Quanta soja será necessária para alimentar o dragão chinês? O novo ano começou!
O ano do dragão começou na China! Depois de um dos mais longos e importantes feriados do país, o gigante asiático dá início a um novo ano com todos os olhos do mundo voltados à sua saúde econômica. Os sinais de alerta são inúmeros, os acontecimentos deste 2024 já foram suficientes para intensificá-los - como o pedido de falência da Evergrande - e entre as commodities agrícolas o cenário não é diferente ou menos preocupante. As expectativas de todos os analistas e consultores de mercado estão sobre como se comportará a demanda do maior comprador do planeta depois deste período de quase 15 dias de festividades. As respostas, porém, estão só começando a chegar.
"Os chineses voltarão ao mercado na próxima semana e poderá haver demanda, mas atualmente as notícias giram em torno da maior oferta global e a incerteza macroeconômica", afirma o diretor geral do grupo Labhoro, Ginaldo Sousa.
Na manchete desta sexta-feira (16) no portal chinês China Daily, as informações davam conta de que "o crescente poder de compra dos consumidores chineses, combinado com as políticas governamentais de apoio às compras, ao turismo e aos eventos culturais durante os oito dias do Festival da Primavera contribuirão, definitivamente, para dar suporte ao crescimento econômico da China este ano, de acordo com funcionários do governo e analistas de mercado".
Alguns setores já têm números consolidados sobre este período, o qual é o responsável pelo maior trânsito de pessoas no país - e no mundo - no número de dias em questão, também ajudando a trazer mais clareza sobre quais os caminhos deve trilhar a economia chinesa este ano. De 10 a 15 de fevereiro, os cinemas chineses arrecadaram impressionantes 7 bilhões de yuans (US$ 973 milhões) e as viagens a locais turísticos chegaram a 123 milhões, 22,8% a mais do que no mesmo período do ano passado. Em todo o período de 40 dias do festival, o Ministério dos Transportes estima que nove bilhões de viagens se realizem.
Mais de 61 milhões de viagens somente de trem foram feitas nos primeiros seis dias do feriado, 61% a mais do que no mesmo período de 2023, de acordo com dados do ministério. As primeiras informações levantadas sobre este imenso processo migratório sugerem que as viagens rodoviárias e aéreas também aumentaram.
Na retomada dos negócios no mercado financeiro, nesta quinta-feira (15) em Hong Kong, as ações de setores da alimentação registravam boas altas e, nesta sexta, os destaques se davam sobre turismo e consumo.
"O consumo reflete o crescimento econômico, e os gastos robustos dos consumidores durante o feriado do Festival da Primavera apontam para a melhoria contínua da economia chinesa", afirma o diretor do departamento de economia industrial da Universidade de Nanjing, Wu Fuxiang. Do mesmo modo, o pesquisador da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica, Nie Pingxiang, afirma que a expectativa é de que este aumento no consumo se traduza em contribuição para o crescimento do PIB chinês ainda no primeiro trimestre, impactando positivamente setores como varejo, logística, turismo e manufatura. Pingxiang acredita também que a retomada da indústria também poderá estimular a volta do consumo em outros setores.
O governo chinês tem trabalhado em mais medidas que possam seguir reativando a economia da China e os resultados são esperados com ansiedade. Afinal, os últimos acontecimentos e dados recentes mostraram que a fragilidade de uma economia como a do gigante asiático poderiam continuar a trazer impactos significativos para o restante do mundo. Assim, resultados importantes chegando na sequência de um período como o do feriado do Ano Novo Lunar permitem que os mercados, ao menos, tomem um pouco de fôlego.
No final de janeiro, as notícias que partiram, principalmente, do setor imobiliário acenderam luzes fortes em torno da China, porém, as manchetes no noticiário internacional são de que o 'Ano do Dragão' está chegando bastante promissor. "O consumidor chinês está começando a se agitar", disse Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia do HSBC à agência internacional de notícias Bloomberg.
"Com o FMI considerando ainda a China como o principal contribuinte para o crescimento global nos próximos anos e as empresas, desde a Apple à Volkswagen, contando com seus milhões de compradores, os sinais de vida no ano do Dragão são bem-vindos", complementa a Bloomberg. "Qualquer notícia de uma recuperação da atividade continua a ser bem-vinda para uma economia que enfrenta uma crise imobiliária que já se estende pelo seu quarto ano".
QUANTA SOJA SERÁ NECESSÁRIA PARA ALIMENTAR O DRAGÃO?
A demanda chinesa por commodities agrícolas continua bastante presente, porém, acontece em um ritmo mais cadenciado nos últimos meses. Todavia, a soja é sempre um "caso a parte". O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) ainda estima as importações de 102 milhões de toneladas da oleaginosa. Há quem estime mais do que isso.
Em janeiro, as exportações de soja para a nação asiática foram recordes e, segundo o analista de mercado e diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, "estamos em linha para bater recorde também em fevereiro". E o Brasil se destaca ocmo a principal fonte de novas compras de soja pela China nesta volta do feriado diante de sua maior competitividade já que o produto brasileiro está US$ 70,00 por tonelada mais barato do que o norte-americano.
"A agenda de embarques do nosso país está muito agressiva. Nestes primeiros 45 dias de 2024 nunca embarcamos tanta soja quanto estamos embarcando até o momento. Encerramos janeiro com quase 3,6 milhões de toneladas, o maior volume da história do Brasil em um mês de janeiro, sendo três vezes maior do que o ano passado, duas vezes e meia em relação a 2022 e seis vezes maior do que 2021. E fevereiro começou com a mesma intensidade, com uma fila grande de embarques e a China em pleno feriado", detalha Pereira. "Temos soja disponível, soja barata e na retomada (do feriado) um apetite muito grande da Ásia vindo ao mercado brasileiro".
Nesta sexta-feira, os futuros da soja em grão e do farelo terminaram o pregão na Bolsa de Chicago com boas altas - lideradas pelo derivado - já refletindo, ao menos em partes, as boas perspectivas sobre a retomada da China pós feriado, segundo explicou o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities. "Alguns dados de consumo na China estão vindo bem positivos, algumas ações de empresas chinesas listadas na Bolsa de Hong Kong tiveram altas expressivas e isso traz para o mercado uma expectativa de retomada do consumo, o que ajudou a soja a fechar em alta na Bolsa de Chicago".
Agora, olho vivo na demanda. O ano, para os chineses, está só começando e o dragão pode estar mais faminto do que se imaginava. Com que frequência ele vai se alimentar ainda é uma incógnita, mas que a soja brasileira será o prato principal, isso já é uma certeza. Atenção ainda ao comportamento da suinocultura chinesa, ela também dará sinais importantes sobre o que vem a seguir.
"Na cultura tradicional chinesa, o loong (dragão) simboliza força, auspiciosidade e habilidades extraordinárias, personificando desejos de clima favorável, paz e bem-estar", disse quinta-feira a agência oficial de notícias Xinhua. Assim, bom ano do dragão aos produtores rurais, aos agentes do mercado, além de muita força e auspiciosidade! Começou!
Com informações da Bloomberg e do China Daily