Juros futuros curtos voltam a subir e precificam 84% de chances de corte de 0,25 pp da Selic em maio

Publicado em 17/04/2024 17:04 e atualizado em 17/04/2024 17:59
As taxas de curto prazo voltaram a subir após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defender que a incerteza ligada à área fiscal e ao exterior pode reduzir o afrouxamento monetário

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs de curto prazo voltaram a subir de forma consistente após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defender que a incerteza ligada à área fiscal e ao exterior pode reduzir o afrouxamento monetário, o que fez a curva de juros brasileira precificar nesta quarta-feira 84% de chances de o corte da Selic em maio ser de apenas 25 pontos-base.

Na ponta longa as taxas terminaram em baixa firme, na esteira do recuo do rendimento dos Treasuries.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,4%, ante 10,282% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,73%, ante 10,654% do ajuste anterior.

Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,01%, ante 11,06%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,255%, ante 11,388%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,62%, ante 11,844%.

Pela manhã, tanto as taxas curtas quanto as longas ensaiaram uma correção de baixa, após cinco sessões consecutivas de alta. O movimento era favorecido pelo recuo dos yields nos EUA.

No início da tarde, porém, comentários de Campos Neto em um evento em Washington fizeram as taxas zerarem as perdas no Brasil e, na sequência, passarem a subir de forma consistente entre os contratos mais curtos.

Campos Neto mencionou a recente reprecificação de ativos com a deterioração do cenário internacional e a percepção de risco fiscal no Brasil, apresentando uma espécie de guia sobre os próximos passos do BC a depender da evolução do cenário.

"Poderia haver uma redução da incerteza, o que significa que seguiríamos o caminho usual. Poderíamos ter um sistema no qual a incerteza continua a ser muito alta e não muda significativamente, o que pode significar uma redução no passo", afirmou.

"Poderíamos ter um cenário no qual a incerteza começa a afetar mais fortemente variáveis importantes, e aí precisaríamos falar sobre mudar o balanço de riscos. E poderíamos ter cenário no qual a incerteza na verdade se agrava, criando estresse global e, nesse caso, mudaríamos nosso cenário base", prosseguiu.

Os comentários de Campos Neto foram vistos como uma indicação de que, se necessário, o BC poderá reduzir o ritmo de cortes da taxa básica Selic ou mesmo interromper o processo antes do esperado, para segurar a inflação. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano, e o BC vinha sinalizando a intenção de cortá-la em mais 50 pontos-base na reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em reação à fala de Campos Neto, a taxa do contrato para janeiro de 2025 -- que reflete mais diretamente a expectativa para a política monetária no curto prazo -- saltou para o território positivo e marcou a máxima de 10,465% (alta de 18 pontos-base ante o ajuste anterior) às 15h24.

Com o movimento, a curva de juros no fim da tarde precificava 84% de chances de o corte da Selic em maio ser de 25 pontos-base, e não de 50 pontos-base como vinha sinalizando o BC. A curva precificava apenas 16% de chances de corte de 50 pontos-base para maio -- até segunda-feira a precificação neste sentido era sempre superior a 50%.

“No Brasil o mercado estava muito confiante de que a Selic iria para 9% ou para abaixo disso, mas faz algum tempo que os sinais já apontavam para uma taxa um pouco maior”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.

Além da alta dos yields dos Treasuries em função da perspectiva de que o Federal Reserve não cortará juros no curto prazo, a mudança na segunda-feira da meta fiscal brasileira para 2025, de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para zero, foi mal-recebida.

“Agora há uma assimetria que indica que a Selic terminal pode ficar perto de 10%, e não de 9%. Dado isso, não dá para dizer que é impossível que o BC corte em apenas 25 pontos-base a Selic em maio, embora eu ainda ache que virá um corte de 50”, acrescentou Serrano.

Para o economista-chefe na Way Investimentos, Alexandre Espirito Santo, ainda que o BC venha defendendo que não há uma relação mecânica entre a piora do cenário e a decisão sobre juros, o aumento de despesas do governo não pode ser ignorado.

“Não consigo achar que por conta deste episódio, que juntou lá fora com aqui dentro, o BC vai mudar os 50 pontos-base (de intenção de corte em maio). Acho que o BC vai fazer os 50 de corte, mas é evidente que o governo não tem feito o dever de casa na área fiscal”, disse Espirito Santo.

Profissional ouvido pela Reuters ponderou ainda que, nos últimos dias, o forte movimento de alta dos juros futuros no Brasil foi exacerbado porque grandes fundos tiveram que “stopar” (disparar ordens de parada de perdas), já que estavam bastante vendidos em taxas -- na prática, apostando numa Selic terminal mais próxima de 8,50%, o que tem se mostrado improvável com o noticiário dos últimos dias.

Entre alguns profissionais a visão é de que até o encontro de maio do Copom a precificação na curva pode se acomodar, refletindo chances maiores de corte de 50 pontos-base da Selic. No entanto, isso dependerá do cenário para o Fed e do cenário fiscal brasileiro.

No fim da tarde os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa, o que justificava a queda firme das taxas dos DIs com prazos mais longos no Brasil.

Às 16h52 o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 7 pontos-base, a 4,587%.

Fonte: Reuters

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