Petrobras critica plano do Brasil para biocombustíveis após vender usinas de etanol

Publicado em 19/04/2017 07:08

Por Marcelo Teixeira

SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras demonstrou forte oposição a um programa liderado pelo governo para aumentar o uso de biocombustíveis, um movimento que acompanha sua recente decisão de retirar-se completamente do setor.

Em um documento produzido pela estatal como contribuição a uma consulta sobre o programa RenovaBio, a Petrobras demonstrou preocupação sobre o impacto da maior produção de biocombustíveis sobre a proteção de florestas e produção de alimentos, e disse que usinas de cana não estão em posição financeira adequada para aumentar a produção de etanol.

A empresa também disse que o Brasil não precisa aumentar o uso de biocombustíveis para ajudar a cumprir suas metas sob o acordo climático de Paris, acrescentando que outras formas de contribuição teriam menor impacto econômico.

A posição da companhia está em evidente desacordo com o que foi planejado poucos anos atrás, quando a empresa queria diversificar suas fontes de energia e tornar-se uma das cinco maiores produtoras de biocombustíveis do mundo.

A Petrobras vendeu à francesa Tereos sua participação na fabricante de açúcar e etanol Guarani, vendeu uma participação de 50 por cento na produtora de etanol Nova Fronteira e fechou algumas de suas plantas de biodiesel, à medida que prioriza investimentos nos campos de pré-sal para otimizar a geração de caixa e reduzir sua dívida de quase 100 bilhões de dólares.

O diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, disse estar surpreso com o conteúdo do documento.

"Infelizmente é um retrocesso... Vejo que alguns dados que foram apresentados são ultrapassados, não acompanham a leitura global hoje", disse ele. A Ubrabio apoia o programa do governo.

Uma das promessas do Brasil sob o acordo climático de Paris era aumentar acentuadamente a parcela de biocombustíveis em sua matriz de energia para ajudar a bater uma ambiciosa meta de cortar as emissões de gases estufa em 43 por cento ante níveis de 2005 até 2030.

Para o etanol, por exemplo, essa meta significaria quase dobrar a produção atual para 54 bilhões de litros até 2030. O governo criou recentemente o programa RenovaBio para reunir informações sobre como impulsionar o uso de biocombustíveis.

Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), disse que a Petrobras parece estar olhando apenas para seus próprios interesses.

"Pedro Parente declarou claramente que seu foco está nos combustíveis fósseis. É claro que nenhuma companhia quer ser diminuída, mas você não pode ir contra o que está acontecendo no mundo", disse ela.

"O Brasil tem uma enorme vantagem comparativa em biocombustíveis. É claro que podemos bater a meta de Paris sem eles, mas isso seria tolo."

A Unica defende a adoção de mandatos de biocombustíveis para distribuidores de combustíveis no Brasil, de maneira similar ao que acontece nos Estados Unidos, como modo de forçar volumes maiores de etanol ao mercado.

Fonte: Reuters

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