CONVERSA DE CERCA #32: Documentário mostra o cotidiano, o trabalho e as tradições dos vaqueiros brasileiros

Publicado em 04/10/2021 10:52 e atualizado em 13/10/2021 08:37

Uma pessoa valente, habilidosa com os animais, de espírito livre e fé inabalável em Nossa Senhora Aparecida. Esse é o vaqueiro, profissional que talvez melhor represente a mescla cultural que é o povo brasileiro. No documentário "Bravos Valentes - Vaqueiros do Brasil", quatro personagens - cada um de um ponto do Brasil - ficaram a cargo de representar as tradições e os desafios dos vaqueiros brasileiros. Apesar da compartilharem da mesma profissão, essas quatro realidades mostram a pluralidade do país: há o gaúcho e seu mate inseparável; o pantaneiro com traços indígenas; a pernambucana e suas vestes de couro para proteger dos perigos da caatinga e o marajoara que precisa ser bom nadador para manejar os búfalos. Conheça um pouco dessas histórias e da produção do documentário nessa conversa com Ralf Tambke, diretor do filme.

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CONVERSA DE CERCA #32: Documentário mostra o cotidiano, o trabalho e as tradições dos vaqueiros brasileiros

 
 

O filme “Bravos Valentes - Vaqueiros do Brasil” terá lançamento nacional no dia 30 de Setembro nos cinemas

Com direção de Ralf Tambke, o filme “Bravos Valentes - Vaqueiros do Brasil”, dá visibilidade para um ofício que é pouco conhecido da maioria da população urbana do país, o vaqueiro. Realizado pela Plural Filmes numa coprodução com Globo Filmes e GloboNews, o filme rodado em quatro regiões do país - Caatinga, Amazônia, Pantanal e Pampas - estará nas telas do Espaço Itaú de Cinema em São Paulo (Frei Caneca) e no Rio de Janeiro (Botafogo). Na sequência, o filme também estará disponível na GloboNews e a estreia na Globoplay será no dia de 30 de Novembro.

Pouco se conhece no Brasil sobre uma de suas mais antigas profissões. No Brasil colônia do século XVI, em 1551, a partir de uma carta do governador Tomé de Souza, o gado vindo de navio de Cabo Verde, continente Africano, tinha a missão de ocupar os sertões, ir além dos litorais. E por conta disso, contratou-se vaqueiros, homens livres que seriam responsáveis por guiar o gado para os interiores do imenso Brasil. A história do trabalho do vaqueiro, aquele que conduz o gado pelos sertões adentro, se difere conforme cada região, o tempo de ocupação de cada território, mas se mistura à história do próprio Brasil e sua configuração territorial. 

A ideia 

O cineasta Ralf Tambke, em 2012, filmou "Vaqueiros Encantados" na Ilha do Marajó – Pará - a lida e cotidiano dos vaqueiros marajoaras, em um recorte que junta trabalho e religiosidade, a pajelança e o mundo da encantaria, especialmente sob a proteção do vaqueiro Boaventura, uma segurança para os homens que se arriscam na busca do gado búfalo e sua lida diária, que exige destreza, resistência e muita bravura. A partir dessa experiência e das tantas outras pelos sertões do Brasil, veio com força a ideia de registrar de forma próxima o trabalho diário dos vaqueiros brasileiros e suas particularidades que estão diretamente relacionadas ao lugar de onde são, quase como se misturassem àquele habitat onde se inserem e são parte. As múltiplas viagens que Ralf fez trabalhando junto à equipe da TVPublica Alemã (Bayerischer Rundfunk/ARTE) filmando a vida selvagem no Pantanal, levando-o a conhecer de perto a cultura pantaneira, foi outro empurrão que para que o diretor se sensibilizasse pelo tema.

Personagens e histórias 

Depois de 3 anos de trabalho de pesquisa, o filme Bravos Valentes apresenta 4 personagens e, através deles, a ideia de conhecer diferentes territórios Brasileiros, nos seus múltiplos aspectos socioambientais e culturais. A equipe percorreu paisagens distintas, em diferentes estações, reforçando a relação dos personagens com os ciclos da terra, com o tempo e as transformações ao longo do ano. Convivendo com os personagens, Ralf registra seus dias, mostrando que o trabalho do vaqueiro está além do manejo do gado, revelando quase que uma simbiose, cada um como um elemento do lugar que ocupa, cada qual como parte daquela terra. 

Em Moreilândia, semiárido pernambucano, Maria Eduarda Lopes da Silva é vaqueira e estudante do Instituto Federal do Crato. Com vinte e poucos anos, ela se orgulha de ter herdado do avô e dos pais o conhecimento do ofício, mesmo em um universo onde o gênero masculino é maioria. Com a indumentária tradicional de couro, uma proteção contra os espinhos, ela penetra a caatinga em busca do bezerro desgarrado, seja na seca ou no período chuvoso os galhos e espinhos são ameaçadores. 

No Pantanal sul do Mato Grosso, Adelino Borges carrega na face os traços de seus ancestrais Guaicurus, os indígenas cavaleiros que ocupavam toda aquela região no passado. Diferente de Maria Eduarda, cuja família é a dona da terra, Adelino trabalha em uma fazenda, e com orgulho, bota em prática o que aprendeu, é mestre na doma racional do cavalo pantaneiro. No dia a dia cercado pela diversidade da fauna do Pantanal ele diz que “o pantaneiro só teme a Deus, não tem medo de nada, nem de onça”. 

Do Pantanal para o arquipélago do Marajó, na foz do rio Amazonas, onde se concentra o maior rebanho de gado búfalo do país. Lá as vozes dos vaqueiros marajoaras são muitas, o trabalho é feito em equipe, grupos de vaqueiros levando as manadas de búfalos e cavalos marajoaras, resistentes tanto aos períodos em que ficam cobertos pelas águas, quanto aos períodos de lamaçais e ao tempo seco, de solo batido. Pedro Costa, vaqueiro de Cachoeira do Arari, falecido pouco após a filmagem, é uma das vozes da vaqueirice marajoara, assim como Nico (Emanuel Augusto Leal Filho), de Soure, ou Nenga (Carlos Augusto Cabral dos Santos), também do Arari. A religiosidade, a fé, as “mandingas”, caminham junto com a dureza do trabalho da lida com o gado nas extensas fazendas. 

Já no Rio Grande do Sul, quase Uruguai, à beira do rio Camaquã, na região de Palmas, Bagé, o vento minuano e as baixas temperaturas caracterizam um inverno incomum na maior parte do país. Afonso Manuel Collares da Silva, 73 anos, carrega o orgulho gaúcho da arte de camperear, de laçar, de valorizar sua cultura, herança dos povos charrua. Naquele solo pedregoso, recortado por cânions, riachos e os campos naturais dos pampas, Afonso é a tradução da representação autêntica da valentia e elegância do gaúcho, sempre junto ao seu cavalo crioulo, aos cães ovelheiros e ao seu rebanho: bois, vacas e ovelhas.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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