Algodão salta até 20% na semana em NY, mas cenário é frágil e exige proteção do produtor no BR
O mercado internacional do algodão segue operando com muita intensidade e muita volatilidade, buscando definir uma direção. Somente nesta semana, os futuros da pluma negociados na Bolsa de Nova York subiram até 20,5%, como foi o caso do contrato dezembro/22 - que é o mais negociado agora - que saltou de 72,11 para 86,93 cents por libra-peso. O maio/23 teve alta, em relação à última sexta-feira (28), 17,05%, passando de 72,30 para 84,63 centavos de dólar/lp.
Especificamente nesta sexta-feira (4), as altas foram muito intensas e chegaram a superar 5%, acompanhando um movimento generalizado das commodities, diante de menos aversão ao risco e ao movimentos dos investidores e especuladores saindo do dólar, partindo para as agrícolas, energéticas e metálicas, ao contrário do que se deu na sessão anterior.
Parte desse movimento, como explicam analistas e consultores internacionais, reflete os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos divulgados nesta sexta-feira.
"O mercado de trabalho ficou mais forte do que o esperado, porém, a taxa de desemprefo subiu mais que as expectativas, reforçando o sentimento de que o Fed pode parar de subir os juros antes do que o esperado. Dólar para baixo, commodities para cima", afirma a equipe da Agrinvest Commodities.
Ao lado dessas informações, porém, o mercado espera também pelos novos dados de inflação que serão reportados na semana que vem e que deverão continuar a interferir em todos os ativos, como tem sido nos últimos meses. Além disso, são números que poderão direcionar ainda mais os investidores sobre o futuro da taxa de juros norte-americana e das decisões do Federal Reserve.
Em foco está não só a intensidade das altas sobre a taxa, mas o ritmo em que esses movimentos deverão ser elaborados e implementados pelo banco central dos Estados Unidos.
Para o algodão, todos estes movimentos são ainda mais impactantes, uma vez que é um produto muito mais sensível à renda do que os demais, como explica o head de algodão da StoneX, Pery Passotti Pedro. E ele alerta ainda para movimentos de ganhos tão intensos apenas pontuais, uma vez que a recessão da economia mundial permanece no radar e o que se discute é apenas o ritmo e a intensidade em que deve ocorrer.
"Continuamos vivendo essa dicotomia. Há um movimento recessivo e o mercado está 'desesperado' por uma notícia otimista", diz. E lembra ainda que a semana foi marcada por uma notícia de que autoridades na China estão discutindo um possível relaxamento das medidas contra o Covid-19, que foi uma destas notícias positivas que ajudaram na recuperação dos preços nesta sexta.
Dessa forma, Pery segue alertando para essa manutenção do quadro econômico ainda muito fragilizado, que poderia continuar a prejudicar o consumo de algodão, pesando ainda mais sobre as cotações.
Por outro lado, chama atenção ainda a um suporte importante que foi respeitado pelo mercado de 70 a 75 cents de dólar por libra-peso, que é uma espécie de referência de custo de produção para produtores de diversas partes do mundo.
MERCADO BRASILEIRO
Para o Brasil, a orientação do head da StoneX é de que proteções de preços continuem a ser empregadas pelos produtores, já que eles definiram suas decisões de plantio quando os preços ainda caminhavam por patamares mais satisfatórios e que remuneravam melhor os cotonicultores.
Com isso, se espera um aumento de área para a próxima safra, o que torna ainda mais determinante a necessidade de um planejamento comercial mais eficiente.
Todavia, depois do resultado das eleições no país, os negócios ficaram mais lentos e os produtores, mais na defensiva.
"De acordo com o IMEA, as negociações seguem fracas com a espera de preços mais atrativos por parte dos produtores. Alguns corretores relataram maior dificuldade nas negociações após os resultados da eleição, entretanto, é cedo para afirmar os impactos que o novo governo terásobre o mercado de algodão", explica analista de mercado Bruna Stewart, da Agrinvest Commodities.
Ainda assim, o mês de outubro se encerrou com boas exportações de algodão pelo Brasil. As vendas somaram 260,14 mil toneladas da pluma, sendo este o maior volume mensal exportado em 2022, ainda segundo Bruna.
"Com relação ao preço, o cenário macroeconômico segue pressionando o mercado interno. Na semana passada, o algodão em NY acumulou uma queda de 8,8%, que refletiu diretamente nos preços brasileiros, mantendo o indicador Cepea abaixo dos R$ 5,00/LP", complemente a analista.
>> Clique AQUI e confira o Panorama Brasileiro do Algodão, por Bruna Stewart