.

Jamais deslocado neste mundo, ele não aspira a nenhum transmundo senão sob a forma de um futuro cronológico a ser realizado neste mesmo plano de existência. Nada o arraiga mais profundamente na temporalidade, no histórico, do que sua rejeição do presente, contra o qual brada: “Um outro mundo é possível”, querendo dizer, precisamente, que se trata deste mesmo mundo, tão logo subjugado pelo seu partido. Kant, com ironia involuntária, denominava o espírito da revolução “sabedoria mundana”. A compressão do infinito no finito não poderia ser mais explícita do que no verso do poeta comunista Paul Éluard: “Há outros mundos, mas estão neste.” Não poderia? Poderia. Gramsci já apregoava “a total mundanização do pensamento”. O fanático, nesse sentido, é desprovido daquela solidão, daquela profundidade, daquela tridimensionalidade próprias dos que “estão no mundo, mas não são do mundo”. Ele, ao contrário, pode “não estar” no mundo, mas, com toda a intensidade do seu ser, “é” do mundo.

Segundo traço
O segundo traço da personalidade fanática, assinalado por Victor Frankl, é o desprezo pela individualidade alheia. A estrutura da individualidade manifesta-se antes de tudo como hierarquia de metas vitais, diversa em cada ser humano. O que é essencial para um é secundário para outro. Mas todas as metas refletem, de algum modo, algum valor universal, que pode ser reconhecido e apreciado por quem não as compartilhe. Não quero necessariamente para mim o que você quer para você, mas reconheço que querê-lo é bom para você.

O homem que deseja a riqueza aprecia o que busca o conhecimento, este respeita o que busca a perfeição artística, a felicidade no casamento, o sucesso político etc. Um mesmo homem pode, de modo simultâneo ou sucessivo, perseguir objetivos diversos, cada um deles traduzindo, na situação do momento, os mesmos valores de base. Para o fanático, só há um objetivo autêntico: as metas do seu partido ou seita. As outras nada valem em si mesmas, tornando-se boas ou más conforme se ajustem ou se afastem daquelas. Digamos, por exemplo, a caridade. Para quem a cultue, é, por si, a meta, o valor e o critério supremo das ações. Para o esquerdista fanático, é um símbolo inócuo, que adquire valor positivo ou negativo conforme seu uso político. Num momento pode ser condenada como ilusão individualista burguesa, noutro enaltecida como virtude máxima do cidadão, conforme apareça como alternativa autônoma ou como prática social integrada na estratégia de esquerda, como aconteceu com a “campanha do Betinho”.

Se, no entanto, você insiste em reafirmar seus próprios critérios, independentemente do serviço ou desserviço que prestem às metas políticas que ele tem em vista, o fanático tem de ignorar você como irrelevante ou enquadrá-lo como inimigo. Reconhecer seus objetivos vitais como independentes, ah!, isto não. Nunca. Esse reconhecimento equivaleria a fazer do sacrossanto ideal político que cultua um simples valor vital entre outros, e isto é precisamente o que não pode admitir de jeito nenhum. Daí que ele seja incapaz de compreender os outros nos próprios termos deles. Ele tem de traduzi-los na linguagem do seu próprio ideal, isto é, reduzi-los a amigos ou inimigos do partido, e julgá-los em função disso, por menos que caibam nesse molde pré-fabricado.

Eric Voegelin, quando jovem, não era a favor nem contra o racismo. Era a favor da ciência histórica. Estudou a história da ideologia racista e, tendo concluído que não tinha nada a ver com a realidade biológica das raças, publicou essa conclusão num livro. Mas, para os nazistas, a ciência histórica não era um critério autônomo admissível. A história tinha de ser a favor do partido ou contra ele. No dia seguinte, a Gestapo estava no encalço de Eric Voegelin. Boris Pasternak não era a favor nem contra o socialismo. Era a favor da boa poesia lírica, da expressão genuína dos sentimentos humanos. Mas, para o fanático socialista, isso não vale como critério autônomo. A poesia lírica, se não serve ao socialismo, serve aos inimigos do socialismo. Pasternak foi condenado à prisão como inimigo do Estado soviético.

O que o fanático nega aos demais seres humanos é o direito de definir-se nos seus próprios termos, de explicar-se segundo suas próprias categorias. Só valem os termos dele, as categorias do pensamento partidário. Para ele, em suma, você não existe como indivíduo real e independente. Só existe como tipo: “amigo” ou “inimigo”. Uma vez definido como “inimigo”, você se torna, para todos os fins, idêntico e indiscernível de todos os demais “inimigos”, por mais estranhos e repelentes que você próprio os julgue. Eu, por exemplo, já fui catalogado pelos esquerdistas como parceiro ideológico do sr. Lyndon LaRouche, que por sua vez me considera um porta-voz de tudo o que ele abomina. Haverá como explicar a ele ou a eles que não tenho nada a ver com isso?

As intenções pessoais da vítima, aí, desaparecem por completo. Se, por exemplo, você é contra o socialismo por motivos morais e filosóficos que nada têm a ver com o interesse das “classes dominantes” que o socialista diz combater, pouco importa: para ele, você é um ideólogo das classes dominantes. E, se você responde que o que está em jogo para você é algo de completamente diverso, nem lhe dá ouvidos: você já está catalogado, e catalogá-lo é o máximo de gentileza que ele pode conceder a alguém que, aos olhos dele, só serve precisamente para isso.
*
ATENÇÃO!
O texto acima não é meu. Seu autor é Olavo de Carvalho. Foi escrito em duas partes: “Psicologia do fanatismo” e “Ainda o fanatismo” (o título do post é deste escriba). Estão publicados no livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, publicado pela Editora Record. É o livro que a imprensa tentou esconder e que os leitores insistem em comprar.

Por Reinaldo Azevedo

 

A Caetano Veloso: “Comigo não, violão!”. Ou: O mundo além do umbigo tropical

Disse que voltaria a Caetano Veloso e volto. Com um pouquinho de preguiça porque há assuntos mais urgentes e importantes. Afirmei que trataria da questão ontem à noite, mas o ataque racista praticado por hostes petistas contra Joaquim Barbosa e a conversão de doutor Ives Gandra entraram na frente. Lá vamos nós. O cantor volta a citar o meu nome — três vezes num parágrafo — em sua coluna no Globo de domingo. Um terço do texto se destina a responder a umpost que escrevi aqui e que remete a Paulo Francis. Qual o busílis? Caetano entrevistou Mick Jagger em 1983. Francis escreveu um artigo sobre a entrevista. Basicamente, leia a íntegra quem não conhece, aponta o servilismo de Caetano ao astro pop. E até faz uma ressalva: o entrevistador, como artista, era melhor do que o entrevistado. Caetano não gostou e chamou o jornalista de “bicha amarga” e “boneca travada”. Neste domingo, tenta se explicar assim:

(…)
Cito Francis, não apesar de ele ter escrito contra mim. Ele estava mentindo e por isso reagi duro, mas a parte negativa da caracterização não era “bicha”: era “travada”, e com isso expliquei que eu é que fora insultado e respondia com crítica cultural. A parte quente do texto dele era sobre eu propagar ideias de amor sem limite. Mas isso era só um aceno aos esquerdistas que ele estava por abandonar.

Retomo
Se é de mentira que se trata, infelizmente, quem mente é Caetano. Acima, vai o link para texto que Francis escreveu. É um despudor afirmar que a “parte quente” estava relacionada a questões comportamentais que Caetano eventualmente evocasse. De resto, no caso daquele artigo, nem se trata de lidar com critérios que remetam a “verdade” ou “mentira”. Era um artigo de opinião. É justo não gostar de uma crítica e rebatê-la. A questão está no modo. O que Caetano encontrou mais à mão foi pespegar no outro a pecha de “bicha amarga” e “boneca travada”.

Agora ele se explica: a “parte negativa da caracterização” estava no “travada”, não no “bicha”. Ah, bom! É isso mesmo, Caetano? Estivéssemos num tribunal, eu lhe daria tempo para rever a besteira. Como não estamos, sou obrigado a desconstruí-la.

1: na hipótese de que Francis fosse bicha, o que é falso, estaria obrigado a ser “destravada”?;

2: isso deve nos levar a concluir que um hétero é livre para expressar como quiser a sua sexualidade, mas uma “bicha” só pode fazê-lo de modo “destravado”?;

3: assim, deve-se concluir que uma “bicha” está obrigada a um decoro específico, ou, então, Caetano a denuncia?;

4: digamos que Francis fosse “bicha” e “travada”, por que seria essa a motivação de sua crítica, não outra qualquer?;

5: quando alguém é “bicha amarga” e “boneca travada”, não se deve mais prestar atenção a qualquer juízo que emita, porque essa condição, então, se sobrepõe às demais?;

6: deve-se supor que Caetano até tolere as “bichas”, desde que elas sejam “destravadas”?;

7: em que a evidente manifestação de preconceito, ora reafirmada, se distingue da tal homofobia?;

8: ora vejam: eu sou contra o PLC 122, que agride a liberdade de expressão e a liberdade religiosa. Caetano, estou certo, é a favor. Eu jamais apelaria à condição sexual de quem quer que fosse, falsa ou verdadeira, para combater um argumento. Caetano, no entanto, fez isso e agora reafirma a validade do seu critério. Ele nada tem contra as “bichas”, claro! — a não ser que sejam “travadas”;

9: crítica cultural foi a que Francis fez. O texto pode ser lido. Caetano só procurou uma maneira de ofender o outro. Trinta anos depois, não tem o bom senso e a humildade de se desculpar.

Embora ele tente fazer de conta que me lê, assim, de vez em quando, quando alguém lhe manda um link, o fato é que um terço do seu artigo busca responder ao post que escrevi. Sem qualquer arrogância, juro!, eu o julgava melhor. Embora o seu estilo de argumentação — o cogitus interruptus — me incomode um pouco, tenho-o na conta de um homem inteligente. O que vai acima está a me convidar a rever essa minha consideração.

Embora obcecado pela novidade, descubro, de forma um tanto surpreendente, um senhor de 71 anos preso numa bolha de ilusões do passado. Escreve ele (em vermelho):

Fui seu fã [de Francis] na adolescência. Mas descobri por mim mesmo, antes dele, a força dos argumentos liberais contra o terror que o comunismo urdia. Nem li Aron contra Sartre (só li Sartre): bastaram-me três ou quatro palavras ditas como comentário cético por Artur Guimarães aos discursos de Mautner em Londres 71. A combinação de tais discursos, que uniam Jovem Guarda e Guarda Vermelha, com o riso de Artur (“Não acredito em sociedade de um livro só”) me fez pensar três vezes. O nietzschianismo de esquerda de Mautner era acompanhado pela frase curta de Artur: “Sou cristão”. Eles foram colegas de escola. Cicero tinha chegado e ainda era um tanto althusseriano: todo mundo buscava ter coragem de olhar o mundo de frente.

Retomo
Caetano tem certa tendência a contar a história da humanidade a partir do seu umbigo, a confundir sua comédia pessoal com a história universal, como escreveu certo senhor. É um risco que todos corremos, eu sei. Nele, o sestro é bastante pronunciado. Comecei a ler “Verdade Tropical” e parei não por causa do estilo “tudo ao mesmo tempo agora”, mas dessa “ego trip” meio despropositada. A se dar crédito ao que vai acima, todos os confrontos ideológicos do fim dos 60 e início dos 70 estavam emblematicamente representados num quartinho de Londres. De resto, nunca houve um “Aron contra Sartre”. Ou é já uma leitura ideológica ou é falha de formação cultural — não seria se ele não escrevesse a respeito; como escreve… Raymond Aron tinha — teve — uma apreensão autônoma daqueles dias, que não era mera expressão reativa. Sugiro a Caetano que leia as suas memórias. Quando as escreveu, Aron era um pouco mais velho do que o arrogante Sartre de “As Palavras”. E escandalosamente mais humilde.

O segundo dos três parágrafos do texto de Caetano é o samba-pseudoacadêmico-do-baiano-doido. Há ali um esforço para demonstrar uma profunda cultura filosófica que vai misturando alhos com bugalhos, numa apreensão de tal sorte pessoal do mundo do pensamento que se trata, sei lá como chamar, de um “ideoleto filosófico”. Escreve (em vermelho):

Olavo [de Carvalho] fala como se toda a academia fosse negação iluminista da Idade Média e mitificação da Renascença. Mangabeira não tem nada disso. Desembaraça-se de modo original e rigoroso, diferençando sua própria interpretação da Era Axial da que serviu a Jaspers para reafirmar as Luzes.

Sabem o que isso quer dizer? Nada! Afirmar que Olavo de Carvalho se opõe à “toda a academia” como esta fosse negação iluminista da Idade Média é, com todo respeito, uma boçalidade. Até porque “toda a academia” não é uma categoria de pensamento, não é um grupo nem é um prédio que abrigue pensadores. Vi no site de Caetano que ele está com show novo. No tempo em que parei de ouvi-lo, uns 15 anos já, cantava muito bem. Espero que continue.

O terceiro parágrafo de Caetano cita meu nome três vezes. Reproduzo trecho:
Se chego até a pôr o nome de Azevedo neste espaço (…), é porque respeito o credo liberal (Mangabeira ama Mills). Também tenho olhado mais esses da direita (mas é pouco: dois posts do Azevedo que me mandaram por e-mail: não busco nada, já notaram?, tudo me cai nas mãos, como a maravilhosa camisa preta dos BBs). (…)

Retomo
Chega “até” a citar por quê? Acha que é alguma concessão que me faz? Imagina que possam me dar visibilidade ou me admitir no mundo dos vivos quando se refere a mim? Mais Caetano entra em pauta quando a ele me refiro do que o contrário. Isso até pode ser a evidência de que o mundo está mesmo de ponta-cabeça, mas assim são as coisas.

“Esses da direita” uma ova! Eu não tenho medo das palavras, nunca tive — e acho que a satanização da palavra “direita” está na raiz de boa parte dos desatinos por que passa o Brasil, um país em que todos os bananas se dizem de centro-esquerda: tanto os bananas da situação como os bananas da oposição. Na justificação do mensalão e na defesa que se faz dos mensaleiros, está a farsa moral de que se tratava, no fim das contas, de uma luta contra “a direita”.

Se Caetano quer me colocar entre “esses da direita”, tem de dizer o que torna “de direita” o meu pensamento; se distingue “direita” de “liberais”, tem de demonstrar o que diferencia uma coisa de outra.

O que me leva para “a direita”? Combater, por exemplo, com igual energia tanto a pena de morte como o aborto, porque elevo a preservação da vida humana à condição de princípio? Ou, sei lá, defender a privatização da Petrobras? Sou de direita porque afirmo que as esquerdas privatizaram o estado ou porque entendo que descriminação de drogas não é questão de gosto individual, mas de política pública que envolve saúde e segurança? Sou de direita porque quero reduzir o tamanho do estado ou porque não condescendo com a glamorização da miséria e da violência sob o pretexto de abrigar a chamada “cultura popular”? Sou “de direita” porque combato a política de cotas raciais ou porque acuso as esquerdas de terem privatizado até o direito ao preconceito, já que elas podem ser racistas (vide caso Joaquim Barbosa) e eventualmente homofóbicas (desde, claro!, que seja por uma boa causa)?

Caetano não venha tentar exercitar comigo essa manemolência da intolerância — “Ah, falei por falar; só porque me enviaram o link”. Como escrevia Paulo Francis, repetindo canção antiga, “comigo não, violão”.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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