Lobby do etanol doou a políticos nos EUA
"No ano que vem, nossas chances serão melhores", diz Bill Buff, da Stratacomm, empresa de relações públicas contratada para defender a causa do etanol brasileiro. Em janeiro, assume uma nova Câmara dos Deputados com maioria da oposição republicana e uma bancada barulhenta do Tea Party, que defende corte de gastos públicos. Uma importante entidade ligada a esse movimento conservador, o FreedomWorks, assinou carta aberta contra os incentivos.
Os EUA concedem subsídio de US$ 0,45 por galão (3,8 litros) de etanol misturado à gasolina, e impõem uma tarifa de US$ 0,54 sobre o galão importado. O sistema, que custa US$ 6 bilhões ao ano e existe há três décadas, deve ser renovado graças a um dispositivo inserido num projeto de lei que trata de um assunto diferente, a extensão dos cortes de impostos feitos na administração do governo Geoge W. Bush.
O principal defensor do subsídio é o senador Charles Grassley, de Iowa, um tradicional Estado produtor de milho e responsável por 26% da capacidade de processamento de etanol nos EUA. Grassley recebeu R$ 37,9 mil de organizações ligadas às usinas na sua campanha eleitoral deste ano, segundo o Centro para a Integridade Pública, uma ONG baseada em Washington. No total, as doações de entidades ligadas ao agronegócio somam R$ 256 mil, segundo uma outra ONG, a OpenSecrets.
Na reta final dos debates, um grupo de 15 senadores, incluindo Grassley, assinou uma carta defendendo a prorrogação do subsídio. Todos são da mesma região, o Meio-Oeste, onde fica o cinturão do milho. Em conjunto, as campanhas desses senadores receberam US$ 999,9 mil em contribuições da indústria do etanol, segundo o Centro para a Integridade Pública.
Embora derrotado, o lobby brasileiro construiu uma coalizão americana em torno de seus interesses. Pesquisas de opinião e entrevistas com eleitores mostraram que os os americanos, mesmo os do Meio-Oeste, tendem a apoiar o fim dos subsídios, desde que confrontados com argumentos que mostram as vantagens aos EUA. Entre eles, o fato de que o etanol de cana é ambientalmente melhor do que o de milho, custa menos e reduz a dependência do petróleo. Era necessário, porém, trabalhar em alguns pontos fracos do Brasil, como a acusação de desmate da Amazônia, trabalho em condições precárias e existência de uma tarifa de importação de etanol no país (que foi zerada neste ano).
Pouco mais de 70 jornais publicaram editoriais contra o subsídios, entre eles o New York Times, Washington Post e Wall Street Journal. Cerca de 100 mil eleitores mandaram mensagens ao Congresso, e 17 senadores assinaram uma declaração publica pela extinção dos incentivos. Geograficamente, eles representam todas as regiões do país, com exceção do Meio-Oeste. Em Estados mais à esquerda, como a Califórnia, o eleitorado é mais sensível ao argumento de que o etanol feito de milho é menos eficiente do ponto de vista ambiental. Nos Estados mais conservadores, o corte do gasto público é o argumento mais forte.