Para Estados Unidos, Dilma planejou assaltos durante a ditadura

Publicado em 10/12/2010 08:29


A diplomacia dos EUA afirmou em telegrama confidencial de 2005 que Dilma Rousseff, então recém-nomeada para a Casa Civil, "organizou três assaltos a bancos" e "planejou o legendário assalto popularmente conhecido como 'roubo ao cofre do Adhemar' " na ditadura.

O telegrama faz parte de um lote de nove documentos obtidos pela ONG WikiLeaks aos quais a Folha teve acesso. Não há nenhuma menção à fonte da informação a respeito da atuação atribuída à presidente eleita.

Dilma nega ter participado de ações armadas quando militou em organizações de esquerda, nos anos 60.

O processo sobre ela na Justiça Militar descreve de forma diferente sua atuação: "Chefiou greves, assessorou assaltos a bancos". Não é acusada de "organizar" ou "planejar" assaltos. Ela foi condenada por subversão.

O embaixador dos EUA em Brasília, Thomas Shannon, disse à Folha: "O governo dos EUA não tem informação que confirme essas alegações. Ao contrário, nós temos uma longa e positiva relação com a presidente eleita".

Esse telegrama, redigido em 2005 pelo então embaixador americano no Brasil, John Danilovich, já havia sido obtido em 2008 pelo jornal "Valor Econômico". Na época, ainda não era certa a candidatura de Dilma.

No conjunto de papéis que vazaram agora, há especulações sobre a personalidade da petista, as chances de ser eleita e sua saúde.

No caso das ações armadas, há coincidência entre o que está no telegrama dos EUA e um trecho do livro "Mulheres que Foram à Luta Armada", do jornalista Luiz Maklouf Carvalho (1998).

Não há até hoje, entretanto, evidências concretas sobre a participação de Dilma em ações armadas.

Em 2009, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, elogiou os relatos: "Gostei muito dos telegramas da embaixada que contêm perfis alentados sobre os candidatos a presidente em 2010 e sobre suas estratégias".

Hillary chama o sistema político brasileiro de "bizantino". E faz recomendações para futuros despachos:

"Nós damos especial valor a informações sobre como são os estilos de operação desses líderes, seus comportamentos, motivações, pontos fortes e fracos, relacionamento com seus superiores, sensibilidades, visões de mundo, hobbies e proficiência em línguas estrangeiras."

Os detalhes já aparecem nos despachos sobre Dilma desde 2005. "Ela gosta de cinema e de música clássica. Perdeu peso recentemente, de acordo com relatos, depois de ter adotado a mesma dieta do presidente Lula."

Há elogios a Dilma, vista como "competente" por empresas dos EUA, que "a louvam por sua paciência para ouvir e responder". E um alerta: "Ela tem uma fama de ser teimosa, uma negociadora dura e detalhista".

O câncer linfático descoberto por Dilma em 2009 foi acompanhado pelos EUA. "Numa reunião em 18 de junho, com um visitante de Washington, Rousseff aparentava estar bem, com cor natural e maquiagem leve."

O senador Tião Viana (PT-AC) disse aos americanos que "as alternativas mais prováveis", caso Dilma não fosse candidata, eram Antonio Palocci e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula --nunca visto como opção.

Caça ao WikiLeaks 

Num ataque à liberdade de expressão, governos e empresas perseguem o site e seu fundador com o intuito de evitar novos vazamentos 

Está em curso uma cruzada de governos e empresas internacionais contra o WikiLeaks. O site, que existe desde 2007, ganhou fama em meados deste ano ao divulgar um vídeo que mostrava militares norte-americanos fuzilando iraquianos de um helicóptero.
No dia 28 de novembro, um domingo, sua página na internet iniciou a publicação de 251.288 despachos relativos a 274 representações diplomáticas dos EUA. Os "cables" revelam a opinião da diplomacia norte-americana sobre líderes mundiais e trazem à tona informações inéditas sobre a política internacional.
Entre outras revelações, soube-se que a secretária de Estado Hillary Clinton determinou a espionagem de membros da cúpula das Nações Unidas e que os Estados Unidos lançaram mísseis contra o que seriam alvos da Al Qaeda no Iêmen, provocando a morte de 200 civis e 40 terroristas.
Os vazamentos causaram fortes reações de governantes e deflagraram uma caçada ao australiano Julian Assange. Procurado pela Interpol, sob acusação de supostos crimes sexuais praticados na Suécia, o fundador do site entregou-se à Justiça britânica na terça.
A perseguição parece relacionada ao intuito de silenciar um novo meio de divulgar informações que ganhou uma inesperada projeção internacional e tornou-se um incômodo para governos de diversos países.
Espécie de caixa postal criada na rede mundial de computadores para receber e divulgar documentos secretos, o site WikiLeaks não é um órgão propriamente jornalístico, embora conte com profissionais da mídia para avaliar o material que recebe e mantenha acordos com veículos impressos - entre os quais o britânico "Guardian", o norte-americano "The New York Times" e esta Folha, que tem divulgado os "cables" relativos ao Brasil.
O caráter ambíguo do WikiLeaks, aliado à sua inexistente tradição -não há histórico consolidado de seus valores e comportamentos-, gera desconfiança sobre a possibilidade de o site vir a colocar em risco a segurança internacional e a vida de pessoas.
Essas incertezas possivelmente contribuem para as hesitações que se observam em setores que deveriam defender com vigor a liberdade de expressão e o direito da mídia, tradicional ou não, de divulgar informações reservadas.
Quanto a isso, há jurisprudência nos EUA, onde a Suprema Corte, em 1971, decidiu a favor do jornal "The New York Times" contra o governo de Richard Nixon, que determinara censura prévia para impedir a publicação dos chamados Papéis do Pentágono. O tribunal estabeleceu que o governo não pode obstar a publicação de notícias que considere lesivas à segurança ou aos objetivos nacionais.
Num mundo em que governos democráticos inventam mentiras para invadir países, vazamentos como os do WikiLeaks prestam um serviço ao esclarecimento e à verdade. Se a diplomacia exige sigilo, que seus responsáveis o mantenham com eficiência.


 

SAIBA MAIS 

Assalto a cofre rendeu US$ 2,5 mi a guerrilheiros 

DE SÃO PAULO

O assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, no Rio, é tido como uma das principais ações da esquerda armada durante a ditadura militar (1964-1985).
O cofre em questão ficava guardado na casa de Ana Capriglioni, apontada em relatórios militares como amante do governador.
O crime é creditado à VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), grupo político-militar de oposição à ditadura formado por volta de 1969 com a fusão de outras organizações. Realizado em 1969, o assalto rendeu à guerrilha US$ 2,5 milhões.
Embora militasse na VAR-Palmares, a presidente eleita, Dilma Rousseff, assim como colegas de militância, nega ter participado diretamente do crime.
Depoimentos e relatórios policiais mostram, no entanto, que ela administrou parte do dinheiro obtido no roubo para bancar outras ações do grupo.
Dilma teria usado o dinheiro para pagar salários a militantes, encontrar abrigo para eles e comprar um carro para a organização.
A partir da divulgação do crime, em 1970, Ademar de Barros Filho e Ana Capriglioni negaram que o cofre pertencesse ao ex-governador e que nele houvesse a quantia apurada.

ONU sai em defesa de dono do WikiLeaks

Comissária de direitos humanos, Navi Pillay, diz que ações contra site e seu dono violam liberdade de expressão

Hackers que saíram em defesa de Assange e do site voltam a prometer ações; suposto ativista é detido pela Holanda 

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON 

A ONU elevou ontem o tom da polêmica sobre o cerco ao WikiLeaks, com a alta comissária para direitos humanos classificando a pressão contra empresas ligadas ao site como tentativa de censura.
Para a comissária, Navi Pillay, o conjunto de ações para cortar laços do WikiLeaks com prestadoras de serviços -entre outros, Amazon, Visa, MasterCard e PayPal- pode ser interpretado como tentativa de impedir o site de publicar, o que viola o direito à liberdade de expressão.
Pillay não nomeou supostos responsáveis pela pressão, mas acredita-se que ela venha do governo dos EUA.
O WikiLeaks divulga gradualmente desde o dia 28 mais de 250 mil despachos sigilosos de diplomatas americanos. A ação enfureceu os EUA, que investigam criminalmente o site e estudam processar o seu criador com base em leis de espionagem.
Julian Assange está atualmente preso em Londres e pode ser extraditado para a Suécia devido a processo por crimes sexuais. Ontem, Assange foi transferido a uma seção especial da prisão, de acesso ainda mais restrito.
Segundo fontes diplomáticas, Washington já conversa informalmente com autoridades suecas sobre a possibilidade de transferir Assange para custódia americana.
A ideia é julgá-lo nos EUA por crimes ligados a espionagem, mas há muita incerteza sobre como o processo seria feito -nenhuma lei americana atual se aplica ao caso.
Enquanto isso não ocorre, críticos resolveram tentar calar o site de outras maneiras.
A Amazon parou de hospedar o site, e Visa e MasterCard impediram transferências a ele com seus cartões.
Pillay se disse muito preocupada. "Se o WikiLeaks cometeu algum ato reconhecidamente ilegal, então isso deve ser abordado pelo sistema legal, não por pressão e intimidação a terceiros."
Para a comissária da ONU, a crise expôs a necessidade de países protegerem o direito ao compartilhamento livre de informações, como exigido por leis internacionais.

"CIBERGUERRA"
Na rede mundial, hackers deram sequência às ações contra empresas que aderiram ao cerco ao WikiLeaks, travando disputas que para alguns configura uma "ciberguerra" ou "guerra virtual".
Os ativistas ganharam milhares de novos adeptos e estabeleceram como os novos alvos a Amazon, que na semana passada parou de hospedar o WikiLeaks, o site de pagamentos on-line PayPal e o site do governo da Suécia.
Segundo a BBC, foram registrados apenas ontem 31 mil downloads do programa que utilizado para "voluntariar" um computador a fazer parte da onda de ataques.
A ação conhecida como "negação de serviço" (DDoS, na sigla em inglês) consiste na inundação de um site com milhares de pedidos de acessos simultâneos, tornando-a instável ou tirando-a do ar.
Ontem, no entanto, os ataques não surtiram o efeito da véspera, quando as páginas das empresas Mastercard e Visa, que cancelaram os pagamentos ao WikiLeaks, caíram em meio a sobrecarga.
No final do dia, hackers do grupo Anonymous -que tem coordenado as ações- admitiram ainda não ter condição de derrubar a Amazon e prometeram priorizar o PayPal.
Segundo a agência France Presse, a empresa reativou ontem a conta do WikiLeaks, desbloqueando os seus fundos, mantendo, no entanto, restrições a novas doações.
O site do governo da Suécia, país que emitiu pedido de prisão contra Assange por crimes sexuais, chegou a ficar fora do ar por algumas horas, mas depois voltou.
Já a rede social Facebook justificou a decisão de suspender o perfil da "Operação Payback" -como os ataques são chamados-, alegando que a página estava sendo utilizada para divulgar o programa usado para ações.
Na Holanda, um adolescente de 16 anos foi preso, suspeito de envolvimento com os ataques virtuais. A Promotoria holandesa não identificou o detido.

Fonte: Folha de S. Paulo

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