Dilma deve tirar Meirelles do BC

Publicado em 07/11/2010 17:35
Presidente eleita quer provar que terá controle de todos os setores do governo

Embora avalie que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi importante para sustentar a política de combate à inflação do governo Lula e certeiro nas medidas de contenção dos efeitos da crise econômica mundial de 2008 e 2009 no Brasil, a presidente eleita, Dilma Rousseff, tende a não aproveitá-lo no posto.

É certo que Dilma vai centralizar em torno de si todas as ações econômicas do início do governo, disse ao jornal O Estado de S. Paulo um de seus mais importantes colaboradores. Pretende, com isso, alcançar dois objetivos: forçar a redução nas taxas de juros logo na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) e mostrar que, ao contrário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela terá o controle de todos os setores do governo, a começar pela economia. Tanto é assim que o primeiro bloco de auxiliares a ser anunciado será o da equipe econômica.

Com a centralização e a pressão explícita para que os juros baixem - o que Lula nunca exerceu em relação ao Banco Central -, Meirelles ficará numa posição desconfortável, pois sua política de combate à inflação tem sido sempre a de, por absoluta prevenção, manter os juros altos.

Uma solução para Meirelles - e ele já se mostrou simpático à ideia - seria nomeá-lo embaixador do Brasil em Washington. É um nome com muito trânsito nos meios financeiros e governamentais, atributos essenciais para a interlocução de um governo Dilma que ainda não tomou posse mas já faz coro e, ao lado de Lula, acusa os Estados Unidos de, junto com a China, promoverem uma "guerra cambial" no mundo.

O PMDB, ao qual Meirelles é filiado, ainda tem esperanças de emplacá-lo no Ministério da Fazenda ou no dos Transportes. Mas Dilma tem sido aconselhada a manter Guido Mantega, decisão que contaria com a simpatia de Lula. E o Ministério dos Transportes é um feudo do PR, embora o PMDB esteja, numa espécie de escambo político, tentando trocá-lo pela Agricultura.

Conforme um integrante do governo muito próximo de Dilma, ela quer lotar o setor econômico na Esplanada dos Ministérios com "defensores de ações desenvolvimentistas" - como ela. A presidente eleita acredita que, assim como ocorreu na gestão Lula, principalmente depois da crise econômica mundial, o governo tem entre os seus papéis fundamentais fazer a indução para o desenvolvimento e o crescimento econômico. 

Dilma e Lula viajam para a Coreia do Sul

Ambos selarão, diante dos principais líderes mundiais, o compromisso brasileiro de manter os pilares que sustentam a política econômica

Ana Clara Costa e Marina Dias

(Wilson Dias/Agência Brasil)

Nesta semana, Dilma Rousseff partirá, na companhia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para seu primeiro compromisso internacional como presidente eleita. Sua participação na reunião do G-20, em Seul (Coreia do Sul), será emblemática. Deve apontar a direção da política externa do Brasil perante os vinte principais líderes políticos do mundo. Dilma foi oficialmente convidada pelo governo Coreia do Sul para integrar a cúpula. Desta forma, poderá participar de todos os compromissos oficiais do encontro, junto aos demais chefes de estado.

A chegada de Dilma é aguardada com a expectativa que normalmente cerca os novatos. Apesar de ter seu nome indiretamente envolvido em situações pouco ortodoxas, como o recente caso de tráfico de influência na Casa Civil, a presidente eleita ainda possui uma imagem relativamente imaculada para comunidade internacional. E o fato de não ter assumido a presidência a exime de comentários sobre polêmicas e complicações que os líderes presentes, como Nicolas Sarkozy, certamente terão de engolir. “Um presidente recém-eleito tem um capital político único que precisa ser utilizado para fortalecer a presença política de seu país perante o mundo”, explica o economista e professor de Relações Internacionais João Branco, da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro.

Expectativa econômica – Diante dos discursos pós-eleições proferidos por Dilma e amplamente reproduzidos pela imprensa internacional, a expectativa criada é de continuidade. De acordo com os economistas ouvidos pelo site de VEJA, a reunião do G-20 será o território propício para que Dilma reitere o compromisso assumido verbalmente com a manutenção da política econômica desenhada no governo de Fernando Henrique Cardoso e mantida durante os oito anos de governo Lula. “A presença dela será bem vista e sinaliza a intenção de prosseguir com a posição estratégica do Brasil. Além disso, demonstra o interesse dela pela política internacional”, afirma Antonio Corrêa de Lacerda, professor doutor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Preparação para o G-20 –
 Se a tarefa protocolar de se mostrar ao mundo como próxima líder de um dos países emergentes mais influentes da atualidade parece fácil, o mesmo não se pode dizer da possibilidade de Dilma conseguir, já em Seul, desvincular-se da imagem de Lula.

Sucessora de um governo de alta aprovação, cujo governante possui livre trânsito entre nações completamente díspares, Dilma possui a difícil tarefa de tentar conquistar, a partir da próxima semana, a simpatia dos demais líderes mundiais. Para isso, contará com a cartilha do próprio Lula para construir sua imagem perante as principais cabeças políticas da Europa, América e Ásia. Além de decorar o passo-a-passo do atual presidente, ela o terá como professor. É chegada a hora de Dilma colocar em prática todas as mudanças de postura que adotou durante a campanha – no tom de voz, nas roupas, na aparência física e na maneira de gesticular. Resta saber se sua tentativa de mostrar carisma também funcionará. 

Conversas privadas - Lula claramente usará o bom trânsito na reunião para apresentá-la como alguém que manterá a tônica de seu mandato. Mas, além das apresentações oficiais, Lula e Dilma usarão a viagem para conversar sobre o governo de transição – sem o assédio da imprensa brasileira, assessores ou aliados. Contarão, no entanto, com a companhia do ministro Guido Mantega - o nome que Lula defende para continuar no Ministério da Fazenda.

Na semana após a vitória, Dilma já montou sua equipe de transição e solicitou que o presidente do PT, José Eduardo Dutra, iniciasse as conversas com os partidos da base aliada para ouvir as demandas – que são muitas. A intenção é que ele consiga ouvir todos os aliados até a volta da presidente eleita de Seul.

O que se sabe – e o que o mercado aprecia – é que Lula já pediu para que ela mantivesse o nome de Mantega e também o de Henrique Meirelles, pelo menos, em um primeiro momento. O pedido deve ser reforçado na viagem e, caso seja atendido, as conversas sobre o início da gestão já poderão ser engatilhadas com Mantega no voo de volta ao Brasil. Dilma e o ministro da Fazenda viajarão juntos para Seul, em um voo comercial.

Fonte: Veja.com

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