Manifestação de produtores rurais chega ao 10º dia na Alemanha e tensões com políticos se agravam
Já duram 10 dias os protestos dos produtores alemães contra as políticas de Olaf Scholz para o setor do agronegócio do país. São manifestações que acontecem em todo o país, com a maior concentração na capital Berlim, onde mais de 40 mil produtores rurais e perto de três mil tratores estiveram reunidos - e contando com o apoio das sociedades locais - que além de se oporem às políticas agrícolas governamentais, questionam ainda a taxação dos combustíveis. Além de agricultores alemães, profissionais holandeses, romenos, húngaros e poloneses se uniram às manifestações.
O ativista e ex-professor português, Sérgio Tavares, pelas redes sociais trouxe informações diretor de Berlim afirmando que "os agricultores protestam contra o governo que quer tirar dos produtores até as terras naquilo que eles afirmam ser uma claríssimo ataque global à agricultura", citando inclusive, os ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, fazendo seus ataques ao agronegócio.
Abaixo, veja o vídeo completo:
As políticas do governo Scholz indicam cortes aos subsídios e aumento nos custos de produção, o que atraiu o apoio também de outros setores que podem ser afetados pelas mudanças, como a agroindústria, pesca, logística, energia, hotelaria e gastronomia. E o líder dos manifestantes, o produtor Joachim Rukwied, afirmou que "o governo tem a capacidade de mudar isso" e fez um apelo para que as autoridades abandonem seus planos da forma como estão para o agronegócio alemão. Rukwied fez ainda um alerta ao governo de que tais decisões poderiam levar o país à falência.
"Isto é demais. Retirem as propostas", disse o líder dos agricultores. "Assim que o governo sinalizar está pronto para recuar, os tratores serão retirados" prometeu Rukwied.
De outro lado, o Ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, falou aos manifestantes reconhecendo a legimitidade e coesão dos protestos, porém, afirma que este não é um pleito novo do setor e que o descontentamento já vem há anos se agravando no país. "Precisamos conversar. Chegamos a uma nova fase e precisamos rever, novamente, qual é a função do Estado".
Em contrapartida, o Ministro da Agricultura alemão, Cem Özdemir, está alinhado aos produtores e afirmou, em suas declarações, que parte da responsabilidade pelo atual momento é de Lindner. "O problema não é apenas a questão do diesel agrícola. O problema é que ninguém falou com eles sobre isso", disse. Mais do que isso, afirmou também que depois de muitos anos de luta, os produtores conseguiram colocar no centro da agenda política questões como o papel da agricultura, dos agricultores e da cadeia de abastecimento.
Para alguns especialistas europeus, no entanto, alguns pleitos não fazem sentido, em especial pela quantidade de subsídios que já são oferecidos ao setor, o que justificaria, de forma equilibrada, os cortes previstos nos subsídios.
"O que mais incomoda os agricultores é a burocracia excessiva, a confusão de requisitos e regulamentos impostos pelo governo estadual, pelo governo federal ou pela União Europeia", disse a produtora de leite de Annika Pape, de Lower Saxony, no norte da Alemanha, em entrevista ao portal alemão Deutsche Welle. "Nós, agricultores, sempre tivemos que nos adaptar às condições políticas, mas é inacreditável como as coisas se tornaram extremas nos últimos anos. Só nos últimos dois anos, as ‘zonas vermelhas’ na nossa região foram alteradas quatro vezes. Assim, temos que pensar e repensar sobre o que somos permitidos a cultivar, a fertilizar", complementa.
Ainda de acordo como Deutsche Welle, as chamadas “zonas vermelhas” são áreas contaminadas com nitrato. Existem requisitos especiais para a utilização de fertilizantes nestas áreas, a fim de proteger as águas subterrâneas. Na Alemanha, cerca de 3 milhões de hectaressão designados como zonas vermelhas.
Enquanto cresce a burocracia para os agricultores não só alemães, mas para de toda a Europa - muitas vezes em nome das chamadas 'agendas verdes' vindas da ONU (Organização das Nações Unidas) - crescem também os custos de produção. E assim como tem sido registrado no Brasil, o setor leiteiro é um dos que mais sofre com o Estado ocupando um espaço maior do que o que deveria.
Jan-Bernd Tönjes, pecuarista em uma fazenda de 140 vacas relata que o mercado paga, atualmente, 46 centavos por litro de leite, mas que ao mesmo o custo de produção registrou um aumento de 10 centavos por litro em função dos custos maiores com energia e fertilizantes.
"Na verdade, precisaríamos de 50 centavos por litro para cobrir todos os custos, incluindo os nossos salários. O problema é que temos milhares de agricultores na Alemanha, mas apenas quatro ou cinco parceiros varejistas", disse Tönjes à Deustche Welle. O produtor complementa relatando que fez um investimento de quase 1,5 milhão de euros em um celeiro mais moderno, com mais espaço para para as as 140 vacas. No entanto, temem mais efeitos da burocracia excessiva e da constante mudança de regras. "É possível que, dentro de cinco anos, os políticos nos digam que têm uma ideia diferente. É por isso que muitos agricultores abandonaram a atividade. Basta ter certeza para poder planejar com antecedência para 20 ou 25 anos”, explica ele.
Uma pesquisa recente do DZ Bank, da Alemanha, apontou que o número de fazendas deverá continuar caindo em um ritmo considerável no país, pelo menos, até 2040. O estudo aponta que das cerca de 256 mil propriedades em atividade hoje, perto de 100 mil deverão "sobreviver". "As propriedades menores, que têm gestão parcial por parte dos produtores e que não contam com um sucessor, tendem a desaparecer.
Com informações do Deustche Welle e do The Guardian