Norte de MG: Dias de aflição à espera das chuvas

Publicado em 23/02/2010 09:39
Seca chega mais forte ao Norte de Minas Gerais e arrasa plantações de milho e de feijão, antes mesmo do período crítico da estiagem. Volume de água em reservatórios, córregos e rios diminui, deixando produtores apreensivos.

A vegetação e o pasto estão verdes. A impressão que se tem é de que está tudo bem no campo, mas, por trás das aparência a realidade é outra no Norte de Minas Gerais. Os agricultores enfrentam muitas perdas nas lavouras e estão preocupados com o que virá. Há motivo para esse temor: a "seca verde" que volta a se repetir na região. Em meio à onda de calor enfrentada no país, o sol forte castiga o Norte do estado há mais de 45 dias e vem produzindo efeitos devastadores. Em alguns municípios, as lavouras de milho e feijão amargam perdas superiores a 50%. Agora, a estiagem ameaça as pastagens. O volume de água nos reservatórios (tanques), rios e córregos também diminuíu. Diante desse quadro, produtores não veem alternativa. É rogar para os céus, pedindo a chuva. Se ela não voltar nos próximos meses, a região poderá sofrer com uma nova catástrofe no período normal - e mais crítico - da estiagem, que vai de maio a outubro.

No início do atual período chuvoso, a situação parecia melhorar, principalmente, para os agricultores que vivem das lavouras de subsistência. Com as boas chuvas de outubro, novembro e dezembro, fizeram o plantio. A semente nasceu bem e eles acreditaram que teriam farta colheita. "Houve um entusiasmo entre os agricultores de que o ano seria bom de chuva", afirma o gerente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas (Emater-MG) em Janaúba, Valmissoney Moreira Jardim.

Contrariando a expectativa, no início de janeiro, no momento de as lavouras "vingarem", quando mais era necessária a sua produção, não caiu água. As mais prejudicadas pelo "veranico" foram as plantações de milho, muito importantes na agricultura de subsistência por garantir a alimentação do gado e dos pequenos animais no período crítico da estiagem. "Somente Deus para ter piedade da gente", diz o produtor Domingos Gomes Barbosa, de 67 anos, da localidade de Pajeú II, no município de Janaúba. Ele plantou sete hectares de milho. Poderia colher 210 sacas (30 por hectare).

"Mas a chuva não veio na hora certa e não vai dar para colher", afirma seu Domingos, sem conseguir esconder a tristeza, ao ver a plantação "queimada" pelo sol. Ele decidiu soltar as vacas dentro do milharal, "para aproveitar, pelo menos, as folhas", conta. A realidade é bem diferente da safra chuvosa 2008/2009, quando plantou 17 hectares de milho e colheu 412 sacas.

A perda da roça de milho e o comprometimento do pasto levam a uma preocupação a mais para o agricultor, de como alimentar as 40 reses da fazenda, durante o período crucial da seca, a partir de maio. Ele fez um plantio de 3,5 hectares de sorgo, para a silagem, mas acredita que não será o suficiente. "Se a chuva não voltar nos próximos dois meses, vou ter que vender mais da metade do gado", diz seu Domingos.

Vizinha de Domingos, a sitiante Inês Lina de Souza, de 77 anos, plantou uma área de 2 hectares de milho no terreno localizado no fundo da casa em que mora. A colheita da rocinha garantia a criação de galinhas e alguns porcos, atividade que complementa a aposentadoria e ajuda no sustento da família. Mas, Lina explica que o sol foi tão forte que destruiu até o mesmo o feijão catador, cultivado no meio do milho e que é mais resistente ao clima seco. "Agora, em lugar de vender, vou ter que comprar milho. O pior é que está muito caro. Custa R$ 30,00 a saca", lamenta a agricultora.

Os prejuízos da "seca verde" se multiplicam em outros municípios do Norte do estado. A família de Enedina Xavier Ruas, de 74 anos, da localidade de Traçadal, município de Francisco Sá, plantou 4 hectares de milho. Como faltou chuva, as espigas não granularam. Ela, agora, tenta aproveitar o que sobrou, alimentando o gado. "Rezamos para chover, pelo menos para salvar o pasto", afirma a experiente agricultora.

O vaqueiro César Gomes, da mesma propriedade, plantou meio hectare de milho, sonhando com uma renda extra. "Mas, não vai dar para colher nada", constata. "Dona" Enedina tenta se acostumar com as estiagens sucessivas. Ela conta que todo ano a família planta uma roça de milho para fazer "reservas" para alimentar o gado nos períodos mais difíceis, tentando encher um paiol na sede da fazenda. "Mas, faz 12 anos que esse paiol está vazio", afirma. Os prejuízos também são contabilizados pelos agricultores Jorge José dos Santos e Dalva Isabel de Oliveira.

O casal plantou uma lavoura de dois hectares de milho. "A semente nasceu bem. Se chovesse bem em janeiro, a gente colheria cerca de 30 sacas por hectare. Mas, agora, acho que a roça toda não vai dar nem cinco hectares", afirma Jorge. Em Traçadal, a angústia não é maior porque os agricultores recorrem a poços tubulares. Por enquanto, os reservatórios de captação de água de chuva ainda estão cheios. Mas, se prevalecer o sol forte, isso não vai durar muito tempo. Os córregos da região já estão secos.
Fonte: Estado de MG

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