KCl registra máxima histórica e crise nos fertilizantes agrava preocupação entre produtores no mundo todo

Publicado em 21/03/2022 16:22 e atualizado em 21/03/2022 16:53
Funcionário em uma das locomotivas da Canadian Pacific Railway - Foto: Jeff McIntosh/The Canadian Press

A semana começa com mais um agravante para a crise dos fertilizantes dada a greve iniciada pelos três mil funcionários da Canadian Pacific Railway - uma das principais ferrovias do Canadá - neste domingo, 20 de março. Todavia, os preços dos insumos ainda não subiram por conta de mais este fator, segundo explicou o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza. 

"Até agora os preços não mudaram por isso. Agora, se o problema continuar, aí sím veremos mudanças. Por enquanto estamos somente acompanhando e monitorando", diz. Para o especialista, uma solução rápida entre a empresa, o governo canadense e os trabalhadores deverá ser reportada. "Esse ponto da greve pode trazer uma pressão, mas não será nada a longo prazo", completa. 

Em um pronunciamento nesta segunda-feira, o ministro do Trabalho do Canadá, Seamus O'Regan, reafirmou a necessidade de um acordo dada a já complexa e frágil situação do abastecimento global não só de fertilizantes, mas de uma série de outros produtos. No centro das atenções, novamente, está o cloreto de potássio, produto que o país é um dos líderes mundiais de fornecimento. 

Membros da Teamsters Canada Rail Conference no pátio da Canadian Pacific em Regina - Foto: Cory Herperger/CBC

"A conjuntura não é nada favorável para o KCl. Os fertilizantes já foram fortemente impactado pelos problemas enfrentados no leste da Europa, portanto, a greve dos trabalhadores canadenses é mais um ponto altista para as cotações da matéria-prima, que já acumulam mais de 200% de aumento em 12 meses", explica Souza. 

A Nutrien, empresa canadense líder no fornecimento de fertilizantes, afirma que as consequências dessa greve, caso se estenda, possam ser bastante severas, inclusive ameaçado o potencial produtivo mundial. Afinal, o abastecimento fica comprometido não só internamente, mas promove uma disrupção no escoamento para o mercado externo, com o hemisfério norte prestes a começar o plantio da safra 2022/23. 

A companhia afirmou ainda que por mais que o mercado esteja ávido por uma expressiva elevação da oferta de potássio, deverá aumentar sua produção em 2022 em 'apenas' um milhão de toneladas, para 15 milhões, com a maior parte deste volume a mais chegando somente no segundo semestre do ano. 

“Estaremos observando o lado da oferta da equação e, portanto, o ritmo em que pensamos sobre nossa própria produção de potássio aumentando também”, disse Ken Seitz, CEO interino da Nutrien à Bloomberg.

A greve no Canadá, porém, é apenas mais um ponto de atenção em um mercado já completamente comprometido, ainda como explica o analista da Agrinvest Commodities, e que não se limita somente ao KCl. Fosfatados e nitrogenados seguem em patamares historicamente elevados e renovando suas máximas diante da continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia; China fora do mercado; sanções impostas sobre a Bielorrússia e um encarecimento generalizado dos fretes. 

Nesta segunda, os preços do KCl registraram seu mais alto patamar de todos os tempos, chegando a US$ 1050,00 por tonelada, custo-frete Brasil (CFR Brasil). "Os preços subiram 34% em três semanas e 214% em 12 meses. Isso piora ainda mais o poder de compra dos produtores brasileiros para a safra 2022/23", afirma o analista da Agrinvest. 

Gráfico: Agrinvest Commodities

Juntas, a Rússia - que está com sua logística comprometida pela guerra - e a Bielorrússia - que está com diversas sanções impostas sobre seu comércio - respondem, juntas, por cerca de 42% do mercado global de US$ 35 bilhões de potássio, ou perto de 24 milhões de toneladas por ano, de acordo com informações da Bloomberg Green Markets. 

O Brasil depende de 91% das importações do potássio que utiliza e seus principais fornecedores são o Canadá, a Rússia, Bielorrússia, Israel. Veja no gráfico a seguir:

Gráfico: FarmDoc Daily

Já nos EUA a dependência é de 93% e suas três principais origens são as mesmas. 

Gráfico: FarmDoc Daily
Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Especialistas do Congresso ABAG/B3 avaliam o posicionamento do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono
Inteligência artificial e inovação otimizam pulverizações no canavial e otimizam custos
Mapa apresenta aos BRICS programa de conversão de pastagens degradadas do Brasil
Socorro aos produtores gaúchos atingidos pela catástrofe depende da análise do Senado para sair do papel
Instituições educacionais trazem foco à gestão e sucessão familiar para ampliar atuação no agro