COP28: América Latina e o Caribe têm potencial para oferecer mais alimentos ao mundo com menor impacto ambiental
A América Latina e o Caribe possuem um extraordinário potencial para satisfazer a demanda de alimentos de uma população mundial que continua crescendo e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental da atividade agropecuária, concordaram especialistas de organismos internacionais reunidos na COP28, 28ª edição da Conferência das Partes, órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que acontece nos Emirados Árabes Unidos.
Os especialistas indicaram que o continente fez grandes avanços nos últimos anos em prol de uma maior sustentabilidade e que tem os recursos para continuar avançando, durante um painel realizado no pavilhão que o CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe tem no maior foro mundial de negociação ambiental, o que acontece até 12 de dezembro na cidade de Dubai e do qual participou o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Os recursos que a região possui em termos de terra, água e biodiversidade a convertem no principal suporte da segurança alimentar global, bem como da sustentabilidade ambiental, disseram os expositores.
Participaram Alícia Montalvo, Gerente de Ação Climática e Biodiversidade Positiva de CAF; Lloyd Day, Diretor Geral Adjunto do IICA; Cindy McCain, Diretora Executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA); Ángela Penagos, Presidente do Fundo para o Financiamento do Setor Agropecuário da Colômbia (FINAGRO); e Máximo Torero, Economista Chefe da FAO. O moderador foi Manuel Pulgar Vidal, ex-Ministro de Ambiente do Peru e Presidente da COP20, que aconteceu em Lima, em 2014.
“Fala-se muito dos problemas que a produção de alimentos gera em termos de mudança do clima, mas devemos falar mais das soluções que oferece”, afirmou Montalvo, que alertou que, além das crises climáticas e de perda da biodiversidade, existe no mundo uma terceira crise, que é a da segurança alimentar.
“Embora muitos apontem o setor agrícola como um setor de altas emissões de gases de efeito estufa, sabemos muito bem que a produção em nossa região é uma vítima da mudança do clima, e que ambiente e a agricultura andam lado a lado”, acrescentou Montalvo.
McCain, em nome do PMA, a agência das Nações Unidas que distribui alimentos em situações extremas de guerra e desastres naturais, também focou na vulnerabilidade das zonas rurais da América Latina e do Caribe perante o impacto da mudança do clima.
“O Corredor Seco da América Central, por exemplo, tornou-se uma zona quase invisível, onde se faz o impossível para os agricultores gerarem receitas”, disse McCain, que sustentou que a atenção deve estar em colaborar com a adaptação à mudança do clima nas zonas mais vulneráveis.
O foco nas dietas saudáveis
Durante o painel se debateu sobre qual é o rumo que as transformações que já estão em andamento nos sistemas agroalimentares do continente devem adotar, e um dos consensos foi de que é necessário focar em favorecer dietas saudáveis.
“Temos a capacidade de alimentar o mundo”, disse, por sua vez, Lloyd Day, que explicou que o sistema produtivo da região fez enormes avanços, materializados em maiores rendimentos com menor impacto sobre os ecossistemas, mas que ainda há margem para melhorar.
“Na região, não investimos o suficiente em ciência e pesquisa. As novas tecnologias são decisivas para reduzir o impacto ambiental, como também o são os saberes dos povos indígenas”, afirmou Day.
O Diretor Geral Adjunto do IICA, que apontou a necessidade de garantir fluxos de comércio com regras claras e baseadas em ciência para reforçar a segurança alimentar, indicou que o grande ativo que a agricultura tem em termos de mitigação da mudança do clima é que é uma atividade que pode sequestrar carbono, o que a converte em solução, e indicou a necessidade de que os agricultores façam parte do debate sobre as transformações da atividade.
“A região já demonstrou que seus sistemas agroalimentares são bem-sucedidos e ainda pode fazer mais, aumentando a produtividade e reduzindo o seu impacto ambiental”, concluiu.
Penagos indicou que as transformações que estão acontecendo na agricultura para a mitigação e a adaptação à mudança do clima não devem alcançar somente os grandes produtores, mas também os pequenos e médios. “Não podemos permitir que a agricultura climaticamente inteligente se transforme em um novo hiato de desigualdade, em prejuízo dos agricultores mais pobres”, disse.
A Presidente do FINAGRO também se pronunciou a favor de “transcender o conceito de produção para o de sistemas agroalimentares, que seja uma ponte entre as zonas rurais e as cidades”.
“Na região, a alimentação saudável tem o custo mais alto do mundo. Isso está gerando uma expansão do sobrepeso e da obesidade”, advertiu Máximo Torero, que explicou que esse também é um tema vinculado à sustentabilidade da produção.
Torero abordou os temas centrais para o desenvolvimento agrícola do continente e apontou que é essencial a liberalização do comércio internacional, com a eliminação de barreiras aduaneiras e não aduaneiras. Também se referiu à necessidade de fortalecer o acesso à terra para os pequenos agricultores e de reduzir as perdas e os desperdícios da produção.