Abrapa destaca controle biológico do algodão na Better Cotton Conference

Publicado em 23/06/2022 14:45

A expansão do controle biológico de pragas e doenças do algodão no Brasil foi destaque no primeiro dia da Better Cotton Conference 2022, realizada em Malmö, na Suécia. Convidada a participar do painel sobre inovações, a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) mostrou os aspectos que garantem a sustentabilidade do sistema produtivo no País, maior produtor mundial de Better Cotton.

Better Cotton é o algodão certificado pela BCI, organização sem fins lucrativos criada em 2005 para fomentar práticas responsáveis e sustentáveis na cotonicultura ao redor do globo. Na safra 2020/21, o Brasil respondeu por 42% da oferta mundial de Better Cotton.

Na edição deste ano, o evento da BCI voltou ao formato presencial e se propôs a debater com todos os segmentos da cadeia produtiva global do algodão como lidar com os desafios climáticos atuais. "Nossas condições climáticas favorecem o surgimento de pragas e doenças do algodão, o que torna necessário o controle químico. Porém, ano após ano, o Brasil tem ampliado a adoção do controle biológico", afirmou o presidente da Abrapa, Júlio Busato. Ele foi um dos integrantes do painel "Disruptors: Breakthrough Approaches" desta quarta (22).

De acordo com Busato, essa ampliação está sendo impulsionada pelos próprios produtores. "Além do aspecto sustentável, há a eficiência agronômica e a otimização de recursos. Nosso foco é usar os químicos no volume estritamente necessário", pontuou o presidente. Essa visão é o que explica o investimento feito pelos agricultores brasileiros no desenvolvimento de mais alternativas de manejo biológico, seja por meio de fabricação própria na fazenda (on farm) ou no financiamento de projetos e parcerias com instituições de pesquisa.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima que 23 milhões de hectares utilizados para o cultivo de soja, algodão e cana de açúcar no Brasil já adotem o controle biológico como rotina.

Outro aspecto que reforça o interesse brasileiro no manejo biológico é a grande adesão dos cotonicultores ao programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), da Abrapa. Atualmente, 84% da produção tem certificação socioambiental, e um dos requisitos básicos para tal é a comprovação de manejo integrado de pragas (MIP) pela fazenda participante.

"Com o monitoramento constante da sanidade da lavoura feito pelo MIP, o produtor identifica que mecanismos biológicos podem ser adotados antes de entrar com o produto químico. Entre as alternativas, estão insetos e predadores naturais e microrganismos (fungos, vírus e bactérias)", comentou o presidente da Abrapa.

Os bons resultados surgem em via dupla. O produtor fica mais eficiente no controle da dosagem, frequência e aplicação dos pesticidas, usando "o estritamente necessário" como enfatizou Busato, e amplia as práticas de defesa natural dos campos. "Com a vantagem adicional de, com isso, melhorarmos bastante a biodiversidade na propriedade rural e, consequentemente, a saúde dos solos", reiterou.

Durante sua participação na Better Cotton Conference, Busato citou o caso de sucesso de controle de nematoides, parasitas frequentes nos solos do Cerrado, com produtos biológicos. Aproveitou também para apresentar outros aspectos sustentáveis do modelo produtivo no Brasil. "Somente 8% de nossa produção é realizada em áreas irrigadas e 95% da área plantada localiza-se no bioma Cerrado, e não na Floresta Amazônica", citou o presidente da Abrapa.

Outros aspectos destacados por Busato foram a existência do vazio sanitário – período em que o plantio de algodão é proibido como medida de defesa sanitária – e a semeadura diretamente sobre a palhada resultante da cultura anterior (geralmente a soja). "Com o plantio direto, aumentamos o volume de matéria orgânica, evitamos erosão e fixamos mais CO² no solo", contextualizou.

Além de ser o maior fornecedor de Better Cotton no mundo, o Brasil atrai atenção para suas iniciativas sustentáveis devido à larga escala da produção nacional. Embora em sua maioria de perfil familiar, as fazendas de algodão no Brasil têm em média 4 mil hectares de área e, nos últimos 20 anos, investiram em profissionalização.

Entre os sinais dessa profissionalização estão a grande adesão ao programa ABR e o emprego de tecnologia. A colheita é totalmente mecanizada no País e a maioria das unidades de beneficiamento do algodão está instalada nas próprias fazendas produtoras.

Quarto maior produtor mundial de algodão, com 2,36 milhões de toneladas cultivadas na safra 2020/21, o Brasil cultiva 65% de sua produção em segunda safra – ou seja, após o ciclo da soja. Além dos benefícios à biodiversidade, esse reaproveitamento da área plantada torna as fazendas mais eficientes. A produtividade média brasileira, de 1.800 quilos de pluma por hectare (kg/ha), supera em 128% o índice mundial.

A programação da Better Cotton Conference continua nesta quinta (23). O Brasil volta a participar com um case de agricultura regenerativa que será abordado no painel com agricultores sobre ações de adaptação às mudanças climáticas.

Fonte: Abrapa

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