Rebeldes dizem ter expulsado forças pró-Gaddafi de duas cidades

Publicado em 06/03/2011 18:30
na Folha de S. Paulo deste domingo

O Conselho Nacional Líbio, comandado por rebeldes que lutam pela queda do ditador do país, Muammar Gaddafi, afirmou neste domingo ter lutado contra forças pró-regime em Zawiyah e Misrata, e que as duas cidades agora estão "liberadas". Em outra frente, os rebeldes --que mais cedo haviam recuado após batalhas em Bin Jawad, no caminho para a cidade natal de Gaddafi, se reagruparam e voltaram a avançar pelo oeste.

Um porta-voz do conselho, falando durante uma entrevista coletiva em Benghazi --reduto das forças opositoras-- afirmou que todas as cidades no leste da Líbia continuam sob poder dos rebeldes.

Em Misrata, forças pró-governo usaram tanques e artilharia no que pareceu ser seu mais planejado ataque para retomar o controle sobre a cidade, localizada 200 quilômetros a leste da capital, Trípoli, mas foram repelidos por rebeldes.

"As brigadas [pró-Gaddafi] tentaram chegar ao centro da cidade, mas revolucionários conseguiram repeli-los. Eles recuaram para a base aérea", disse um morador à agência de notícias Reuters, que não quis revelar seu nome.

Hussein Malla/AP
Fumaça é vista saindo de uma base militar dominada por rebeldes após ataque de forças pró-Gaddafi em Ras Lanuf

"Os revolucionários capturaram 20 soldados e apreenderam tanques. A cidade está agora totalmente sob controle dos jovens."

Já sobre Zawiyah não há detalhes, até o momento, sobre os confrontos entre rebeldes e forças pró-Gaddafi. No sábado, a cidade --localizada a apenas 50 quilômetros de Trípoli-- havia sido palco de uma violenta ofensiva por parte dos seguidores do ditador. Os ataques podem ter deixado mais de cem mortos.

As declarações do conselho rebelde foram feitas no mesmo dia em que partidários de Gaddafi tomaram as ruas da capital para celebrar o que consideram "vitórias" militares do regime, depois de a televisão estatal líbia anunciar que os rebeldes tinham sido derrotados em Zawiyah, Ras Lanuf, Misrata e Tobruk.

Os partidários do regime cantavam e empunhavam bandeiras verdes em sinal de apoio a Gaddafi, enquanto se ouviam disparos de fuzis automáticos e de artilharia.

A televisão estatal líbia tinha anunciado de madrugada que os rebeldes haviam perdido o controle dessas estratégicas localidades.

"As forças armadas líbias retomaram o controle das cidades de Misrata e Ras Lanuf", esta última uma importante cidade petrolífera do país, informou também o canal local Al Libiya, ligado a Seif Al Islam --um dos filhos de Gaddafi.

O canal acrescentou, citando fontes militares, que as forças leais ao regime se dirigem no momento em direção à cidade de Benghazi --capital provisória das forças revolucionárias.

Os rebeldes, que nos três últimos dias se aproximaram de Sirte, cidade natal de Gaddafi, afirmam manter o controle do enclave petrolífero e portuário de Ras Lanuf, tomado na sexta-feira passada, informaram jornalistas independentes de meios de comunicação diversos.

BIN JAWAD

Em Bin Jawad --localizada a 160 quilômetros da cidade natal de Gaddafi, Sirte, que parece ser o novo alvo dos opositores--, rebeldes sofreram uma ofensiva e foram expulsos da localidade mais cedo. Mas eles se reagruparam e voltaram a avançar rumo ao oeste.

Hussein Malla/AP
Rebeldes disparam foguetes durante batalha contra forças pró-Gaddafi perto de Bin Jawad

"Já estamos às portas de Bin Jawad. Há sons de morteiros caindo perto de posições rebeldes, deixando nuvens de fumaça, e também o som de metralhadoras pesadas à distância", afirmou o corresponde da agência de notícias Reuters Mohammed Abbas por telefone.

"Há um fluxo constante de rebeldes retornando para o oeste rumo a Bin Jawad", disse. A cidade está no caminho para Sirte, que os rebeldes pretendem atacar.

Os rebeldes haviam tomado Bin Jawad no sábado, mas tiveram de recuar. Dezenas de veículos rebeldes, armados com metralhadoras, chegaram em Ras Lanuf do oeste, onde as forças de oposição relataram mais cedo um ataque de forças pró-Gaddafi.

Durante a batalha, forças líbias disseram ter abatido um helicóptero. Três rebeldes afirmaram à Reuters que viram a aeronave cair no mar, mas nenhum outro detalhe é conhecido.

Um rebelde, que voltou ferido da frente de confrontos em Bin Jawad, disse que as forças leais ao ditador atacaram com metralhadoras e lançadores de granadas.

Questionado, o que tinha visto, ele respondeu: "Morte".

Médicos em um hospital em Ras Lanuf disseram que o local recebeu dois mortos e 22 feridos na batalha em Bin Jawad. No entanto, o número pode ser maior, já que testemunhas contaram que havia muitos mortos e feridos que não puderam ser alcançados devido a batalha.

De seu lado, o governo disse neste domingo que expulsou os rebeldes, que tomaram o controle de todo o leste da Líbia há uma semana, de volta a sua fortaleza em Benghazi, a segunda maior cidade do país.

Mas os rebeldes continuam claramente no controle de Benghazi e do importante complexo petrolífero de Ras Lanuf, tomado na noite de sexta-feira. "Há rebeldes lá", afirmou uma testemunha em Ras Lanuf. Um avião de guerra atingiu a localidade neste domingo, mas não teria deixado vítimas.

'HORA DE PARTIR'

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, ressaltou neste domingo em Cardiff (País de Gales) que seu governo continuará "intensificando a pressão" sobre o regime do ditador líbio, Muammar Gaddafi --que há 20 dias enfrenta forças oposicionistas que pedem sua renúncia--, e assinalou que chegou a hora do ditador "partir".

Em discurso pronunciado dentro da conferência de primavera do Partido Conservador, o chefe do Executivo britânico afirmou que a "estratégia" do Reino Unido com relação ao conflito no país norte-africano estava "clara".

"Continuaremos intensificando a pressão sobre o regime. Continuaremos deixando claro que a justiça internacional tem uma longa trajetória e que aqueles que cometam crimes contra a humanidade não ficarão impunes", disse Cameron.

Hussein Malla/AP
Rebelde antiregime olha por binóculo ao inspecionar o céu na cidade de Ras Lanuf, no leste da Líbia

O líder também indicou que o Reino Unido "seguirá prestando socorro humanitário aos afetados por esta crise e continuará exigindo que as organizações humanitárias cheguem até os que necessitam as ajudas".

"Junto com nossos aliados, continuaremos elaborando planos para enfrentar qualquer eventualidade", manifestou.

O líder conservador pediu também "solidariedade" para aqueles "que hoje se encontram nas ruas do norte da África e no Oriente Médio".

Fonte: Folha de S. Paulo

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