Alta do petróleo ainda não altera perfil da produção de etanol, mas maio será decisivo

Publicado em 08/04/2019 17:28
No mês que vem acontece a reunião dos países produtores. Se for renovado o corte de produção, poderá haver deslocamento para o mix da usinas no Brasil

O etanol está decolando em recordes de consumo, praticamente zerando os estoques em início de safra de menos cana e deverá manter a atratividade, até porque a Petrobras terá de desovar para a gasolina, mais dia menos dia, as altas seguidas do petróleo e ainda o carrego do dólar. Mas os efeitos dessa situação atrelada à menor produção do cru está circunscrita ao curto prazo e a conjuntura complexa desse mercado internacional não permite avaliar impactos mais longos no mix das usinas.

A começar pela manutenção ou não dos cortes de 2 milhões de barris/dia que os países produtores no âmbito da Opep, mais Rússia, se comprometeram desde janeiro. Nesta segunda (8), mesmo com o ministro de Energia da Arábia Saudita tirando do ar a continuidade da neutralização da produção, pelo menos mostrando que seu país está satisfeito, ainda alegou falta de consenso entre os demais membros. Reunião em maio deverá ser definitiva. O brent em Londres subiu mais de 1%, chegando a mais e US$ 71, acima das máximas de 2019 de US$ 69 na última semana.

"Por enquanto o etanol está surfando numa boa onda, mas pensar em manutenção do patamar de preços do petróleo, podendo mudar as expectativas de produção de etanol, é muito prematuro", diz Martinho Ono, CEO da SCA Trading. A partir do segundo semestre há dúvidas quanto ao mix, com o componente Índia e sua produção mais consolidada de açúcar, mas até lá não deverá haver mudanças, na opinião do trader, que prevê 9% a menos de bicombustíveis nesta safram em torno dos 27,3 bilhões de litros (17,9 de hidratado).

O estresse do dólar, que passou de mais de 4% de expansão em março, também é um componente pouco seguro para apostar.

Na decisão da reunião de maio da Opep, Ono, bem como Tarcilo Rodrigues, CEO da Bioagência, pensam que haverá peso importante a influência americana. "Primeiro, a questão de aumento da produção dos Estados Unidos", avalia Rodrigues.

Para ambos, além disso a commodity tem uma natureza conjuntural muito associada a aspectos geopolíticos. E aí também não se pode deixar de observar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem insistindo para os produtores de petróleo reverem a política de cortes, já que o barril alcançou níveis de preços cada vez mais perigosos para uma economia global em desacelação.

E nessa conta ainda entra as crises adicionais, como o colapso da infraestrutura da Venezuela, o Irã já alvo de bloqueios dos EUA e agora, por exemplo, a violência da rebelião civil na Líbia. Aliás, nesta segunda, este fator ajudou a puxar o barril em Londres.

O CEO da Bioagência também lembra que a volatilidade do petróleo, "uma commodity que ainda estamos aprendendo a trabalhar", às vezes chega a extremos. Em dezembro, por exemplo, o barril foi a US$ 43.

Apesar de estoques quase limpos e de um começo da safra 19/20 com menos usinas moendo por menor volume de cana - prejuízo ainda da seca de 2018, mais o veranico de dezembro e janeiro -, a produção de etanol vai se alinhando aos poucos. As chuvas desde o final da semana e destes próximos dois a três dias seguram a moagem, mas a tendência tradicional é de que as chuvas vão cessando no Centro-Sul, base da produção canavieira.

Mas os dois agentes de mercado ouvidos por Notícias Agrícolas também não asseguram que a manutenção do combustível fóssil am alta não mexa com a produção do biomcombustível no Brasil.

"A safra brasileira está bem fixada em termos de volumes e por enquanto não podemos prever surpresas", finaliza Tarcilo Rodrigues.

Na média geral, em termos apenas de mix, a estimativas variam em torno de menos 2 milhões de litros de etanol, para quase 2 milhões de toneladas adicionais de açúcar.

Mercado físico

Nesta segunda, as chuvas destes dias elevaram em mais de 7% em Ribeirão Preto, com o litro a R$ 2,30.

No Paraná, mais 12,5% e Mato Grosso do Sul mais 5,5%, entre outras altas levantadas pela Safras & Mercados.

Mas deverá ter uma redução a partir de quarta, de acordo com o analista Maurício Muruci, com o retorno da estiagem sobre as regiões canavieiras.

Por: Giovanni Lorenzon
Fonte: Notícias Agrícolas

NOTÍCIAS RELACIONADAS

No fechamento do semestre, os combustíveis mais caros foram encontrados na BR-101, aponta Edenred Ticket Log
FPBio defende união do setor produtivo para fortalecer movimento pela expansão dos biocombustíveis no país
Maior usina da Atvos em Mato Grosso do Sul tem recordes de moagem e etanol em junho
Consumo de etanol no Brasil cresce mais que o esperado, gasolina recua, diz StoneX
Preço da gasolina fica estável e do etanol reduz 0,25% na primeira quinzena de junho, aponta Edenred Ticket Log
StoneX mantém previsão de consumo de diesel B no Brasil em 2024, faz revisão para biodiesel