Mais de 42 mil pescadores catarinenses celebram o Dia do Pescador, comemorado em 29 de junho

Publicado em 29/06/2022 11:58

Em Santa Catarina, mais 42 mil pescadores são homenageados no dia 29 de junho pela profissão que exercem, segundo dados da Federação dos Pescadores do Estado de SC. A data foi escolhida em referência ao dia de São Pedro, que era pescador. Durante o trabalho de extensão rural com o setor pesqueiro, a Epagri se deparou com três pescadoras que se destacam na comunidade em que atuam. Conheça um pouco da história de dona Naca, da Marciana e da Sal, que tiram do mar o sustento da família.

Nair Maria Cabral Mance, 71, vive da pesca há mais de 60 anos na cidade onde nasceu: Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis. Filha e neta de pescadores, ela se criou comendo peixe com farinha e com 11 anos começou a pescar com o pai, no município que tem a pesca como principal atividade econômica “Tomei gosto pela atividade, só estudei dois anos. A sabedoria veio com o mar e com a produção de rede”, diz dona Naca, como é conhecida por todos.

Ela também domina a arte de fabricação e conserto de redes de pesca, sabedoria que sempre repassa a outros pescadores nos cursos em que é convidada para ser palestrante. Dona Naca recebe assessoria da Epagri há anos e foi por meio da Empresa que participou de capacitações que a ajudaram a operar melhor a embarcação, como o curso de motor. Também foi por meio do órgão público que ela teve acesso a crédito para aquisição de embarcação.

No mar a pescadora captura camarão, tainha, pescadinha, borriquete, corvina, papa-terra e maria-luiza. “Não me preocupo com a quantidade, mas com a qualidade. Uso rede mais larga e pego camarão e peixes maiores”, diz. Ela sempre sai sozinha no barco e diz que não tem medo. “Tem que ter respeito pelo mar”, diz dona Naca, que sabe o dia bom de embarcar e o dia bom de ficar em solo. Hoje ela é aposentada pela pesca, mas continua na ativa para complementar a renda. “Nunca quis fazer outra coisa, é vicio. Não vivo longe do mar”. Essa coragem faz dela uma pescadora muito respeitada pelos homens e mulheres que vivem e sobrevivem da pesca artesanal no município.

O mundo acadêmico também se interessa pelo trabalho de dona Naca. Ela é personagem de duas teses de doutorado que viraram livro. Em um deles, “Pesca, turismo e meio ambiente”, de Maria do Rosário Leitão, dona Naca ilustra a capa. A obra foi lançada em 2014 e retrata a coragem e experiência da pescadora. Já no livro “Mulheres e o mar”, da extensionista rural da Epagri Rose Gerber, dona Naca tem o cotidiano retratado. A referida publicação é um trabalho inédito sobre as mulheres pescadoras do litoral de Santa Catarina, publicado em 2015.

Marciana Amado da Silva, 39, de Laguna, no Sul Catarinense, nem sabe dizer quando a pesca entrou em sua vida. A atividade vem de várias gerações de sua família. “Desde que eu me entendo por gente, eu pesco”, diz ela. Hoje ela captura principalmente camarão e siri no complexo lagunar da região. A maior fonte de renda vem da comercialização de casquinhas de siri, vendidas diretamente ao consumidor.

Ela lembra da infância, quando ia de carroça para a praia com os pais, para puxar rede. “A gente abria os peixes lá mesmo, porque era muito. O peixe diminuiu muito com o passar dos anos, não compensa mais ir pro mar, como antigamente. Já o siri não diminuiu, tem na lagoa ao ano inteiro e é mais lucrativo processá-lo e vender a carne na casquinha”, diz ela, que desenvolve a atividade com o marido Antônio, 50. Na hora do aperto, os dois filhos também ajudam.

“Não me vejo morando em outra cidade e fazendo outra coisa. Até pensei em trabalhar em outra área, mas a pesca é o que eu sei fazer”. Segundo Marciana, a atividade proporciona uma vida confortável para a família:  “Tudo o que eu tenho vem da pesca”.

Em 2021 ela participou do  curso Mulheres em Ação Flor-e-Ser, oferecido pela Epagri para capacitar agricultoras e pescadoras para que elas tornem a atividade profissional mais competitiva, usem o conhecimento adquirido para melhorar a qualidade de vida e sejam protagonistas nos mais diferentes segmentos da sociedade e em suas próprias famílias. 

“Esse curso mudou minha vida. O fato de sair um pouco da pesca, conhecer pessoas que trabalham com a mesma coisa que você, poder trocar experiências, fez muito bem para mim. O curso também me ajudou muito na parte financeira da atividade. Foi lá que aprendi a calcular os custos de minha produção e saber quanto é de fato o meu lucro”, diz ela.

E assim Marciana segue na atividade, ao lado do marido, sempre respeitando o período de reprodução dos siris. “Os pescadores daqui sabem que capturar fêmea ovada  compromete a espécie. A gente vive da pesca e se acabar o siri, nossa renda também acaba”, diz ela.

O mesmo ocorre com o camarão, espécie que por lei tem o período de defeso para que possa se reproduzir. De 1º de março a 31 de maio a pesca desse crustáceo é proibida. Por conta disso, Marciana faz muito bem a gestão dos recursos conquistados na pesca, para garantir o sustento da  família quando eles não podem ir pro mar. “Somos iguais formiguinhas que trabalham no verão para ter comida no inverno”, compara ela.

A paranaense Salete Iaczinski, 47, conhecida por Sal, é filha de agricultores e até os 15 anos viveu longe do mar, quando se mudou para Florianópolis para dar continuidade aos estudos. Foi na capital catarinense que ela construiu sua família e entrou para o mundo da pesca, em 2002. Ao lado do marido Joarez, hoje ela não apenas tira o sustento do mar como também busca preservá-lo e levar essa consciência ambiental aos demais pescadores, à população e ao setor público.

“Se não cuidar, se não proteger o mar e os mangues, logo não tem mais peixe, não tem camarão. Não é apenas turismo que movimenta a economia da Ilha, mas a pesca também. Acredito que a pesca ainda mais, porque o turista vem para cá para comer o nosso peixe e ver as belezas naturais”, diz ela, ao se mostrar preocupada com a especulação imobiliária que pode impactar a pesca na região. “Temos que ter visão de futuro. Eu posso não estar aqui em alguns anos, mas terá outras pessoas usando esse ambiente”.

Sempre embarcada com o marido, Sal pesca na baía norte de Florianópolis e vende toda a produção para intermediadores. Em dias de mar ruim, ela aproveita para fazer rede de pesca. “A profissão é instável, nada garante que a pesca será boa todos os dias. Mas não posso reclamar, tudo o que eu tenho eu ganhei com a pesca”, diz ela, que criou as duas filhas – de 26 e 22 anos, com a renda proveniente da atividade.

Sal está na segunda gestão como tesoureira da Associação dos Pescadores Artesanais da  Praia de João Paulo, que hoje conta com 140 associados. A entidade busca melhores condições de trabalho para os associados, como também a proteção do meio ambiente, com atuação junto ao setor público. Sua liderança é reconhecida entre os pescadores e a levou a fazer o curso Flor-e-Ser, da Epagri, que este ano abriu uma turma para pescadoras na Grande Florianópolis.

“Estou adorando, é experiência maravilhosa conviver com outras pessoas. Ao mesmo tempo em que o mar é muito satisfatório e nos dá a sensação de liberdade, ele também é solidão. Em meu trabalho, fico muito tempo sem conversar com outras pessoas. Em cada encontro do curso eu aprendo uma coisa nova e percebo que minha experiência de pescadora também pode ajudar as outras participantes”, diz ela.

Fonte: Epagri

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