Mulheres assumem protagonismo no setor agropecuário

Publicado em 08/03/2022 16:50

No setor do agronegócio, como tantos outros majoritariamente masculinos, a mulher cresceu. Mostrou que, tanto quanto os homens, ela tem capacidade e força para cumprir todas as funções exigidas no campo, desde gestão a dirigir um trator ou uma colheitadeira. 

Segundo o Censo Agropecuário de 2017, do IBGE, as mulheres lideram 18,6% das propriedades rurais brasileiras. Esse número chega a 34,7% quando somadas as profissionais que administram as fazendas junto a suas famílias. 

No Brasil, a agricultura familiar envolve aproximadamente 4,4 milhões de famílias e é responsável por gerar renda para 70% dos brasileiros no campo, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 

Se não fosse a mulher assumir o legado dessas terras, muitas propriedades já não existiriam mais, o que causaria um impacto sem tamanho para a economia nacional e nas mesas da população mundial já que, segundo a ONU, 80% de toda a comida do planeta vem desse tipo de produção.

Elaine Caús, Master Mind da Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio (ALMA) e fundadora das iniciativas Mulheres Agrosul, no Brasil, e Mujeres Coop, no Paraguai, trabalha para que mais mulheres se sintam capazes e aptas para assumir uma posição de liderança no campo.

"As mulheres precisam entender e reconhecer que elas podem, sim, assumir essa responsabilidade, ainda mais ao lado da família, que é a nossa base", compartilha a embaixadora da Fundação Dom Cabral.

"São trocas de experiências, onde vimos também o crescimento de mulheres como CEO em grandes empresas agrícolas, oferecendo oportunidades em níveis sócio-econômico-cultural da agronomia no Brasil e Paraguai", encerra Elaine.

É o caso de Sônia Bonato, de 64 anos, da Fazenda Palmeiras, em Ipameri. Apesar de ter nascido e morado em fazenda, só descobriu o amor pela agricultura quando se mudou para Goiás com o marido, em 1995. 

"Comecei a trabalhar diretamente dentro da agricultura dentro da porteira, há 26 anos. Sempre participei de palestras e cursos. Coloco todas as ideias em prática para facilitar meu trabalho. Com isso, nasceram as planilhas de planejamento, de pecuária e de custos. Hoje tenho uma para cada atividade na propriedade. Crescemos e modernizamos. Atualmente, somos uma unidade demonstrativa em produção sustentável", compartilha Bonato. 


Ainda sob a perspectiva de Sônia, a mulher sempre esteve presente nos bastidores. "Mas hoje, com as iniciativas de grandes mulheres, desde usar calças e votar, estamos descobrindo e nos conscientizando do nosso potencial, tomando iniciativas mesmo com medo, com nosso olhar diferenciado e intuitivo, sendo destaque no que executamos e tendo visibilidade para sermos inspirações", conta.

Rosani Frank, de 58 anos, de Cascavel, no Paraná, também tem uma história semelhante. Filha de agricultores, conheceu a vida no campo ainda criança. Há dois anos, porém, com a perda dos pais, a propriedade precisou ser assumida às pressas.

"Eu só fazia a parte de gerenciamento de pessoas. Caí de paraquedas, sem muita experiência. Mas eu e meu filho resolvemos arregaçar as mangas e não tivemos medo. Tivemos muitos desafios, mas graças a Deus superamos e hoje posso dizer que somos do agronegócio com muito orgulho", revela a produtora rural.

Para Frank, a mulher está muito mais participativa na administração da propriedade, apesar de ainda sofrer com questões sexistas. Os cursos e capacitações estão munindo as mulheres de informações e conhecimento, fazendo com que se valorizem e se imponham como autoridade em suas propriedades.

"Hoje vemos a mulher participar de reuniões, palestras e trazendo suas opiniões. Cansamos de ver casos onde a mulher se via sozinha quando  marido, que era quem tomava conta de tudo, falecia ou simplesmente se separava. Muitas acabavam arrendando ou vendendo a propriedade. Agora, com a participação mais ativa, ela consegue administrar uma propriedade rural como qualquer homem e, muitas vezes, melhor", confessa Rosani.

Taciana Maria Isoni, consultora profissional e uma das líderes da ALMA, reforça a transformação que a atuação feminina vem trazendo ao agronegócio.

"Mulheres trabalham de forma colaborativa, agrupando os processos do setor de forma mais harmônica. A mulher atua de forma mais igualitária na relação "ganha - ganha," e isso aumenta a possibilidade de ganhos e produtividade", comenta. "Acredito que o que veremos a seguir será um cenário mais demandante de  competências femininas, onde o agro trará resultados mais sustentáveis, voltados para o compartilhamento de experiências e aprendizado mútuo".

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