Evolução da técnica do plantio-isca vem mostrando resultados positivos contra o bicudo-do-algodoeiro na Bahia

Publicado em 18/06/2021 07:46

Recomendada como uma aliada para o controle do bicudo-do-algodoeiro, desde que a praga chegou por aqui, em 1983, a técnica do plantio-isca vem sendo aperfeiçoada, com resultados positivos, principalmente, na redução do número de aplicações de defensivos para o controle do inseto e redução dos danos provocados, garantindo mais sustentabilidade à produção. Em sua versão atual, que já vem sendo aplicada na Bahia, o plantio-isca preconiza, além do cinturão de algodão em volta da bordadura externa da lavoura, um “filtro” entre os talhões e um recuo estratégico entre a faixa isca e a lavoura. Tudo isso foi pensado levando em consideração o comportamento do bicudo e a diferença fundamental entre os indivíduos que vêm de fora, no início do ciclo, e aqueles que sobreviveram nas soqueiras e tigueras, na entressafra. A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) está avaliando os resultados já alcançados na Bahia, e planeja recomendar a adoção do plantio-isca nos 18 núcleos do seu Programa Fitossanitário.

Entender a diferença de comportamento desses dois bicudos é a chave de tudo. O que vem de fora passou a entressafra hibernando, usando apenas a própria gordura do corpo como combustível para manter-se vivo. Quando ele acorda, de tão debilitado, mal consegue andar, quanto mais voar. Ele vem pela bordadura, andando, pois tem baixa reserva de energia e se alimenta dos pecíolos das plantas. As aplicações de bordadura o atingem em cheio.

Já o bicudo das plantas voluntárias, as soqueiras e tigueras, ficou “de boas”, no meio de outras lavouras como a soja, alimentando-se dos algodoeiros que escaparam mesmo ao manejo mais cuidadoso. Sua hibernação foi intermitente, e ele é capaz de voar até 30 quilômetros para fazer sua dispersão. A estratégia do plantio-isca e do “filtro” é garantir a melhor blindagem e manejo tanto para o bicudo que vem de fora, quanto para o que resistiu à entressafra.

De acordo com o consultor Paulo Saran, o comportamento padrão do bicudo é orientado pelas estações do ano. “No inverno, em outros países, ele hiberna.  No Brasil, onde o clima é tropical, sem invernos rigorosos, o bicudo resiste em quiescência, após a colheita, nas plantas voluntárias e nos restos culturais. O produtor, por mais cuidadoso que seja, nunca consegue erradicar de vez as tigueras e soqueiras, porque é próprio da fisiologia do algodoeiro resistir às intempéries. Quando uma tiguera emerge numa lavoura de soja, nem mesmo o herbicida será suficiente para exterminá-la, pois a soja, muito provavelmente, será RR e o algodão, também. O que o plantio-isca faz é agir, estrategicamente, sobre esse comportamento do bicudo”, explica Saran.

O advento da transgenia, que permitiu redução de gastos com insumos nas lavouras para a proteção contra lepdopteras e para o combate das plantas invasoras, no caso do bicudo-do-algodoeiro, vem perdendo este benefício. Isto porque, até hoje, não se desenvolveu uma variedade geneticamente modificada, resistente ao inseto. “O produtor, na insegurança causada pela própria sazonalidade da praga, nivela as aplicações para cima, aplicando o inseticida em toda a bordadura, o que de certa forma neutraliza os ganhos que a transgenia oferece em redução de gastos, uma vez que a janela de pulverizações, que ocorre com a redação das aplicações para lagartas, cria as condições ideais para a entrada do bicudo nas lavouras” diz o consultor.

O método aprimorado consiste na implantação de um plantio-isca ao redor do algodão, na bordadura externa. “Ao redor dos talhões, faz-se o plantio 15 dias antes da lavoura comercial, porque o algodão vai emitir os primeiros botões florais antes. É importante lembrar que o plantio antecipado da faixa isca não deve invadir o período do vazio sanitário da cultura”, explica. Com o início da floração, é a hora de atacar. “O manejo nesta área será através da pulverização de inseticidas bicudicidas, de dois em dois dias, com alternância de produtos para evitar resistência dos insetos e injúrias das plantas”, recomenda Saran.

Ainda segundo o consultor, a partir de um determinado período, o ritmo das aplicações equaliza para sete em sete dias. Na bordadura, depois do primeiro botão floral, faz-se a aplicação total. Normalmente, sem o plantio-isca, fazem-se de 19 a 22 aplicações. Com o plantio-isca, tem-se reduzido em torno de dez aplicações. “Embora o argumento de economia com defensivos seja bastante atraente, o real objetivo da técnica é dar sustentabilidade ao sistema e não apenas reduzir o número de aplicações”, pondera Paulo Saran, alertando que entre o plantio-isca e a lavoura, a sugestão é que se faça um recuo de três metros.

Barreira de contenção

Uma inovação da técnica é o plantio de um “filtro” na cabeceira o talhão da soja, como uma barreira de contenção para os adultos dispersantes das plantas involuntárias, as tigueras. “Basta uma faixa, equivalente a uma linha de plantadeira. Esse filtro vai pegar a maioria dos bicudos que viriam voando para a lavoura”, afirma o consultor. Os insetos que escaparem do filtro caem na isca. “O filtro estará ao lado de uma lavoura que não tem o mesmo manejo e, por isso, provavelmente, sofrerá com as tigueras. É importante salientar que as plantas do filtro deverão permanecer nas cabeceiras por um período de uma semana após a colheita da soja”, alerta.

Para quem se preocupa com o custo e o trabalho que dá implantar um plantio-isca, o consultor lembra que o algodão da isca pode ser colhido. Já o do filtro, nem sempre. Para facilitar o manejo, a isca usa a mesma variedade de algodão do talhão. O consultor também salienta que a técnica é personalizada. “Cada propriedade é um caso. Por isso, não dá para esperar o mesmo tipo de investimento ou resultados para todas elas”, concluiu Saran.

O presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, está confiante nos resultados. “A cotonicultura brasileira evolui a cada ano, e a tradição de quem cultiva a fibra desde muito antes dos tempos coloniais permite esse acúmulo de conhecimento que nasce da observação da natureza e se soma às tecnologias que surgem em ritmo acelerado. Como instituição de representação dos produtores de algodão, temos o papel de fomentar a tecnologia, a geração e a difusão de conhecimento para o fortalecimento da nossa cotonicultura”, afirma Bergamaschi. 

Fonte: Abapa

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